Texto: uma caixa de lápis de cor

Sergio Diniz da Costa

‘Texto: Uma caixa de lápis de cor e um jogo de quebra-cabeças’

Sergio Diniz
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Imagem criadada por IA do Grok
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Escrever um texto para quem é alfabetizado é um ato relativamente simples. Ou deveria ser. O desafio mesmo é escrever um grande, um ótimo texto!

Textos comuns e mal escritos, desde simples manifestações, comentários no Facebook e até mesmo trabalhos acadêmicos, vemos pululando, enxameando, infestando por todo lugar e a toda hora.

Curiosamente, o problema não está tão somente na falta de escolaridade para quem a teve ou a tem. Utilizando uma linguagem popular, o “buraco é mais embaixo”. Pelo menos aparentemente, parece faltar às novas gerações, mais do que a necessidade, o gosto, o prazer pelo conhecimento, o encantamento com a cultura geral.

Não bastasse a falta de um mínimo de domínio das regras de Português, falta imaginação, criatividade, qualidade que o cultivo da leitura de obras universais consagradas nos impregna, semelhante a um processo de osmose.

Um texto é análogo a uma caixa de lápis de cor e um jogo de quebra-cabeças.

A pobreza, em relação ao conhecimento e à cultura geral, aliados à falta de criatividade, representa uma caixa de cor de apenas seis cores e lápis pequenos. E a um jogo de quebra-cabeças com poucas peças.

Quando eu era criança, apesar de gostar de desenhar e colorir desenhos, a condição financeira dos meus pais não permitia que eu e meus irmãos tivéssemos material escolar de boa qualidade, e, menos ainda, em quantidade.

Por todo o período dos primeiros anos escolares nutri a insatisfação, a tristeza de não poder ter uma caixa de lápis de cor de 12, 24 e, menos ainda, 48 cores!

Tal se dava, também, com os jogos de quebra-cabeça. Jogos com poucas peças e poucas imagens a serem reproduzidas.

O hábito da leitura, no entanto, aguçou minha imaginação e levou-me a ser, na fase adulta, um escritor. E indo mais longe, revisor de textos e livros.

Um texto mal escrito é semelhante a uma caixa de cor de apenas 6 cores. E a um jogo de quebra-cabeça com poucas peças.

As ‘cores’, no caso, representam o vocabulário pobre e a falta de intimidade com o significado das palavras. E as palavras, às vezes, parecem sacis nos enrodilhando em seus redemoinhos de significados e sentimentos.

O desconhecimento básico das regras de pontuação, por sua vez, contribui para a elaboração de textos de redação paupérrima. E a pontuação, na urdidura de um texto, é como uma espada nas mãos de um bárbaro ou de um espadachim.

Algumas pessoas se apropriam das palavras feitos ladrões noturnos, enquanto que, na qualidade de um simples comentarista a um escritor, devem (e podem) ser artesãos que, com elas, tecem longos tecidos de sonhos.

Com um vocabulário pobre, uma visão cultural deficiente e desconhecendo as regras da boa redação, as palavras para essas pessoas são poucas peças com as quais, desordenadamente, montam quebra-cabeças que exibem paisagens áridas, ou figuras distorcidas, dantescas.

Se o problema dos textos mal escritos está devidamente posto, o ‘nó górdio’* a ser desatado pelos modernos Alexandres o seria por meio de um mergulho à base do problema em si; base que tem raiz nos primeiros anos de vida, talvez mesmo no período de gestação, em uma futura mamãe lendo em voz alta para um filho ainda sem um rosto definido, contudo, com uma alma presente e já preparada para começar a receber as sementes da leitura e da escrita.

Esse filho, desta forma, receberia de sua mamãe uma caixa de lápis de cor etérea com infinitas cores. E um jogo de quebra-cabeças com o qual montaria paisagens transcendentais!

*  O nó górdio é uma lenda que envolve o rei da Frígia (Ásia Menor) e Alexandre, o Grande. É comumente usada como metáfora de um problema insolúvel (desatando um nó impossível) resolvido facilmente por ardil astuto ou por “pensar fora da caixa”.

Conta-se que o rei da Frígia (Ásia Menor) morreu sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o Oráculo anunciou que o sucessor chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a coroa, no templo de Zeus. E a amarrou com um enorme nó a uma coluna. O nó era, na prática, impossível de desatar e por isso ficou famoso.

Górdio reinou por muito tempo e quando morreu, seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império, mas não deixou herdeiros. O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria todo o mundo.

Quinhentos anos se passaram sem ninguém conseguir realizar esse feito, até que em 334 a.C. Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão, foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó. Lenda ou não o fato é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois.

É daí também que deriva a expressão “cortar o nó górdio”, que significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz. (Wikipédia, a enciclopédia livre.)

Sergio Diniz da Costa

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O casulo e a borboleta

José Antonio Torres: ‘O casulo e a borboleta’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
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Me arrasto em busca de mim mesmo;
O que me esperará mais à frente?
Qual será o meu destino?
Possuo muitas dúvidas,
Mas também desejos e metas;
Sim, tenho perspectivas e objetivos.
Embora tendo total consciência de mim,
Sinto que falta algo;
Estou incompleto…
E assim, sigo me arrastando.
Sinto algo muito forte em meu íntimo;
Isso me impulsiona a não desistir;
Intuo algo grandioso e que faz valer a pena o meu rastejar;
Mais um pouco… mais à frente… sigo.
O grande momento se aproxima…
Me recolho em meu interior, meu casulo.
Conhecimentos adquiridos…
Sentimentos intensamente vividos,
Alegrias… decepções… amores… realizações.
A transformação se processa lentamente e se realiza;
Sou recompensado pela persistência;
Meu espírito está livre e radiante como uma linda borboleta.

José Antonio Torres

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Orientação governamental na educação

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo:

‘Orientação governamental na educação’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo
‘Orientação governamental na educação’
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Ao Governo é atribuída intervenção decisiva no processo de instrução, de tal forma que: se por um lado, deve proporcionar a cada cidadão as facilidades indispensáveis para aquisição dos conhecimentos, compatíveis com uma profissão útil ao próprio e à sociedade; por outro lado, deve fiscalizar para que o esforço da nação não seja esbanjado por aqueles a favor de quem se fazem; de que modo? Contrariando a negligência dos benefícios e acompanhando a conduta dos pais e tutores que, obrigados pelas leis sociais e da natureza, devem cuidar da educação dos filhos, no sentido de não proporcionar a estes uma carreira falsa ou viciosa.

 Para resolver a aparente incompatibilidade entre o facto de a lei retirar a educação dos filhos à autoridade de seus pais, e o respeito pelas ideias recebidas, sem ofender os sentimentos paternais, Pinheiro Ferreira defende que o plano de educação nacional deve assentar nos mesmos sentimentos que «animam os pais para com seus filhos, enquanto fundados na natureza do coração humano.» (FERREIRA, 1834b:454).

Nas reflexões que antecedem o “Projecto de Associação para o Melhoramento da Sorte das Classes Industriosas” (1840), Pinheiro Ferreira dá a ideia de uma sociedade promotora da educação industrial, observando uma formação integral, com possibilidades de polivalência, isto é, uma formação profissional específica, acompanhada de uma educação para os valores da Cidadania e dos Direitos Humanos e, finalmente, conhecimentos diversos para enfrentar eventuais crises de emprego, e correspondentes situações de desemprego. A polivalência é uma estratégia, já então, pensado por este autor.

Defende, portanto, que: «O Governo tem já providenciado e sem dúvida se propõe continuar a prover com o mesmo ardor a instrução pública. (…). Os estabelecimentos criados pelas leis têm unicamente por objecto fornecer à mocidade os meios de adquirir os conhecimentos precisos para as diferentes carreiras científicas ou industriais; mas na instrução não se encerra tudo o que se entende e deve entender por educação verdadeiramente nacional. (…) é necessário que os alunos (…) adquiram os princípios de moral e os hábitos de ocupação e indústria, sem os quais a instrução, longe de aproveitar ao indivíduo, só serve de convertê-lo num incorrigível inimigo da moral e da sociedade. (…) E enfim, como entre várias artes existe mais ou menos afinidade, será fácil aos Directores organizarem o Ensino de maneira que, se bem que o aluno faça de uma delas a sua habitual profissão, possa, contudo, na falta de trabalho, lançar utilmente mão de qualquer daquelas que lhe são análogas.» (FERREIRA, 1836:37-38).

A construção do edifício Silvestrino no domínio político, social e económico, exigia um sistema educativo do tipo politécnico e profissional; complementado por uma estrutura assistencial adequada, designadamente com a ocupação dos tempos livres, com atividades culturais (teatro), físicas, jogos sedentários (xadrez, damas, cartas, mas não jogos de azar), incluindo-se nesta assistência um objetivo bem específico: o de evitar as situações de marginalidade (vadiagem, prostituição e criminalidade).

A preocupação de Pinheiro Ferreira pela educação, ao seu tempo, foi notável, na medida em que a quantidade de projetos, normas e regulamentos que elaborou, constitui prova da sua inquietação pela educação, não só dos alunos enquanto tais, mas principalmente da mocidade, ao ponto de entender que não bastava uma formação exclusivamente técnica, ou tecnicista, porque sendo o homem um todo complexo, dotado de várias dimensões (política, social, cultural, ética, religiosa, económica), a sua formação devia ser abrangente, integral, para que pudesse enfrentar, com menos dificuldades, as vicissitudes da vida. 

Bibliografia

FERREIRA, Silvestre Pinheiro (1834b). Manual do Cidadão em um Governo Representativo. Vol. I, Tomo II, Introdução de António Paim (1998b) Brasília: Senado Federal.

FERREIRA, Silvestre Pinheiro (1836). Declaração dos Direitos e Deveres do Homem e do Cidadão. Paris: Rey et Gravier.

 FERREIRA, Silvestre Pinheiro (1840) “Projecto de Associação para o Melhoramento da Sorte das Classes Industriosas”, in: José Esteves Pereira, (1996) (Introdução e Direcção de Edição) Silvestre Pinheiro Ferreira, Textos Escolhidos de Economia Política e Social (1813-1851). Lisboa: Banco de Portugal.

PAIM, Antônio, (1970). Prelecções filosóficas, “Silvestre Pinheiro Ferreira”, Introdução. São Paulo: Editorial Grijalbo: 27ª. Prelecção.

PAIM, Antônio, (1980). Relações entre as Filosofias Portuguesa e Brasileira no Século XIX, in: Revista Presença Filosófica, Vol. VI, (2/3) Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos, abr./set. Págs.102-110.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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O novo velho – Recomeço*

Clayton Alexandre Zocarato – Poema ‘O novo velho – Recomeço’

Foto do autor do texto, o colunista do ROL Clayton Alexandre Zocarato
Clayton Alexandre Zocarato

Em torno do antigo quadro negro…

Tessituras de sonhos e desejos…

A cada anseio…

O mestre renova sua arte…

Evocando um grito de conhecimento…

Fazendo pequenas almas…

Novos espaços de conhecimento…

Sereno, pleno e aprendendo…

Dentro da escola…

Todos são eternos aprendizes…

Que por meios de deslizes espirituais…

O estudante se faz estrela…

Por entre constelações…

De preceitos educacionais…

Fraternais…

Intelectuais…

A cada novo retorno…

Um novo contorno…

De esperança…

E subjetividade…

Entre tantas atividades…

Repletas de novidades…

E amorosidades…

Clayton Alexandre Zocarato

* Poema recitado pelo Professor  Eduardo César Santos, na Escola Estadual ‘Bento de Siqueira’, em Marapoama (SP), no dia 25 de junho de 2023.

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