Ficar em casa…

Clayton Alexandre Zocarato: Conto ‘Ficar em casa…’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem gerada com IA do Bing – 8 de outubro de 2024 às 9:22 PM

Ficar em Casa’  naqueles dias de morte não era algo fácil.

As notícias não paravam de chegar, do número de mortos e feridos que aumentava volumetricamente.

Pessoas entrando em crises de suprema ansiedade, aos quais faziam suas subjetividades ficassem atormentadas com o pavor de vir a morrer precocemente.

Um morrer agonizante, aterrorizante, alucinante.

Sufocado por um vírus, que fazia o ‘Ficar em Casa’ intercalar com uma vontade desesperada de poder criar e colocar para fora toda a prova psicológica de medo e incerteza  que o confinamento estava ocasionando.

Mas o que seria de fato esse tal coronavírus?

O prenúncio do Juízo Final?

A ascensão de um Nirvana Sanguinário?

O fato é que a humanidade ignorou sua própria percepção de limitação, defronte as artimanhas da natureza que, com uma forte forma minúscula  de vida, estava causando mais mortes que muitos exércitos e impérios fariam ao longo dos tempos.

Tudo se escondia pelo ar, ao qual cada respiração poderia parecer um sinal do último suspiro assistidos por akáshicos* de uma morte, que não estava livrando ninguém’, não importando sua nacionalidade, sexo, visão político–partidária, idade, religião, tampouco  em fazer uma acumulação sucinta de defuntos, que muitas vezes eram sepultados sem as exéquias primordiais e essenciais, para seu encaminhamento para uma outra dimensão.

Ficar em casa, diante a tela do computador, TV ou celular, acompanhando freneticamente por alguns, que pregavam  um negacionismo que levou ao sepultamento de atrevimentos filosóficos que assim viessem a dar um curso afetivo, para que as pessoas não sentissem que  estavam sozinhas, e que, sim, havia  uma forte humanização de que as emoções estavam à flor da pele, e que havia um materialismo latente em que as pessoas tinham medo de deixar este mundo de forma tão cruel.

Afinal, isso poderia ter sido o anúncio do Apocalipse Bíblico?

O aviso da fúria divina, diante dos nossos mais terríveis pecados, de um coração humano que trancou sua bondade e empatia em busca da sua autorrealização custe o que custar, não  estava carecendo em passar por cima de quem ousasse cruzar seu caminho, de punitivo, em relação à promiscuidade mental de boa parcela das pessoas.

O Corona Vírus  nos fez lembrar que, quando tiramos férias do bom senso, o trabalho da morte vai fazer muitos carecerem de boa sorte.

E milhões perderam a dádiva de viver, por um querer que ultrapassava o limite entre o que seria sensato, do que seria barato.

O barato em se divertir e entreter, com uma doença que no seu início parecia distante para a maioria das pessoas, mas que quando bateu na sua porta da sua casa, causou um tipo de sofrimento e temor, que fez até os mais  céticos chamarem pela misericórdia divina.

O sensato se apresentou que é necessário  os ‘homens e mulheres’  pensarem  mais, em faca a  saciarem  suas vontades e necessidades, do que se ajoelharem a sacrifícios que possam virem, assim trazerem o bem-estar para seus semelhantes, sem precisar agraciar alguma Ideologia em especial, e fazer assim todos lembrarem que viemos na mesma bolha de esperança e desesperança chamada Terra.

O desespero de perder uma vida, que em determinados momentos já não passava de um peso perante suas sociedades, em que ser escravo de si mesmo alimentava uma ferocidade de ignorância, que assim fazia brotar uma ânsia de inconveniências, em ver o corpo do outro como uma arma em potencial, sendo perigoso o toque, um simples apertar de mãos, que pudesse contaminar todos nossos entes queridos, e assim levar para uma psicose mais profunda, detida em um campo analítico, que quando Ficamos em Casa, temos e tínhamos  a tremenda inocência de que podemos estar protegidos contra todos os perigos, mas que  não  foi  bem assim que as coisas aconteceram.

A pandemia (covid-19) (ou as Pandemias ao longo da história), só vieram ornamentar um sentido de desejar se aproximar de uma eternidade que não possa causar dor, mas nosso rancor em pensar unicamente em determinados casos, somente no nosso bem-estar pessoal, fez o espiritual se afastar de um plano astral, que oferecesse algum tipo de redenção divina, para uma civilização que gosta mais da emoção do que a razão.

‘Ficar em Casa’, não era uma atitude lá muito bacana, o importante era desafiar esse ‘pequenino monstrinho’, e não se ajoelhar para prescrições científicas que tirassem a capacidade de ir e vir.

Imunidade de alguns caminhava de mãos dadas com o adoecimento dos mais vulneráveis, e pela lacuna de se colocar na virtuosidade de uma consciência lúcida, de que perder alguns momentos da sua sociabilidade, também seria uma forma de reflexão acerca de como podemos nos outorgarmos  na construção de uma cidadania mundialista, que não veja as regras como algo somente repressivo, mas sim como ativo para ‘uma desaceleração em somente existir’, mas sim insistir que a história necessita de aprendizados duros, para que seus protagonistas deixem um pouco seu egoísmo de lado, partindo para um labor de crescimento pessoal e intelectual, que alimente seu corporal em função do seu bem-estar, e que  também seja um cadência de vaporização das nossas mais profundas frustrações.

‘Ficar em Casa’, uma expressão que, em determinados momentos, eleva um questão de limitação de nossa liberdade, ou talvez solidão, que reflete o vazio do coração, ou requer uma análise mais profunda  da razão.

O vírus não tem compaixão, mas causa aflição, uma tenebrosa sensação de que vivemos fatos pelos quais  toda a  inteligência não consiga uma consciência do que seja óbvio, gerando um cunho da destruição do que seja a libertação, para se chegar a uma comoção de colocar todos os seres humanos em patamar ético de realmente se importar um com os outros.

‘Ficar em Casa’ soa como um aprisionamento de nossas vontades, diante os deleites de uma reconfiguração, de imiscuir a dialética que se possa  pleitear todos os corpos dentro de um ‘vivenciar’, de se fazer ser respeitado diante as ações e decisões individuais, que procurou dentro de suas faculdades mentais maneiras de enganar o tempo em busca de alguma  prevenção.

Uma prevenção que gerou massificação, assim como também uma intepretação equivocada, de que viveríamos um Estado de Guerra Coletivo, quanto a um Inimigo Comum, de tão Comum que era (e ainda é!), passou por uma  comutação de que o Empirismo não poderia de imediato obter todas as respostas possíveis para o temor de uma extinção do homo sapiens bem como o Criticismo, veio à tona, em que quando se retira o bem lúdico da capacidade de abstração do real, não é necessário armas para se declarar uma guerra generalizada entre as polivalentes formas étnicas.

A morfologia de um trancamento corporal como mental fez da covid-19, um lembrete que devemos lembrar-nos de uma valorização da simplicidade diante as nossas ambições mais profundas, e que se faz jus e necessário estar em torno, de uma  transmutação entre estar cuidando de si, como cuidar do outro, fazendo uma transgressão que a saúde, não é somente uma sinfonia de massagear egos exaltados, mas sim uma práxis de que o nosso lar seja nosso castelo em   guardar todas as nossas vontades e desejos mais profundos diante a loucura de vim a ser exterminado por um oponente microbiológico, que não estava poupando absolutamente ninguém de suas argúcias demoníacas.

‘Ficar em Casa’? Mas o que seria isso de fato? Já que uma boa parte da humanidade está perdida por entre ditames, de voltar enxergar somente o que seja conveniente para si mesmo, caminhando para a exigência de Direitos, mas que lucidamente se faz demente a objetar de seus Deveres.

Desejos, Deveres, Direitos, Dialéticas, Dúvidas.

Vivemos tudo isso, de forma a estarmos ‘juntos e misturados’, em uma sinfonia metafísica de buscar verdades, de que mesmo internamente aos nossos micros espaços proativos mais profundos, necessitamos urgentemente de estarmos em evidência, custe o que custar.

A humanidade ainda procura seu devido lar depois da pandemia da covid-19.

As pessoas, ainda se sentem aprisionadas, com o medo de que o Anjo da Morte, venha em um  voo demoníaco,  demonstrar o medo que bilhões de indivíduos têm de desapegarem desse mundo, e de como reinventar novos mundos psicossociais, gerou uma camada de ansiedade, que levou a um globalismo doente, e medonho em aceitar que  nossa  limitação dentro da cadeia biológica não se diferencia em quase nada  em relação a outros espécimes.

‘Mesmo Ficando em Casa’, caímos na parcimônia de uma realidade em sermos caçados por esse vírus, de que a  solidão é um intento ao qual tivemos que aprender a cada momento a lidar com o  extermínio e a perseguição da natureza, e não transformá-la em uma lide, que confronte nossos pensamentos e sentimentos mais profundos.

‘Ficar em Casa’, foi a fagulha de esperança para que assim pudéssemos conhecer um pouco de nossas famílias, e também em demonstrar como a saudade é um ferro quente penetrando em nossas carnes, que fez ferimentos profundos em nos realizarmos ou afirmamos como seres autossuficientes.

Se o suficiente para salvar vidas era o confinamento, então isso cadenciou a formação de novos lamentos, pois o desrespeito ganhou o lugar da bondade e da empatia, em nome manias de procurar estar sempre no meio da multidão, mesmo que isso levasse todos para o caixão.

‘Ficar em Casa’. Eis a graça, para tentar se barrar uma desgraça, que ainda se passa na vida alguns infames, que se tornam alvos fáceis,  da ‘coroa micra da morte’.

Nota do autor

Akáshicos: Em Sânscrito, significa todos os eventos que já ocorreram.

Clayton Alexandre Zocarato

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Sobre a sensibilidade humana

Elaine dos Santos: ‘Sobre a sensibilidade humana’

Elaine dos Santos
Elaine dos Santos
O mundo adoecido, pela falta de empatia
O mundo adoecido, pela falta de empatia
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

A pandemia de covid-19, como toda a grande catástrofe registrada ao longo dos séculos, foi um divisor de águas para muitas pessoas. Algumas aprenderam, cultivaram, tentaram manifestar sentimentos como solidariedade, empatia, respeito. Outras, não.

Quando tudo começou, a minha hematologista disse: “desaparece, esta doença é um altíssimo risco para ti”. Restringi as minhas saídas e aprendi a viver e a conviver comigo, três cães e uma gata. Gostei! Aliás, gostei muito…

Como professora de Literatura, ao estudar as principais correntes de crítica literária, fazemos leituras na área da Filosofia, da História, da Psicanálise… alguns desses fundamentos ajudaram-me bastante. Além disso, sou revisora de dissertações e teses, frequentemente, me encontro com textos que trazem os grandes pensadores da História, da Filosofia como referência. Que delícia! Quanto conhecimento adquirido.

Sou um ponto fora da curva na cidade em que resido.

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Tenho uma amiga de infância que, como eu, é professora de Literatura e diz preferir os textos do Romantismo: ‘A Moreninha‘, ‘Senhora‘ e afins, que trazem o clássico final: “E foram felizes para sempre”. Questionei-a e ela respondeu que as pessoas devem conhecer as coisas boas do mundo. Perspectiva interessante, mas divergi.

Gosto de Eça de Queiróz, de Machado de Assis, de Graciliano Ramos, de Rachel de Queirós . Poderia dizer que gosto de textos que trazem “a vida como ela é”.

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Moro em um município interiorano com grande extensão territorial, mas carente de emprego, de assistência social – e, como todo o Brasil, com saúde, educação e segurança em frangalhos. Temos vilas pobres e conflagradas. Temos alto índice de criminalidade, evasão escolar, muitos idosos que são arrimo de família (basta consultar o último censo do IBGE).

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Quando se verificou a pandemia, os ânimos acirraram-se, porque a maioria não era adepta do isolamento social. Ainda assim, as mortes comoveram muita gente. Ainda assim, as mortes não sensibilizaram muita gente.

Quando se verifica um grave acidente, quando alguém padece meses ou anos a fio, boa parte da cidade solidariza-se com a família.

Mas: não custa lembrar, somos uma cidade muito pequena, em que as vidas se cruzam e as opiniões divergentes afetam todos.

Qual a razão dessa reflexão? As redes (anti) sociais demonstram um descompasso entre o (falso) rico e o pobre; entre o sujeito que se crê europeu e o sujeito cujas raízes estão na mãe África. Estamos no Brasil e não deve ser diferente em outros locais.

Sabe o que tem me impressionado mais e mais? O descaso com a dor do outro e a capacidade (incapacidade, na certa) de perceber os medos, as dúvidas, os sofrimentos que afetam todas as vidas. A tal empatia ou, quiçá, solidariedade.

Já me disseram que eu deveria esquecer acontecimentos passados na minha própria vida, como se a dor não fosse minha. Já me disseram que eu não deveria ter dito isso ou aquilo para A ou para B, mas não me perguntaram o que A ou B disse que me levou a responder.

E, hoje, para o meu desalento, uma mãe contava que é criticada porque posta fotos de sua filha recém-falecida, porque manifesta a dor do luto, que é a ausência mais presente em nossas vidas: a morte de quem amamos.

Adoecemos e não foi só covid-19 ou, como me disse um padre, meu amigo, a pandemia mostrará com que tipo de pessoas vivemos. Mostrou! Quando alguém é insensível com os sofrimentos do outro, esse mesmo alguém precisa de ajuda, ele é doente. Tristes tempos!

Elaine dos Santos

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Fernando Matos: 'Eu sobrevivi à covid-19…

Fernando Matos

Eu sobrevivi à covid-19…

Foto: Google Imagens

Com a Benção do Grande Pai e Único, eu sobrevivi à COVID-19. Gostaria muito de dizer essa frase na primeira pessoa do plural: “Nós sobrevivemos à COVID-19”, mas, infelizmente, ainda falta um pouco para gritarmos isso aos quatro cantos do mundo. Principalmente porque ainda falta o entendimento da palavra ‘empatia’. o que me fez lembrar de um acontecido durante o meu trabalho de enfermagem há muito tempo e que repasso para vocês no ‘Contos da Enfermagem’ abaixo. A falta de empatia é um problema global de várias gerações.

Cuidar e Cuidado Nunca é Demais

O que é empatia?

No dicionário, uma das definições diz que ela é a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente e de querer o que ela quer. Em resumo, poderíamos dizer que ter empatia é se colocar no lugar do outro….*

Essa pandemia (2020/2022) fez-me lembrar de que ter empatia e ser empático são coisas completamente diferentes. No básico, ter empatia é se colocar no lugar da outra pessoa. Isso na pandemia foi assunto de diversas mídias e bate-papos entre pessoas na sociedade. Contudo, essa não é uma palavra nova e ter esse tipo de atitude deveria ser um padrão social, mas não é ou talvez nunca foi.

Lembro-me bem de um ocorrido enquanto eu estava como preceptor de enfermagem de uma turma de graduação em um hospital de grande porte aqui da Cidade do Recife/PE., onde me deparei com situações no mínimo aterrorizantes.

Isso aconteceu há mais de 10 anos, estávamos começando o estágio no setor de Tisiologia com bastantes pacientes  crônicos e já era regra lavar bem as mãos (sempre), manter distanciamento seguro paciente/profissional de saúde, usar máscara apropriada para o setor.

Para quem não sabe o que um setor de Tisiologia: “Parte da Medicina que estuda a tuberculose.” Como todo bom ser humano, o medo faz parte para poder enfrentar certos desafios e os alunos, mesmo temerosos, encararam com êxito o setor acima citado. Era uma ala dividida em setor feminino e setor masculino com duas enfermarias e resolvemos no primeiro dia ficar no setor masculino. Começamos as visitas de enfermagem com estudos dos prontuários, depois seguimos para exames físicos e durante esses procedimentos vimos passar uma jovem bonita, aparentemente saudável, de um corpo bem definido que chamou a atenção de todos os alunos de enfermagem que eu estava acompanhando. Uma das alunas chegou a perguntar: “Professor, o que essa jovem faz aqui nesse setor e sem máscara? Ela não parece estar doente, mas pode ficar, não é?” Respondi de forma afirmativa e uma das técnicas de enfermagem ao ouvir a conversa foi chegando junto e dizendo: “Quem vê cara não vê coração professor, “essa jovem de quem vocês estão falando pode ser bonita, ter um corpo de chamar a atenção, mas é portadora da bactéria que causa a tuberculose e ela também é portadora do vírus do HIV/Aids. O pior é que ela diz em alto e bom som que não vai morrer só e vive fazendo sexo com todos os homens”.

Essa narrativa me deixou perplexo e depois de mostrar minha indignação sobre o assunto perguntei como poderiam fazer sexo em um hospital e ainda por cima doentes? A técnica de enfermagem informou algo muito mais grave: que a noite como é um hospital público e fica muito escuro e sem segurança ‘alguns’ pacientes chegam a fazer o que querem, do sexo, ingerir bebidas alcoólicas até consumir maconha. Como disse acima, isso aconteceu há muito tempo e nos dias atuais fiquei sabendo que a vigilância é mais rigorosa durante as 24 horas, o que dá mais segurança tanto para os pacientes como para os profissionais de saúde que trabalham principalmente no turno da noite.

Então, é de espantar que a falta de ‘empatia’ não é de hoje? Não, até porque escutamos no dias atuais frases como: “Eu estou doente com COVID-19, e daí? Vou continuar minha vida normal”; “Todo mundo vai morrer um dia”, entre outras…

A verdade é que precisamos ter uma educação básica familiar para poder viver bem em comunidade. Como diz bem um ditado antigo: “Costume de casa vai a praça”. Cuidar é uma arte e consegue trazer para nós, profissionais de saúde, satisfação e alegria toda vez que um paciente recebe alta e segue sua vida com a saúde controlada. Ter cuidado, isso requer uma atenção sempre e contínua porque não sabemos o que iremos encontrar nas esquinas do mundo. Lembrando também que nem todo rostinho bonito é um sinal de boa saúde como relatamos no episódio passado no hospital público. Ser empático exige muita atenção em querer ajudar, ter postura empática, criar vínculo que fortaleçam a inteligência de uma relação segura para ambas as partes.

Ninguém vive só e sempre haverá um Ser Superior para julgar todos nós…

*  https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/12/07/empatia-o-que-e-e-como-desenvolver-para-melhorar-suas-relacoes.htm?cmpid=copiaecola

Fernando Matos

Enfermeiro e Poeta Pernambucano

(Direitos reservados ao autor da obra)

Vamos Pensar:

– A empatia bem que poderia ser o alimento espiritual de muita gente… A fome é grande, mas a gratidão é pouca. (Fernando Matos)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




Sandra Albuquerque: 'À espera de você'

Sandra Albuquerque

À espera de você

Hoje, a poetisa Sandra Albuquerque traz um poema baseado na situação caótica em que o país se encontra e a proibição quanto à presença de banhistas e esportistas nas praias, tanto na água quanto na areia, a fim de que não aumente o número de óbitos por Covid-19.

E ela espera que haja uma conscientização da população e respeito e, para isto, selecionou algumas fotos das praias mais procuradas em todo o país. (Sergio Diniz – Editor).

Ei
Você
Eu tenho algo a lhe dizer:
Se cuida
Se previna
E não queira morrer.
Eu sempre estarei aqui
No mesmo lugar
Em todo o tempo.
Chova ou faça sol
Mudem as estações
Mas eu não saio daqui
Nem por um momento.
E você
Pode me visitar
A hora que quiser.
Basta rever
Nas páginas de seu diário
As fotos que juntos
Histórias fizemos:
As caminhadas na orla
O vôlei na areia
Os aplausos no por do sol
O churrasquinho do seu Zé
E também o picolé.
Às vezes, a água de coco
Outras, com oh!, água!
Olha o Amendoim…
O pastelzinho da hora
O camarão no palito
E até o queijo coalho.
O bate papo descontraído
O olha a canga, freguesa!
Uma é trinta, duas cinquenta!
Compre óculos! Tá barato!
Tenho bronzeador, cuide de sua marquinha!
A porção do peixe frito
Sanduiche Natural, vai?
Uma Antártica ou Brahma?
Ou ainda a Skol.
Tá gelada!
E as inúmeras selfies
Tudo isto bem ali.
Basta, apenas, folhear.
E se não for emocionante
Convide uns amigos
Para em live viajarem
E virem até mim
Mas, apenas, desta forma
Se contente e brinde a vida!
Pois a morte vem tragando
Muitos que me visitavam
Hoje não os verei mais
Não abuse, fica em casa.
Melhor forma de viver.
E quando a pandemia passar
Saiba , estarei aqui
À espera por você.

 

(Autora : Poetisa Sandra Albuquerque)

Rio de Janeiro,26 de março de 2021.
Direitos Reservados à autora, Lei 9.610/98.

 

 

 

 

 

 




Celso Ricardo de Almeida entrevista o escritor e poeta Henrique Lucas, um dos sobreviventes da COVID-19 no Estado do Amazonas

       

“… e aprendi muito com os profissionais de saúde, que a nossa vida é um bem precioso e frágil.” (Henrique Lucas)

Desta vez, o Jornal Cultural Rol, na seção Entrevista ROLianas, conversa com o escritor e poeta amazonense Henrique Lucas, só que, em vez de conversarmos sobre livros, literatura e cultura, iremos abordar outro assunto, talvez o mais difícil já vivido por este escritor, e cujo tema já é tratado no Brasil e no mundo há mais de um ano. Vamos conversar sobre o Coronavírus, causador da Covid-19, enfermidade que acometeu o escritor fazendo com que passasse 16 dias internado sofrendo as incertezas desta doença.

No entanto, para quem ainda não conhece, Hosane Henrique Lucas de Souza ou Henrique Lucas como é conhecido é descendente dos povos Mura e Nordestinos. Nasceu em 15 de agosto de 1979 em Alto Castanho – AM (Atual Alto – Manaquiri). É Graduado em Pedagogia e Letras. Especialista em Língua Portuguesa e Literatura. Cursa Graduação em Sociologia; Pós em Artes na Educação: Teatro, Música e Dança, em Politicas Pública e Projetos Sociais, e, em Educação Indígena. É Mestre em Ciências da Educação. É Membro de aproximadamente 20 academias de Letras, dentre estas: Associação dos Escritores e Poetas de Careiro – AM – AEPOCAM; Academia de Letras e Cultura da Amazônia – ALCAMA; Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil – ACILBRAS; Academia Brasileira de Ciências, Artes, História e Literatura – ABRASC e da Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências Letras e Artes – FEBACLA. Autor das obras solo: Braços do Sol e Meninos de Papel. Tem participação em várias coletâneas. É Embaixador da Paz – OMDDH – 2020, possui dezenas de condecorações e premiações acadêmicas, destacando a de “O Melhor Poeta Contemporâneo do Estado do Amazonas” – Almeida Editorial – MG – 2020.  E está em recuperação das sequelas causadas pela COVID-19, doença que contraiu no início de 2021.

Em nossa conversa falamos sobre a COVI-19, sua perspectiva de vida e seus planos para os próximos anos.

 

Celso Ricardo de Almeida – Para principiar nossa entrevista, irei fazer a indagação que considero ser a mais importante de todas: você está bem? Se recuperando e voltando a normalidade?

Henrique Lucas – Estou me recuperando. Ainda sinto fraquezas, acidez (azia), diarreia, dores de cabeça, esquecimento, falta de paladar e a audição falha, às vezes… Falta de concentração… Mas estou bem melhor que antes.  Pois antes, não tinha sono, doía muito meu peito, diarreia intensa, pesadelos constantes, estava ofegante e cansado. E ainda me sentia estranho.

 

Celso Ricardo de Almeida – Pensando sobre a vida, qual avaliação você faz hoje, quem era o Henrique Lucas antes da Covid-19 e o Henrique Lucas de hoje. Mudou algo?

Henrique Lucas – Antes eu não cuidava de mim, não observava a natureza cheia de vida e estava com muitas mágoas na alma. Agora posso vê Deus numa árvore a soprar seu ar de vida. Reconheço mais uma vez que Deus fez milagres em minha existência. Que o amor é a presença humana é o que importa para viver, apesar de vivermos num sistema capitalista. Minha maneira de ver o mundo agora é subjetiva quanto ao vírus. Mas as minhas convicções são de que eu devo fazer o bem aqueles que necessitam mais que eu. E aprendi muito com os profissionais de saúde, que a nossa vida é um bem precioso e frágil. Tudo depende da fé em Deus, do psicológico e de acreditar na ciência. Por isso aprendi que o presente é imprescindível e temos que viver um dia de cada vez. A presença e apoio logístico de minha família e amigos foram primordiais nesta recuperação. Recebia presentes, louvores, mensagens de incentivo à vida, orações, recebi da cidade toda e de vários lugares do Brasil é África.

 

Celso Ricardo de Almeida – E doravante, quais são os seus planos para o futuro?

Henrique Lucas – São vários: Ficar mais próximo da família, trabalhar em projetos sociais, fazer um curso de doutorado, escrever livros e participar de pastorais. Atuar no combate do Coronavírus por meio de alguma frente. Quero fazer um curso de psicologia também para ajudar pacientes nos hospitais. Acima de tudo, quero cuidar bem de minha vida, aproveitar as oportunidades positivas sob a proteção de Deus.

 

Celso Ricardo de Almeida – Falando agora sobre o período mais difícil da sua vida, quando você percebeu os primeiros sintomas da Covid-19, e qual foi sua reação? Você teve medo?

Henrique Lucas – Os primeiros sintomas apareceram no dia 29/01, uma sexta-feira, já na segunda seguinte procurei um posto de saúde, e no dia seguinte (terça-feira, dia 03/02) já estava internado com 60% dos pulmões comprometidos. Os sintomas eram quase que imperceptíveis, apenas uma dor ao respirar. Mas tinha uma “voz” que me mandava procurar atendimento médico. Quando estava internado e via todos morrendo ao meu lado eu tive medo e pensei que não ia aguentar… (emocionou).  Ficar sem voz, sem andar, receber alimento por meio de seringas, usar fraldas, oxigênio e ter agulhas afixadas nas veias é muito triste…

Celso Ricardo de Almeida – Em algum momento, você chegou a pensar que não aguentaria?

Henrique Lucas – Por várias vezes… (emocionou). Mas sempre confiando em Deus e com orientações psicológicas e a as orações de todos, assim como a companhia de meus familiares, fui resistindo.

 

Celso Ricardo de Almeida – Você alguma vez imaginou que iria contrariar a Covid-19? E adotou as medidas preventivas preconizadas pelas autoridades sanitárias como uso de máscara, álcool gel, higienização das mãos etc.?

Henrique Lucas – Eu até achava que era assintomático. E sim, tomava todas as medidas sanitárias. Não imaginava contrair o vírus. Mas tinha medo, muito medo.

 

Celso Ricardo de Almeida – Conseguiria relatar como foi todo o processo enfrentado por você, da descoberta da doença até a cura?

Henrique Lucas – Há aproximadamente duas semanas ou duas semanas e meia, antes de contrair o vírus eu ajudei cuidar da minha tia que morreu vitimada por esta doença e estava internada em um hospital aqui da cidade. Eu não tive contato direto com ela, mas estive com suas filhas e netas frequentemente. Depois, quando ocorreu o falecimento da tia, eu fui ao seu sepultamento, em uma comunidade no interior, e após fui para a casa dos meus parentes e deitei num sofá para descansar e adormeci, e tive um sonho de que o meu pulmão estava comprometido com a doença em mais de 50%. Após isso eu fiquei com aquele sonho na cabeça e a sensação de que eu iria adoecer a qualquer momento, todavia o tempo passou e semanas depois eu contratei um amigo para arrumar uma janela da cozinha e a pia do banheiro da minha casa e estava cheio de planos. Numa quinta-feira, quando eu estava indo buscar ele para trabalhar, em minha moto, peguei uma chuva muito forte no trajeto, e me senti estranho, aquela água batendo em meu corpo dava-me a impressão de que estava sendo queimando. No restante do dia, apesar de uma sensação estranha, passei bem; na sexta-feira comecei a sentir os sintomas de gripe, no sábado a garganta inflamou. No domingo começou a doer o peito e na segunda-feira eu já não tinha paladar. Neste mesmo dia fui a um posto de saúde e após narrar minha situação, a enfermeira aconselhou-me a ficar em casa por cinco dias e me indicou uma medicação, quando fui a farmácia, que fica próximo ao hospital, pegar a medicação, encontrei uma colega e em conversa ela me indicou um hospital especifico para Covid-19. No mesmo dia, aproximadamente por volta das 16 horas fui até lá, fui bem recebido, aferiram minha pressão e fiz o teste para Covid-19 e foi agendado para o dia seguinte um Raio-X, e uma médica me recomendou que eu fosse para casa. Na terça-feira dia, 3 de fevereiro, acordei cedo preparei tudo, fiz uma oração e, mais uma vez, uma “voz” me dizia “vá ao hospital e você não voltarás por uns dias”, eu temia a minha intuição. Ao chegar ao hospital HDS fui conduzido para fazer o Raio – X, em seguida fui para o Prédio Especifico da Covid – 19. A médica que me atendeu era a mesma do dia anterior e constatou que a minha saturação estava em 93 e o meu Raio – X deu uma média de 56 a 60 por cento de  comprometimento do pulmão, e diante das circunstancias a médica não me liberou e procedeu o encaminhamento para minha internação. Diante da notícia, foi aquele espanto, como eu moro sozinho foi complicado, eu só tive tempo de mandar uma mensagem no grupo de WhatsApp da família e já fui internado, colocado no soro, tomei uma medicação no Setor de Emergência em seguida fui levado para o leito para continuar a receber aqueles procedimentos da internação. Mas para mim ainda não tinha “caído a ficha”, foi difícil, senti, medo, preocupação etc. Fiquei internado por 16 dias, nas enfermarias em que fiquei todos morreram, tanto no período em que estava lá ou depois, somente eu recebi a graça de ficar vivo, isso deixa a gente muito triste, vivi e presenciei tantas situações, tantos sofrimentos. Mas aprendi muito, principalmente com a dedicação da equipe médica, os técnicos em enfermagem, psicólogos, o pessoal da logística, as nutricionistas, os médicos, os fisioterapeutas, fui bem tratado por todos, meus familiares e amigos sempre comigo, não tenho nada que me queixar. E agora estou nessa recuperação e espero que consiga, com a graça de Deus ficar totalmente curado.

Celso Ricardo de Almeida – Como foi o dia em que você recebeu alta? Pode descrever a emoção que sentiu?

Henrique Lucas – Foi emocionante! Eu recebi a alta no dia 18, porém só pude sair do hospital no dia 19 por conta dos protocolos que envolvem a liberação hospitalar. No dia 19 logo pela manha teve toda uma cerimônia de despedida, fizeram uma festa com bolo, foi tão emocionante que minha pressão subiu, fiquei muito emocionado. Ainda fiz uma live junto com a equipe médica e dei uma entrevista. Tudo muito emocionante. Em agradecimento fiz uma poesia intitulada Gratidão.

 

GRATIDÃO:

(Henrique Lucas – 18.02.2021 – In hospital de Campanha de Careiro – AM)

 

A Ti Senhor quero agora agradecer

Pelo sopro dos versos de meu viver

Por ter mantido meus pulmões ativos

E minha esperança em flocos de lírios

 

Obrigado Senhor por tua palavra e carinho

Pelos teus servos e anjos em meu caminho

E que sejam bênçãos por todas as gerações

O teu louvor e preces em nossos corações

 

Que sejais bendito quem te recebeu

Que possas respirar o teu infinito amor

Que declame as maravilhas do Salvador

 

Hoje meu ser de poesias vem te agradecer

Transbordando de alegria, luz e florescer

Bendito És Tu, ó Pai! O ar de meu Viver!

Celso Ricardo de Almeida – O cenário que os meios de comunicação nos apresenta sobre o Estado do Amazonas é que a situação é alarmante, beirando o caos. Você que testemunhou toda essa situação, o que pode nos dizer? A situação é realmente tão ruim como noticiada?

Henrique Lucas – Sim! A primeira onda já foi ruim e a segunda está sendo um caos, tanto em Manaus quanto no interior. Faltaram leitos, oxigênio, insumos e profissionais. Outra questão absurda é que mesmo Amazonas tendo uma dimensão geográfica imensa só há UTI em Manaus. E como o meio de transporte aqui é feito na sua maior parte por barcos isto complica muito. Por outro, lado observa-se que o país está desgovernado sem planos nacionais de combate à pandemia. E isto faz com muitos não respeite as medidas municipais e estaduais e causem aglomeração. Hoje houve uma queda nos índices de contaminação e internação no estado, mas ainda é assustadora a situação em que nos encontramos.

 

Celso Ricardo de Almeida – Que mensagem de estimulo você daria para as pessoas que receberam seu teste positivo para Covid-19 e encontra-se com medo e sem esperança?

Henrique Lucas – Que procure seguir todas as recomendações médicas. E que não tenham medo. Se alimente bem é faça os exercícios recomendados, para a recuperação dos pulmões. É preciso ter controle emocional, pois a doença é sinistra e cruel e acomete cada um de maneira diferente. Tenha fé em Deus é confie na ciência!

 

Celso Ricardo de Almeida

Celsoricardo-almeida@bol.com.br

DRT/MTB N.º 0021802/MG

 




Covid-19 atinge o cérebro e causa depressão, confusão mental, ansiedade e disfunções cognitivas

Pesquisas recentes apontam diversas consequências para a saúde mental e cerebral de pacientes recuperados da Covid-19…”

Cientistas e pesquisadores observaram que o vírus Sars-CoV-2 pode ser capaz de infectar os astrócitos, células que ajudam os neurônios a se manterem vivos, causando confusão mental, ansiedade, depressão, dificuldade de raciocínio, perda de memória, falta de equilíbrio, problemas com compreensão, mudanças comportamentais e emocionais.

Um estudo realizado pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, indica que em 80% dos participantes recuperados de Covid-19 indicaram alguma desordem cognitiva. Incluindo os pacientes assintomáticos ou que tiveram sintomas leves.

“Pesquisas recentes apontam diversas consequências para a saúde mental e cerebral de pacientes recuperados da Covid-19. Por isso, é importante que as pessoas saibam que é uma possibilidade, e que estejam atentas aos sintomas mais comuns como perda de lembranças, dificuldades com concentração e execução de tarefas simples, além de fraquezas e dores pelo corpo. Quanto mais cedo é feito o diagnóstico, maiores as chances de recuperação e melhores os prognósticos”, diz o neurocientista Nicolas Cesar.

Segundo Nicolas, em alguns casos, dependendo das regiões afetadas e quando as perdas neuronais são leves, há possibilidade dos traumas serem revertidos com o tempo, devido a neuroplasticidade, conhecida também como plasticidade cerebral, que é a capacidade fundamental do cérebro de se reorganizar.

Os tratamentos para as lesões são diferentes, mas em geral são indicadas as terapias cognitivas e ocupacionais, em algumas situações os médicos indicam também a utilização de medicamentos.

Sobre Nicolas Cesar
Formado em Ciência e Tecnologia, e Neurociência, palestrante, autor do livro “Neurociente – Por que algumas pessoas são mais felizes que outras”, professor dos cursos online “Neurociência no dia a dia” e “Neuroeducação”. Também do curso acadêmico de Pós-Graduação em Neurolearning. Atualmente participa de uma de linha de pesquisa em percepção de tempo no Laboratório de Cognição Humana da UFABC.

 

 

 

 

 

 




Conceição Maciel: 'Enfim, o ano passou! Ufa!

Conceição Maciel

Enfim, o ano passou! Ufa!

Foram meses de incertezas e dúvidas, o tempo correu na rapidez que lhe é peculiar, mas não arrefeceu e nem curou as mazelas da sociedade, mesmo porque ele nem sempre cura todas as feridas como dizem por aí; sentimos o impacto das tantas notícias sobre o novo vírus iminente que chegou sem pedir licença, e se alastrou tão rapidamente que logo virou uma pandemia, o medo se acomodou dentro da gente, o temor nos invadiu e deixou marcas que jamais esqueceremos. Foram muitas perdas, foram muitos danos e sequelas. No início, quase ninguém acreditava que aquele vírus que veio lá do outro lado do mundo atrairia todas as atenções, bloquearia a nossa liberdade e nos faria, finalmente, exercer a solidariedade e buscar a reflexão. Ele (o vírus) foi palco de grandes tragédias no seio de milhares de famílias, ceifou vidas e deixou cicatrizes na alma, no corpo e na mente dos povos.

Foram noites e noites de insônias e preocupações. Até a inspiração se despediu e por algum tempo as nossas mentes ficaram povoadas pelas incertezas que pairavam os dias e as noites sem sabermos ao certo o que fazer. Fomos acometidos por um bloqueio momentâneo, mas essencial para entender o que estava acontecendo no mundo, com as pessoas, conosco. Não é fácil entender o desconhecido, ainda mais quando ele é invisível, afeta a nossa saúde física e mental e causa a morte de pessoas inocentes e queridas. Por um tempo ausentei-me da escrita e busquei falar com Deus de outras formas; eu queria, como muitos, entender o que estava acontecendo. A televisão massacrava as nossas esperanças de dias melhores, as notícias não eram boas, o vírus se alastrava rapidamente e todas as outras doenças e problemas foram deixados para um segundo plano. Nada mais importava a não ser combater o pequeno, mas poderosíssimo, inimigo.

De repente, nós já não podíamos sair de casa, ficamos proibidos de ir à academia, ao supermercado, ao trabalho, à escola, à uma simples caminhada pelas ruas da cidade. De repente, viramos prisioneiros dentro na nossa própria casa, o lugar onde nos refugiávamos dos dias cansativos, o nosso abrigo, o nosso aconchego… virou prisão. Viramos reféns do invisível. De repente, éramos parte de um batalhão (desarmado) que marchava para uma guerra em que não havíamos recebido treinamento, marchamos para a luta sem saber como nos defendermos, sem saber se sairíamos vencedores de uma batalha da qual nós ainda não sabíamos lutar, mas aprendemos, e até aqui vencemos; as máscaras, o álcool em gel, a consciência crítica, as orientações dos órgão competentes e dos profissionais da saúde, Deus e muitas orações foram as armas que nos deixaram de pé até agora.

Passado o primeiro e impactante momento de puro desespero e quase insanidade onde procuramos entender o que estava acontecendo para que pudéssemos, enfim, nos acalmar para nos defendermos, nos vimos estranhamente usando máscaras (quem diria!) e álcool em gel (esses dois itens se tornaram essenciais e inseparáveis no nosso dia a dia), essas eram as únicas armas concretas contra o novo, contra um pequenino vírus amedrontador e mortal. Sim, a batalha seria árdua para todos, afinal, não estava (está) fácil pra ninguém! O comércio fechou, as escolas mandaram alunos e funcionários para casa, novas metodologias foram criadas para dar continuidade aos estudos; muitos pais finalmente conseguiram ter a real visão do professor, os profissionais da saúde se viram sobrecarregados, muitos foram infectados e dezenas deles morreram. O caos se instalou no mundo e todos nós tivemos que nos reinventar buscando alternativas para passarmos pelo vendaval.

Entre um rabisco e outro, foi nas letras que explicitei meus anseios e receios; em muitos versos desabei, em muitas letras desejei ver o mundo liberto daquele terror, eu não conseguia imaginar que pequeninos seres invisíveis fossem tão nocivo à saúde e à vida. Foi na escrita que me refugiei e encontrei motivos para enfrentar os dias dentro de casa; por mais incrível que possa parecer, foi nesse período pandêmico que encontrei inspiração para colocar em prática um sonho: Delicadezas, elas floriram minha mente quando tudo parecia fenecer, elas enfeitaram meu caderno de um colorido que lá fora eu não conseguia ver, elas encheram meus olhos de uma alegria que contradizia o que se passava porta a fora.

Diante desse contexto, os encontros e desencontros aconteceram, as alegrias e tristezas se mesclaram, as realizações e os sonhos destruídos se cruzaram, separações e abraços viraram sinônimos, os lares viraram prisões, os pais também foram professores e esses se reinventaram. O novo nos surpreendeu e foi preciso sairmos da zona de conforto para enfrentarmos uma situação inusitada e preocupante, mas nós fomos e somos capazes de nos reerguermos e combatermos as dificuldades com garra e coragem, com força e vontade, com amor e perseverança, por que só seremos felizes se buscarmos e lutarmos pelos nossos sonhos e, tenho certeza, o nosso grande sonho é ver o mundo livre da Covid 19, pois sem ele certamente, éramos mais felizes apesar dos problemas e preocupações que habitavam (habitam) as nossas vidas.

Enfim, o ano passou! Ufa! Chegou o novo ano, é hora de vivenciarmos o novo, de olhar pra frente e continuarmos a nossa luta; os nossos sonhos permanecem e é preciso colocá-los em prática. É tempo de vivenciar dias melhores, o novo mundo exige que continuemos fortes guerreiros, pois a luta continua. Que seja um ano livre de todos os males. Saudações!

Conceição Maciel

Capanema-Pará-Brasil

con.maciel@hotmail.com