Pálida a luz da tarde sombria. Sobre o leito da flor debruçada um entardecer nostálgico entre as névoas alaranjadas do arrebol.
No silêncio da varanda do ocaso o pôr do sol desmaia, incensa o crepúsculo, pinta de dourado o entardecer de lume à penumbra, desenhando imagens na lívida solidão.
Você surgiu em meio do tempo com olhos ávidos de sedução, chamas de amor, mãos deslizavam com volúpia em ardente desejo.
Na doce bruma dos vitrais das janelas do ocaso, enlaçados ao caminho de desvario veementemente, ao fogo do carnal amor, nossos corpos sedentos incendeiam de prazer e emoção no poente fecundo de mistério que se cala, à flor do entardecer.
O crepúsculo emerge soturno perfilando o ocaso, silencioso denota o fim do dia.
Na infecunda solitude do vento, lágrimas no rosto da noite e nos seus. Moradores melancólicos, dormitam o sono da penúria, sob sóis e chuvas, dor e tristeza. Indefesos, vagueiam.
Horizontes de amargos choros fustigam o sofrimento de cada dia, tornam impérvias as veredas, em busca de amor e de sustento.
Jogados à sarjeta, cobrem-se com o luar, jornal da noite, que não o encantam enquanto dormem sem sonhos, tampouco alegrias, não sente o sofrimento que os afligem?
Nas calçadas, mãos a esmolar, indiferentes a todos, transeuntes dos porões dos poderes do mundo.
Na rua da ilusão, nada possuem senão amargura, desamparo. O brilho das estrelas? A esperança?
Marcelo Augusto Paiva Pereira: 'Quando chega o crepúsculo'
Quando chega o crepúsculo
O dia foi acolhedor. As mais diversas pessoas, solitárias ou acompanhadas dos entes queridos, saíram de suas casas e foram às ruas para o trabalho, o lazer e se confraternizaram sob a calorosa luz do sol, que as envolveu em seus raios de energia e as vitalizou ao longo do dia. Mas, agora é hora de voltar para casa. O crepúsculo vem aí.
Ao chegar do entardecer o astro-rei se despede de todos que o contemplaram e o acolheram. Sua despedida é exuberante, magnífica, num lento, mas ao mesmo tempo rápido ocultar de sua luz…
À sua despedida antecede o crepúsculo, trecho celestial num prenúncio pictórico que nos remete às pinturas impressionistas dos artistas do final do século XIX… Uma pintura magistral diante de nós, minúsculos seres diante da grandiosidade que preenche o céu, nossos olhos e almas.
O colorido do final da tarde se esvai com a entrada da noite, que escurece o céu num silencioso manto iluminado pelas incontáveis estrelas, que abraça o espaço onde estamos e nos convida ao descanso após movimentado dia de trabalho, serviços e outros afazeres.
A imagem de tão belo momento atravessa nossos olhos, atinge nossos sentidos e almas, estimula desejos e pensamentos, mexe com as lembranças de quem se foi e do que ficou, do que se fez e não se fez… Ao mesmo tempo divide os sentimentos para as trevas ou a serenidade da noite.
Terrores noturnos, medos vazios, crenças misteriosas, visões sinistras e outras projeções emocionais canhestras surgem do íntimo de várias pessoas, temerosas pelos obscuros caminhos até chegar o astro-rei. São trevas interiores, que as machucam e as entorpecem, conduzem-nas a um mundo introspectivo tenebroso, sinuoso, temeroso e surreal.
Outras acolhem o crepúsculo e o manto da noite como a porta de entrada para uma viagem pelo infinito, através das estrelas e do imenso cosmos, uma jornada sem fim, uma aventura em que a alma sente e interage com todas as experiências vividas em sonhos. São pessoas com alma serena, adoçadas pela felicidade (algumas se assemelham ao Pequeno Príncipe) …
Os românticos e apaixonados aproveitam o momento para o deleite a dois, um preâmbulo aos calorosos ânimos contidos em cada corpo que, com o cair da noite, se revelam na mais intensa vontade de se misturar um ao outro, num enlace mais do que afetivo, profundo, lascivo e – às vezes – profano, cujas culpas desparecem pela contração e reação dos músculos em pleno exercício dos desejos mais inconfessos…
Aqueles que professam alguma religião oram ao Criador e a Ele agradecem por mais um dia vivido, pedem para que tenham uma noite segura e tranquila, por Ele amparada e que renove as forças deles para o dia seguinte. Um momento silencioso e privativo de cada, subserviente à onipotência, onipresença e onisciência do Todo Poderoso, criador do Céu e da Terra.
Sonhos, pesadelos, medos, desejos, fetiches ocultos e inabalável fé, tudo o que existe no íntimo mais profundo, são trazidos à tona e acobertados pela noite, que se adentra pelas incansáveis horas até o exaurimento das luzes do céu noturno e do transe que nos captura.
Por fim, o crepúsculo atinge nosso âmago e nos faz pensar em tudo o quanto vivemos, fizemos, deixamos de fazer, nossos arrependimentos, sonhos, medos, culpas, desejos, crenças e tudo o quanto fazem de nós quem realmente somos. E nos faz lembrar que nossas vidas também chegarão ao crepúsculo…
Marcelo Augusto Paiva Pereira
arquiteto e urbanista
Magna Aspásia Fontenelle: 'Crepuscular'
Crepuscular
Sol
deitando-se no horizonte
despedindo do dia findo…
cores de luzes explodem
bucolicamente
num misto de fogo
anunciando
o nascer da
noite
com piscos
de estrelas cintilantes
a lua tímida vai surgindo
devagar
por detrás da montanha
brilhando
refletindo nas águas
sua face
despertando sentimentos
Saudades…
Lua, estrelas, imensidão, reflexo do ontem e esperança no amanhã.