Minha criança interior

Nilza Murakawa: Poema ‘Minha criança interior’

Nilza Murakawa
Nilza Murakawa
Imagem gerada por IA no Bing –  06 de março de 2025
às 9:33 PM

Cantei a canção criança
Guardada na memória
Beijei flores, lambi doces
Redesenhei uma história

Borrei as unhas rosas
Chorei o choro sentido
Sujei meu vestido rodado
Aquietei um sonho reprimido

Respiro…
Respiro…
Sem pressa, respiro…

Lá está minha menina
De joelho ralado
Segurando margaridas
Com todo cuidado

Rodopia na chuva
Patina na lama
Faz sua casinha
Em cima da grama

Para quê sapatos
E lápis coloridos
Se pisa em nuvens
Contemplando céus tingidos?

Ah, minha criança…
Reconheci-a de longe

Respiro…
Respiro…
Sem pressa, respiro…

Ajoelho-me diante dela
Acolho-a em meus braços
Dou-lhe colo quente
E a recomponho novamente

Retiro-lhe os espinhos de rosa
Curo-lhe a ferida
Com sopros mornos
De mãe amorosa

Depois de um abraço apertado
Da minha criança bem cuidada
Solto-a do nó tão atado
E deixo-a ir brincar

Canto a canção criança
E respiro…
Respiro com leveza

O coração da menina
Que brinca na garoa fina
Bate feliz em mim
Estamos seguras agora

Nilza Murakawa

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Cláudia Lundgren: 'A criança que habita em mim'

Cláudia Lundgren

A criança que habita em mim

Little girl in garden, under the sakura tree. Spring petal’s rain.

A criança que habita em mim saúda a criança que habita em você.
Tenho quase 50, mas ainda pulo literalmente de alegria quando a notícia é boa. Fico zangada, e minutos depois, rio a toa. Se caio na rua e esfolo os joelhos, ou se a vida me prega alguma peça, choro litros, faço bico, quero colo.
A começar pelo meu tamanho. De criança. Tenho 1,57, todos os meus filhos são maiores do que eu; tenho alunos que estão quase me alcançando.
Não tenho vergonha de dizer. A criança que há em mim é preguiçosa, e ainda pede um copo d’água para alguém se está deitada embaixo da coberta quentinha. Ainda tem medo dos monstros. Eles só mudaram de endereço.
Aprendi que os castigos que a vida me dá são bem piores do que os do meu pai. E que, depois de adulta, as surras doem muito mais. E como a criança ainda habita em mim, parece que não aprendo e insisto, de vez em quando, nos mesmos erros.
Sou como a criança que deseja saber o porquê de tudo. Que ainda gosta de ficar horas e horas com seu livro de histórias.
A simplicidade de uma criança me invade. Sento na grama, colho uma margarida, brinco de bem-me-quer. Será que ele ainda me quer? Somente a última pétala dirá.
Gosto de escrever teu nome na areia da praia. Naquela árvore, ainda vejo os nosso gravados. Aquelas coisas de criança.
A infância me persegue, brinco de constante pega-pega, almejando, um dia, te alcançar. Brinco de cabra-cega, tentando, no escuro, entre tantos, te encontrar.
Ainda me lembro daquela boneca quando troco a fraldinha da minha neta.
Que essa criança que habita em mim não cresça. Que ela não deixe eu ser, de tudo, ranzinza.  Que eu continue me alegrando com as pequenas coisas. Que a cada manhã eu seja esperançosa como aquela menina que sonha, e que tem a plena certeza, de que irá ganhar o seu brinquedo novo.

Claudia Lundgren  

tiaclaudia05@gmail.com