Joker: Folie à Deux

Bianca Agnelli:
‘Ecos de loucura: Mergulhando na fragilidade humana em 
Joker: Folie à Deux’

Bianca Agnelli:
‘Note di Follia: Esplorando la Fragilità Umana in Joker: Folie à Deux’

Bianca Agnelli
Bianca Agnelli
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O filme mais comentado, odiado, desvalorizado e subestimado do momentoJoker: Folie à Deux. Dirigido por Todd Phillips, é a tão aguardada sequência do universo cinematográfico, com Lady Gaga no papel de Harley Quinn e um Joker, interpretado por Joaquin Phoenix , que aparece realmente massacrado e maltratado.

Podemos falar sobre os problemas de roteiro que esta película evidentemente tem – especialmente em relação ao personagem de Harley Quinn – mas isso não é suficiente para tornar o filme ‘decepcionante’. Fui ao cinema no último sábado e deixei minhas emoções decantarem, para que a parte racional do meu cérebro não fosse muito influenciada pelo fato de que, sim, este filme realmente me agradou. Tentarei, portanto, falar sobre ele de maneira equilibrada e sincera.

A cena inicial apresenta um pequeno curta-metragem animado, com um estilo retrô e deliciosamente agradável. What the World Needs Now Is Love, o que o mundo precisa agora é amor. É assim que o filme começa, e o amor, com sua aceitação e seu tormento, é um tema pulsante ao longo de toda a narrativa.

A primeira coisa que notei assim que o filme começou foi a extrema degradação e o mal-estar que pesam sobre o personagem principal. Este não é um filme celebrativo. É um filme que quem nunca enfrentou ou quis enfrentar a miséria humana – aquela que, em partes, toca cada um de nós – não conseguirá apreciar. Empatizar com um perdedor sem redenção, abatido pelos eventos e pelas pessoas, exige esforço. Assim como exige esforço olhar de frente para a dureza da realidade sem esperar qualquer prêmio ou compensação.

A narrativa é intencionalmente fragmentada, um reflexo do protagonista. A escolha de Phillips de abandonar a estrutura tradicional do gênero de super-heróis em favor de uma trama mais intimista e reflexiva é arriscada, mas necessária. Aqui, a história não segue o herói em ascensão ou o vilão em busca de vingança: Folie à Deux explora a ideia do colapso da identidade, da fragilidade humana e do fracasso como condição permanente, quase impossível de redimir.

As performances dos atores são o coração pulsante do filme. Joaquin Phoenix, com sua intensidade habitual, não interpreta apenas o Joker: ele molda um Arthur Fleck esvaziado, sem esperança, e, ainda assim, surpreendentemente capaz de sentir um amor desesperado. Lady Gaga, no papel de Harley Quinn, acrescenta uma dinâmica singular: seu personagem é um contraste de ternura e manipulação, uma figura complexa e multifacetada que se afunda em um amor doentio e obsessivo.

O filme estará disponível em streaming em breve, e gostaria de avisar aos leitores do Jornal ROL que, se decidirem assisti-lo, não devem esperar o anti-herói rebelde e icônico do primeiro filme. A escolha aqui foi contar a história sem grandes sensacionalismos. Estamos diante de um ser humano totalmente despedaçado, que conhece de repente um sentimento salvador: o amor. Que o amor, sentido por uma pessoa com evidentes distúrbios mentais, seja algo bizarro, descontrolado e sem lógica é, no fundo, compreensível.

O enamoramento rápido, ou melhor, o incêndio repentino desse sentimento, é narrado com uma fotografia extremamente poética e músicas icônicas, entre as quais se destaca For Once in My Life), cuja letra ressoa em sintonia com o que o Joker sente: “Por uma vez, eu tenho algo que sei que não vai me abandonar, não estou mais sozinho. Por uma vez posso dizer: ‘Isto é meu, você não pode tirar.’”

E ainda assim, mais adiante no filme, veremos o quanto o amor pode elevar a alma humana, mas também quanto Joker se tornou vítima desse sentimento. O amor de Harley não é sincero. Como muitos de nós, ela se apaixonou por uma imagem, por um ícone, não pelo homem real, imperfeito e frágil que se esconde por trás da maquiagem de palhaço.

A complexidade emocional desse Joker reside exatamente em sua ambivalência: queremos amá-lo como ícone, mas temos dificuldade em ver Arthur pelo que ele realmente é. Não há redenção, não há salvação. Apenas uma tentativa de coexistir entre o caos de uma identidade destruída e um amor igualmente destrutivo.

A nível técnico, Phillips brinca bem com as luzes e sombras, ampliando as dualidades do protagonista. A montagem, deliberadamente fragmentada, reflete a instabilidade psicológica de Arthur, e a trilha sonora – que oscila entre tons melancólicos e explosões de alegria enganosa – sublinha magistralmente esse contraste. Mas o ritmo, em certos momentos lento, pode desorientar quem busca uma narrativa mais adrenalínica ou linear.

O filme não é para todos. Não busca entreter, mas refletir a condição humana arruinada, e é aqui que se cria um distanciamento entre o público que esperava por vingança e quem, em vez disso, está pronto para enfrentar a crua fragilidade do ser humano. Não haverá tiroteios insanos, nem uma glorificação do anti-herói. Este Joker é um homem cansado, esvaziado pela vida e pelo sistema que o jogou por terra. E, ainda assim, nessa obscuridade, há uma beleza rarefeita, uma estética sutil que pulsa nos detalhes e nas pequenas evasões oníricas que o filme oferece.

O final, assim como as reviravoltas, não vou contar, porque acredito que devem ser vistos e vividos com os próprios olhos, no silêncio denso das suas emoções. Este filme não precisa de um guia ou de um manual para ser compreendido. É preciso apenas se deixar cair, sem rede, naquela escuridão emocional que nos deixa desconfortáveis, mas que, justamente por isso, tem o poder de nos transformar.

Em um mundo que nos empurra continuamente para as aparências, Joker nos convida a sentar com nossa dor, a olhá-la nos olhos, sem filtros, sem piedade. Não há nada de reconfortante nesta história, mas é exatamente ali, na crua e devastadora vulnerabilidade de Arthur, que emerge uma beleza que não pode ser explicada. Não é uma beleza feita para ser compreendida ou agarrada; é um sopro que escapa, uma centelha que se apaga na escuridão, mas que por um breve instante ilumina tudo o que somos.

E, talvez, no final, a verdade seja esta: nem sempre somos feitos para a vitória, para a glória ou para a redenção. Somos feitos para ser humanos, em nosso caos e em nossa graça, em nosso amor que queima e nos consome, mas que, de algum modo, nos torna vivos.

Não esperem respostas fáceis, nem um senso de completude. Joker: Folie à Deux é como a própria vida: maravilhosa e dolorosa em igual medida. Nem todos estarão prontos para vê-lo, mas quem estiver, sairá diferente, com o coração um pouco mais pesado e o olhar um pouco mais lúcido. E isso, meus caros leitores, já é algo extraordinário.

Bianca Agnelli

Note di Follia: Esplorando la Fragilità Umana in Joker: Folie à Deux

Il film più chiacchierato, odiato, svalutato e sottovalutato del momentoJoker: Folie à Deux. Diretto da Todd Phillips, è l’attesissimo sequel dell’universo cinecomico, con Lady Gaga nel ruolo di Harley Quinn e un Joker, interpretato da Joaquin Phoenix, che appare veramente massacrato e malconcio.

Potremmo parlare dei problemi di sceneggiatura che questa pellicola evidentemente ha – soprattutto riguardo al personaggio di Harley Quinn – ma ciò non è abbastanza per rendere il film “deludente”. Sono andata in sala sabato scorso e ho lasciato decantare le mie emozioni, in modo che la parte razionale del mio cervello non fosse troppo condizionata dal fatto che, sì, questo film mi è davvero piaciuto. Cercherò quindi di parlarne in maniera equilibrata e sincera.

La scena iniziale introduce un piccolo cortometraggio animato, dallo stile retrò e deliziosamente godibile. “What the World Needs Now Is Love”, ciò di cui il mondo ha bisogno ora è l’amore. È così che il film prende il via, e l’amore, con la sua accettazione e il suo tormento, è un tema pulsante lungo tutta la narrazione.

La prima cosa che ho notato appena il film è iniziato è l’estremo degrado e il malessere che gravano sul personaggio principale. Questo non è un film celebrativo. È un film che chi non ha mai affrontato o voluto affrontare la miseria umana – quella che, a tratti, tocca ognuno di noi – non riuscirà ad apprezzare. Empatizzare con un perdente senza riscatto, schiacciato dagli eventi e dalle persone, richiede impegno. Così come richiede impegno guardare in faccia la bruttezza della realtà senza aspettarsi alcun premio o contentino.

La narrazione è volutamente frammentata, specchio del protagonista. La scelta di Phillips di abbandonare la struttura tradizionale del genere cinecomico a favore di una trama più intimista e riflessiva è rischiosa, ma necessaria. Qui, la storia non segue l’eroe in ascesa o il villain in cerca di vendetta: Folie à Deux esplora l’idea del collasso dell’identità, della fragilità umana e del fallimento come condizione permanente, quasi impossibile da redimere.

Le performance degli attori sono il cuore pulsante del film. Joaquin Phoenix, con la sua consueta intensità, non interpreta solo Joker: plasma un Arthur Fleck svuotato, privo di speranza, eppure sorprendentemente capace di provare un amore disperato. Lady Gaga, nel ruolo di Harley Quinn, aggiunge una dinamica singolare: il suo personaggio è un contrasto di tenerezza e manipolazione, una figura complessa e sfaccettata che affonda in un amore malato e ossessivo.

Il film sarà presto disponibile in streaming, e vorrei avvisare i lettori del Jornal Rol che, se decideranno di guardarlo, non dovranno aspettarsi l’antieroe ribelle e iconico del primo film. La scelta qui è stata quella di raccontare la storia senza grandi sensazionalismi. Ci troviamo davanti a un essere umano del tutto spezzato, che conosce improvvisamente un sentimento salvifico: l’amore. Che l’amore, provato da una persona con evidenti disturbi mentali, sia qualcosa di bizzarro, sregolato e privo di logica è, in fondo, comprensibile.

L’innamoramento rapido, anzi, l’incendio improvviso di questo sentimento, ci viene raccontato con una fotografia estremamente poetica e brani iconici, tra cui spicca “For Once in My Life”, il cui testo risuona in perfetta sintonia con ciò che Joker prova: “For once, I have something I know won’t desert me, I’m not alone anymore. For once I can say, ‘This is mine, you can’t take it.’”

Eppure, più avanti nel film, vedremo quanto l’amore possa sollevare un animo umano, ma allo stesso tempo, quanto Joker sia divenuto vittima anche di questo sentimento. L’amore di Harley non è sincero. Come molti di noi, si è innamorata di un’immagine, di un’icona, non dell’uomo reale, imperfetto e fragile che si cela dietro il trucco da clown.

La complessità emotiva di questo Joker risiede proprio nella sua ambivalenza: vogliamo amarlo come icona, ma fatichiamo a vedere Arthur per ciò che è davvero. Non c’è riscatto, non c’è redenzione. Solo un tentativo di coesistere tra il caos di un’identità spezzata e un amore altrettanto distruttivo.

A livello tecnico, Phillips gioca bene con le luci e le ombre, amplificando le dualità del protagonista. Il montaggio, volutamente frammentario, riflette l’instabilità psicologica di Arthur e la colonna sonora – che si sposta da toni melanconici a esplosioni di gioia ingannevole – sottolinea magistralmente questo contrasto. Ma il ritmo, a tratti lento, potrebbe disorientare chi cerca una narrazione più adrenalinica o lineare.

Il film non è per tutti. Non cerca di intrattenere, ma di riflettere la condizione umana spezzata, e proprio qui si crea un distacco tra il pubblico che aspettava vendetta e chi, invece, è pronto a confrontarsi con la cruda fragilità dell’essere umano. Non troverete sparatorie folli, né una glorificazione dell’antieroe. Questo Joker è un uomo stanco, svuotato dalla vita e dal sistema che lo ha piegato. Eppure, in questo buio, c’è una bellezza rarefatta, un’estetica sottile che pulsa nei dettagli e nelle piccole evasioni oniriche che il film regala.

Il finale, così come i colpi di scena, non ve li racconto, perché credo debbano essere visti e vissuti con i propri occhi, nel silenzio denso delle vostre emozioni. Questo film non ha bisogno di una guida o di un manuale per essere compreso. Bisogna solo lasciarsi cadere, senza rete, in quell’oscurità emotiva che ci mette a disagio, ma che, proprio per questo, ha il potere di trasformarci.

In un mondo che ci spinge continuamente verso l’apparenza, Joker ci invita a sedere con il nostro dolore, a guardarlo dritto negli occhi, senza filtri, senza pietà. Non c’è nulla di rassicurante in questa storia, ma proprio lì, nella cruda e devastante vulnerabilità di Arthur, emerge una bellezza che non si può spiegare. Non è una bellezza fatta per essere compresa o afferrata; è un soffio che sfugge, una scintilla che si spegne nel buio, ma che per un breve istante illumina tutto ciò che siamo.

E forse, alla fine, la verità è proprio questa: non sempre siamo fatti per la vittoria, per la gloria o per il riscatto. Siamo fatti per essere umani, nel nostro caos e nella nostra grazia, nel nostro amore che brucia e ci consuma, ma che, in qualche modo, ci rende vivi.

Non aspettatevi risposte facili, né un senso di compiutezza. Joker: Folie à Deux è come la vita stessa: meravigliosa e dolorosa in egual misura. Non tutti saranno pronti a vederlo, ma chi lo sarà, ne uscirà diverso, con il cuore un po’ più pesante e lo sguardo un po’ più lucido. E questo, miei cari lettori, è già qualcosa di straordinario.

Bianca Agnelli

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Ireti

Cia. do Despejo faz crítica à necropolítica brasileira no espetáculo de teatro-dança ‘IRETI’, inspirado na mitologia Iorubá

Cena da peça ‘Ireti’

Baixe imagens de divulgação da peça neste link aqui. Crédito: Duda Viana

A distopia narra a história de uma mãe preta que pariu o Brasil e, depois de ser preterida pela nação, reivindica seus direitos de criação

Em maio, a Cia. do Despejo estreia o espetáculo de teatro-dança “IRETI”. A obra é uma crítica à necropolítica brasileira e às violências sofridas pelas mulheres negras em nosso país. As sessões acontecem nos dias 17 de maio, às 19h30, no Teatro Municipal de Mauá; 31 de maio, às 19h30, no Teatro Elis Regina, em São Bernardo do Campo; e 15 de junho, às 19h30, no Teatro Carlos Gomes, em Santo André. 

A montagem, que tem dramaturgia de Ingrid Alecrim, direção de cena de Carmem Soares, direção de movimento de Carol Ewaci e direção musical de Helena Menezes, é inspirada na mitologia Iorubá, sobretudo na figura de Nanã Buruku, orixá que cedeu a lama do seu domínio para a criação dos corpos humanos. Ela também é responsável pela desencarnação, uma vez que exige de volta a matéria criadora da vida.

Sobre a história

“O texto surgiu da ideia persistente de que o Brasil (conforme nominado após a colonização) foi parido e aleitado por mulheres indígenas, africanas e afrodescendentes. “Nosso ‘mundo’ foi e é moldado através das mãos dessas mulheres e, muitas vezes, contra suas vontades”,  revela a dramaturga Ingrid Alecrim.

A narrativa é conduzida por uma mãe preta e pobre, a personificação de Nanã Buruku. Ela ergueu o Brasil com os próprios braços, mas foi preterida pelo país e, agora, mergulhada em um contexto de miséria, violência, fome e terror, assiste a seus filhos serem mortos e presos e a suas filhas serem estupradas.

A matriarca furiosa reivindica seus direitos de criação, exige que a matéria humana retorne para si e procura alguma maneira de acabar com o mundo em desequilíbrio. A personagem é inserida em uma distopia, na qual as guerrilhas urbanas e rurais expandem uma guerra contra a governança brasileira.  E, nesse contexto, ela reflete sobre o que precisa ser mudado se quisermos viver em um país mais justo e menos violento.

“Ela toma as rédeas da existência humana, se colocando como uma figura central da história do Brasil, e não aceita ser musa, escrava, empregada ou ladra. Ela deixa de ser protagonista de uma história silenciada e solitária e se assume como protagonista da nação. Com essa história, a Cia do Despejo, da qual sou cofundadora, valoriza as narrativas das mulheres brasileiras ao dar voz às verdades desagradáveis, às culturas afrodiaspóricas depreciadas e à configuração de uma realidade apocalíptica convergente com os acontecimentos atuais”, comenta a autora.

Além de denunciar vários tipos de atrocidades cometidas contra a população negra desde a colonização, a peça tem a proposta de valorizar as ancestralidades.

“A todo momento são reavivados saberes e costumes ancestrais que chegam a nós através da afrodiáspora e das culturas orais indígenas. Ritos de cura e presenças míticas permeiam a narrativa e seus acontecimentos. A mitologia Iorubá chegou ao Brasil por meio das pessoas escravizadas e sobrevive através de muita resistência, também inevitavelmente mesclada à cultura do colonizador”, acrescenta.

O figurino criado por Duda Viana funciona como uma segunda pele, obedecendo aos tons terrosos do cenário e fazendo uma alegoria das figuras a serem interpretadas.E as máscaras de Cleydson Catarina contribuem para a potência da encenação. 

 O texto de “IRETI” ficou em 4º lugar no edital de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos, realizado pelo CCSP – Centro Cultural São Paulo em 2019 e, em 2021, foi exibida uma versão no formado de videoarte online pelo canal da Cia. Mungunzá de Teatro no YouTube. Com essa circulação, o espetáculo finalmente chega aos palcos no formato idealizado pela companhia desde o começo das pesquisas.

Essas apresentações do trabalho foram contempladas pelo edital Proac nº37/2023 de Cultura Negra, Urbana e Hip Hop, promovido pela Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.

SOBRE INGRID ALECRIM – TEXTO

Ingrid Alecrim é atriz, dramaturga, roteirista, produtora cultural e maquiadora. É cofundadora da Cia do Despejo, onde atuou como cocriadora, atriz, figurinista e maquiadora do espetáculo “Fêmea” e atualmente é dramaturga e produtora do espetáculo “IRETI”.

Formada como atriz pela SP Escola de Teatro, iniciou sua trajetória artística através do Teatro Vocacional nos anos de 2006 a 2011. Atualmente, cursa licenciatura em Artes Cênicas na ECA/USP.

SOBRE CARMEM SOARES – DIREÇÃO DE CENA

Carmem Soares é atriz, diretora, produtora e professora de teatro. Possui Licenciatura e bacharel em Artes Cênicas e Mestrado em Arte Educação com pesquisa em teatro para crianças, cujo público eram estudantes de uma escola estadual no bairro do Grajaú, um dos espaços ocupados com seu Grupo, a II Trupe de Choque, onde atuou por 10 anos.

É idealizadora do Projeto La Fancha – Casa Restaurante e atualmente é integrante da Cia do Despejo, onde dirigiu o espetáculo Fêmea.

SOBRE CAROL ROCHA EWACI – DIREÇÃO DE MOVIMENTO

 É bailarina, mãe do Amon-Rá Ike, artista educadora, coreógrafa e instrutora de Pilates. 

Sua pesquisa é na dança negra. Fez Mestrado em Artes no Progama de Pós-graduação da UNESP em Estéticas e poéticas Cênicas. É fundadora e Dirige o Núcleo Pèrègun de danças contemplada pela 32° Fomento a Dança da cidade de São Paulo onde também é preparadora corporal de danças afrobrasileiras e Pilates. 

Foi professora de Artes da rede pública de 2009 a 2017. Hoje é artista educadora em diversos projetos públicos e de organizações não governamentais nas periferias. É artista na  Capulanas Cia de Arte Negra desde 2010 e  também preparadora fisica de Pilates, diversas vezes contemplada por Fomento ao teatro e outros editais como Proac, Fomento a Periferia e intercâmbio pelo Ministério da Cultura do qual foram a Moçambique em 2012. É docente do curso de pós-graduação em Dança da Faculdade Rio Branco desde 2022. Em 2024, termina a segunda licenciatura em Ed. Física, a certificação internacional Autêntico Pilates Brasil e é diretora de Movimento no espetáculo Ireti da Cia do Despejo.

SOBRE HELENA MENEZES – DIREÇÃO MUSICAL

Helena Menezes é compositora, cantora e instrumentista no meio musical e teatral. Graduada e licenciada em geografia pela Universidade de São Paulo e sonoplasta formada pela SP Escola de Teatro. Assistente de direção musical no espetáculo Kuami-Caminhos para Identidade com o Núcleo Abre Caminhos. Sonoplasta nos espetáculos Okan e Deixa Sambalelê em paz do grupo Xingó e no espetáculo Cavalos Pretos São Imensos. Musicista nos espetáculos Feitiço de Soma com o grupo Rainha Kong e Eu Atlântica do Coletivo Oju-Oju. 

Atualmente, é diretora musical do espetáculo Ireti pela Cia. do Despejo, na qual também foi musicista no espetáculo Fêmea. Atuou como compositora e musicista na companhia Bando_ nos espetáculos Obi e Negrinho do Pastoreio, no espetáculo Sobre as Baleias pela Coletiva Vulva da Vovó, em A Casa dos Homens com o Coletivo 2° Opinião e no do espetáculo de sombras O que te Assombra do Coletivo Rumores. Foi baixista e compositora da banda Pariá, com repertório autoral, formada por mulheres pretas, lésbicas e bissexuais e atualmente dedica-se ao projeto musical autoral Sankofa.

SINOPSE

A narrativa é guiada por uma mãe preta inspirada na personificação de Nanã Buruku. Na história ela aparece como a mulher que pariu e levantou com seus braços o Brasil. País que a pretere, mata seus filhos e lhe relega a ingratidão e as sobras. 

Vislumbrando este mundo onde suas crianças vivem numa realidade cruel de fome, violência e dor, ela deseja a matéria da criação de volta para si, buscando uma maneira de acabar com um mundo desequilibrado. Nana reivindica seus direitos a uma boca que fala e a mãos que tanto curam quanto matam. Ela se assume como a terra aberta, pulsando e se preparando para voltar ao início. 

FICHA TÉCNICA

Direção de produção, dramaturgia e idealização: Ingrid Alecrim

Direção de cena: Carmem Soares

Direção de movimento: Carol Ewaci

Direção musical: Helena Menezes

Música e trilha sonora: Aline Machado

Interpretação (Nana e Iku): Thais Dias

Interpretação (Ori): Aryani Marciano

Interpretação (Ossain e Teorema): Miguel Estevão

Iluminação, cenário, cenotécnica e videomapping: Carolina Gracindo

Concepção de cenário: Carolina Gracindo e Lui Cobra

Montagem e operação de luz e vídeo: André Mutton e Carolina Gracindo

Figurino e costura: Duda Viana e Thais Dias

Confecção de Máscaras: Cleydson Catarina (Teorema, Ikú, Ossain, Nana, Ori) e Ingrid Alecrim (musicista)

Orientação de máscaras: Cleydson Catarina

Orientação de berimbau: Ana Flor de Carvalho

Orientação sobre teatro e orixalidades: Vitor da Trindade

Fotos: Duda Viana

Assessoria de Imprensa: Verônica Domingues e Bruno Motta (Agência Fática)

SERVIÇO

IRETI, da Cia do Despejo
Duração: 90 minutos
Classificação: 16 anos

TEATRO MUNICIPAL DE MAUÁ
Data: 17 de maio, às 19h30
Endereço: Rua Gabriel Marques, 353 – Centro – Mauá
Ingresso: gratuito | Retirada na bilheteria 1 hora antes do início do espetáculo

TEATRO ELIS REGINA
Data: 31 de maio, às 19h30
Endereço: Av. João Firmino, 900 – Assunção – São Bernardo do Campo
Ingresso: gratuito | Retirada na bilheteria 1 hora antes do início do espetáculo

CINE THEATRO DE VARIEDADES CARLOS GOMES
Data: 15 de junho, às 19h30
Endereço:  R. Sen. Flaquer, 110 – Centro – Santo André
Ingresso: gratuito | Retirada na bilheteria 1 hora antes do início do espetáculo

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Instagram: @ciadodespejo

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A Cultura do Riso

Honorico de Bulhões, autor da crítica da obra ‘A Cultura do Riso’, do escritor José Humberto Henriques

Magna Aspásia Fontenelle
Magna Aspásia Fontenelle

José Humberto Henriques, médico, escritor mineiro, natural de Brejo Bonito-MG, é um dos maiores escritores vivo e, sua criação literária contemporânea de qualidade é inquestionável, composta de 407 livros publicados.

José Humberto Henriques
José Humberto Henriques

Henriques, em sua trajetória literária permeia por inúmeros gêneros literários, ganha destaque por sua genialidade, desvelando um emaranhado de fios que formam o tecido da sua criatividade, o que levou ao grande salto para literatura mundial e a indicação ao ‘Prêmio Nobel de Literatura’ 2023.

A Cultura do Riso

Esse romance de estreia de J. Humberto Henriques traduz a concepção do que seria toda as obras posterior desse autor prolífico. Publicado originalmente com o nome de Geomorfosintaxe do Riso, causou estranheza nos meios de comunicação de massa no público em geral, exatamente pelo fato de parecer hermético e de leitura difícil em demasia.

Henriques dividia o romance em três partes desiguais, uma que tratava da banda Geo, outra da banda Morfo e outra da banda Sintaxe da existência. De um modo mais sucinto, a primeira parte seria rural, a segunda seria urbana e a terceira reincorpora a parte rural e a urbana, atinge um ápice de atitude e correção até que as duas partes sejam uma apenas. Tudo se reintegra. 

Nesse romance, todo ele construído com a falta de linearidade que contempla a prosa universal moderna, nada é temporal. J Humberto Henriques remexe com a estrutura do romance, desconstrói tudo com a força do grande criador. Isso poderia ser chamado, em dias de hoje, de romance gauche, como existiu no passado muitas obras com esse referendum. O salto que esse romance propõe dentro da literatura brasileira é gigantesco.

Aqui estão várias vertentes da literatura. Essa divisão que muitas vezes têm o denodo da articulação simplesmente escolástica, didática, que nesse romance obedece a um ritmo sem pragmatismo declarado. Entretanto, aqui está reunido o romance como um todo contemplando a poesia, conto, dramaturgia, ensaio, crônica e a novela.

Por essa razão, quando lido com a atenção que uma grande obra exige, pode ser lembrado o romance como obra genial. O impacto inicial da leitura tida como hermética vai se arrefecendo devagar, sempre à medida que se direciona a leitura para as suas tangencias mais importantes. Muitas vezes a releitura é necessária para a devida compreensão dos objetivos maiores do autor, exatamente o ensejo de promover a novidade dentro da prosa.

A condensação dentro do texto é máxima. Trata-se de uma verdadeira saga, porém, pouco percebida porque o livro enxuga a prosa, reverencia o valor da palavra, como se ainda a verificasse sob condições mallarmaicas. O personagem principal, um certo Nhico, que muitos veem como alter ego do autor, perambula por todo o romance, inicia a descrição e a termina de uma maneira escondida. Zanza de lado a lado até encontrar a alma gêmea.

O amor é o ponto alto e nevrálgico desse livro, a ponto de tudo ser cumulativo em sua direção. O encontro dessa mulher, uma certa Michelle, protótipo do bom gosto e da beleza, faz da personagem em sua faceta masculina um verdadeiro encontro de felicitações. O livro não se resume a isso. Seria muito simplório para um texto criado pela força de JH Henriques, um dos maiores romancistas vivos do mundo moderno.

Capa do livro ‘A cultura do Riso’, de
José Humberto Henrique

      No dizer de Duílio Gomes, o grande mineiro de Belo Horizonte, esta obra de Henriques é ímpar. Assim, comentou Duílio no prefácio da primeira edição desse romance.  “A linguagem, que lembra, às vezes Guimarães Rosa, mas é extremamente pessoal, revela  a maturidade  do autor e detona seu longo fôlego nesse mergulho fundo ao universo rural de ‘Geomorfosintaxe do Riso’.

O processo criativo nos remete ao melhor de Cortazar e Gabriel Garcia Márquez – é circular, complexo, morde a própria cauda e se estilhaça em várias opções de leitura. Os personagens, dezenas deles, passeiam no fio da navalha e trazem códigos pessoais que determinarão suas preferências e raízes socioeconômicas.

O autor é pendular entre a reflexão (com citações que irão mostrar sua cultura literária) e a narrativa, que pode estar tanto na primeira como na terceira pessoa. Essa narrativa, quando da primeira pessoa, alterna-se entre o masculino e o feminino. A arte de narrar, em José Humberto Henriques, é o seu grande trunfo.

Sua análise clara da alma e da mente dos personagens – assim como algumas terminologias do ramo – desnudam, diante do leitor, o médico profissional que ele é. Seu bisturi literário é preciso. Seu estilo, precioso.

Metáforas belíssimas estão semeadas ao longo do texto. A prosa é poética, de uma poesia sofisticada e lúdica. O autor se debruça sobre o lirismo para pescar, com rara habilidade, o insólito e o tragicômico.

“Geomorfosintaxe do Riso”, mapa aberto para muitas pistas e despistes do tesouro. Encontrá-lo é um desafio. E um prazer.”

Ps.: Publicação autorizada pelo autor.

Magna Aspásia Fontenelle

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