O voo da dente-de-leão

Paulo Siuves: ‘O voo da flor dente-de-leão’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
O medo se desfazendo, feito a flor dente-de-leão
O medo se desfazendo, feito a flor dente-de-leão
Imagem gerada pela IA do Bing – 15 de setembro de 2024 às 7:24 PM

O medo nasce como uma sombra discreta, deslizando pelos cantos onde a luz mal chega. É um visitante silencioso, que se instala sem ser convidado e cria raízes profundas nos recantos que julgávamos seguros. Às vezes, ele murmura, uma voz baixa e insidiosa que nos faz hesitar; outras vezes, ele explode em gritos surdamente ensurdecedores, fazendo o peito apertar e a mente girar em círculos confusos. O medo é persistente, como uma erva daninha que insiste em crescer em solo seco, desafiando a aridez ao seu redor.

 Mas o medo não floresce como as flores que esperamos. Ele é frágil, uma flor delicada como o dente de leão. Surge inesperadamente, em brechas do concreto, em rachaduras do asfalto, em terrenos inóspitos onde nada deveria crescer. Sua resiliência é um paradoxo; ele se espalha sem pedir licença, mostrando uma força que na verdade é sua fragilidade. O medo se esconde nas fendas do cotidiano, mas quando nos aproximamos e o observamos de perto, percebemos que ele, assim como o dente de leão, é uma ilusão de força.

 Imagine, então, o medo como um mestre disfarçado, que nos ensina sobre os limites que autoimpomos e a coragem que precisamos descobrir. Ele nos desafia a encarar nossos receios mais profundos e a confrontar as sombras que projetamos em nós mesmos. É nesse confronto que revelamos nossa verdadeira essência, aquela capaz de transformar a sombra em luz.

Quando uma mulher se separa de seu parceiro, ela se vê cercada por um turbilhão de medos. O medo da opinião da sociedade, o receio de não conseguir pagar as contas, o temor de que seus filhos não a respeitem, o pavor das críticas dos parentes. Cada medo se torna uma muralha que tenta restringi-la, mas cada um também é uma oportunidade para que ela cresça e se liberte.

Na primeira brisa de coragem, o medo começa a se desfazer. Um sopro suave o leva embora, espalhando seus vilanos pelo vento, longe, para nunca mais retornar. O medo, antes colossal e opressor, se reduz a nada mais do que fragmentos leves, flutuando até desaparecer. O que resta é um caule vazio, um vestígio de uma força que nunca foi real, mas apenas uma construção ilusória.

Enfrentando  o medo, descobrimos que ele não é um monstro invencível, mas sim um espelho que reflete nossas inseguranças e limitações. Libertar-se do medo é como soltar um dente de leão ao vento: um ato simples, porém poderoso, que permite que novas possibilidades se espalhem. E, ao nos libertarmos do medo, nos tornamos mais inteiros e livres, capazes de crescer em terrenos antes inóspitos.

O dente de leão, com sua beleza efêmera e fragilidade aparente, nos lembra que, às vezes, a verdadeira força está na capacidade de transformar o medo em liberdade. E, ao soprar o medo para longe, encontramos não apenas a coragem de enfrentar nossos desafios, mas também a capacidade de nos reinventar e florescer, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

Paulo Siuves

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Andreia Caires: 'Dente-de-leão'

Andreia Caires

Dente-de-leão

Já reparou nos ‘dentes-de-leão’?  Aquelas florzinhas peludas e branquinhas são minhas preferidas. São intrigantes, pois quando a gente pensa que morrem, voam!  Quando criança eu amava observá-las flutuando mansamente para longe. A flor ‘dente-de-leão’ parece frágil, mas quando ganha um impulso do vento nossos olhos não conseguem alcançá-las. 

Fragilidade não é sinônimo de fraqueza; a pessoa pode ser mais forte do que imaginamos. Alguém aparentemente frágil é capaz de se prevenir muito mais do que a pessoa que se acha forte, mas os que confiam na própria força, terminam por se descuidar.  

Muitos julgam uma pessoa ‘frágil’ como alguém medroso diante da vida, quando na realidade é que ela é muito observadora e está apta a aprender as coisas até mais que as outras que se dizem ‘corajosas’. 

Algumas pessoas quando me veem pessoalmente dizem: “Você é tão delicada!” 

Sim, posso até ser delicada, como uma florzinha ‘dente-de-leão’, mas não sou frágil e muito menos imatura.  

Todos nós alguma vez na vida nos sentimos fracos. Até uma simples gripe pode nos abater a ponto de não conseguirmos fazer sequer os serviços diários. Mas isso não quer dizer que somos ‘fraquinhos.’ 

Vivemos em um mundo onde ser forte é o padrão e obrigação. Alguns exageram tanto que fazem exercícios excessivos para deixar seus corpos bem definidos e exageradamente musculosos. Dizem que é para saúde, mas na verdade a maioria delas só querem mostrar a sua força.  

Infelizmente, nesse mundo materialista e competitivo as pessoas dão muito ênfase a força e a juventude. 

Mas a fraqueza e força qual me refiro na verdade, não tem nada a ver com a aparência. O apóstolo Paulo, por exemplo foi um dos que mais entendia os fracos. 

Na sua primeira carta a igreja de Coríntios no capítulo 12, ele diz que até a parte mais fraca ou menos atraente de nosso corpo tem seu valor e função.  E já na sua segunda carta ele diz: “Quando sou fraco, é que sou forte.”. Por isso, algumas pessoas podem até ter uma aparência frágil, mesmo assim elas conseguem demonstrar fé e força diante das situações mais difíceis.  

São como as florzinhas ‘dente-de-leão’. Quanto mais delicadas, ainda mais fortes se tornam, e resistem à vida com muita leveza. 

Que Deus nos abençoe, nos ensine e nos dê forças mesmo em nossas fraquezas, para que possamos superar as dificuldades da vida!

 

Andreia Caires

andreiacairesrodrigues@gmail.com