O que fazer?

Clayton Alexandre Zocarato: ‘O que fazer?’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada pela ia DO bING

O que fazer?

Estava largado no quarto.

As almofadas com resto de saliva, com cabelos jogados por todos os lados, evidenciava o quanto a noite tinha sido quente, com um pouco sêmen seco mantido entre o lençol e o colchão. A prostituta já tinha pegado seu ‘cachê’.

No seu  coito,  ele foi muito afoito…

Por entre a cama de casal vazia, voltava a  contemplar noites onde sempre teve que amar sozinho.

Amar sozinho? Elementar ficar sozinho, entre um ninho de depreciação psicológica, que não está gerando mais nenhum tipo de sentimento, que não seja auscultado pela  ‘dor’.

Seus pensamentos ficavam aturdidos entre o próximo gole de cerveja, e a se alucinar com sua presença somente imaginária.

Os elementos mais profundos de sua solidão vieram à tona naquela noite, onde tudo foi misturado em um frisson lunático; dormir seria um alívio para sua chama de gozo apagado, que iria adentrar por outras  madrugadas afins.

Um novo amor, reinventado na penumbra, que se estabelece, para tentar sair da solidão, que a cada entardecer vem visitar seus pensamentos.

Procurar ela? Novamente seria o risco calculado de virar um motivo de grande chacota.

 – Pois é… os românticos estão ficando cada vez mais ultrapassados….

Pensava consigo mesmo:

Muito corpo, e pouco esforço…

Na atualidade, carente de subjetividades amorosas, zelam mais a rosa do sexo desenfreado do que o cultivo das delícias do verdadeiro amor…

Mas como se classificar o que é amor do que é ilusão?

Os mais ilustres pensadores, não conseguiram explicar como amores vêm e vão, e como corpos são consumidos, como sendo fruto dos mais baratos sentimentos, que são confundidos em alguns momentos com um fervor de paixão indomável.

O que fazer?

Agradecer, pelo desprazer de uma súbita saudade, que adormece a cada instante em seus braços vazios, sendo uma cadência comportamental aterradora,  tendo que desafiar o tempo.

 Dentro de suas pulsações, o desejo sagrado de tentar amenizar seus erros de juventude, ejaculava muita dor e sofrimento.

Aquela festa, nem sequer fotos se tem dela, a não ser remendos de tormentos que rodeiam sua mente, sem pestanejar algum tipo de piedade, em almejar perdoar seus erros de uma soberba de beleza jovial,  que parecia nunca ter fim.

Não há o que fazer nesse ponto.

A cada novo gole de bebida, mais desespero exala sua mente, com um desejo funesto em querer arrancar de dentro de si algum tipo de socorro espiritual, que assim viesse apagar todas as suas recordações daquele corpo esbelto, traçado com um batom discreto, com olhar sereno e demoníaco que o enfeitiçava, como sendo uma das piores mandingas que alguém poderia lançar sobre si.

O tempo passou, e jamais o perdoou…

Deveria ter arriscado mais,  ao invés de ficar se protegendo como um animal indefeso, mais preocupado com o que os outros vão pensar, do que conter a percepção de se  aproximar, e tentar realmente viver uma doce história de amor.

Passa e passou dias e anos…

Parece que foi ontem, mas já faz 20 anos.

Suas carreiras estão consolidadas, mas ‘ele’, é necessário se consumir, na construção nefasta de mentiras de,  ‘pseudo amores’, que nunca existiram de fato, para assim realçar uma inspiração que venha a suplantar um pouco de sua doença existencial, em estar com uma  intra existência que vai contra a sua vontade em, constantemente, balbuciar lorotas, de tão asquerosas e frias que são contadas, chega até mesmo a acreditar em suas próprias mentiras.

Internamente é duro consigo mesmo, pois não sabe o que fazer, diante o seu querer, que o faz  enrijecer os dentes, em um bruxismo árduo de amor silenciado por entre tantos sonhos contendo desilusões, que levam a um autoquestionar, de encarar o momento vivente, que naquele momento passado deveria ter ousado, e saído do seu comodismo.

A luz do abajur está baixa, as lágrimas rolam, e mais uma vez o travesseiro vai ficar molhado, com líquor de uma saudade sem fim.

A sua infância passou…

E nada adiantou o reconhecimento, pois diante o teatro de doces camadas de aplausos, está à profundidade da solidão.

Seu coração está pesado diante tal situação vexatória, pois sabe…

Ninguém pode  ajudá-lo nesse momento de grande desespero, assim como em outras noites que passou em claro.

Mas ainda: o que fazer?

A não ser continuar a querê-la, mesmo sabendo que diante suas alucinações neuróticas, de um gosto amoroso que não foi saciado, está entorpecido dentro de si uma dor que poucos entenderiam.

A cada nova baforada de charutos, desenha na fumaça seu semblante como um diamante demoníaco forjado no infinito, o que faz pensar na futilidade que muitas pessoas, que vão aos poucos colecionando

corpos‘, em um pragmatismo de não se dar o devido valor moral e espiritual.

‘Ficar‘, mais uma vez? Perante  o julgamento do  senso comum, em se fazer sexo, como um animal selvagem no cio, já não lhe traz nenhum tipo de alento.

E tampouco,  ‘ficar conectado‘, em redes sociais, como um adolescente viciado em tecnologia, só o faria ser ainda mais  bestializado.

Mas ainda, diante essas  reflexões, o que fazer?

Amanhecer, a cada novo dia esperança, sonhando em desafiar as leis físicas, que pudesse transportá-lo para um  outro tempo, aonde as coisas seriam mais inocentes, e não tão  indecentes.

Reviver festivais escolares, em que pudesse ao menos avistá-la de longe, com um olhar de tão puro que tinha, que chegava a  ser tolo, defronte a liquidez histórica que chegava lentamente para sua geração.

O que fazer?

O que vai acontecer?

O que ainda vai conhecer?

São perguntas que são vaporizadas pelo ar, o levando para uma escravidão da própria mente, pois em momentos sua vontade é mais bruta  que sua razão.

A zombaria que o amor sofre, defronte aqueles e aquelas que colecionam amantes, não o satisfazem, apenas o faz mais enojado perante uma sociedade que adoece, perante os prantos de suplício demoníaco em se esconder, perante a tessitura de corpos que vão sendo triturados pela máquina desenfreada do prazer a bel-gosto que tentam negar  a todo custo, mas não conseguem tomarem  alguma atitude que seja drástica quanto a  isso, sem vir a correr o risco de aumentar seus graus de solidão.

Não há o que fazer, a não ser sonhar com ela, que está perdida pelos meandros da história, e que o faz reinventar ardentemente aventuras fantasiosas, na formosura  de estar consolidado em uma irmandade de mentiras, que  realizam um fogaréu de aplausos de vaidades sexuais, que fazem boa parcela das pessoas parecer bem comuns, perante o que tinha como obrigação ética não  ser incomum.

O tumor de se viver sem saber o que fazer, deixa as máculas de que muitas existências são feitas, como fruto  do prazer de degustar dos mais baratos e terríveis vícios, para se encontrar alguma forma de esquecimento, que aos poucos vai virando uma lamento, afundando-o em tristeza, que é disfarçada perante seus prestígios sociais, mas que não o fazem menos chateado, como qualquer outro simples mortal solitário.

Dentro de sua vida taciturna, seus amores não vividos causam um frenesi, entre o que foi e o que poderia ter sido.

Não há mais nada a se fazer em relação a isso.

A cada nova noite, um novo festival de pensamentos que vão se constituindo em sangramentos sentimentais, que não poderão mais ser saciados por completo diante seus pedidos de arrependimento.

Seu arrependimento é um nível de indignidade, em não se pensar que a velhice chegará, e que a saudade da juventude, é uma mórbida cilada do destino, que deixa a pergunta; ‘o que fazer agora?’, para a maioria das pessoas, mas poucas encontram resposta apropriada de como fazer, e para quê fazer algo,  diante da proximidade do seu fim.

Mas o que fazer diante do fim, que é o começo de um novo fazer, desconhecido e temido, mas sempre chega sem aviso, ou sequer com algum sorriso.

Clayton Alexandre Zocarato

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