No salão vazio dos meus desejos, Eu danço sozinho, em passos lentos, Aos ecos de uma música que só eu ouço, Uma melodia feita de silêncios e de suspiros.
Você, musa de pele alva e cabelos negros, Aparece como uma sombra na penumbra, Um fantasma de paixão que nunca se revela, Mas sempre me chama, sempre me seduz.
Eu estendo minha mão na direção do impossível, E por um instante, quase te toco, quase te sinto. Mas o ar entre nós é espesso com a distância, E você se dissolve como uma névoa ao amanhecer.
E sempre assim, noite após noite continuamos Numa dança que nunca me satisfaz, Você, sempre fora de alcance, sempre desejada, E eu, sempre dançando, sempre esperando.
Pois há uma beleza amarga em nosso desencontro, Uma perfeição na coreografia do impossível. E embora o universo nos mantenha separados, Nos sonhos, querida, sempre dançamos juntos.
Deitar-se no divã: uma possibilidade de reescrever a própria história
PSICANÁLISE E COTIDIANO
Bruna Rosalem:
‘Deitar-se no divã: uma possibilidade de reescrever a própria história’
Desde a paciente mais icônica de Freud, Anna O. e seu pedido ao médico neurologista que a deixasse falar sem interrupções, dizia “a limpeza da chaminé”, através de seu relato livre, a técnica psicanalítica depois pensada por Freud ao ouvir o desejo de sua paciente em falar livremente, tornou-se uma espécie de ‘cura pela palavra’.
É claro que este método investigativo do psiquismo não foi construído assim tão facilmente, mas nos revela o quanto a possibilidade de falar o que vier à mente a um sujeito numa posição subjetiva de suposto saber de algo que o paciente não tem acesso, e mais ainda, poder escutar-se e inserir-se em sua própria história, nos dá notícias de que esta prática de escuta e fala tem possibilitado que os sujeitos reescrevam novos caminhos para uma vida menos angustiante e mais criativa.
A psicanálise nada promete, porém ao colocar o sujeito diante de seus próprios temores, desejos nefastos, ímpetos proibidos, repetidas decepções amorosas, de uma confusa orientação sexual, vícios desgastes, comportamentos sintomáticos, de um mal-estar indecifrável, baixa ou nenhuma libido sexual, gagueira e um nervosismo tremendo ao falar em público, das dificuldades em conseguir um emprego por nunca se achar suficiente, do árduo trabalho de luto, de um diagnóstico inesperado de uma grave doença, de perdas financeiras, de não conseguir engravidar, adicções diversas, fobias, dores inexplicáveis em determinadas partes do corpo, ou ainda, sentir-se incapaz de terminar qualquer tarefa…enfim, são inúmeras as aflições que nos atingem, deitar-se no divã pode ser o começo para transformar este vórtice perturbador que se inscreve na carne e traz sofrimento.
Divã (do turco diwan) é um móvel de origem oriental, uma contribuição para a psicanálise que o tomou como um dos instrumentos de manejo na análise. Diversas cores e formatos, uns mais largos, outros menores e estreitos, coloridos ou mais neutros, ornados com almofadas, mantas e afins. Tudo para tornar este novo espaço, a ida da poltrona para o divã, confortável e atrativa, por que não? Afinal, em análise a tal ‘passagem’ é a entrada do sujeito numa próxima etapa de seu percurso, mais intensa, mais íntima, mais aberta à escuta de seus fantasmas.
A superação das entrevistas iniciais, ‘entre – vistas’, do olho no olho, analista e analisante, para um lugar de quase isolamento, onde não há mais alguém olhando diretamente e a sensação de solidão, deitado, o sujeito depara-se com uma outra perspectiva de escuta.
A figura do analista ainda se faz muito presente, porém ao ‘perder-se de vista’, ‘ausentar-se’ do campo visual do sujeito, o psicanalista espera romper de maneira mais enfática a lógica comum de diálogo, da reciprocidade, da troca, das modalidades usuais de conversa. Agora, no divã, torna-se mais palpável as possibilidades de regressão, de acessar conteúdos mais profundos, latentes, reveladores, a intensidade da transferência aumenta, abrem-se caminhos para que os sonhos entrem em cena como mais uma fonte de investigação da vida psíquica do analisante.
É como se o sujeito permitisse conversar consigo mesmo, obter as próprias respostas e explorar novos horizontes sem a preocupação de ser validado. Certamente que este processo é bastante trabalhoso, leva tempo, disposição e muito desejo. E não há garantias. Há um caminhar, um sentir, um vivenciar. Momentos, histórias, experiências. Quem sabe um recontar.
Ao se entregar aos desafios do divã, notadamente um sentimento de desamparo é irrompido. Afinal, a primeira porta de entrada para o mundo veio através de um olhar, ‘da janela da alma’, seja da mãe, seja de quem o projetou ao ser que está chegando. Perder este contato é de fato um árduo exercício. A psicanálise vem nos ensinar neste momento, que é possível se sentir desamparado sem a necessidade de um amparo. É justamente neste ensejo que o sujeito tem a possibilidade de se questionar acerca de suas dores, sem que um outro esteja lá prontamente para acolhê-lo. Há uma inversão na lógica do discurso, ou seja, nem sempre o questionamento do sujeito vai encontrar uma resposta que o satisfaça, muitas vezes são mais dúvidas que vão surgindo, mais indagações, mais chances de viradas, elaborações e saídas criativas.
Por mais estranhamento que possa provocar a passagem ao divã, são nos efeitos deste movimento que a análise pode ajudar o sujeito a atualizar seu passado no presente próspero, num esperançoso futuro.
Estendido no leito (de morte?), um outro ser pode ressurgir das cinzas que outrora impregnadas em seu corpo o forjava. Reescrever narrativas, descobrir o amor (o ódio também), amar e deixar ser amado, desfazer-se do secreto prazer pelo sofrimento, libertar-se da prisão dos pensamentos, correr o risco de ser livre.
No sussurro do vento, o amor se revela, Arrepiando a pele, trazendo a candura mais bela, Sabores, desejos, beijos apaixonados, No toque dos lábios, momentos tão esperados.
Na loucura da paixão, no silêncio do amor, Versos se entrelaçam, trazendo calor, Em cada estrofe, o sentimento profundo, Palavras que traduzem um amor fecundo.
Nos caminhos da esperança, sementes são semeadas, Onde o amor floresce em promessas renovadas, No doce amar, na liberdade de voar, Sentindo-te em cada verso, a te amar.
No nascer do Sol, no pôr da Lua, Emerge a paixão que em versos flutua. Sou tua, eternamente ligado a ti, Num amor livre, onde me perco, desde que te conheci.
Num encontro de desejos, o beijo ardente, Ávido e consistente, paixão eloquente. Nossos lábios unidos, felinos e carentes, Entrelaço intenso, amor insurgente.
Profano e sábio, o anseio se faz presente, Entrega excessiva, paixão irreverente. Um poço de desejos, fervor incessante, Nossos corpos em chamas, paixão urgente.
Intermitente êxtase, movimentos ágeis, Hábeis e ávidos, amantes versáteis. Carícias sentidas, gestos tão sutis, Em cada toque, revelações mil.
Silente comunhão, segredos sussurrados, Anseios sonoros, corações enlaçados. O fato consumado, amor declarado, Nos lábios marcados, o segredo guardado.