Educação fim de linha
Renata Barcellos: Artigo ‘Educação fim de linha’


Findo o ano de 2025 aposentada na matrícula mais antiga da Rede Estadual do Rio de Janeiro. Formei-me em 1996 em Português/Francês. São quase trinta anos de ensino de língua materna e estrangeira. Quando iniciei a docência, ministrava aulas em cursos de línguas no município do RJ e, na baixada, especificamente, no Sargento Roncalli. De lá, tenho ótimas recordações de alunos e fiz amigos. Nesse período, dediquei-me a pesquisas. Fui do curso de extensão ao doutorado. Minha prática pedagógica foi sendo aprimorada à medida que eu ia desenvolvendo pesquisas.
Como a palavra “educação” tem origem no latim e se conecta a duas raízes: educare (“criar”, “nutrir”, “alimentar”) e educere (“conduzir para fora”), a etimologia sugere a ideia de guiar o indivíduo para fora de si mesmo, desenvolvendo seu potencial e preparando-o para o mundo. Essa concepção norteou minha prática pedagógica até hoje.
Entretanto, chegar à aposentadoria e ao fim deste ano letivo e constatar o desmonte da EDUCAÇÃO é lamentável. Anos de dedicação, estudo, de práticas inovadoras, matérias, artigos, livros e ebooks publicados para me encontrar em um CAOS: professores doentes, alunos desinteressados, carga horária excessiva, má formação e infraestrutura, assédio moral…
Especialistas alertam que a romantização da docência e a ausência de legislação federal específica criam um cenário de “violência invisível” e impunidade. Isso acarreta o padecimento em massa nas escolas (de todos os envolvidos: do aluno à direção). Na sala de aula, professor se depara com falta de material, desrespeito, muitas vezes, Bullying, a desordem impera. E todos adoecem. Há relato de que o professor passou mal em sala no fim do turno e levou falta por ter saído umas horas antes de findar o horário. Muitas denúncias de assédio moral. A prática vem atingindo “níveis alarmantes”, onde o ambiente escolar TÓXICO está se transformando em um local de adoecimento físico e/ou psíquico.
A sala de aula se tornou um ringue. Vence quem é o mais astuto. Nós, professores, entramos em um campo de batalha, minado. Por mais que organizemos as atividades, jamais poderemos imaginar o que nos acontecerá. Os nervos vivem à flor da pele. Qualquer barulho abala nosso sistema nervoso. Constantemente, estamos “no limite”.
Vale ressaltar que o professor não é um missionário. Somos profissionais! Porém, muitas vezes, ainda a sociedade nos vê como “segunda família”. Impera uma visão romantizada da docência. Isso acarreta um mecanismo de silenciamento. Porque somos “SUPER HERÓIS”. Há uma cultura de que a culpa da violência institucional é nossa. Por quê? A que ouvimos e lemos constantemente: não somos competentes, não temos domínio de turma, não organizamos uma aula motivadora, não construímos o conhecimento, não temos capacitação para lidar com as múltiplas deficiências… Triste realidade! Estamos exaustos! Desmotivados! Abalados!
O Brasil lidera rankings internacionais de violência contra professores (OCDE). O resultado prático é o esvaziamento das licenciaturas (ainda mais com a reforma da previdência) e o aumento exponencial da Síndrome de Burnout. A escola é uma instituição de construção de conhecimento. Não triturador de sonhos. Este local precisa ser frutífero: disseminador de conhecimentos, realização de descobertas…. Um local de satisfação, contemplação… Jamais de destruição de corpo e alma.
Para quem veste a camisa da Educação, diariamente, é desolador, aterrorizante ler notícias de ataques (seja lá qual for a natureza da violência) nas escolas. Passei minha vida em sala de aula (ora como aluna ora como professora) e jamais poderia imaginar que viveria uma total desordem neste ambiente de construção de conhecimento. Como professora de literaturas, na atualidade, raramente, um aluno lê o texto sugerido. Aliás, até mesmo professor pouco lê muitas vezes. Estamos na Era do Imediatismo, de consulta à IA… Quem “gasta” seu “HD” refletindo…?
Devemos entender que a vida é um grande palco, interpretamos a todo momento. Mas no palco da sala de aula, ninguém quer ser o “palhaço”. O aluno precisa ser orientado de que estudar é um ato solitário. Precisamos de silêncio para refletir, estabelecer relações. A vida não é uma grande festa 24 horas.
E, no “apagar das luzes” de 2025, a rede Estadual de Educação do Rio de Janeiro está divulgando uma mudança feita por meio do decreto nº 49.994/2025 decreto assinado pelo governador do estado, Cláudio Castro. Este com o objetivo de reduzir a evasão escolar, o governo do Rio de Janeiro autorizou que “alunos do ensino médio reprovados em até seis disciplinas possam avançar para a série seguinte. Esses deverão cumprir um regime especial de recuperação no ano seguinte, no qual deverá ser concluído até o fim do primeiro trimestre”.
No caso dos alunos do 3º ano do Ensino Médio, o limite de reprovações reduziu para três disciplinas. Se aprovados na recuperação, poderão receber o certificado de conclusão do Ensino Médio. Concorda?
A questão é: para esta Geração Alpha (2010-2025 – os mais jovens, nascidos em um ambiente digital e imersos em tecnologia), há sentido em estudar? Quem estudará? Alguém prestará atenção no professor? Como preparar os alunos para ENEM, UERJ, PUC RJ com esta alteração? Há 30 anos preparo para exames externos (esses e para ingresso na carreira militar), especificamente os alunos da rede Estadual do RJ, nunca vi tamanho desinteresse já neste ano de 2025. Estou imaginando a partir de 2026 como será.
Quanto às leis nº 10.639/2003 (estabeleceu o ensino da cultura afro-brasileira) e 1.645/2008 (ampliou essa obrigatoriedade ao incluir a cultura e história dos povos indígenas), urge apresentar escritores, escola literária a qual pertence e seu estilo. Fica a dica para conhecerem outros autores contemporâneos no ebook Navegando nas Literaturas afro-brasileiras e indígenas.
Por uma educação de qualidade!!! Os alunos da Rede Estadual do Rio de Janeiro merecem ser bem preparados!!! Abaixo o decreto nº 49.994/2025 !!!!