Biografia de Elis Regina em poesia

Suziene Cavalcante: ‘Biografia de Elis Regina em poesia’

Suziene Cavalcante
Suziene Cavalcante
Elis Regina. Imagem Wikimedia Commons. Criador Picasa 2.6

Genialidade que não cabe em partituras!
Garganta da nossa História…
Bússola cultural de mil glórias…
Mil expressuras!
Sopro divino no corpo da arte…
A música se reinventou na musicalidade…
De tua voz pura!

Afinação que beirava o impossível!
Estrela risonha da canção que sonha com o incrível…
Matriz sonora de nossa história musical…
Técnica impecável, dom imensurável, Serafim indesafinável e visceral!

Mais que cantora, intérprete de alma…
A Pimentinha que em nós caminha e deságua…
Do samba ao Jazz, da Bossa ao imortório…
Teu legado em vinil é o mapa do Brasil sonoro!
O pentagrama musical, Elis transcende…
Cantou o próprio coração em carne que ascende!
Em perene empório!

Ah, teu olhar antecipava os versos…
Corpo e voz, sincronia em foz, em tom excelso!
Transitou pelos gêneros, feitos oráculos…
De um simples arranjo, fazia espetáculo e acorde eterno!

Na divisão rítmica, foste arquiteta…
Consciência crítica de uma época…
Brincava c’as dinâmicas épicas…
Raiz fina! Elis Regina!
Em plena ditadura, cantaste a liberdade!
Do bolero à MPB, foste a casa da arte!
Explosão de potência, doce tempestade…
Feliz sina! Elis Regina!

Voz que nasceu para o infinito…
Eras música, corpo, rebeldia, paraíso…
Contigo a alma do Brasil respirava…
Céu e chão se encontravam, quando cantavas!

Voz que desenhou as Eras…
Jardim maior que a primavera!
Tempestade doce, trovão febril…
Na vitrola, na memória, no peito do Brasil…
Lâmina lírica, flecha sonora…
Rasgou o tempo, acertou a História…
Deusa do vinil!

Mãe de João Marcelo, Pedro e Maria Rita…
Intensa como a correnteza de Guaíba!
Filha do Sul, do Brasil profundo…
Fenômeno musical, a irmã do mundo!

Rainha da interpretação…
A estrela mais gigante da afinação!
Eras música em estado puro, majestade da arte nos turnos do coração!

Filha de Dona Ercy e de Romeu…
De ambos, um furacão de voz nasceu…
A menina mais alegre de Porto Alegre venceu…
Elis Regina! Elis Regina!
Vestida de interpretações cortantes…
Seu corpo todo cantava vibrante…
Braços que regiam gerações avantes…
Feliz ensina! Elis Regina!

Fazia do canto um acontecimento maior…
Com Vinícius, Tom, Milton, Belchior!
Veio Arrastão, a explosão melhor…
Feliz se afina! Elis Regina!
Ah, sua voz em ‘Como Nossos Pais!’
Na TV, nos palcos, em festivais…
Denunciava as rachaduras nacionais…
Feliz ensina! Elis Regina!

C’o seu magnetismo tinto…
Nasceu em mil novecentos e quarenta e cinco…
Eternamente seu dom valente é bem-vindo…
Ó Elis que fascina!
Aos 36 anos de idade…
Ela não partiu, na verdade!
Imortal no musical da eternidade…
Cristalina! Cristalina!
Maior que os palcos, maior que o refrão!
Rainha do gesto, o maior manifesto da canção…
Elis Regina! Elis Regina!
Seu talento no tempo é palco sem fim…
Um convite ao arrepio, é a brasa do Brasil, flor maior que o jardim!
Elis Regina!


Suziene Cavalcante

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TV Cultura exibe Elis 75, transversal do tempo

O especial, que mostra momentos raros da trajetória da artista, vai ao ar neste sábado (21/3), às 22h

Neste sábado (21/3), TV Cultura reapresenta o especial Elis 75, Transversal do Tempo. A produção homenageia uma das maiores intérpretes da música brasileira: Elis Regina, que completaria 75 anos neste mês. Com depoimentos exclusivos de Maria Rita, Pedro Mariano e João Marcello Bôscoli para a emissora, vai ao ar às 22h45, após o Jornal da Cultura.

O especial, que traz imagens de momentos raros, como os capturados durante a turnê Falso Brilhante, entre 1975 e 1977, revisita muitos momentos da trajetória da cantora. Além disso, ele também cria uma conexão entre os pensamentos extremamente atuais de Elis com os de seus três filhos, que comentam temas como censura, educação, maternidade e, também, filhos.

 

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Gonçalves Viana: 'Paulo César Pinheiro'

Paulo, apesar da pouca idade, queria cada vez mais compor e a entender o processo musical. Conversando com o João de Aquino, disse-lhe que eles tinham que fazer música, e citava o exemplo do primo Baden.”

Paulo César Pinheiro e Baden Powell

Paulo César Pinheiro começou a compor música e a escrever versos aos treze anos. Nesse início era tudo muito simples, bem fraquinho mesmo. Foi um tempo de exercício e aprendizado. Ele rapidamente assimilou a habilidade poética e, um ano depois, já estava produzindo coisas mais sérias.

Mas ele ainda levava a vida de criança de subúrbio, jogando bola de gude, rodando pião e batendo bola.

João de Aquino

Acontece que Paulo, era vizinho, em São Cristóvão (Rio de Janeiro), de João de Aquino, um violonista e compositor primo de Baden Powell. O Baden, já nessa época, fazia muito sucesso no mundo musical. Ele tinha uma parceria sólida com Vinícius, tendo passado dois anos na França.

Paulo, apesar da pouca idade, queria cada vez mais a compor e a entender o processo musical. Conversando com o João de Aquino, disse-lhe que eles tinham que fazer música, e citava o exemplo do primo Baden.

Então, começaram a esboçar as primeiras músicas. De muitas, Paulo já tinha as ideias prontas, e assim, eles as desenvolviam. É dessa fase,  a música “Viagem”, talvez, a mais conhecida e mais gravada. João de Aquino foi seu primeiro parceiro, musicou aquele verdadeiro poema, João gravou numa fitinha e passou a Paulo. Este levou para casa, e passou a trabalhar na melodia, pois ele a julgava meio inexata e com um andamento muito rápido.

Na manhã seguinte, os seus coleguinhas de folguedos foram chamá-lo para a pelada tradicional, e ele nada, estava em seu quarto, completamente tomado, rabiscando as estrofes, querendo terminar logo, pra ir para o seu futebol.

Assim, Paulo foi deixando a canção mais lenta, até que acabou por transformá-la em valsa. Era meio-dia quando terminou. Seu pai acabava de chegar do trabalho para sua hora de almoço, passou por ele e deu a clássica balançada de cabeça, em sinal de reprovação, e partiu bravo para a mesa. Ele ainda não entendia o que significava aquilo, pois era contra o seu filho querer ser compositor. Achava coisa de vagabundo, que iria atrapalhar os seus estudos. – Isso não dá camisa a ninguém – dizia.

As pessoas ficavam assombradas e não queriam acreditar que o autor daquela letra, tinha apenas quatorze anos. Muitos músicos e críticos consideram Viagem, uma das letras mais bonitas da MPB.

 

VIAGEM

Oh! Tristeza me desculpe

Tô de malas prontas

Hoje a poesia

Veio ao meu encontro

Já raiou o dia

Vamos viajar

Vamos indo de carona

Na garupa leve

Do vento macio

Que vem caminhando

Desde muito longe

Lá do fim do mar

Vamos visitar a estrela

Da manhã raiada

Que pensei perdida

Pela madrugada

Mas que vai escondida

Querendo brincar

Senta nessa nuvem clara

Minha poesia

Anda se prepara

Traz uma cantiga

Vamos espalhando

Música no ar

Olha, quantas aves brancas

Minha poesia

Dançam nossa valsa

Pelo céu que o dia

Faz todo bordado

De raios de sol

Oh! Poesia me ajude

Vou colher avencas

Lírios, rosas, dálias

Pelos campos verdes

Que você batiza

De jardins do céu

Mas pode ficar tranquila

Minha poesia

Pois nós voltaremos

Numa estrela-guia

Num clarão de lua

Quando serenar

Ou, talvez, até quem sabe

Nós só voltaremos

No cavalo baio

No alazão da noite

Cujo nome é raio

Raio de luar.

(Paulo César Pinheiro – João de Aquino)

 

Márcia

A canção Viagem foi, inicialmente, gravada de forma instrumental, por Baden Powell. E, em 1968, pela cantora Márcia, mas quem a imortalizou foi Marisa Gata Mansa.

João de Aquino apresentou Paulo César ao seu primo, Baden Powell, que, vislumbrando a capacidade do garoto, depois de algum tempo, propôs parceria ao mesmo.

Marisa Gata Mansa

Inicialmente, Paulo ficou assustado, pois Baden tinha por letrista nada mais, nada menos, que Vinicius de Moraes, consagradíssimo poeta brasileiro, mas acabou aceitando a proposta. Compuseram, então, a primeira música em dupla: “Lapinha”. Inscrita na I Bienal do Samba, um festival realizado pela TV Record de São Paulo, em 1968. “Lapinha” acabou se tornando um grande sucesso nacional, na voz de Elis Regina.

Elis Regina

De tal forma multiplicaram-se os sucessos da dupla e, com o tempo, também, as parcerias de Paulo César: Francis Hime, Eduardo Gudin, Dori Caymmi, Edu Lobo, João Nogueira, Maurício Tapajós e até mesmo Tom Jobim.

                                                                                Gonçalves Viana