Intensidade do ser

Ella Dominici: Poema ‘Intensidade do ser’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Bing
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Vulcão Interno Poético

Há poetas, e há vulcões.
Um difere do outro pelo fogo que habita as entranhas,
acendendo chamas nas palavras até queimar as próprias mãos.

Os olhos piscam — lânguidos, febris —
e esse gesto derrama-se em lágrima,
sal de um mar que não se apaga.

Ser poeta é arder sem aviso,
é deixar que a dor seja o combustível da beleza.

“Não há contenção possível quando a poesia decide nascer.”

ERUPÇÕES

Ainda há lava dentro de mim,
fermentando silêncio, desejo e memória.
O chão treme sob o peso das lembranças,
e o céu se inflama em nuvens rubras.

Cada suspiro é magma que se move,
cada lágrima é rio de fogo e água.
O corpo inteiro é cratera aberta
onde o tempo se dobra, incerto e impetuoso.

Não há repouso para a vida —
a erupção continua, invisível e viva,
nas veias do humano, na alma do mundo,
em todas as manhãs que ainda não nasceram.

E assim sigo,
entre cinzas e brasas,
esperando o próximo vulcão,
a próxima lava,
o próximo instante de fogo que me recria.

Ella Dominici

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Desenterrar o poético

Julián Alberto Guillén López: Poema ‘Desenterrar o poético’

 J.  A. Guillén Gonzalez - Rino Specchio
J. A. Guillén Lópes – Rino Specchio
Imagem criada por IA no Bing - 17 de março de 2025, 
às 12:38 PM
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às 12:38 PM

Desenterrar
o poético das minhas entranhas,
sentir que conflui
pela estrada
das minhas veias,
que se faça
para mim todos os dias
semelhante ao néctar
que me injeta
da juventude,
parir feitiços
palavras sagradas,
explosões de eternidade
que me aproximam
tateando para o real.
Um encontro
que me prevê
estar chegando
ao significado primário
das palavras. Desenterrar
o poético das minhas entranhas,
adicionar um pouco
levedura para a massa.
Compreender o significado
de uma rosa,
não como se o etéreo tivesse apenas uma forma.
Mas como uma metáfora palpável
que bate e muda
de corpos.
Encontrar-se
diante do tipo
maior prazer
e agarrar-se a ele
para achar sentido
a uma vida que é cruenta quando se despe
com os olhos humanos.
A poesia é um passo além
do divino.
Aproximando-se do sangue,
aquilo que nos mantém vivos.
Desenterrar o poético
e encontrar o remanso
onde você pode descansar
a alma sentindo-se viva, enxugar
suas lágrimas
e erguer-se de pé contra toda tempestade.
Desenterrar o poético,
ser vidente e ter consciência
que apenas
abrimos os olhos
diante da maioria
de intuições,
encontrar-lhe fio
ao estame em que estamos envolvidos.
Resolver através
do silêncio do tempo
o enigma que chamamos de ser cheio,
se isso fosse suficiente
para nos entendermos.
Desenterrar o poético,
ficar de frente
no limiar dos mistérios
e exalar: “Vida, nada me deves”. Sair com roupas novas da lavanderia
de mortes.
Cândido e vitorioso.
Abrindo as asas
como um pintassilgo.
Escrever um poema
que cure
a doença da terra.

Rino Specchio
16/03/25 – México

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Apelo das entranhas

Cláudia Lundgren: Poema ‘Apelo das entranhas’

Cláudia Lundgren
Claudia Lundgren
Cláudia Lundgren

Meu silêncio ensurdecedor ecoa em minha mente;

ouço o apelo das palavras não ditas, dos gritos tolhidos,

dia e noite, tentando me convencer desesperadamente,

com chantagens inaudíveis, do meu interior, a expeli-los.

São segredos que guardo cativos nas cadeias da minh‘alma

e que hoje clamam, veementes, para que eu erga a aldraba.

Respostas que desejei vomitar, no ímpeto do furor,

retornam à garganta, flamejando-me tal qual tórrida brasa.

Meu silêncio desperta-me da inércia e do sono

e as vozes interiores suplicam por socorro,

enquanto as águas do rio correm tranquilas

e os meus lábios, feitos túmulos, nenhuma palavra anuncia.

Pobre de mim: um ser reservado com alma frenética!

Tapo os ouvidos; não ouço os apelos das minhas entranhas

querendo expor ao mundo as angústias morféticas,

meus medos secretos e os mais lúgubres dramas.

Meu sangue correndo nas veias, brados estridentes;

bacia hidrográfica que deságua no meu coração.

‘Tum-tum’ – quer ‘dar com a língua nos dentes’

revelar os mistérios; difamação.

Engulo o choro: com ele me engasgo; a tristeza alimento;

por não ter falado o que eu deveria em certos momentos.

E nesses instantes ouço alaridos, meu eu se revolta;

mas minha boca, uma moça covarde, de atadura, se envolta.

Cláudia Lundgren

Contatos com a autora

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