Os girassóis do trem

Evani Rocha: Poema ‘Os girassóis do trem’

Evani Rocha
Evani Rocha
Os girassóis do trem
Os girassóis do trem
Imagem criada pela IA – Gencraft

Ficaste a olhar o trem

Passar lento, preguiçoso:

Vagão por vagão.

Vi teus olhos passearem por entre as poltronas e corredores,

Talvez procuravas por mim.

Não sabias que eu estava absorta

Em meus próprios pensamentos.

Viajei por horas cá dentro, a examinar minhas escolhas.

Vi os girassóis se movimentarem nos canteiros ao lado dos trilhos.

Agora vejo em teus olhos o brilho do Sol!

Tens a alegria do reencontro

E todas as flores sobre as mãos.

O trem vai parando lentamente,

Vagão por vagão.

Eu hesito em sair do lugar.

Gostaria de ficar pra sempre.

Vejo mãos balançando lencinhos brancos.

Abraços e beijos de chegada ou partida…

Pessoas que chegam e partem da estação.

Ainda tenho os girassóis no pensamento,

E a paisagem que me absorveu por inteiro!

Recolho meu casaco e a bolsa de mão.

Não tenho bagagem.

Só tenho a mim e minha própria solidão.

Observo-te a andar de um ponto a outro.

Deveras, trouxeste lindas flores!

Caminho languidamente em direção ao próximo trem.

Há muita gente nos corredores. Não quero olhar para trás,

O passado não me interessa.

Atravesso o salão principal.

Do alto da escadaria vejo uma multidão a transitar pra lá e pra cá.

No meio delas, estás, imóvel…

Agora tens uma mão no bolso, outra, caída.

Ainda segura o buquê.

Teus olhos dantes era sol, agora parecem breus.

Nos lábios cerrados, a inquietude da espera.

Entro no vagão e procuro um assento no canto.

O trem anda devagar…vejo as pessoas se apequenarem pela distância.

Sinto somente os solavancos do vagão no trilho.

Não te vejo mais, nem as flores,

Nem lenços brancos.

Saio de mim e mergulho novamente na paisagem.

Só quero apreciar a brandura e o amarelo ouro dos girassóis!

Evani Rocha

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Rejane Nascimento: 'Nosso caminho'

Rejane Nascimento

Nosso caminho

Quando olho a imensidão do céu vejo pássaro livre a voar reconheço sua liberdade, e faço-me perguntas: por que será que diante de tanta liberdade que nós, como seres humanos, temos, por vezes ficamos presos em lugares escuros, de muros imensos dentro de nós mesmos? Muros que criamos e não percebemos. Sim. “Prisões sem grades’’. Assim, podemos chamar este lugar, que, naquele momento, é a única verdade. Entendo que há uma espécie de “tapa olho” que, por vezes, nos protege e em outros momentos nos desampara, é onde nos sabotamos e somos responsáveis por uma espécie de rasteira em nós mesmos.

Impossível nos libertar de algo que não reconhecemos. Neste lugar somos ignorantes, nem sempre fazemos boas escolhas, às vezes ficamos conectados ao futuro, que é tão incerto, de tal modo que a ansiedade é o que temos presente. Quanta pretensão!  A vida está para nós, mas nós não estamos para vida. O que estamos procurando? O que queremos? O que pretendemos? Estamos perdidos, e tudo passa despercebido, e a vida, que deveria nos pertencer, parece presentemente desconhecida.

E nossa ausência de conhecimento continua quando sabemos o melhor caminho, mas não nos consideramos capazes de segui-lo, então recuamos, e, por medo, não escolhemos, ficamos parados, sem ação e por dentro confusos. Portanto, necessitamos compreender quem somos e, além de disso, que nós construímos a vida através das nossas escolhas. Sim. Há estradas, e elegemos os caminhos, e a estrada real é a que podemos seguir.

Diante de tantas interrogações, passamos por tempestades, ganhos importantes, perdas significativas, mudanças necessárias que não controlamos.  É a vida seguindo seu rumo, o tempo não para, mesmo quando não seguimos com ela, a realidade nos acolhe, tentando nos ensinar que o presente é o único lugar que realmente nos pertence, é onde agora estamos e vivemos. Pena que nem sempre entendemos que o presente é um presente e que  hoje somos mais que ontem, pois acumulamos experiências e podemos aprender com elas.

Quando conseguimos olhar para o horizonte da vida percebemo-nos no aqui agora, este olhar faz toda diferença, pois seguimos nossa caminhada  de forma mais real, não deixando que tudo passe despercebido, vivendo e desfrutando do momento, dizendo não aos ressentimentos e aos lamentos, lutando e encontrando para isso mais argumentos. Aprendendo que necessitamos desse olhar diferenciado para nós e tudo que nos rodeia.

Sempre é tempo de aprender que somente nós podemos escolher o nosso caminhar, tornando mais suave o viver, quando ficamos estagnados a realidade aparece fazendo sua cobrança. Não adianta ficar no lugar de só querer e não fazer. Precisamos de ação! Deste modo, podemos ter uma noção maior da vida e estaremos em movimento abrindo caminho para sairmos do ninho e verdadeiramente ir rumo ao nosso destino, aquele que criamos a cada dia, pois  nós construímos por onde iremos passar.

Contudo, compreendemos que somos nós mesmos o nosso grande obstáculo. Subestimamos muitas vezes, nossas qualidades, capacidades e não sentimos a força que temos dentro de nós e que, esta força nos leva a lugares incríveis.

 

Texto publicado no livro: Além da palavra, volume V.

Rejane Nascimento  

rejane.d@hotmail.com