Pensar os excessos

PSICANÁLISE E COTIDIANO

Bruna Rosalem: Artigo ‘Pensar os excessos’

Bruna Rosalem
Bruna Rosalem
Imagem criada por IA da Meta - 1º de setembro de 2025, às 11:03 PM
Imagem criada por IA da Meta – 1º de setembro de 2025, às 11:03 PM

Todo excesso traz, em si, o germe da autodestruição.”
(Aldous Huxley)

Excesso de sentido. Isso te faz sentido? 

É fato que muitas vezes no percurso da vida nos deparamos com alguns entraves que nos faz questionar ou rever nossas próprias escolhas: carreira profissional, casamento, ter ou não filhos, divórcio, mudança de cidade, estado ou país, seguir outra área profissional completamente diferente daquilo que exercia, começar ou encerrar um negócio próprio, investir em novos conhecimentos, abandonar hábitos, trilhar outros caminhos.

Nesta seara de escolhas e muitas dúvidas, é comum que busquemos algo que nos faça sentido. Mas será que justamente não é neste ponto que reside o problema? A obrigatoriedade de fazer algo que traga a certeza do sentido? De estar no caminho certo? De finalmente ‘acertar na vida’?

Estes questionamentos acabam sendo muito ricos em termos de escuta terapêutica. Ao fazer o sujeito se escutar de suas indagações e dessa busca neurótica, quase que paranoica, por construir algo que o coloque sempre em posições seguras diante das inúmeras contingências da vida, chega uma hora que todo esse ‘controle’, ilusoriamente pensado, escapa, perde o tal sentido e o sujeito se vê sem rumo.

Uma escuta mais atenta de si pode abrir caminhos para possibilidades de desconstrução de sentidos. E isso nem de longe é tarefa fácil. É um exercício bastante árduo que convoca o sujeito a revisitar crenças, conceitos, mandamentos, culturas que até então eram seus alicerces. É um convite desafiador que busca estremecer essas bases, questionando uma a uma.

Leva tempo, exige muito desejo, esforço e paciência. E o mais complicado é que vivemos em tempos de pressa, resultados instantâneos, alta performance, hiperatividade nas conexões, relações líquidas e a promessa constante de uma vida plenamente feliz. Será que haveria espaço para lançar-se a este desafio que pode ser tão enriquecedor? 

A obra do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, intitulada ‘Sociedade do Cansaço’, discute questões como a corrida pela alta performance, a realização concomitante de várias atividades em um curto período de tempo, a dificuldade de contemplação, afinal é preciso agir imediatamente de maneira performática e sempre eficaz em diversos ramos da vida seja trabalho, esporte, arte, mercado financeiro, acadêmico, amoroso. Praticamente não há espaço para reflexões ou criações, apenas positividade e produção a qualquer custo. 

Como consequência, Byung-Chul Han retrata uma sociedade cansada deste ritmo, porém longe de pensar outras possibilidades para mudar isso, pois o que importa é o acúmulo de bens e ‘coisas a fazer’ e não mais a experiência. Pessoas se tornam carrascas de si mesmas, incorporando cobranças incessantes, um ideal de eu imperativo e inalcançável. Temos então uma sociedade depressiva, transtornada, constantemente inconformada, insuficiente, hiperativa e doente.

Isso tudo em cena é elevado à quinta potência pela rapidez de informações por segundo disseminadas pelas redes sociais. Acompanhamos atualmente uma avalanche de pessoas que levam a vida postando conteúdos infindáveis sobre possíveis ganhos vindos de fontes duvidosas, desfilando em carros luxuosos, habitando casas que valem milhões, além de viagens e itens de luxo dos mais variados desde bolsas, sapatos, relógios, vestimentas, até verdadeiros festins comestíveis, entre outros frenesis a preços exorbitantes.

São promessas de lucro fácil e rápido, muitas vezes em esquemas de apostas ou ‘pirâmides’, entre diversas outras formas de sedução para que o consumidor deste tipo de conteúdo seja bem-sucedido, ‘zere a vida’ e passe a ser visto como vencedor. Byung-Chul Han coloca que estamos infartando nossas almas imersos neste gozo ilimitado rumo a possíveis tragédias e desolação.

Convido a repensar o excesso! Desde o excesso de itens materiais que julgamos necessário ter até o excesso de sentido na vida. Pensando com o filósofo, realmente é muita coisa ao mesmo tempo para digerir. Inevitavelmente, todo excesso deixa resto, sobra, descarte e então, todo este material retorna ao corpo em forma de ansiedade, sofrimento, perturbação, aflição, desespero.

Dizia Nietzsche: “temos a arte para não morrer de verdade”. É possível também pensar: temos a arte para não nos afogar nos excessos. A arte nos dá respiro, alívio, pausa. 

Nesse passo, temos o belíssimo filme de Wim Wenders, ‘Dias Perfeitos’, lançado em 2023, que nos convoca a refletir. Na obra, acompanhamos Hirayama, um zelador de banheiros públicos em Tóquio que leva uma vida simples, pacata, porém apaixonantemente marcada pelos seus gostos musicais, por admirar as árvores e paisagens pelo caminho onde ele faz questão de registrar em lindas fotografias reveladas e armazenadas cuidadosamente, além de toda noite desfrutar da companhia de boas literaturas. Na hora das refeições, parece saborear cada gosto, aroma, textura, cor. Hirayama nos ensina a apreciar o momento de cada atividade que se propõe a fazer sem ser atravessado por quaisquer outras distrações.

O zelador têm sim seus dramas, suas tristezas, principalmente com relação aos familiares, seus momentos de solitude, no entanto, parece ter encontrado novas maneiras de lidar com as dificuldades sem necessariamente perseguir um ideal. Na contramão da corrida pelo sucesso, fama e evidência, Hirayama fica com a serenidade de ser quem é. 

Difícil bancar algo assim? Muito! Pois a sedução dos excessos que nos soterra a alma é forte. Mas chega um momento que é preciso subir à tona e respirar para não perecer de vez.

Bruna Rosalen

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Viva sem medo. Um caminho para autenticidade

Resenha do livro ‘Viva sem medo. Um caminho para autenticidade’, de Genilson Pinheiro, pela Editora Uiclap.

Capa do livro 'Viva sem medo. O caminho par autenticisade.
Viva sem medo

RESENHA

Este livro apresenta reflexões profundas sobre as atitudes e escolhas que nos afastam de nosso “verdadeiro eu” e oferece caminhos práticos para evitar que isso aconteça.

Com uma linguagem simples, acessível e objetiva, a obra conduz o leitor a uma análise pessoal transformadora, incentivando uma compreensão mais profunda de si mesmo.

Um livro muito interessante!

Super recomendo!

Assista à resenha do canal @oqueli no Youtube

SINOPSE

Bem-vindo a uma jornada transformadora, onde você será convidado a deixar para trás os medos que o impedem de viver plenamente e a abraçar a autenticidade que reside dentro de você.

Neste livro, “Viva Sem Medos: Um Caminho Para a Autenticidade,” vamos explorar juntos as barreiras que nos separam de uma vida genuína e significativa, desafiando as crenças limitantes que a sociedade muitas vezes nos impõe.

Quantas vezes você já se sentiu preso às expectativas dos outros?

Quantas oportunidades de ser verdadeiramente feliz você deixou escapar por medo do julgamento, da rejeição ou do fracasso?

Este é um convite para quebrar essas correntes, para reconhecer que a verdadeira liberdade e a felicidade estão ao seu alcance, basta que você escolha dar o primeiro passo.

A autenticidade não é apenas um conceito; é uma forma de vida.

Ao longo das páginas deste livro, vamos abordar temas fundamentais como o desapego, a busca pelo propósito, a importância de relações autênticas e a prática da gratidão.

Cada capítulo trará reflexões profundas, práticas acessíveis e exercícios que o ajudarão a se reconectar consigo mesmo, cultivando uma vida que ressoe com seus valores e desejos mais íntimos.

Prepare-se para desafiar suas crenças, para se libertar das amarras que o impedem de brilhar e, acima de tudo, para aprender a viver sem medos.

A jornada pode não ser fácil, mas será profundamente gratificante.

Vamos juntos, de coração aberto e mente livre, descobrir o caminho para uma vida autêntica e plena.

SOBRE O LIVRO

“Viva Sem Medos: Um Caminho Para a Autenticidade” é fruto da jornada pessoal do autor, que buscou superar medos e expectativas externas.

Sua esposa foi uma grande influência, incentivando-o a explorar sua essência.

Seu patrão também desempenhou papel fundamental, demonstrando liderança e autonomia.

Esta obra é um guia para desenvolvimento pessoal, convidando o leitor a:

  • Superar medos e expectativas externas
  • Reconectar-se com sua essência
  • Cultivar desapego, autoaceitação e gratidão
  • Viver no presente
  • Utilizar mindfulness e meditação para liberdade interior

Cada capítulo oferece lições práticas para transformar medos em coragem e construir uma vida alinhada com valores e propósito.

SOBRE O AUTOR

Nascido em Sobradinho, Bahia, terra marcada pela majestosa barragem que redefine a paisagem e inspira seus habitantes, ele carrega uma profunda conexão com as raízes e experiências do interior brasileiro.

Imagem de Genilson Pinheiro
Genilson Pinheiro

Como pai dedicado e marido amoroso, vivenciou intensamente as alegrias e desafios da vida pessoal e profissional.

Essa jornada o inspirou a explorar o universo do autoconhecimento.

Sua carreira sólida em recursos humanos desenvolveu nele uma sensibilidade aguçada para relações humanas e busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Ao longo desse caminho, descobriu a importância de viver autenticamente.

Inspirado por obras transformadoras como “Café com Deus Pai” e “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se”, decidiu compartilhar suas experiências e reflexões em “Viva Sem Medos: Um Caminho Para a Autenticidade”, convidando leitores a superarem medos e abraçarem sua essência verdadeira.

OBRA DO AUTOR

Viva sem medo, de Genilson Pinheiro
Viva sem medo

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Resenhas da colunista Lee Oliveira




Os girassóis do trem

Evani Rocha: Poema ‘Os girassóis do trem’

Evani Rocha
Evani Rocha
Os girassóis do trem
Os girassóis do trem
Imagem criada pela IA – Gencraft

Ficaste a olhar o trem

Passar lento, preguiçoso:

Vagão por vagão.

Vi teus olhos passearem por entre as poltronas e corredores,

Talvez procuravas por mim.

Não sabias que eu estava absorta

Em meus próprios pensamentos.

Viajei por horas cá dentro, a examinar minhas escolhas.

Vi os girassóis se movimentarem nos canteiros ao lado dos trilhos.

Agora vejo em teus olhos o brilho do Sol!

Tens a alegria do reencontro

E todas as flores sobre as mãos.

O trem vai parando lentamente,

Vagão por vagão.

Eu hesito em sair do lugar.

Gostaria de ficar pra sempre.

Vejo mãos balançando lencinhos brancos.

Abraços e beijos de chegada ou partida…

Pessoas que chegam e partem da estação.

Ainda tenho os girassóis no pensamento,

E a paisagem que me absorveu por inteiro!

Recolho meu casaco e a bolsa de mão.

Não tenho bagagem.

Só tenho a mim e minha própria solidão.

Observo-te a andar de um ponto a outro.

Deveras, trouxeste lindas flores!

Caminho languidamente em direção ao próximo trem.

Há muita gente nos corredores. Não quero olhar para trás,

O passado não me interessa.

Atravesso o salão principal.

Do alto da escadaria vejo uma multidão a transitar pra lá e pra cá.

No meio delas, estás, imóvel…

Agora tens uma mão no bolso, outra, caída.

Ainda segura o buquê.

Teus olhos dantes era sol, agora parecem breus.

Nos lábios cerrados, a inquietude da espera.

Entro no vagão e procuro um assento no canto.

O trem anda devagar…vejo as pessoas se apequenarem pela distância.

Sinto somente os solavancos do vagão no trilho.

Não te vejo mais, nem as flores,

Nem lenços brancos.

Saio de mim e mergulho novamente na paisagem.

Só quero apreciar a brandura e o amarelo ouro dos girassóis!

Evani Rocha

Contatos com a autora

Voltar: https://www.jornalrol.com.br/

Facebook: https://facebook.com/JCulturalRol/




Rejane Nascimento: 'Nosso caminho'

Rejane Nascimento

Nosso caminho

Quando olho a imensidão do céu vejo pássaro livre a voar reconheço sua liberdade, e faço-me perguntas: por que será que diante de tanta liberdade que nós, como seres humanos, temos, por vezes ficamos presos em lugares escuros, de muros imensos dentro de nós mesmos? Muros que criamos e não percebemos. Sim. “Prisões sem grades’’. Assim, podemos chamar este lugar, que, naquele momento, é a única verdade. Entendo que há uma espécie de “tapa olho” que, por vezes, nos protege e em outros momentos nos desampara, é onde nos sabotamos e somos responsáveis por uma espécie de rasteira em nós mesmos.

Impossível nos libertar de algo que não reconhecemos. Neste lugar somos ignorantes, nem sempre fazemos boas escolhas, às vezes ficamos conectados ao futuro, que é tão incerto, de tal modo que a ansiedade é o que temos presente. Quanta pretensão!  A vida está para nós, mas nós não estamos para vida. O que estamos procurando? O que queremos? O que pretendemos? Estamos perdidos, e tudo passa despercebido, e a vida, que deveria nos pertencer, parece presentemente desconhecida.

E nossa ausência de conhecimento continua quando sabemos o melhor caminho, mas não nos consideramos capazes de segui-lo, então recuamos, e, por medo, não escolhemos, ficamos parados, sem ação e por dentro confusos. Portanto, necessitamos compreender quem somos e, além de disso, que nós construímos a vida através das nossas escolhas. Sim. Há estradas, e elegemos os caminhos, e a estrada real é a que podemos seguir.

Diante de tantas interrogações, passamos por tempestades, ganhos importantes, perdas significativas, mudanças necessárias que não controlamos.  É a vida seguindo seu rumo, o tempo não para, mesmo quando não seguimos com ela, a realidade nos acolhe, tentando nos ensinar que o presente é o único lugar que realmente nos pertence, é onde agora estamos e vivemos. Pena que nem sempre entendemos que o presente é um presente e que  hoje somos mais que ontem, pois acumulamos experiências e podemos aprender com elas.

Quando conseguimos olhar para o horizonte da vida percebemo-nos no aqui agora, este olhar faz toda diferença, pois seguimos nossa caminhada  de forma mais real, não deixando que tudo passe despercebido, vivendo e desfrutando do momento, dizendo não aos ressentimentos e aos lamentos, lutando e encontrando para isso mais argumentos. Aprendendo que necessitamos desse olhar diferenciado para nós e tudo que nos rodeia.

Sempre é tempo de aprender que somente nós podemos escolher o nosso caminhar, tornando mais suave o viver, quando ficamos estagnados a realidade aparece fazendo sua cobrança. Não adianta ficar no lugar de só querer e não fazer. Precisamos de ação! Deste modo, podemos ter uma noção maior da vida e estaremos em movimento abrindo caminho para sairmos do ninho e verdadeiramente ir rumo ao nosso destino, aquele que criamos a cada dia, pois  nós construímos por onde iremos passar.

Contudo, compreendemos que somos nós mesmos o nosso grande obstáculo. Subestimamos muitas vezes, nossas qualidades, capacidades e não sentimos a força que temos dentro de nós e que, esta força nos leva a lugares incríveis.

 

Texto publicado no livro: Além da palavra, volume V.

Rejane Nascimento  

rejane.d@hotmail.com