A morte e a sorte

Clayton Alexandre Zocarato: ‘A morte e a sorte’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem gerada por IA do Bing – 18 de novembro de 2024
às 5:38 PM

Morrer é continuar

A querer

Algum tipo

De merecer

Na tentativa de ter

Alguma sorte

Que faça um zelote

Não ficar parado

Em um fúnebre sentimento

Sendo um guardião

De uma aflição

Que em breve cairá

Na escuridão do esquecimento

Gerando pouco lamento

E muito divertimento

Nas cavernas de orgias sorrateiras

De mundos imundos

Que  pensam serem

O centro de sortes

Que almejam mortes

Entre cortes

E recortes

Repletos de vertes assassinos

Clayton Alexandre Zocarato

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Vómitos

Loide Afonso: Poema ‘Vómitos’

Loide Portugal
Loid Portugal
Imagem gerada por IA do Bing - 6 de novembro de 2024
 às 1:44 PM
Imagem gerada por IA do Bing – 6 de novembro de 2024
às 1:44 PM

O Sol, sempre brilha
Pra os grandes e pequenos
Pretos
E brancos
Amarelos e vermelhos
Putos e kotas
Altos e baixos
Frescos e secos

Aqui, o brilho é o mesmo
O céu sempre sereno
Os raios, oh! Os raios… Os raios aqui não se partem e nem se deixam partir, porque lhes foi dito que aqui é pra prosseguir, seguir, com os olhos vendados, mas sempre em frente e na frente, e na frente, com os combatentes, não os Angolanos, Africanas,, Guiné, Ghana, Botswana, ou Nigéria?

Viajei através de
Memórias do subsolo
Pra procurar um sentido da vida, paz, luz,
E encontrei a escuridão, que por muitos é temida, esquecida, dorida
Em vez de ser explorada, da melhor forma e polida..| o que sentes quando o Sol brilha?

Loid Portugal

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Talvez

Loide Afonso: Poema ‘Talvez’

Loide Portugal
Loide Portugal
"Se eu vir/ O escuro/ Como cidade/ Será minha felicidade"
Imagem gerada com IA do Bing - 7 de outubro de 2024
 às 12:46 PM
“Se eu vir/ O escuro/ Como cidade/ Será minha felicidade”
Imagem gerada com IA do Bing – 7 de outubro de 2024
às 12:46 PM

Pare
Pare de sorrir, aqui não tem câmera nenhuma

A escuridão é igual à felicidade
Não se engane

O outro nunca vai chorar
Com as nossas lágrimas
Nem olhos

Talvez por empatia.

Eu disse talvez.

Um dia eu sorria
De verdade
Sem falsidade
Por um alarde

Se eu vir
O escuro
Como cidade
Será minha felicidade

Vou repetir :
Aqui, não tem câmera nenhuma!

Loide Portugal

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O som da chuva

Elaine dos Santos: ‘O som da chuva’

Elaine dos Santos
Elaine dos Santos
O som da chuva despertando medo e apreensão
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designr

Eu não sei exatamente o dia em que o pesadelo começou, isto é, quando as chuvas iniciaram no Rio Grande do Sul neste outono de 2024.

Apesar disso, fixei uma noite: 30 de abril. Resido na região central do estado, que sofreu graves problemas, pessoas mortas, desabrigadas, desalojadas; pontes obstruídas; rebanhos mortos; deslizamentos de terras. Naquela noite de 30 de abril, choveu muito, o som da chuva parece repetir-se na memória, porque era contínuo.

Dias depois, conversando com amigos, muitos deles referiram que foi uma noite insone. De fato, eu denominei a noite do sem: sem energia elétrica, sem telefone, sem internet (o alarme da casa desligou): a escuridão e o som da chuva.

Pela manhã, no feriado do Dia do Trabalho, seguíamos sem energia elétrica, sem telefone, sem internet, mas se associaram três novos dramas: sem água, a cidade ilhada (as cabeceiras de duas pontes ruíram e, em outra rodovia, o rio obstruía a passagem) e os desabrigados.

Saí cedo, precisava de internet, tinha trabalhos de revisão de texto para entregar. Consegui conexão em um posto de combustível. Quando postei em uma rede social que estávamos ilhados e sem conexão (telefone ou internet), eu fui ‘metralhada’ por uma pergunta que se repetia: “Como estão lá em casa?” Tive que fazer uma nova postagem: “Eu não sei como estão os parentes de ninguém” e repeti a cantilena ‘do sem’.

Por solidariedade, procurei algumas pessoas, principalmente, idosos e doentes. Chegava em frente às casas, buzinava, questionava se estavam bem, se precisavam de alguma coisa e seguia. Eu estava encharcada. Algumas pessoas não estavam mais em casa, haviam sido removidas durante a noite anterior, a noite da chuvarada.

Comprei água potável – que, em breve, faltaria na cidade. Comprei algo que pudesse servir como almoço e recolhi-me.

No dia seguinte, passei a ‘frequentar’ o ginásio municipal de esportes, local em que estavam os desabrigados. Leva roupas. O que está faltando? Volta em casa, procura nos armários. Volta. Ouve histórias. O maior tesouro que dedicamos para alguém é o nosso tempo.

Nuvens, trovoadas, apreensão… e chuva. Por vezes, eu penso que um dos grandes prazeres que, desde criança, sempre ouvimos dizer, era dormir com o som da chuva, de preferência, caindo sobre um recipiente, uma lata, por exemplo. Hoje, um dia, sem chuva, é um grande alívio.

Além das cidades afetadas na Grande Porto Alegre, eu conheço Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio, Putinga, Lajeado, Estrela, Muçum (não cheguei a conhecer Roca Salles, devastada por três enchentes), ou seja, boa parte do Vale do Taquari. Fico imaginando como se sentem aquelas pessoas que perderam casa, carro, animais de estimação, familiares, plantações ou, como referiu um jovem de Arroio do Meio: livros, discos de vinil, CDs, instrumentos musicais, histórias de uma vida.

Precisaremos, quem sabe, um dia, ressignificar o som da chuva, essa, hoje, horrorosa sensação de umidade. Por enquanto, ele traz medo, insegurança, apreensão. Muito mais do que casas, prédios, móveis, eletrodomésticos, temos gente para reerguer.

Elaine dos Santos

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Dança insone entre a mente e o repouso

Paulo Siuves: ‘Dança insone entre a mente e o repouso’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
"Dança insone entre a mente e o repouso"
“Dança insone entre a mente e o repouso”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

No silêncio da noite, minha mente desperta,

Enquanto o mundo se perde nos braços do sono.

As sombras dançam, enigmas na escuridão.

Enquanto o relógio sussurra as horas, uma a uma

O frio da noite esbarra na minha pele.

Tento prender meus pensamentos, mas em vão,

Eles voam livres, como pássaros noturnos.

Os sons da noite ganham vida, ecoando no escuro,

sinto o gosto amargo da insônia na minha boca.

Aqui dentro, o tic-tac da máquina do tempo,

la fora, o silencioso zumbido do vento.

Cada som se amplifica, os pensamentos persistem,

A insônia me envolve como uma amante cruel.

Nas horas silenciosas, encontro reflexões profundas,

Mas meu desejo pela doce rendição ao abraço do sono.

Nessa dança noturna entre a mente e o repouso,

A insônia e o sonho travam uma eterna batalha.

Eu vejo as cores da noite mudando lentamente.

Na noite em claro busco a calmaria da mente.

Sinto o cheiro da alvorada se aproximando

Até que o sol nasça, trazendo um novo dia.

A insônia, embora cruel, às vezes traz clareza,

Nas horas quietas da noite, onde a mente vagueia.

Eu anseio pelo descanso, pelo doce repouso,

Quando finalmente o sono me guiará ao seu encanto.

Na escuridão da noite enfrento a insônia,

Esperando pelo momento em que poderei sonhar.

Quando, enfim, a exaustão me levará ao voo da sonolência

E a insônia se dissipará, como um sonho que se desfaz ao acordar.

Paulo Siuves

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Escuridão… doce escuridão…

Clayton Alexandre Zocarato: ‘Escuridão… doce escuridão…’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton Zocarato
Escuridão, doce escuridão
“Escuridão, doce escuridão”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Amo a escuridão

Que dentro de meu coração

Produz uma paixão

Que se tornou obsessão

Agarro em terços

Que durante as madrugadas

Produzem agrados e rezas

Domiciliados em minha mente

De criança inocente

Que insiste em não crescer

Mas somente a te querer

Como um amanhecer frenético

Revelando tua estética de princesa

Na escuridão da tua  ausência

Faz minha consciência

Lembrar

De que tua recordação

Vai estar comigo

Em todos os momentos

Lamento da razão

Tristeza do coração

No terror do teu não – estar

Há lágrimas derramadas

Em velhos lençóis

Que como caracóis lerdos

Fizeram lentamente morada

No meu jardim

E no meu amor

Fruto da tua beleza

Realçada por uma mocidade

Que se perdeu ao longo

De memórias histriônicas

Reinventando histórias

A cada nova escuridão

Em que a noite traz

Novos pensamentos cheios

De lamentos

Aos quais não tenho

Mais teu corpo para me debruçar

E depois de um longo soluçar e chorar

Te amar

Como todos os tolos apaixonados fazem

Abrindo minha mente

Para a mais doce escuridão de teus abraços

Da  minha  paixão

Silenciada

Por orgulhos

Que se tornaram

Pedregulhos sombrios

Dentro de mim

Escuridão venha até mim

E me dê a paz

De sonhar

Docemente com teu coração

Sem precisar de alguma razão

Para voltar a acordar novamente

Clayton Alexandre Zocarato

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A partida

Francisco Evandro de Oliveira: Conto ‘A partida’

Francisco Evandro Farick
Francisco Evandro Farick
"Os rios de águas profundas, onde nadava feliz o menino negro"
“Os rios de águas profundas, onde nadava feliz o menino negro”

Ao encerrar sua participação na terra e no leito, ele antes de exalar seu último suspiro ele escreveu: – Nasci um menino sudanês e nas belas e majestosas florestas do meu país eu caçava sempre com as demais crianças de minha aldeia.  

Nos rios de águas claras e profundas eu costumava espairecer e isso me dava um imenso prazer, viver daquela maneira como uma criança simples.  

Assim costumava ser minha vida e não sabia o que era ser um branco e os mais velhos falavam sempre que era para ter muito cuidado com os brancos.  

Certo dia, eu havia ido para caçar com outras crianças da aldeia e após a caça estávamos nos esparrando à vontade e me deliciava em um dos rios que circundavam a aldeia e quando dei por mim já me encontrava preso e manietado por vários brancos junto com outras crianças da mesma aldeia. 

 Aí começava minha outra fase de vida. Em um porão fétido e extremamente calorento fui posto com as demais crianças que brincavam no rio comigo. 

 O calor era por demais insuportável e tal local passou a ser por muitas luas minha nova residência oficial. O balanço do barco e o fedor da maresia me faziam vomitar tudo que havia posto e que não colocara no organismo.  

Um dos brancos olhava-me e me fazia engolir algumas bolinhas brancas que, com o passar do tempo, percebi que toda vez que isso acontecia eu parava de vomitar e acalmava o meu enjoo. Depois de várias humilhações e muito desespero eu tive o imenso prazer de ver de novo a luz da estrela maior, o dia estava belo e isso me deu uma imensa alegria, porque descobri que ainda estava vivo a despeito de todos os maus tratos.  

Muitos de meus amigos foram jogados ao mar porque não haviam conseguido superar tal infâmia de vida. Pouco depois, manietado e amarrado com outras crianças fui posto em exposição em um local que havia muito e muitos brancos e eles nos examinavam e depois de um certo tempo uma linda jovem branca me levou para sua residência. 

 Lá passei a habitar com várias pessoas de outras línguas, mas que também estavam nas mesmas condições minhas.  

A casa era muito grande e logo percebi que todos os brancos me chamavam pelo nome de escravo e como passei a trabalhar de sol a sol me tornei um escravo do meu senhor e do café! Durante 87 anos, palavra que aprendi para contar o tempo, eu vivi naquela casa de sofrimentos e decepções, a despeito de conviver em um belo e majestoso país chamado Brasil.  

Deixei dois filhos, netos e netas que me substituíram no plantio e colheita do café; aliás; por falar em café – que bebida gostosa! Hoje, estou às portas da grande escuridão, a espera do anjo da noite chegar! Já o vejo se aproximar de minha cama, mas estou imensamente feliz!  

Estou voltando a ser criança, estou voltando para minha liberdade.  

Deixei há muito de ser escravo de um senhor muito mal, porque fugi por duas vezes do engenho em que trabalhava, mas passei a ser senhor e escravo do café da minha luta diária para sobreviver e me esconder continuadamente desse senhor perverso.  

Porém, como é belo e majestoso para mim, ser novamente uma criança queniana livre e feliz, e veio a falecer.  

Como ele era muito conhecido e admirado na Vila, a caminho do seu último adeus, teve muitas pessoas e sentiriam muito sua ausência e uma desses foi um dos seus netos, João Sabino, o qual veio ser sapateiro de profissão e também fazia selas de animais, roupas de vaqueiros e botas de profissão e casou-se com uma mulher branca, loura e muito bonita chamada Rachel Amélia de Souza, cujo pais vieram fugidos da França após a guerra napoleônica e se estabeleceram na Vila de Maranguape. 

 
Francisco Evandro de Oliveira 

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