Ele

Denise Canova: Poema ‘Ele’

Denise Canova
Denise Canova
Um casal apaixonado, num belíssimo jardim
Um casal apaixonado, num belíssimo jardim
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Ele

Ele está comigo

Nas quatro estações

Amor leal

Ele e eu

Dama da Poesia

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As estações que habitam em mim

Ivete Rosa de Souza: Poema ‘As estações que habitam em mim’

Foto de Ivete Rosa de Souza
Ivete Rosa de Souza

Tenho em mim a primavera

Quando vejo meus filhos a sorrir

Valeu toda luta e toda espera

Parece que não vai mais existir

Tenho em mim o verão

Quente gostoso dos amores

Guardo bem fundo com emoção

O beijo queimando e seus sabores

Tenho em mim o outono

Doce lânguido perfumado

Que me leva além dos anos

E remete ao passado

Tem em mim o frio do inverno

Das dores e dissabores enciumados

Pois fiz do meu próprio inferno

Um caminho doce com cuidado

Tenho em mim todas as cores

Das estações e do tempo

Que muda de tom e odores

Leva ao vento o esquecimento

De tudo aquilo que sempre passa

Deixa na alma esperança e sabedoria           

Tudo o que passa nos recomeça

Deixando enfim a nostalgia

Dentro de mim há um Universo

Que assim transbordo em poesia

E na magia única do meu verso

Desafio a vida com ventania ou calmaria.

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Cláudia de Almeida Carvalho: 'As quatro estações'*

O vento soprou para longe as cerdas brancas e sedosas do ‘dente-de-leão’, erva daninha dos quintais da infância, desfazendo seu pompom ao tempo.”

A porta foi aberta em clima de entusiasmo e com os risos frouxos da manhã primaveril da alma.

Sisudas em sua fortaleza, as paredes desnudas anseiam em segredo para serem cobertas por uma galeria de fotos a lhes conferir a própria identidade.

Janelas se descortinando à invasão delicada da luz.

Tantos planos e sonhos acompanhando a procissão da caixaria a conter os mais diversos objetos para a cenografia de todo um espaço de vida.

E, no doce calor das promessas da juventude em seu arroubo, o amor testemunha a história a se deitar sobre as vidas que se comungam e se entrelaçam na dança do bem querer.

Os olhares, se cruzando cúmplices por cima das canecas do café fumegante, embaçados, de repente, pela poeira da viagem do relógio trotando pelo tempo.

Conversas agora em murmúrio, rompidas por choros noturnos, preparo de mamadeiras e outros cuidados infantis.

A estação agora é o verão, presente em toda a sua intensidade, onde o medo do escuro, os balões dos aniversários, as balas meladas e os desenhos nas paredes, cedem seus lugares à irreverência da juventude a gritar com seus sons e cores perante a vida, até que a maturidade, em seus passos largos, lhe firme o pilar do afeto verdadeiro onde sustentará as bases de sua existência munida de seus sonhos e planos próprios.

As paredes agora não têm mais rabiscos indecifráveis senão a coleção de retratos a tocar de nostalgia a alma, no silêncio da passividade do cotidiano a repousar tranquilamente nos braços do dever cumprido e do legado edificado.

Os curativos para os joelhos ralados, agora são substituídos pelo abraço do colo silencioso que embala a dor existencial para amenizá-la no coração do filho amado.

O vento soprou para longe as cerdas brancas e sedosas do “dente-de-leão”, erva daninha dos quintais da infância, desfazendo seu pompom ao tempo.

A casa, agora anciã, adquiriu vida própria aos sons dos risos e das dores, dos conflitos e do perdão, dos ganhos e das perdas, aos olhos dos desafios e da superação, do afeto e desafeto, testemunha fiel de uma história de vida como parte integrante de si mesma espalhada em cada canto e em cada objeto.

E a alma a habitá-la, no alívio culpado do descanso outonal, torcendo um pano de prato entre as mãos para escoar do tempo a monotonia das horas que não passam, à espreita da próxima e derradeira estação existencial, respira suas memórias impressas na atmosfera de sua morada que lhe sorri.

 

Crônica publicada originariamente na Revista TOP da Cidade (Itapetininga/SP), edição nº 36 – fev/2018, da qual a autora é articulista.

Cláudia de Almeida Carvalho – claudiacarvalho.oab@gmail.com