Riscos… riscos…
Clayton Alexandre Zocarato: Conto ‘Riscos…riscos…’
As aulas eram e são extremamente monótonas no seu cotidiano. Tudo que fosse pedagógico girava em torno de cumprir as métricas das apostilas desatualizadas e ultrapassadas da Secretaria da Educação.
Os estudantes estavam sempre entediados, praticamente morrendo em pé, diante da mesmice de ter sempre que copiar matéria, havendo pouco diálogo com os professores, que também não se importavam em demonstrar sua pouca falta de comprometimento pedagógico em gerar um processo de ensino – aprendizagem que ficasse distante das artimanhas burocráticas do Estado.
Era uma paranoia diária sem procedentes de limitação educacional maiêutica. Um festival de reclamações enfadonhas dos professores, em que praticamente mudava a carniça estrutural das disciplinas a serem passadas, mas as moscas do ensino de carcaça intelectual continuavam sendo sempre sendo com as mesmas diretrizes.
De vez ou outra, alguma boa alma tinha ousadia de mudar as metodologias de ensino, que assim viessem trazer alguma tipologia de interesse, em assimilar alguns conteúdos das grades curriculares, mas que, praticamente, sempre terminava com a ‘estátua parafinada de professor na frente da turma’ sendo ignorado e execrado pela maioria dos discentes. Mais parecendo rebanhos humanos, do que seres humanos.
O Diretor, bem como a Coordenação Pedagógica, já tinha perdido a conta de quantos substitutos tinham sido chamados para suprirem os titulares de cargos, das ausências, que pelos motivos mais torpes inventavam as desculpas mais inglórias através de falsos atestados médicos, para assim fugirem do constrangimento e das chacotas de seus ‘queridos’ pupilos.
Aquela Escola era uma pedra dos órgãos educacionais, pois agregava um centro de distribuição de entorpecentes, perante os jovens carentes, que eram facilmente aliciados pelo tráfico, como também havia quase que escancaradamente uma práxis de sedução de menores, que faziam qualquer tipo de ‘programa’, em nome de alguns reais.
Não era difícil ver algum ‘aviãozinho’ que deu com as línguas nos dentes, amanhecer caído, sendo alvejado por alguma ‘Ponto 40’, que criou asas e fugiu do coldre das autoridades, e foi parar nas mãos de algum traficante de plantão da região.
Essa Escola não precisa, necessariamente, de um nome específico, endereço profícuo, ou de planos pedagógicos eloquentes. Ela é coletiva de erros e descasos crassos, perante um sistema educacional que é muito conteudista, e muito pouco humanista, que tem como uns de seus marcos discriminatórios, transformar cada estudante em uma ‘experiência pavloviana’, de ‘reflexos condicionados’, perante uma boa parcela do seu aprendizado, ficando armazenado mentalmente precária, por entre cópias e mais cópias, feitas em cadernos doados pelo governo, que em geral se transformavam em uma pilha de celulose amassada, que vai parar na reciclagem, e que poucos vão aproveitar, servindo para agregar ludicidades de pensamentos entre os estudantes que ousavam desafiar o ‘sistema informacional escolar da burrice orgânica’.
O risco de uma educação argumentativa é algo que pode vim a ser perdoado pelos ‘donos da disseminação da massificação da idiotice crítica’, mas não pode faltar merenda forma alguma , em que são engajados em uma rede produtos alimentícios processados e industrializados, aumentando as taxas de glicose e sódio, elucidando o surgimento precoce de diabetes, e de uma obesidade crônica entre os estudantes.
Assim como a garrafa de café tem que estar sempre cheia na ‘sala dos mestres’, que servem como um aditivo, para continuarem com suas aulas medíocres, e também fazendo a alegria de gastroenterologistas, diante as úlceras e queimações estomacais, que já vinha afetando uma boa parcela do quadro do magistério daquela unidade escolar, como de outros estabelecimentos de infernos educacionais ambulantes.
‘Riscos e Riscos’, riscos no quadro negro que algumas almas benevolentes se arriscavam em copiar, correndo o risco de serem julgados pela artimanha ardilosa de querer aprender, em meio ao entreter de sofrer, dentro das salas de aula. Um aprender que poderia levá-los a morrer de bullying, tanto emocionalmente como corporalmente, defronte uma gama de indulgências de aulas podres carecendo de alguma tipologia de conhecimento, que outorgasse um sentido de vida, que transportassem suas imaginações para um arcabouço de esperança e sonhos, que lhes pudesse tirar daquela corja, de estarem submetidos à mercê da criminalidade, e de um plantel de educadores que, praticamente diante de tais situações adversas, se preocupavam mais com o holerite do fim do mês, e assim tentar sair ‘vivo’ de cada sessão de horrores que as aulas naquela Escola apresentava.
O Risco de ensinar, estar adentrando em um universo de desamor, não havendo a propagação clara dos Direitos Humanos, celebrando freneticamente a ‘fofoca e fala da vida alheia através de calúnias e difamações’, que eram as principais formas de diversões dos membros do professorado e da equipe de servidores daquele estranho colégio, que ficava localizado em um parnaso de ignorância, perdidos pela primazia do descaso estatal de que, para ser respeitado perante os quadros do magistério, é fundamental disseminar uma série de mentiras e invenções da vida alheia, para assim suportar o martírio de oito horas diárias em um local que se assemelha a uma antessala infernal de pagar os pecados, fragmentado em passar nervos e desgostos dentro da sala de aula, para depois chegar no fim do ano letivo, e realizar formalidades de entregar um ‘canudo’ de conclusão de curso, que pode virar um utensílio para acender um bom e belo churrasco, ou ficar mofando em qualquer gaveta por aí na companhia de baratas e aranhas.
O risco do risco e ensinar está sem se apegar, em encarar uma geração que se perdeu em um cognitivo, mesurados por celulares e tabletes, que dão a falsa impressão de fazer os jovens se sentirem como donos e detentores de sua razão cambaleante, e fazendo do professor um navegador de salas de aulas, ‘boiando’ em águas turbulentas da diacronia, em se valorizar a ética e o respeito coletivo, que venham a trazerem uma lapidação da subjetividade, e não somente ficar se repetindo copismos e achismos, em ‘broncas e slides”’ que ‘vão para caminho nenhum, sem destino certo de nada’, parafraseando aqui com Lobão.
O professor precisa correr risco de ensinar, para não ser contaminado por vícios e manias de entrar em um sistema psicológico de piloto automático, de sempre repetir os mesmos atos, sem haver uma compenetração de análise de suas práxis, pois muitas vezes mudam os terrenos, prédios e endereços, mas o circo de horrores da Escola Pública continua violentamente a dar as cartas, sem haver um sínodo de disseminação de mutualismos empáticos em se respeitar as diferenças, fazendo um amontoados de currículos falsos de conhecimentos científicos e filosófico claros, destinados para uma sustentação de mão de obra barata, alicerçada pela escravidão dos salários mínimos estapafúrdios, das glebas estudantis mais carentes, gerando um universo metafísico de hipocrisia material-espiritual em que os ‘abastados tanto, se esforçam para manter’, e tampouco se importam com os menos favorecidos e esfacelados da sociedade civil.
O risco do risco em ensinar está alijado, que isso pode dar certo e muito certo, em meio à similitudes burocráticas educacionais excludentes, e dementes lançadas por nossas bases governamentais elitistas.
Clayton Alexandre Zocarato