O MARINHEIRO

Encenação de Elias Andreato transforma obra vanguardista em uma experiência intensa

Cena do espetáculo 'O Marinheiro
Cena do espetáculo ‘O Marinheiro’

Fotos de Rafa Américo

 Peça minimalista e vanguardista foi escrita pelo poeta lusitano em dois dias, na mesma época em que ele criou seus três principais heterônimos. 
Estreia no dia 18 de junho no Espaço Ateliê Cênico

Escrita em 1913, a peça O Marinheiro, do poeta e escritor português Fernando Pessoa (1888-1935), é considerada o marco inicial do movimento modernista em Portugal. E essa obra provocadora será dirigida por Elias Andreato e estrelada por Cristina Mutarelli, Michele Matalon e Muriel Matalon. O espetáculo tem curta temporada no Espaço Ateliê Cênico, entre 18 de junho e 18 de julho, com apresentações às quartas e quintas, sempre às 20h. 

Escrita quando ele tinha apenas 23 anos, a obra pré-anuncia o que viria a ser a vida de Fernando Pessoa, seus tormentos e sofrimentos. A trama traz três personagens, que velam uma morta durante toda a madrugada. Seus corpos semi-estáticos nesse ambiente funesto levam seus mais profundos pensamentos a um ambiente onírico no curso dos diálogos. E são nestas conversações que surgem as angústias que as atormentam; conflitos que nascem e se instalam na mente e nos pensamentos das três. 

O Marinheiro nos mostra um Pessoa influenciado pelos simbolistas e pelo movimento saudosista português, inspirado pelo dramaturgo, poeta e ensaísta belga Maurice Maeterlinck (1862-1949). No entanto, a partir dessas influências, Pessoa desenvolveu o que ele chamou de “sensacionismo integral”, culminando na criação de seus três heterônimos mais conhecidos. 

A presença das três “veladoras” ao lado da morta não é mera coincidência. Elas também representam uma só entidade, embora se apresentem como distintas em alma. Unidas, compartilham a vida e o ofício.

Com uma abordagem concisa e meticulosa, Andreato coloca a palavra como protagonista, preservando a pulsação das atrizes e mantendo uma suspensão que intensifica a emoção ao longo de toda a representação. Cada palavra, gesto e o ambiente cênico são cuidadosamente elaborados para proporcionar uma imersão profunda na narrativa. 

O elenco dá vida às personagens com uma entrega visceral, capturando a essência dos conflitos internos e das angústias presentes na obra.

Presas na trama de suas próprias existências, as personagens se encontram diante de um cenário composto por mais de 12 mil metros de corda, no qual surgem imagens projetadas, delineando a jornada em busca de seus sonhos e do encontro com O Marinheiro. A luz, recortada em um jogo de luz e sombras, complementa a atmosfera. 

O drama se desenvolve gradualmente até atingir um momento de terror e dúvida, onde, petrificadas, as três almas que falam anseiam pelo novo dia que está prestes a nascer. Esses elementos combinados criam um ambiente teatral singular, permitindo que o público mergulhe nas profundezas das emoções retratadas por Fernando Pessoa. 

Sobre Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 – Lisboa, 30 de novembro de 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Ele é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o idioma inglês do que com o português, ao ponto de escrever os seus primeiros poemas nesse idioma. 

O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como “Whitman renascido” e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores da civilização ocidental, não apenas da literatura portuguesa, mas também da inglesa. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa, além disso traduziu várias obras em inglês (e.g., de Shakespeare e Edgar Allan Poe) para o português, e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para o inglês. 

Fernando Pessoa criou várias personalidades literárias conhecidas como heterônimos, sendo os mais estudados Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Entre suas principais obras estão MensagemLivro do DesassossegoPoemas de Alberto CaeiroOdes de Ricardo Reis Poemas de Álvaro de Campos. Robert Hass, poeta americano, diz: “outros modernistas como Yeats, Pound, Eliot inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente… Pessoa inventava poetas inteiros”.

Sinopse 

Sem a exata noção das horas no arrastar da noite negra, três figuras velam uma morta, seus corpos quase imóveis neste ambiente funesto. No entanto, suas mentes, libertas das amarras do real, vagam por um reino onírico conduzidas pelo fluxo dos diálogos. Da palavra surgem as angústias que as atormentam; conflitos que nascem e se instalam nas mentes e pensamentos das três. 

Durante a vigília, a segunda irmã narra um sonho sobre um marinheiro perdido em uma ilha deserta, que cria uma vida ilusória para si mesmo, imaginando um mundo inteiro para escapar da solidão e do desespero. Essa metáfora da condição humana reflete sobre o isolamento, a necessidade de criar significados e a fragilidade das percepções. 

À medida que a noite avança, as reflexões sobre a efemeridade da vida, a natureza dos sonhos e a busca por sentido dominam a conversa.

Ficha Técnica 

Direção: Elias Andreato 

Atrizes: Cristina Mutarelli, Michele Matalon e Muriel Matalon 

Assistência de direção: Roberto Alencar 

Cenário e Figurino: Simone Mina 

Assistente de Cenografia: Annick Matalon 

Música Original: Jhonatan Harold 

Direção Vocal Interpretativa: Lucia Gayotto 

Direção de movimento: Roberto Alencar 

Iluminador: Wagner Freire 

Projeto Gráfico: Ciro Girard

Social Mídia: Rafa Américo 

Produção: “Muriel Matalon ” e “4 ever produções artísticas”

Direção de produção: Zé Guilherme Bueno

SERVIÇO

O Marinheiro, de Fernando Pessoa, com direção de Elias Andreato

Temporada: 18 de junho a 18 de julho, às quartas e quintas-feiras, às 21h

Espaço Ateliê Cênico – Rua Fortunato, 241, Vila Buarque

Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia-entrada)

Classificação: 12 anos

Duração: 50 minutos 

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Marcus Hemerly! 'Provocações, um epílogo: Fernando Pessoa, o poeta filósofo ou filósofo poeta?'

Marcus Hemerly

Provocações, um epílogo: Fernando Pessoa, o poeta filósofo ou filósofo poeta?

“Que tragédia não acreditar na perfectibilidade humana! …

– E que tragédia acreditar nela!”

Livro do Desassossego.

Após uma sequência de reflexões acerca da vida e os aspectos a ela inerentes; tal como o amor, amizade, tristeza, ou sua antítese, e, até mesmo a morte, em tom de encerramento, propomos uma incursão prática literária. A arte, de inúmeras maneiras, retrata as divagações e dúvidas ínsitas ao ser humano sensível e complexo. E nesse reflexo, impossível não citar o grande poeta lusitano, que em suas linhas, descortinou profundas reflexões que flertam com os questionamentos filosóficos dentro da poética. Com essa proposta, não se objetiva uma dissertação exauriente, o que seria, de plano, impossível, ou mesmo uma imersão explanatória mais profunda – que não faria jus à grandeza do autor citado – sem traçar um “passeio” ainda que pontual por diversas vertentes de sua obra.

Atua como elemento norteador deste pequeno texto, instigar o leitor a uma atividade reflexiva sobre a obra do poeta lusitano, a fim de aquiescer, ou não, com os pontos ora propostos. Ao menos, exorta-se uma nova visão dirigida a seus textos, ou um estímulo à sua descoberta aliada a grandes questões existenciais, num aprimoramento e autoconhecimento instigado em versos.

O saudoso Antônio Abujamra, grande entrevistador, dentre um de vários talentos, costumava inquirir aos entrevistados acerca do autor que eles conheceram mas ainda não como gostariam; bem como aquele ainda não encontrado, mas que pretendiam conhecer. Insiro-me na primeira categoria no que pertine ao autor nascido Fernando Antônio Nogueira Pessoa, (1988 – 1935), detentor de educação britânica na África do Sul, poeta, tradutor e pensador. Ora, à obviedade, dotados de racionalidade, somos seres pensantes, do latim, pensare, isto é, sopesar, refletir. E a reflexão, no plano filosófico, como cediço, é um exercício de questionamento e incursão investigativa numa proposta de pensamento. Tal é o que se percebe nas divagações, não raro, em tom onírico do artista português.

Decerto, o plano abstrato não é uma característica incomum aos escritos poéticos, o matiz de dubiedade e vertente aberta de interpretação são ínsitos àquele gênero literário. Todavia, em se tratando de Fernando Pessoa, suas proposições sobre vida, morte, obsessão, niilismo, natureza, dentre outros tópicos recorrentes à composição criativa, são inseridas em seus versos de forma robustamente inquisitiva. Revela-se, nesse passo, um paralelo entre a peculiaridade etérea e sensível da liberdade atrelada à escrita de poesia, bem como a um feixe de constante questionamento interior, que conduzem o leitor a uma atividade símile, quando se envereda pela poética de sua pena.

Não é inaudito que um autor apresente uma modificação de forma na escrita, utilizando-se de pseudônimos. Contudo, a complexidade da obra do poeta, o que favorece essa gama libertadora de metamorfoses de estilos e exegeses, é consubstanciada na criação de heterônimos, com biografias específicas e peculiaridades de escrita e fontes de influências e inspiração variadas, decorrentes dessas raízes biográficas. Aliás, tal atividade é traduzida nas palavras de seu semi-heterônimo, Bernardo Soares, ao qual é atribuído o Livro do Desassossego: “Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma”. O aforismo transcrito delineia essa verve de perfis numa só pessoa, entalhando uma obra completa nos planos estético e filosófico, unidos em uma requintada forma de literatura.

Derivando dessa ideia, na descrição dos atributos textuais de seus heterônimos, sirvo-me de um poema de minha autoria – cito, pois guarda pertinência com o tema – intitulado, Fernando em Pessoa, publicado em algumas antologias e em meu livro solo:

 

Fernando em Pessoa

Se busca algo simplista,
Recomendar-lhe-ei o artista,
Não simplório, nada corriqueiro,
Ler-se-á Alberto Caeiro.

Se flerta com a serenidade,
Coexista com erudita sagacidade,
Tom epicurista, teor renascentista: Eis!
Falar-se-á do latinista Ricardo Reis.

Se tem ares de convicto pessimista,
Contradição individual, ode logo à vista!
Homem que floresce em tediosos tempos,
Encantar-se-á com Álvaro de Campos.

Contudo, se não aprecia antônimos,
Consolar-se-á com transmorfos heterônimos,
Lirismo não comedido, mas unido, ressoa,
É o plectro da pena de uma só pessoa.

 

Marcus Hemerly

marcushemerly@gmail.com

 

 

 

 

 

 




Livro 'Pessoa Multiple (antologia Bilingue)


PESSOA MÚLTIPLE (ANTOLOGIA BILÍNGUE)

 Por Fernando Pessoa
Edição, tradução e notas de Jerónimo Pizarro e Nicolás Barbosa


Dados Técnicos da Edição
Não há autor de língua portuguesa mais reconhecido hoje que Fernando Pessoa, uma figura de destaque do século XX e da literatura universal. Esta antologia é a primeira a reunir, em um só volume, uma parte de toda a produção poética pessoana, os versos ingleses e franceses e livros tão importantes como Rubayiat e Quadras, entre outros. Pessoa Múltiplo é um convite para ler a poesia pessoana em toda a sua extensão, variedade e multiplicidade.

SOBRE O AUTOR

Fernando Pessoa (1888 – 1935) é hoje a principal referência literária dos países de expressão portuguesa no mundo. Inventor de outros autores – seus célebres heterônimos (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos) e de mais de 130 autores fictícios –, Pessoa deixou uma obra universal para a posteridade. Após sua morte, em seus “baús cheios de gente”, foram encontrados mais de 30 mil escritos que, ainda hoje, continuam sendo editados e que, pouco a pouco, vão sendo conhecidos em toda a sua amplitude.

SOBRE OS ANTOLOGISTAS

Jerónimo Pizarro é professor, tradutor, crítico e editor, responsável pela maior parte das novas edições e séries de textos de Fernando Pessoa publicadas em Portugal desde 2006.

Professor da Universidade dos Andes, titular da Cátedra de Estudos Portugueses do Instituto Camões na Colômbia e vencedor do Prêmio Eduardo Lourenço (2013), Pizarro voltou a abrir os baús pessoanos e redescobriu A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa, para fazer referência ao título de um dos livros de sua bibliografia.

Foi o Comissário da visita de Portugal à Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo) e há vários anos coordena a visita de escritores de língua portuguesa à Colômbia.

Coeditor da revista Pessoa Plural, assíduo organizador de colóquios e exposições, atualmente dirige a Coleção Pessoa de Tinta-da-china.

Nicolás Barbosa, formado pela Universidade do Andes e atualmente estudante de PhD em Literatura Portuguesa da Universidade Brown (E.U.A.), é responsável por mais de uma dezena de obras portuguesas traduzidas para o espanhol, atividade que, nos últimos anos, alternou com seu trabalho como professor de línguas da Universidade Nacional e a consultoria cultural da FILBo 2016.

 

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Os copiladores estarão no Brasil dia 06/06 na 17ª Feira Nacional do Livro em Ribeirão Preto-SP.

E também no XV Encontro Internacional da ABRALIC (Asssociação Brasileira de Literatura Comparada), que ocorrerá de 07 a 11 de agosto na Universidade do Estado do – RJ.  

 

PÚBLICO LEITOR

Estudantes e professores de literatura, interessados no tema e público general.
OBRAS RELACIONADAS

• Los días que ahora son sueños, de Eduardo Carranza.
• El laberinto. Antología poética, 1968-2008, de José Luis Díaz-Granados.
• Antología, de León de Greiff.
• La pupila incesante. Obra poética (1988-2013), de Rómulo Bustos Aguirre.
TEMA

Pessoa

Heterónimos

Poesia portuguesa.

 

 

Editora: Fondo de Cultura Económica – Colômbia
Coleção: Poesia
Páginas: 544
Formato: 14,5 x 23 cm
Encadernação: Brochura
ISBN: 978-958-8249-07-0
Preço: R$ 120,00



Pensamentos… Frase de Fernando Pessoa

 Fernando Pessoa

 

 

 

http://kdfrases.com/frase/100707