O frio que nos une

Clayton Alexandre Zocarato: ‘O frio que nos une’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Bing – 15 de agosto de 2025,
às 17:02 PM

Era uma manhã gelada de agosto. Dessas em que o Sol tenta existir, mas só serve pra dourar a paisagem — não pra aquecer. O vento soprava como quem avisa: hoje ninguém vai escapar da solidão.

As ruas estavam vazias, ou quase.

Uma senhora encurvada arrastava um carrinho de feira vazio. Um cachorro tremia embaixo de uma marquise. 

E eu, com as mãos nos bolsos e os ombros encolhidos, descia a rua como quem não sabe bem pra onde vai, mas sente que ficar em casa seria ainda mais gélido.

Há algo no frio que revela o que somos por dentro.

No calor, tudo parece mais fácil: os corpos se encontram, os risos se espalham, as janelas se abrem. Mas no frio… 

No frio a gente se fecha. No frio, até a alma parece querer um cobertor. A verdade é que, quando a temperatura cai, a gente se dá conta de que sente falta do calor humano mais do que casacos: sente falta de abraços suculentos e beijos molhados.

Já reparou como o frio e a solidão caminham juntos? 

Como o vento gelado tem o poder de lembrar a ausência de alguém?

É no frio que mais se pensa em quem já partiu, em quem nunca chegou, em quem poderia estar ao lado dividindo o café, ou  simplesmente no silêncio. 

Talvez por isso tanta gente escreva sobre inverno com tanta melancolia — porque o frio é um convite à introspecção, mas também um espelho da carência.

Lembro-me de uma frase que ouvi certa vez: A solidão é a ausência de um calor específico”. 

Na época, achei poética demais, dessas que se penduram em legendas de fotos tristes. Mas hoje, com o nariz vermelho e a alma encurvada, ela me parece perfeita. Porque solidão não é estar sozinho — é não ter com quem dividir o frio.

É curioso: quanto mais o mundo avança, mais parece esfriar. Temos aquecedores, cobertores térmicos, casacos inteligentes. 

Mas não temos mais aquele calor de estar junto. 

Mandamos mensagens, emojis, áudios com voz de saudade. Mas nem sempre conseguimos estar presentes. 

E a solidão virou um frio que não se cura com tecnologia.

No entanto, há um paradoxo bonito nisso tudo. Porque o frio, quando compartilhado, vira outro bicho. 

O mesmo vento que gela a espinha vira motivo pra se aninhar. O mesmo céu cinza que entristece, vira pretexto pra chamar alguém pra perto. 

O frio, em sua dureza, cria o desejo de encontro.

Pense nas lareiras, nos vinhos, nos filmes vistos a dois debaixo de uma manta. Pense nas mãos dadas nos bolsos dos casacos. 

Pense nas conversas longas só porque lá fora está frio demais pra sair de casa. O frio nos empurra pra dentro — e dentro pode ser um lugar cheio de gente, se a gente deixar.

Solidão, portanto, não é sentença. É estado. E como todo estado, pode mudar. Às vezes, tudo que alguém precisa é de um gesto, uma ligação, um olhar mais demorado. Às vezes, o que falta não é um amor de cinema, mas uma presença de verdade. Um “como você está?”, dito com vontade de ouvir a resposta. Porque a solidão, essa sim, tem pavor de ser escutada.

Hoje cedo, naquele caminho frio e vazio, vi uma cena simples: um casal de velhinhos, de mãos dadas, caminhando devagar.

Ela tremia. 

Ele parou, tirou o cachecol e enrolou no pescoço dela. Depois, seguiram os dois, juntos, em silêncio. Aquilo foi a coisa mais quente que vi o dia todo.

Talvez seja isso. O frio é inevitável. A solidão, em certa medida, também. Mas a vontade de estar perto, essa sim, é que nos salva. 

No fim, somos todos feitos do mesmo sopro gelado, esperando por uma brisa de afeto. E basta um toque, um gesto, uma companhia — mesmo silenciosa — pra fazer da solidão apenas uma pausa, e não um destino.

Que neste inverno — literal ou metafórico — a gente seja o calor um do outro.

Clayton Alexandre Zocarato

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No quadro do ROL, as letras argentinas de Orlando Valdez!

Orlando Valdez abrilhanta o quadro de colunistas do ROL, com sua destacada carreira literária!

Orlando Valdez
Orlando Valdez

Orlando Valdez nasceu em Ramallo (1961), Província de Buenos Aires e reside em Rosário, Argentina, desde 1986.

Publicou as coletâneas de poesia: O Profundo Silêncio de Toda Loucura (2001/2001), O Mezquino Trazo del Act (2012), A Feroz Covardia do Silêncio (2007/2017), A Simetria Inusitada (2019), Setenta Vezes Sete Mais Que Três Vezes (2019) e Zedlav (2020).

Foi jurado duas vezes no Concurso Internacional de Poesia Acebal, na Província de Santa Fé (2002 e 2022).

Sua obra foi publicada em 14 antologias e em revistas de poesia nacionais e internacionais. Participou com sua obra em mesas de leitura em festivais internacionais no Chile (2005), Cuba (2014), México (2017) e na Argentina, ao nível internacional, nacional e provincial. É membro ativo do Colégio de Escritores e Poetas do Sudeste (CEPSURE International Friends) e correspondente da revista mexicana de poesia Blanco Móvil.

Orlando Valdez inaugura sua colaboração no ROL com o poema ‘Nas Ruas à Noite’ (do livro: O Silêncio Profundo de Toda Loucura)

Nas Ruas à Noite

Imagem criada por IA do Bing. 20 de junho de 2025, às 14:12 PM
Imagem criada por IA do Bing. 20 de junho de 2025,
às 14:12 PM

O frio nas ruas piora à noite

Folhas de inverno como animais

Gritam pela urgência do amanhecer

E a Lua além de seu minguante

Então me pergunto sobre mim e sobre mim

Do acontecimento

E da descoberta

Da luz de velas

O estigma

E sua sombra

Orlando Valdez

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Frutas do outono

Denise Canova: Poema ‘Frutas do outono’

Denise Canova
Denise Canova
Imagem criada por IA no Bing – 25 de março de 2025,
às 11:02 PM

Frutas do outono

Dá sabor gelado

Mas é divino

O frio está perto

Dama da Poesia

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As águas do Rio Grande do Sul

Sergio Diniz da Costa: ‘As águas do Rio Grande do Sul’

Sergio Diniz
Sergio Diniz
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

As águas que te cobrem, Rio Grande do Sul
São as mesmas que cobrem meus olhos

Longe são tuas terras das minhas
Perto demais vê-las submersas
Perto de mim, os lamentos de ti

Por ti, também perdi minha casa
Meus móveis, roupas e até meu cão
Teu medo, teu frio, meu medo, meu frio

Teu coração opresso oprime o meu
Tua alma e minh’alma se abraçam
Feitas gêmeas amarguradas

Uno minhas mãos às tuas,
Meu Rio Grande do Sul
Elevo minhas preces às tuas
O sofrimento nos une
Pois somos um
Mas, quando o Sol raiar novamente
Juntos estaremos
No alvorecer da redenção!

Sergio Diniz da Costa

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Artigo de José Otávio Vasques Ayres: 'Aquecedores de ambiente fazem mal à saúde?'

jose-otavio-vasques-ayres-1DR JOSÉ OTÁVIO VASQUES AYRES – AQUECEDORES DE AMBIENTE FAZEM MAL À SAÚDE ?

 

Chegou o frio!!! E com ele muitas vezes acabamos usando aquecedores de ambiente. Mas isto é bom? Faz mal?

Um aspecto a lembrar é que devemos evitar o choque térmico. A mudança do ambiente quente para o frio é menos agressiva para o organismo se for feita de forma gradual.

Mas o maior problema dos aquecedores é que eles retiram a umidade do ar. Durante o inverno, o ar já é mais seco, o que prejudica bastante o funcionamento do sistema respiratório. Com os aquecedores este problema é agravado. Os incandescentes que usam resistência, quartzo ou cerâmica retiram mais a umidade. Os aquecedores a óleo retiram menos a umidade, mas ainda assim retiram.

O QUE FAZER PARA PODER UTILIZA-LOS DE MANEIRA MAIS ADEQUADA ?
Devemos melhorar a umidade do ar! Bacias e baldes com água podem ajudar, mas a superfície de contato não é tão grande. O ideal é utilizarmos uma toalha grande, molhada, aberta em uma superfície de material que não embolore. Devemos evitar ficar muito próximos ao aparelho.
Umidificadores são bastante eficazes para melhorar a umidade do ar. O problema é que continuam trabalhando mesmo após ocorrer a saturação de vapor de água no ar. Desta forma, ele promove a condensação, com umidificação de móveis, colchões, travesseiros, roupas e paredes. Com isto, há a proliferação de fungos (mofo) que são extremamente nocivos aos alérgicos. Devemos também tomar muita água para ajudarmos o aparelho respiratório.
Outro cuidado com os incandescentes, é evitar o contato próximo a cortinas, tapetes e cobertas, pelo risco de incêndio. Evitar, também, deixa-los ao alcance de crianças.

AR CONDICIONADO = Devemos ter os mesmos cuidados para evitar o ressecamento do ar e também necessitamos manter o filtro e o interior bem limpos. O acúmulo de poeira prejudica muito o sistema respiratório.

LAREIRAS= Apresentam também o problema de ressecar o ar e muitas vezes podem refluir um pouco a fumaça para o ambiente, o que prejudica bastante o sistema respiratório também. O sistema de chaminé deve ser muito eficaz.

DR JOSÉ OTÁVIO VASQUES AYRES

Fonte de imagens = Internet

Foto de Jose Otavio Vasques Ayres.
Foto de Jose Otavio Vasques Ayres.



Sergio Diniz da Costa: 'Eu e o meu chuveiro'

Sergio Diniz da Costa

 EU E O MEU CHUVEIRO

 

Diga-me, meu caro leitor, por um acaso você já teve ou ainda tem alguma relação de amor e ódio por algo ou por alguém?

Se a resposta for um sonoro ‘sim!’, sabe perfeitamente como se dá essa dependência. É, certamente, algo como a dependência por alguma droga: você a consome e ela, com o tempo, te consome, também. Um círculo vicioso. Um horror!

Pois eu tenho, infelizmente, uma relação dessa natureza. E, como o título desta crônica bem o indica, com o meu chuveiro!

Existe algo mais prazeroso do que tomar uma deliciosa ducha, principalmente depois de uma caminhada mais longa, ou uma corrida, ou, ainda, alguma atividade profissional que implique em grande esforço físico? E dormir, então, depois de um banho bem quentinho? Tudo de bom, né?

E, sobre tomar banhos, tem aqueles dos meses de verão e aqueles outros, de inverno.

Os dos meses quentes, impreterivelmente, com água fria. E, os dos meses de inverno… Bem, em primeiríssimo lugar, o ritual para eles já é um pouco mais complicado.

Levantar da cama, depois de uma noite inteira hibernando sob cobertores pesados e quentíssimos, requer uma vontade férrea, um esforço próprio de ‘Os Doze Trabalhos de Hércules’.

E esse esforço é redobrado se, pra piorar ainda mais a situação, o dia estiver frígido e chuvoso. Ninguém merece!

Mas, como o dever nos chama, lá vou eu, destemidamente, sair da cama, colocar os pés num par de chinelos gelados e, feito um guerreiro bárbaro, enfrentar o estimulante banho da manhã.

Entro no banheiro e, com

o meu apartamento não tem o luxo da calefação (próprio de países de regiões frias), tirar o pijama já é outra etapa da façanha heroica. Entretanto, a imagem do guerreiro bárbaro, do chefe viking à frente de seus guerreiros, em pleno campo de batalha, me impele avante.

E, aí, a coisa começa a complicar, pois é preciso anos de prática para se conseguir encontrar o ponto ideal da torneira, de modo que a água não fique nem quente e nem fria demais.

Esse processo se torna mais difícil ainda quando a torneira já é um tanto quanto usada e, por causa disso, mais um tanto quanto emperrada.

E vira daqui, vira de lá neste processo, e já enregelado, eis que, finalmente, o tal ‘ponto ideal’ da dita cuja é atingido e o calor da água atinge seu ponto ideal! Aleluia!

E lá vamos nós, agora mergulhados numa torrente de água quentinha, acolhedora…

Até que, inesperadamente, bem no meio daquele jato quente, surge um pingo gelado! Bem nas costas! E justamente no momento em que estou com o rosto coberto de espuma!

Rapidamente, retiro a espuma e passo a procurar a fonte daquele infortúnio.

Localizo-o! Vem pelo cano, provavelmente porque, ao colocar o chuveiro, faltou um tantinho de veda-rosca pra dar o aperto necessário para fixa-lo.

E ele, o tal pingo inoportuno, a partir daí, passa a fazer parte do delicioso banho quente.

Agora, nesta mescla de prazer e desprazer, resolvo terminar o banho o mais rápido possível.

Fecho a torneira e começo a me enxugar. Como o box é pequeno, fico praticamente embaixo do chuveiro e, mal terminando de enxugar as costas, eis que um pingo vindo diretamente da Antártida cai nelas, já secas.

Solto um mega palavrão! E passo a matutar o porquê de esse pingo aparecer justamente no inverno, nos dias mais frios, no banheiro mais frio, no corpo (e na alma) mais frio…

E, já envolto pelo vapor que sai do chuveiro, entre uma enxugada e alguns palavrões, fico a ‘viajar’ mentalmente. E passo a ver, na torneira, no chuveiro e no cano um conluio maquiavélico, hábil a me infundir um misto de raiva e desespero.

O chuveiro parece ter adquirido vida! E, de súbito, me lembro de Chuck, Hugo, Blade e outros bonecos assassinos.

Em meio ao vapor, que já tomou conta do box, sinto que vou enlouquecer! Até o momento em que escuto algumas pancadas na porta do banheiro.

Pra minha salvação, contudo, é apenas minha esposa, perguntando se está tudo bem, pois faz ‘apenas’ 40 minutos que estou tomando banho.

Alívio completo!

Tudo não passou tão somente de um mísero pingo de água gelada…

No meio da água quente havia um pingo gelado.

Havia um pingo gelado no meio da água quente…

E que vai durar o inverno todo!

 

Sergio Diniz da Costa

sergiodiniz.costa2014@gmail.com