O velhinho do terno

José Antonio Torres: ‘O velhinho do terno’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
O velhinho do terno
O velhinho do terno
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Em uma certa casa de cômodos, que também funcionou como pensão por alguns anos, e que se situava na cidade do Rio de Janeiro, havia um inquilino bem idoso. Ele se vestia diariamente com um terno, gravata, chapéu e usava uma bengala. Parecia um Lorde inglês. Possuía dois ternos que revezava semanalmente. A dona da casa de cômodos lavava a roupa dele e servia-lhe o almoço.

Era um senhor muito quieto. Quase não falava. Não conversava com os demais inquilinos. Não se sabia se possuía algum familiar. Ele não comentava absolutamente nada sobre a vida dele.

Saía pela manhã, retornava para almoçar e ia dormir durante a tarde. Levantava-se ao final da tarde, arrumava-se e saía outra vez – acreditava-se que ia jantar, tendo em vista que a pensão não servia jantar – e retornava no início da noite para dormir. Essa era a sua rotina diária. Parecia um personagem saído dos filmes de mistério.

Passado um tempo, a dona da casa de cômodos precisou reajustar o valor dos aluguéis dos quartos e o velhinho ficou na dele. Não fez qualquer comentário. Chegou o dia do pagamento e o velhinho não pagou o reajuste. A senhora então, deu-lhe o prazo de uma semana para que arrumasse um outro lugar para morar e que a partir daquele momento não lhe serviria mais o almoço.

Em um determinado dia dessa mesma semana, o velhinho apareceu todo machucado no rosto e nas mãos, que estavam bem esfoladas. Mancava bastante também, caminhando com certa dificuldade. Ele não fez qualquer comentário.

No dia seguinte saiu uma notícia no jornal, onde informava que um senhor de idade havia sido atropelado e citava o nome do velhinho do terno. O filho da dona da casa de cômodos, que deveria ter uns 11 ou 12 anos na época, leu a notícia que lhe foi mostrada por um outro inquilino da casa e perguntou-lhe se poderia recortar aquela notícia para guardá-la? O inquilino permitiu e ele assim o fez. Recortou a notícia – que não era muito grande – e guardou-a.

Cerca de dois dias depois, aparece na casa um policial com uma intimação para que a senhora comparecesse à Delegacia, pois estava sendo acusada de ter agredido o velhinho e lhe causado aqueles machucados. Ela, muito surpresa e assustada, negou veementemente ter praticado tal ato e explicou ao policial que, dias antes, ele apareceu todo machucado e não falou o que havia acontecido. O filho da senhora então, ouvindo aquela acusação que pesava sobre sua mãe, foi buscar o recorte de jornal que havia guardado – onde constava a notícia sobre o atropelamento do velhinho – e mostrou-o ao policial. Este leu a notícia e chamou o velhinho, que estava em seu quarto, e pediu-lhe explicações. O velhinho se manteve em silêncio e de cabeça baixa. O policial passou-lhe uma descompostura bem ríspida.

A senhora, muito revoltada com a tentativa de armação do velhinho para prejudicá-la, contou ao policial que havia reajustado o aluguel e que o velhinho não pagou o acréscimo. Em vista disso, ela deu-lhe uma semana para procurar outro lugar para morar. Disse então ao policial que, diante do acontecido, não queria aquele homem morando ali nem mais um segundo, pois não se sabia o que mais ele poderia aprontar. O policial entendeu e foi solidário a ela, determinando ao velhinho que pegasse a sua mala e fosse embora naquele momento. Assim ocorreu. Nunca mais se teve notícias dele.

Não fosse o menino, filho da dona da casa de cômodos, ter guardado o recorte de jornal com a reportagem do acidente, a senhora teria a sua vida complicada pelo velhinho do terno.

José Antonio Torres

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Artigo de Ricardo Hirata: 'O Golpe no Brasil, o triunfo do Capital'

Ricardo Hirata
Ricardo Hirata

Ricardo Hirata Ferreira – O GOLPE NO BRASIL. O TRIUNFO DO CAPITAL

 

Sobre o golpe alguns fatos precisam ser colocados. O primeiro deles é o fato do próprio vice-presidente e seu partido que também era governo romperem com a presidenta e promoverem o golpe de Estado. De forma alguma, pode-se aceitar um presidente que comete este tipo de traição, ele não tem legitimidade.

A presidenta Dilma foi reeleita com mais de 54 milhões de votos. Os votos destes brasileiros foram desrespeitados e jogados no lixo. A maioria dos deputados e senadores que defendem seus interesses não tem moral para julgar e derrubar a presidenta. Ressaltando-se aqui os deputados da bancada “BBB” (Boi, Bala e Bíblia).

Houve sem dúvida um boicote ao governo da presidenta por forças hegemônicas ligadas ao grande capital e por setores conservadores retrógrados com inspirações fascistas. A grande mídia também produziu e inflou a crise política e econômica no Brasil, tomando uma posição unilateral: criou informações e imagens na forma de espetáculo contra o governo. Diariamente a população brasileira, na sua maior parte empobrecida intelectualmente, foi contaminada por toda esta poluição de informações e versões intencionalmente produzidas.

É inegável que os governos Lula e Dilma trouxeram avanços sociais significativos. Dentre eles a criação de mais de 18 Universidades Federais pelo Brasil, espalhadas por todo o território brasileiro, o Programa Mais Médicos, levando médicos aonde eles nunca chegavam antes, porque não existia sensibilidade social para isso, o Programa Minha Casa Minha Vida, a luta pela erradicação da fome, uma vez que as elites sempre foram indiferentes ao sofrimento da fome do outro.

A presença das mulheres em seus governos e a eleição da primeira presidenta mulher também fez justiça ao maior segmento da população brasileira em uma sociedade historicamente patriarcal, machista e misógina.

A tomada do poder pelo então vice-presidente Temer, pelo partido derrotado na última eleição e demais partidos de direita e de extrema direita representam o triunfo de uma agenda neoliberal, que não comporta em sua essência as questões sociais e humanitárias.

Em seu discurso, o então presidente interino fala em tom autoritário sobre a retomada da tese do Estado Mínimo, já executada pela velha política realizada por FHC e assumidamente praticada pelos políticos desta mesma linha. O receituário básico é: sucateamento, terceirização e privatização.

O Estado Mínimo refere-se a uma internacionalização perversa do território brasileiro. A venda do que resta das empresas e dos bancos estatais e a entrada sem compromisso do capital internacional. É o lucro em primeiro lugar, enquanto que o ser humano e o meio ambiente ficam nos últimos lugares.

No mundo das finanças e da força da economia, a política é feita para enfraquecer e fragmentar os trabalhadores, destruir os direitos trabalhistas e fortalecer ainda mais aqueles que detêm o capital. O importante é a eficiência do sistema que intensifica o processo de desigualdade sócio espacial. As leis de maneira geral são usadas e garantem o funcionamento do sistema que privilegia uns, silencia e elimina outros.

Nesta perspectiva de paradigma e governo: a cultura não tem importância, a educação só é útil para produzir corpos domesticados e a saúde deve garantir que as peças das máquinas possam funcionar. É imprescindível que os corpos possam consumir, mas nem todos e nem todos os lugares precisam participar efetivamente do mundo do trabalho e do mundo do consumo. Cultura, educação e saúde têm validade quando são mercadorias. O cidadão desaparece, aparece o consumidor mais que perfeito.

Houve uma mudança de governo, elimina-se um governo que a duras penas tentava impor uma concepção humanista e de desenvolvimento social dentro da mundialização do capital (o que não deixa de ser um paradoxo) para instalação de outro governo, agora pragmático que visa o crescimento econômico a qualquer preço e que está do lado e a serviço não das pessoas, mas do agronegócio, dos grandes latifundiários, dos grandes banqueiros, dos grandes empresários (inclusive os da religião) e das multinacionais e corporações globais.

 

Ricardo Hirata Ferreira

Doutor em Geografia Humana, FFLCH, USP.

 




Artigo de Celio Pezza: 'Golpe'

Colunista do ROL
Celio Pezza

Célio Pezza – Crônica # 312 – ‘Golpe’

O legítimo processo de impeachment da presidente Dilma finalmente foi votado no ultimo dia 11 de maio pelo Senado, que decretou por 55 votos a favor e 22 contra, o afastamento de Dilma e o inicio do fim do governo petista.

Dilma e seus aliados destruíram a economia do país, mas, felizmente, não acabaram com o sonho de muitos brasileiros que acreditam na justiça e na forma honesta de governar.

Graças ao Juiz Sérgio Moro e a Policia Federal, muita sujeira já foi mostrada ao povo brasileiro. O “projeto criminoso de poder”, conforme definição do Ministro do STF, Celso de Mello, durante o julgamento do Mensalão, veio à tona e Lula e Dilma não tem como negar a não ser pela repetição do mantra “é golpe” que criaram para seus fanáticos seguidores.

Os próprios ministros do STJ já afirmaram que “impeachment não é golpe” uma vez que se trata de instrumento legal previsto na Constituição brasileira.

Não podemos nos esquecer de que o fato de um presidente ter sido eleito, não lhe dá o direito de destruir a economia do país, fazer uso inapropriado de recursos públicos e participar do maior esquema de corrupção que já se viu na História, para abastecer de propinas a sua base governista e campanhas eleitorais, como está sendo mostrado nas investigações da Operação Lava Jato.

As revelações, inclusive do Senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo petista no Congresso Nacional, são ainda mais contundentes, pois mostram que, Lula e Dilma, não só sabiam como participaram de inúmeras operações criminosas.

Isso sim pode ser chamado de golpe.

O verdadeiro golpe foi praticado pelo governo petista, quando saqueou os cofres públicos e usou a máquina governamental para levar o país à bancarrota.

Esse golpe acabou com algumas conquistas como o controle da inflação, o equilíbrio das finanças publicas e causou uma enorme crise econômica e desemprego no Brasil.

Golpe é o marqueteiro do partido, João Santana, ter criado mentiras para iludir o povo brasileiro e promover a reeleição de Dilma.

Golpe é a destruição da maior empresa brasileira, Petrobras, através de roubos bilionários.

O Brasil clama por justiça e ela vai chegar, para colocar na cadeia os verdadeiros golpistas, independente de partidos.

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, já afirmou que o PT tinha o plano perfeito para se eternizar no poder, mas a operação Lava Jato estragou tudo.

A verdade apareceu e a casa caiu.

Não adianta mais os governistas, como fanáticos religiosos, repetirem seu mantra “é golpe” e tentarem de todas as maneiras burlarem um verdadeiro processo democrático.

 

Célio Pezza   /  Maio, 2016