Luzes, repetições e sonhos nos anos 90

Clayton Alexandre Zocarato

‘Luzes, repetições e sonhos nos anos 90’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA da Meta

Nas luzes piscantes da danceteria, corpos giravam em repetições, embalando sonhos inocentes que atravessavam a noite rumo aos anos 90, onde a esperança dançava ao som da novidade. 

Nos rostos iluminados pelo brilho neon, sorrisos tímidos trocavam promessas entre beats eletrônicos, enquanto o coração pulsava no compasso daquela época que ainda acreditava no amor entre refrões repetidos.

Cada batida era um suspiro, cada dança um encontro, e na inocência da noite, a música guardava segredos de paixões que resistiriam além da pista. 

Era a era em que a cultura pop flertava com a novidade dos anos 90, misturando nostalgia e futuro em passos que eternizavam momentos simples e eternos. Ali, entre sombras e luzes estroboscópicas, o romance nascia na cadência eletrônica, como um sonho juvenil embalado pela repetição da melodia que nunca cansava de contar histórias.

Era exatamente a repetição – a palavra que dava nome àquela canção do Information Society – que embalava a juventude em noites onde o tempo parecia se diluir. 

Repetir os mesmos movimentos, as mesmas letras, os mesmos gestos, era uma forma de resistência e criação, como se o instante pudesse ser eternizado na pista de dança, no calor das luzes neon e no eco dos sintetizadores. 

Repetition, repetition – o refrão parecia um mantra que levava os corpos a uma espécie de transe coletivo, uma fuga doce e inocente da realidade, ao som de um synthpop que definia o fim de uma era e o início de outra.

As danceterias da época eram templos modernos, onde a cultura pop, que dominava os  anos 80 com suas cores vibrantes e excessos, começava a ceder espaço ao frescor dos anos 90. 

A transição era sutil, quase imperceptível para muitos, mas sentida intensamente por aqueles que viviam as madrugadas entre as luzes pulsantes e a repetição da música eletrônica. 

Era o pop se reinventando, ganhando uma nova roupagem mais introspectiva e melódica, sem perder a energia contagiante que fazia todo mundo querer dançar e sonhar.

Nesse cenário, Repetition não era apenas uma música, mas um convite para se entregar ao movimento, à energia, à esperança que ainda morava nos olhos de jovens que, mesmo diante das incertezas do futuro, acreditavam no poder da música para unir, para criar memórias, para eternizar sensações. 

Era uma época romântica, sim, não do romantismo clássico das cartas e serenatas, mas de um romantismo elétrico, pulsante, feito de olhares furtivos, toques tímidos e aquela magia que só a pista de dança poderia proporcionar.

Naquele ambiente, o mundo parecia caber inteiro em uma canção. 

As palavras se repetiam, o ritmo se mantinha firme, e o coração de cada frequentador batia junto com os sintetizadores, criando uma sintonia quase perfeita entre o corpo, a mente e a música.

E assim, a repetição se transformava em criação — um ato poético onde o simples gesto de dançar se tornava a mais pura expressão de liberdade e inocência.

Os anos 90 chegaram, trazendo novas sonoridades, novos desafios e uma nova geração que já não mais se contentava com o brilho efêmero da pista, mas buscava sentido em cada batida, em cada refrão. 

E mesmo com tantas transformações, aquela noite, aquelas luzes, aquele som repetido no infinito da pista de dança continuavam vivas na memória dos que souberam aproveitar o instante mágico. E então, entre flashes e ecos, ao som do Information Society, percebemos que a repetição não era monotonia, mas sim um convite à contemplação da vida em sua forma mais pura: feita de encontros, de risos, de danças e daquele sentimento doce e inocente que só o começo dos anos 90 sabia despertar.

Clayton Alexandre Zocarato

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