Não vale

Evani Rocha: Poema ‘Não vale’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem gerada por IA do Gencraft
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Não vale a pena triturar os ossos
O óbvio, a tudo é sabido
Há quem sonha em viver o ócio
Mas teme ser preterido

Não vale a pena esvair-se por terra
Virar-se ao anverso do reverso
Deixar-se levar por retóricas vazias
Depois, encher a boca de fantasias

Não vale suportar a dor, sem cortar as raízes
Colher a flor sem regar o jardim
Exalar o odor da decepção
Calar nos olhos a contestação

Não vale a pena alimentar o ódio
Ficar a sós olhando o horizonte
Amassar o barro e subir ao pódio
Se não foi capaz de escalar o monte!

Evani Rocha

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Não sei

Evani Rocha: Poema ‘Não sei’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem criada pela IA do Gencraft
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Não sei de mim,

Nem dos dias arrastados sob o Sol

Não sei das horas, que correm no tempo

De outrora

Das noites alongadas de inverno

Não sei…

Não sei das flores que murcharam por falta de rega,

E das ervas que cresceram no jardim

Não sei da poeira fina da estrada de terra

Ou do asfalto negro, feito pedra…

Não sei das conversas veladas ao pé do ouvido

Ou do zunido de uma cigarra

Em ecdise,

Não sei…

Não sei se é Lua cheia ou crescente

Ou das explosões solares…

Não sei dos braços abertas a esperar…

Das ruelas vazias ou das janelas floridas

De São Francisco,

Não sei se é isso ou aquilo!

Não sei se penso ou se sorrio,

Não sei…

Não sei dos rascunhos guardados nas gavetas

Dos homens tristes caídos nas sarjetas

Dos sapatos empoeirados por falta de uso

Não sei das fotografias antigas,

Revelando a lisura da tez,

Não sei…

Não sei sobre o que sei, talvez nada saiba

O mundo é uma complexa rede de teias

Entrelaçadas em círculos,

Como uma imensa roda gigante

Dentro de outras rodas

E com outras rodas por dentro.

Então, não sei…

Não sei de você,

Se tem a boca entupida de silêncio

Ou se os olhos profundos

Não podem expressar…

Não sei das estações do ano,

Há muito, deixei de olhar o calendário!

A mim não importa o tempo,

Os anos, os dias…

Não sei…

Dos caderninhos da infância, escritos à mão

Das poesias sem rima, dos versos soltos no ar…

Não sei das filas na parada do coletivo,

Na fase do colegial,

Do uniforme amarrotado,

Do anseio pelas férias…

Não sei dos caminhos trilhados a meio século…

Dos amigos que ficaram no passado,

Daquela palmeira na curva da estrada!

Não sei…

Quantos registros deletei da memória…

Quantas histórias por contar!?

Não sei do amanhã: se faço isso ou aquilo…

Não sei do ontem e nem do agora…

Talvez essa dúvida de não saber,

É o combustível da mente,

Para não morrer,

Antes de tentar, antes de vasculhar as caixinhas da memória,

Antes de se entregar ao fim:

Preenchido de tudo o que o corpo e a alma foram capazes de alcançar!

Evani Rocha

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Fui um rio de solidão

Evani Rocha: Poema ‘Fui um rio de solidão’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem criada por IA - Gencraft
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Fui o rio onde desaguou todos os mananciais
Fui a nascente em ti e a foz além de mim.
Fui a tempestade que inundou os teus olhos
E transbordou teu coração.
A enchente que transpassou tua alma
E afogou o teu jardim…
sim!
Fui como um furacão!
Como um rio de correntezas velozes,
Não vi as flores às margens
E nem as folhas mortas
que flutuavam sobre mim.
De um fino fio, me expandi
Além dos meus limites,
Até tornar-me cachoeiras
E lavar barrancos e várzeas.
Fui o céu derretido em águas
Desnorteadas, sem barreiras.

Eu fui um rio de solidão…
Sim!
Eu fui rio,
Fui pedras, entulhos e chão,
Fui a mão da mãe sobre o Rincão
Fui a imensidão de areia
que permeiam os oceanos.
Fui marginal alado, calado,
Fui profundezas abissais!
Passei por aqui desavisado,
Porém, ainda sou água livre nos verões.
Intempestiva, inconsequente,
Ás vezes posso chegar bruscamente,
Sombria e fria.
Ultrapassar teus extremos
e surpreender tua profecia…
Ainda SORRIO, porque guardo em mim
A fórmula mágica da vida.
O potencial de renascimento.
Mesmo que carregado
de enxurradas e lágrimas,
Ainda assim, permaneço rio.

Evani Rocha

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A Flor despetalada

Ceiça Rocha Cruz: Poema ‘A flor despetalada’

Ceiça Rocha Cruz
Ceiça Rocha Cruz
"Longas noites, com olhar vago, em busca do amor no coração do tempo, lágrimas no rosto da noite..."
“Longas noites, com olhar vago, em busca do amor no coração do tempo, lágrimas no rosto da noite…”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Manhã solitária e taciturna,
suspiros ao vento
e, no silêncio, a solidão
em denúncia ao viver.

Florbela!
Bela flor no jardim do existir
versava com sapiência e destreza,
aos encantos do amor
e paixões abrasadoras.

Na quietude sombria,
tênue e esvaecida,
vagava o sofrimento, e desditosa,
a irreprimida saudade
dos encontros e desencontros
do tempo que passou.

Longas noites, com olhar vago,
em busca do amor no coração do tempo,
lágrimas no rosto da noite, e no seu,
incontida tristeza.

Em seu pranto,
no desespero e na desilusão,
a flor bela, bela flor
despetalada pela vida,
sucumbiu, dormiu eternamente
ao abrir das pálpebras douradas do sol,
entre cortinas transparentes da aurora.

Por fim, ventos sussurrantes
sopraram desesperados,
e a flor bela,
a bela flor, ao despetalar-se
o dia chorou!

Ceiça Rocha Cruz
(Relembrando Florbela Espanca)

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“Eu sou mais forte do que eu”

Verônica Moreira: Crônica “Eu sou mais forte do que eu”

Verônica Moreira
Verônica Moreira
"Fui arrancando as ervas daninhas do meu interior, e ali, percebi a cura…"
“Fui arrancando as ervas daninhas do meu interior, e ali, percebi a cura…”
Microsoft Bing – Criador de imagens do Designer

Eu sou mais forte do que eu pensava e bem melhor do que muitos que se dizem bons. Hoje entendo porque Jesus perdoou Judas, e não foi porque Judas merecia, mas porque Jesus sabia que por trás daquele beijo no rosto, havia um demônio. Mas o Judas, humano, era apenas um pobre homem que não pôde ver a luz que resplandecia em Jesus.

Às vezes, buscamos luz onde não existe, acreditamos em pessoas sem luz e acabamos fechando os nossos olhos para não vermos a escuridão que existe no outro. Isso, porque insistimos em acreditar que possa existir luz nas pessoas, mesmo que nossos olhos não vejam nenhum brilho nelas.

Sempre acreditei na tal luz no fim do túnel, até que ela foi se ofuscando lentamente, até que, por fim, ela se apagou por completo na minha frente. Só vi que era tudo escuro e tenebroso, quando finalmente abri os olhos para a luz que havia em meu interior.

Descobri que meu interior era um jardim, que sempre reguei com amor, até que comecei a deixar entrar ervas daninhas; sabe aquelas que vão se alastrando pouco a pouco e, quando percebemos, já tomou todo nosso espaço e brilho?

Pois é assim que me vi em alguns momentos de minha vida. Fiquei mal por não saber como limpar o meu jardim interior, até que finalmente comecei a sentir muita dor e me vi obrigada a limpar tudo. Fui arrancando as ervas daninhas do meu interior, fui sangrando pelo caminho, cai de joelhos diante do mal e ali, naquele lugar cheio de dor, eu percebi a cura…

Posso olhar para o meu jardim com esperança. As marcas, podem até fixar por um tempo, mas irei plantar muitas flores, flores variadas, flores coloridas de toda espécie…

Definitivamente, como dizia Clarice Lispector: “Eu sou mais forte que eu.”

Verônica Moreira

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