Fui o rio onde desaguou todos os mananciais Fui a nascente em ti e a foz além de mim. Fui a tempestade que inundou os teus olhos E transbordou teu coração. A enchente que transpassou tua alma E afogou o teu jardim… sim! Fui como um furacão! Como um rio de correntezas velozes, Não vi as flores às margens E nem as folhas mortas que flutuavam sobre mim. De um fino fio, me expandi Além dos meus limites, Até tornar-me cachoeiras E lavar barrancos e várzeas. Fui o céu derretido em águas Desnorteadas, sem barreiras.
Eu fui um rio de solidão… Sim! Eu fui rio, Fui pedras, entulhos e chão, Fui a mão da mãe sobre o Rincão Fui a imensidão de areia que permeiam os oceanos. Fui marginal alado, calado, Fui profundezas abissais! Passei por aqui desavisado, Porém, ainda sou água livre nos verões. Intempestiva, inconsequente, Ás vezes posso chegar bruscamente, Sombria e fria. Ultrapassar teus extremos e surpreender tua profecia… Ainda SORRIO, porque guardo em mim A fórmula mágica da vida. O potencial de renascimento. Mesmo que carregado de enxurradas e lágrimas, Ainda assim, permaneço rio.
Manhã solitária e taciturna, suspiros ao vento e, no silêncio, a solidão em denúncia ao viver.
Florbela! Bela flor no jardim do existir versava com sapiência e destreza, aos encantos do amor e paixões abrasadoras.
Na quietude sombria, tênue e esvaecida, vagava o sofrimento, e desditosa, a irreprimida saudade dos encontros e desencontros do tempo que passou.
Longas noites, com olhar vago, em busca do amor no coração do tempo, lágrimas no rosto da noite, e no seu, incontida tristeza.
Em seu pranto, no desespero e na desilusão, a flor bela, bela flor despetalada pela vida, sucumbiu, dormiu eternamente ao abrir das pálpebras douradas do sol, entre cortinas transparentes da aurora.
Por fim, ventos sussurrantes sopraram desesperados, e a flor bela, a bela flor, ao despetalar-se o dia chorou!
Verônica Moreira: Crônica “Eu sou mais forte do que eu”
Eu sou mais forte do que eu pensava e bem melhor do que muitos que se dizem bons. Hoje entendo porque Jesus perdoou Judas, e não foi porque Judas merecia, mas porque Jesus sabia que por trás daquele beijo no rosto, havia um demônio. Mas o Judas, humano, era apenas um pobre homem que não pôde ver a luz que resplandecia em Jesus.
Às vezes, buscamos luz onde não existe, acreditamos em pessoas sem luz e acabamos fechando os nossos olhos para não vermos a escuridão que existe no outro. Isso, porque insistimos em acreditar que possa existir luz nas pessoas, mesmo que nossos olhos não vejam nenhum brilho nelas.
Sempre acreditei na tal luz no fim do túnel, até que ela foi se ofuscando lentamente, até que, por fim, ela se apagou por completo na minha frente. Só vi que era tudo escuro e tenebroso, quando finalmente abri os olhos para a luz que havia em meu interior.
Descobri que meu interior era um jardim, que sempre reguei com amor, até que comecei a deixar entrar ervas daninhas; sabe aquelas que vão se alastrando pouco a pouco e, quando percebemos, já tomou todo nosso espaço e brilho?
Pois é assim que me vi em alguns momentos de minha vida. Fiquei mal por não saber como limpar o meu jardim interior, até que finalmente comecei a sentir muita dor e me vi obrigada a limpar tudo. Fui arrancando as ervas daninhas do meu interior, fui sangrando pelo caminho, cai de joelhos diante do mal e ali, naquele lugar cheio de dor, eu percebi a cura…
Posso olhar para o meu jardim com esperança. As marcas, podem até fixar por um tempo, mas irei plantar muitas flores, flores variadas, flores coloridas de toda espécie…
Definitivamente, como dizia Clarice Lispector: “Eu sou mais forte que eu.”