Concerto para um coração só

Paulo Siuves: ‘Concerto para um Coração Só’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
 Imagem desenvolvida com tecnologia generativa da OpenAI (ChatGPT), com base em prompt elaborado por Paulo Siuves
 Imagem desenvolvida com tecnologia generativa da OpenAI (ChatGPT), com base em prompt elaborado por Paulo Siuves

O escuro por dentro tem um som.
Não é grito, não é lamento.
É algo entre o arrastar de um arco sobre cordas velhas e o ranger de madeira em catedral vazia.

Você — sim, você — não chegou a existir de verdade. Era só um desenho no ar, uma curva de som que vinha de longe. Uma flauta sofrida tocando sob chuva fina, sempre além da esquina, sempre além da pele.

Eu tentei escrever você. Fiz do meu peito um papel úmido de suor e febre. Quis traduzir seus gestos em clave de sol, mas a partitura rasgava sempre no mesmo lugar — logo depois do talvez.

Tem dias em que sua ausência bate mais alto.
Ecoa.
Como sino em torre sem fiéis.

E eu, ridículo, estendo os braços ao vazio, como quem rege um concerto de silêncio.
Cada lembrança sua vem torta, como acorde errado, desses que fazem os músicos se entreolharem em pânico. Mas eu aceito. Me deixo engolir. Tem certa beleza nisso: ser esmagado por algo que nunca existiu de fato.

Você nunca esteve aqui.
Não de verdade.
Mas se esconde em cada compasso do que sobrou de mim.

E enquanto o mundo insiste em sua própria melodia — leve, viva, esquecida —
eu continuo tocando o que ninguém quer ouvir.

O nosso concerto.
Para um coração só.

Paulo Siuves

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Palavras

José Antonio Torres: Poema ‘Palavras’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
Imagem gerada por IA do Bing - 9 de dezembro de 2024
 às 7:55 AM
Imagem gerada por IA do Bing – 9 de dezembro de 2024
às 7:55 AM

Garimpo palavras curadoras e atiro-as ao vento…
Talvez encontrem alguém, em pleno lamento,
Que delas auferirá proveito.
Palavras de conforto que me sustentaram, e ainda sustentam.
Minhas companheiras que me mantêm lúcido.
Abençoo o sofrimento que de mim se acerca,
Pois retirará de mim o orgulho, depurando-me.
O tempo, esse grande companheiro,
É minha testemunha das lutas que travo nos campos da vida.
Não são poucas nem suaves essas batalhas.
Ao contrário, são atrozes e dolorosas.
Causam um martírio mais profundo na alma do que no corpo físico.
Mas as palavras entoam em meus ouvidos e me confortam.
E é por sentir o alívio que produzem
Que as lanço ao vento,
Para que encontrem pessoas, que também estejam em tormento,
E acalentem a sua dor.

José Antonio Torres

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