Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo Artigo ‘Preceitos na disputa da vida’
Qualquer jogo tem as suas regras, que envolvem: local, tempo, recursos diversos, normas, prémios e punições; que devem ser, honesta e legalmente, observados, a fim de se chegar ao objetivo principal que é vencer, de resto, uma das principais finalidades do jogo. Como refere o adágio popular: “Ninguém gosta de perder, nem a feijões”.
Sendo o sucesso o objetivo fundamental de uma qualquer competição, compreende-se, dentro de certos limites legítimos e legais, que as pessoas intervenientes, mantenham uma certa reserva, e sigilo, relativamente às estratégias, métodos e recursos que tencionam utilizar, sem que os procedimentos, atitudes e comportamentos prejudiquem, em circunstância alguma, o respeito devido aos adversários, à honra, ao bom-nome e à dignidade.
No jogo da vida, não vale tudo, também aqui há regras, princípios, valores, sentimentos e emoções, próprios da sociedade civilizada que, afinal, é o palco, o espaço, o “estádio” onde se desenrolam os diversos desafios. Neste campo, todos os jogadores são muito mais do que uma camisola, com um número e uma publicidade qualquer.
Jogar no “palco da vida” e para além de tacticismos e habilidades diversas, o essencial é: a magnanimidade dos jogadores; o respeito que uns devem aos outros; o espírito último de que o jogo da vida, em que estamos envolvidos, é o mais importante, único e irrepetível de cada interveniente; e, ainda que, para além do resultado pessoal, o benefício, tanto quanto possível, deve ser extensível a todos os alegados “adversários”, porque terminada a competição, todos, mas mesmo todos, terão o mesmo fim: com pompa e circunstância; ou no anonimato, ficando: de uns e de outros as recordações; a memória coletiva e/ou das famílias e amigos, sobre os métodos (ações) que ao longo da competição utilizamos.
A vida é, portanto, um exigente campeonato, com diversos, muitos e diferentes jogos, que nem sempre conduzem aos resultados pelos quais lutamos. É uma competição onde existem em disputa várias “taças”: saúde, família, educação formação, trabalho, economia, política, religião, segurança, respeito, lazer, entre muitos outros “troféus”, também estes, muito importantes.
E se a título, meramente ilustrativo, analisarmos o “campeonato político”, nas suas diversas componentes: presidencial, legislativa, europeia e autárquica, verificamos que os jogadores são oriundos de quadrantes ideológicos diferentes, apoiados pelas respetivas “claques partidárias”, que utilizam táticas e técnicas distintas. Por vezes, quando a lei permite, juntam-se a competir, equipas independentes, com apoios heterogéneos, ou relativamente conotados com alguma orientação partidária.
Verifica-se, com deplorável frequência, que as regras da boa educação, do civismo, do respeito, da objetividade das ideias e projetos, dos interesses coletivos, entre outras, igualmente importantes são, sistematicamente, violadas, e até parece que “vale tudo”, inclusive: “desenterrar os mortos, familiares e/ou amigos” dos adversários em competição, para denegrir as suas memórias e assim conotá-las aos opositores.
De igual modo e, Infelizmente, tantas vezes se agride física, psicológica e moralmente quem não pode, ou não é capaz, de se defender contra “armas” tão traiçoeiras. Na verdade, este campeonato político, nas diferentes “Divisões” ou “Ligas”, demonstra que alguns jogadores fazem: primeiro, no palco eleitoral; depois, no âmbito do exercício do respetivo poder de “campeão”, o espaço e o tempo para as maiores atrocidades, contra situações, interesses, legal e legitimamente instalados, também contra pessoas que sofrem, injustamente, a violência do/s vencedor/es, em vez destes implementarem e praticarem valores humanos, em favor dos mais desfavorecidos.
Algumas ideias podiam avançar-se para este campeonato da vida, mas, na verdade, é essencial saber-se ganhar e saber-se perder. Com efeito: por um lado, quem ganha não tem o direito de humilhar, de ridicularizar, de perseguir, de se vingar os seus adversários, pelo contrário, deve dar-lhes a mão, saber colocar-se na situação psicológica e social de quem perdeu, reconhecer-lhes os méritos, mitigar-lhes o sofrimento que toda a derrota inflige na pessoa; por outro lado, quem perde tem o dever de não recorrer à desforra, à represália, à traição e à difamação, mas tem o direito de exigir ser respeitado, considerado, estimado e a ser-lhe dada uma oportunidade para demonstrar as suas capacidades, a sua vontade de participação, porque afinal também contribuiu para o mérito que é reconhecido, ou não, ao seu oponente vencedor, porque, como diria Monsieur de la Palice: “Se há um vencedor; então existe um derrotado”.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do NúcleoAcadémico de Letras e Artes de Portugal