Deságue

Ella Dominici: Poema ‘Deságue’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada pela IA do Bing
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depois de amar-te minhas mãos te acham

cheias de dons da vida que em ti existem

e em sonos claros meus gostos te amam

mosto provado em nós, aguçados,
persistem como rubros sonhos

antes de amar-te rio passa
depois de amar-te rio segue

Muitas, muitas águas em poesia

Ella Dominici

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O coma

Evani Rocha: ‘O coma’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem criada pela IA do Canva
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Aqui um trecho da história contada por Dolíria, após um longo período em coma:

“Por frações de segundos, de repente, não era dia nem noite, não havia tempo e nem lugar. Nem Sol, nem luz, nem escuro, nem chuva…

Tudo era um azul infinito sem começo ou fim. Outrossim, haviam rostos, pés e mãos desconexos, palavras soltas como lamento. Rostos sem nome, não reconhecíveis, dedos procurando amparo. Haviam névoas negras que por vezes tomavam o azul profundo e nada mais era visto. Não tinha teto nem chão. Era devoluto, vazio e solidão. Não havia ar que se respirasse, nem flores murchas, afinal, não havia jardim.

Das bocas pálidas a dor saia contorcendo-se, formando figuras tristes e desfocadas. Não se sabe exatamente o que era: se coisas, objetos, seres vivos ou sentimentos. Tudo era abstrato. Dos narizes compridos os odores fétidos impregnavam as névoas…e as palavras se enfileiravam, dançavam, pululavam e mudavam de forma.

Ao mesmo tempo eram fileiras, tranças, pirâmides, retângulo ou quadrado de palavras. Figuras geométricas das mais diferentes possíveis. Mas não havia nada que se pudesse ler ou entender. Era um discurso frívolo e sem sentido. Nenhum texto poderia expressar os sentimentos e emoções. Não havia enredo, atores ou palco.

Mas dos olhos esbugalhados minavam gotas viscosas e escarlates. Não caiam, pois ali não havia gravidade. Os olhos pareciam subir e descer arrastando esses filetes sanguíneos. Não, eles não saiam do exato lugar. Assim como os dedos longos, ocres, e unhas pontiagudas, arranhando o nada e as mãos descascadas acompanhavam letárgicas os movimentos dos dedos.

Era realmente ermo: nem campo nem cidade, nem gente e nem bicho. Apenas fragmentos, como descrito. Ouvia-se um eco que ressoava no vácuo imperfeito, mas era através apenas de ondas eletromagnéticas. Não era simplesmente um eco, era um grito ou um grunhido de dor. Era amedrontador. Mas isso só ocorria dentro daquelas cabeças boiantes. O medo pairava em meio ao azul cobalto, ou por vezes se escondia em meio ao nevoeiro. Se apresentava como uma massa negra, opaca e disforme. Não viam-se portas: nem entrada ou saída. Não viam-se túneis, nem vias, nem corredores. Tudo era nada. O nada apresentava-se como se algo fosse. Mas inexequível, não palpável.

Em meio a esse milésimo caótico, eis que surge uma luz muito brilhante. Tinha um tom azulado, emitia uma suavidade, uma brandura e encanto inexplicáveis. Seus raios eram como longos filamentos que transpassaram o vazio. Foi entremeando aos fragmentos de coisas, entrelaçando entre a névoa e o infinito. Era como um acalanto. Era um bálsamo. Esses filamentos foram engolindo a negra névoa, agregando os pedaços do nada: surgiam, portas, corredores e jardins. Flores vivas dançavam ao vento. Uma brisa suave tomou conta da verde relva que cobriu os montes e vales. Então, algo surgiu no horizonte: Uma gigante estrela avermelhada derramava sua energia sobre a base terra. E a transformação continuou por longos segundos. Agora havia tempo.

No lugar do infinito apareceu o firmamento, cheio de nuvens carregadas que desaguou por horas sobre a terra. Agora havia um lugar concreto. Aqueles rostos, mãos e pés desconectados, eram então, imagens perfeitas de gente: alguns sorridentes outros nem tanto. Suas mãos estavam ocupadas em seus afazeres rotineiros. De seus olhos podiam cair gotas transparentes como vidro.

E a água límpida e translúcida espalhou-se e fez-se mares e oceanos. Nascentes brotavam no topo das serras e escorriam serpenteando entre as veredas. Via-se o eco e o medo, sumindo num buraco negro em forma de um grande espiral. E os longos filamentos brilhosos terminaram seu trabalho, organizando palavra por palavra em folhas brancas. Colava folha após folha. Podia se ler textos inteiros, onde constavam histórias tristes, felizes, dramáticas e até cômicas. Agora, o nada era tudo concreto e palpável, exceto a dor que permaneceu escondida entre o céu e a terra. Essa, os filamentos não conseguiram atingir. Por certo camuflou-se no âmago dos corações humanos.

No entanto, terminou-se a metamorfose no vácuo. Os filamentos suavemente fecharam a capa do livro.

Sentei-me rapidamente na cama. Tudo em volta era branquíssimo: O leito, as minhas roupas, das pessoas à minha volta…Eu tinha um milhão de perguntas, mas antes que abrisse a boca, vi os últimos filetes brilhosos escorreram pela janela do quarto. Restou-me apenas um livro fechado sobre as mãos.”

Evani Rocha

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Importa-te

Eliana Hoenhe Pereira: Poema ‘Importa-te’

Eliana Hoenhe Pereira
Eliana Hoenhe Pereira
A Flor da Esperança
A Flor da Esperança
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Importa-te

Importa-te com quem te dá atenção.

que, nas horas difíceis , segura nas tuas mãos.

Com quem traz sorriso de confiança

como  a “flor da Esperança”

para cada amanhecer um florescer.

Mira em quem te admira,

em quem gosta de ver o mar,

abraçar e gargalhar.

A felicidade mora na simplicidade. 

Ignora quem te trata com indiferença,

que aponta a não importância da tua presença.

abrevia o olhar 

 e tampouco é capaz de te escutar.

Sem estreitamento do laço afetivo

a relação fica comprometida,

distante e insignificante.

Eliana Hoenhe Pereira

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Dá-me tuas mãos

Ivete Rosa de Souza: Poema ‘Dá-me tuas mãos’

Ivete Rosa de Souza

Dá-me tuas mãos e vem comigo

A estrada é longa, o caminho árido

Vem que Deus há de nos dar abrigo

E eu te amarei feliz, meu querido

Dá-me tuas mãos, segura as minhas

As flores hão de florir nossa estrada

Os espinhos serão poucos, e definha

Atua indecisão na caminhada

Dá-me teus braços, onde me apoiarei

Quando cansada e o coração ferido

Sentir que um dia, me descuidei

Do nosso amor, em algum momento

Com tuas mãos nas minhas, unidos seremos

Duas árvores, juncos, assim eternos

Nada será mais importante, se nos amarmos

Com o mesmo ardor da juventude

Dá-me tuas mãos, assim seguiremos

Na certeza de vivermos para sempre

Como o tempo que juntos abraçaremos

Porque nas minhas, estarão seguras as tuas mãos.

Ivete Rosa de Souza
iveterosad@gmail.com

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Humberto Napoleón Varela Robalino: 'Las manos'

Humberto Napoleón V. Robalino

Las manos

Las manos

las tuyas

las mías

todas las manos

vuelan

en el amor vuelan

revuelan

se expanden hasta las vertientes

donde la luz es pulpa

líquido

aroma

se eleva hasta la suavidad de los picos rojizos.

 

tal vez

son las alas de esos seres hermosos

que bajan en los veranos a colorear su inocencia

a perdese e os murmullos de los bosques

a correr libremente en los valles

desnudos a bañarse en los ríos.

tal vez

son las manos de esos seres hermosos de la rebelión

lanzados a los abismos

entre lunas de cobres en llamas.

 

Las manos

las tuyas

las mías

todas las manos

alas eternas

eterno el amor

eterno lo sensible de los picos rojizos

en las vertientes eterna la la explosión de la luz.

 

Humberto Napoleón V. Robalino

QUITO-O8.ENERO-2022

 

 

 




Sandra Albuquerque: 'Minhas mãos, meu retrato de vida'

Sandra Albuquerque

Minhas mãos, meu retrato de vida

Olhe para elas
Veja o tempo demarcado:
O corpo sofrido
O coração tristonho
A luta da sobrevivência
O olhar perdido.
A fome como alimento
A incerteza do amanhã
O querer privado
O descaso presente
Questionamentos castrados
Os sonhos interrompidos.
O desamor atrevido
A vértice da alegria quebrada
O desespero fluente.
O desgosto sempre
Acorrentado à alma.
Desejos aniquilados
Pela discriminação atuante.
Horas incontáveis de dor
Entranhadas flutuam
Num grito de socorro.
Eu, indefeso, imploro
Um amanhecer não nublado
Mas me deparo
Com os tsunamis
E os terremotos fatais
Que causam o desmoronamento
E o meu sol cai.
As noite são iguais
A lua nova se repete
E as noites são densas
Como as trevas dos umbrais
Onde os demônios
Atormentam a alma.
A incerteza é minha irmã
E eu nem sei que sou.
Mas…
Se desejas saber quem sou eu
Olhe para as minhas mãos:
Meu retrato de vida.

 

( Autora Sandra Albuquerque)

(Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2021)
(DIREITOS RESERVADOS À AUTORA
LEI 9.610/98.
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