O que mora na seca do sonho

Ella Dominici: ‘O Que Mora na Seca do Sonho’

(Serapião de Aurora, alter ego de Ariano Suassuna, alma sertaneja e verbo resistente)

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Bing
Imagem criada por IA do Bing

Sou aquele que inventa sede pra beber palavra.
Não tenho nome, tenho sina:
sou o riso que ficou preso no galope do vento,
sou o santo que erra rezando,
sou o ermo que sonha com mar.

Nasci do barro e da conversa.
Minha mãe foi uma nuvem com fome de chuva,
meu pai, um aboio que fugiu do curral.
Aprendi cedo que o verbo nasce de faca:
é cortante, mas abre caminho pro coração passar.

Falo o português que o sol ensinou —
cheio de calor, cheio de teimosia.
E quando a palavra falta,
invento um silêncio de passarinho.

Tenho dentro de mim um sertão que não cabe em mapa.
É um mundo de rezadeiras e vaqueiros,
onde o riso é remédio e a dor é professora.
Por lá, as histórias se deitam no chão,
esperando que alguém as acorde com fé.

Sou o auto e o milagre,
sou o palhaço que filosofou diante do altar,
sou o Cristo que sorriu do alto do gibão.
Sou o cavalo sem freio do pensamento nordestino,
que corre, tropeça, mas não se entrega.

E quando o céu se quebra em trovão,
eu digo: é Deus rindo alto de nós.
Porque até o divino, no meu sertão,
tem um sotaque de barro e poesia.

Ella Dominici

Voltar

Facebook




Intensidade do ser

Ella Dominici: Poema ‘Intensidade do ser’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Bing
Imagem criada por IA do Bing

Vulcão Interno Poético

Há poetas, e há vulcões.
Um difere do outro pelo fogo que habita as entranhas,
acendendo chamas nas palavras até queimar as próprias mãos.

Os olhos piscam — lânguidos, febris —
e esse gesto derrama-se em lágrima,
sal de um mar que não se apaga.

Ser poeta é arder sem aviso,
é deixar que a dor seja o combustível da beleza.

“Não há contenção possível quando a poesia decide nascer.”

ERUPÇÕES

Ainda há lava dentro de mim,
fermentando silêncio, desejo e memória.
O chão treme sob o peso das lembranças,
e o céu se inflama em nuvens rubras.

Cada suspiro é magma que se move,
cada lágrima é rio de fogo e água.
O corpo inteiro é cratera aberta
onde o tempo se dobra, incerto e impetuoso.

Não há repouso para a vida —
a erupção continua, invisível e viva,
nas veias do humano, na alma do mundo,
em todas as manhãs que ainda não nasceram.

E assim sigo,
entre cinzas e brasas,
esperando o próximo vulcão,
a próxima lava,
o próximo instante de fogo que me recria.

Ella Dominici

Voltar

Facebook




Onde moram os inícios

Ella Dominici: Poema ‘Onde moram os inícios’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Bing
Imagem criada por IA do Bing

I
O princípio escapa à compreensão.
antes de nós, já se movia; depois de nós, seguirá.
não há fronteiras de tempo. Há apenas o instante,
que nos atravessa como flecha.
nós o pressentimos, como quem escuta de longe o mar
sem jamais tocá-lo, tentando capturar a dimensão que nos escapa.

II
Existimos tentando prender a centelha desse sopro.
o instante se faz passado antes que o nomeemos.
Tudo o que guardamos é fragmento
insuficiente
mas na insuficiência há aprendizado.
na incompletude mora a sabedoria
que nos afina para o mistério do existir.

III
Do alfa ao ômega divino caminhamos,
Sim, o caminho é sensor do amar
não há começo nem fim
somos discípulos da travessia,
aprendendo a nascer a cada aurora
e a morrer em cada ocaso.

IV
O existir nos convida a essa valsa infinita,
em que ser é repetir sem
cessar o primeiro gesto da vida.
quando perguntamos onde moram os inícios
a resposta não se veste de palavra.
a resposta é silêncio. Pois:

“Todas as coisas principiam em silêncio,
e o silêncio é a casa do princípio.”

Ella Dominici

Voltar

Facebook




Talvez o amor

Evani Rocha: Poema ‘Talvez o amor’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem criada por IA do Canva – 26 de agosto de 2025, às 07h50

É! Talvez o amor da gente seja mesmo fugaz,

Como a florada da primavera.

Talvez seja como as estações do ano,

Tão passageiras…

Como a areia carregadas pelas ondas,

Para o fundo do mar,

Sem hesitar!

E talvez volte na maré cheia…

Decerto o amor é uma ave migrante,

Em busca de verão, que vem e vão,

Para qualquer lugar,

Onde haja sol e calor!

É o amor, devorando o tempo,

Moldando a gente, devagar…

É a terra fértil gestando a semente,

É o filho pródigo, retornando ao lar…

Quem sabe o amor é a gente,

Virando gente, no outono,

Trocando as folhas velhas por novos sonhos…

Ou talvez, o amor seja mesmo uma utopia,

Fantasia, melodia…

O equilíbrio em meio ao caos,

Na lucidez da sanidade…

Ou por ventura,

A loucura travestida 

De poesia!

Evani Rocha

Voltar

Facebook




Água aluada

Ella Dominici: Poema ‘Água aluada’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Bing - 15 de agosto de 2025, às 15:25 PM
Imagem criada por IA do Bing – 15 de agosto de 2025,
às 15:25 PM

o olhar da lua se volta ao mar
e vendo águas que borbulham
gestos de ondulações em poesia

sentindo medo do que movimenta
insegurança mal saber nadar
acostumada em carruagens belas
seria sereia ao cair na areia

cálice onde bebe do sal marinho
achampanhado transborda a taça
revive ânima em seu âmago

o olhar lunar se volta ao mar
e vendo águas que lá borbulham
gestos de ondulações em poesia

renasce aluada em profundeza
dessas águas

Ella Dominici

Voltar

Facebook




Anatomia das vivas ondas!

Ella Dominici: Poema ‘Anatomia das vivas ondas!’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Bing - 27 de junho de 2025, às 15:22 PM
Imagem criada por IA do Bing – 27 de junho de 2025,
às 15:22 PM

De um exílio entre o mar e o céu
sendo o pisar em estrela, maré de areia,
do outro lado, ilha ensolarada em véus do nada

Nua como um dia que engatinha a vida

Entre o ser das rochas, alto e decidido
ao mínimo de mim, conceito dividido
no engolir dunas pela boca sedenta

Desolada figura, símbolo da existência

Revendo sempre como nascem vagas,
crescem
quase imortalizado o tempo nas alturas,
arrebentam

renascem no ínfimo tamanho de uma bolha, alongada
desenhando um mapa em água

Nem mesmo em dor consigo compreendê-la, vaga
efêmera se desmancha como num parto de uma fêmea

minuciosamente diz num beijo um louco amor, alada
cavalga como uma amazona reclusa nas
montanhas

na liberdade do levantar de saias por movidas brisas

Diálogo com ímpeto aquoso

Traduza o sentimento do pavor, do ímpeto
do mar que movimenta forte e lento,
sem demonstrar o verdadeiro encanto

Traduza onda que canta no marulho
como criança antiga empertigada
desesperando a noite que engasgada

fenece em teu abraço disfarçada
O que sei de mim se sou das águas
onda, corpo, sinuosamente escuma,
sendo enfim terra no indelével plano,

do exílio entre o mar e minha voz exígua ,
o que sei de mim, em terra de escolhas,
olhando a querer céu de Estrela Única.

Ella Domicini

Voltar

Facebook




Mergulho em meu mar

Eliana Hoenhe Pereira: Poema ‘Mergulho em meu mar’

Eliana Hoenhe Pereira
Eliana Hoenhe Pereira
Imagem criada por IA do Bing - 10 de junho de 2025, às 10:21 PM
Imagem criada por IA do Bing – 10 de junho de 2025,
às 10:21 PM

Mergulho em meu mar

para as minhas pérolas encontrar.

Elas moram na imensidão do meu interior

Onde fica o amor

E me faz sonhadora.

É preciso mergulhar para dentro!

Pois, abre portas para o autoconhecimento

Possibilita sair da zona de conforto 

Sem perder as forças

e encontrar -se com a coragem

Digo de passagem:

Fortalece os pensamentos 

liberta os sentimentos

traz autoconfiança e esperança.

O que vale é aproveitar a caminhada,

Contemplar a beleza da vida embevecida,

Não deixar que nada passe despercebido.

Eliana Hoenhe Pereira

Voltar

Facebook