O desvio à norma e a criação do humor pelo meme

Fidel Fernando:
‘O desvio à norma e a criação do humor pelo meme’

Fidel Fernando
Fidel Fernando
Imagem criada por IA do Bing - 23 de janeiro de 2025,
às 13:37 PM
Imagem criada por IA do Bing – 23 de janeiro de 2025,
às 13:37 PM

Nos dias de hoje, os memes tornaram-se uma das formas mais populares de comunicação nas redes sociais, especialmente no Facebook. Eles são capazes de condensar emoções, críticas e humor em imagens e frases curtas, mas, paradoxalmente, muitas vezes, são mal escritos. E é exactamente aí que reside um ponto crucial: a escrita correcta é essencial para a eficácia da comunicação, mesmo num espaço tão descontraído e informal como o dos memes.

Como professor de Língua Portuguesa e Revisor de Textos, cumpre realçar que a falta de atenção à norma gramatical pode prejudicar não apenas a mensagem, mas também o humor que se pretende comunicar. Um meme mal escrito, além de não ser divertido, transforma-se, muitas vezes, em objecto de escárnio. O riso pode ser provocado, porém, não da maneira desejada, resultando em confusão em vez de catarse.

O que caracteriza um meme eficaz é sua inteligibilidade. Um meme que desafia as normas linguísticas pode, em algumas situações, gerar humor, todavia, com frequência, essa transgressão traduz-se em imprecisão que inviabiliza a comunicação. Observamos que muitos leitores mais críticos não hesitam em compartilhar memes com desvios gramaticais, acompanhados de comentários que denunciam a falta de cuidado, afirmando que “não há piadas em memes com erros de português”. Essas afirmações revelam uma expectativa generalizada de que a escrita deve, ao menos, em certa medida, obedecer à norma da língua.

Os exemplos que encontramos em nossa análise são reveladores. Memes que apresentam desvios de concordância, como Homens com Espírito Santo não vai chegar para todas…”. Ora, o humor pretendido na frase perdeu-se no desvio de concordância entre o núcleo do sujeito ʻHomensʼ e o predicado verbal ʻvai chegarʼ. O que poderia ter sido uma reflexão divertida sobre a escassez de parceiros ideais transformou-se em motivo de zombaria, não pela ideia em si, mas pela falha na construção da frase.

Há, ainda, memes com graves problemas de pontuação, tal como Mulher que trabalha ora temente a Deus, empresária mãe super educadora, Não vai chegar para todos uns terão mesmo que casar com as tolobas, o que mostra que a desconexão entre forma e conteúdo pode levar à perda do sentido ou a interpretações equivocadas.

Além disso, a ortografia, muitas vezes, é negligenciada, como em ʻvamʼ no lugar de ʻvãoʼ, o que não apenas compromete a clareza, mas também reforça a ideia de que a comunicação escrita pode ser desvalorizada. O uso excessivo de maiúsculas, como em Esposa Licenciada Não Vai Chegar Para Todos. Alguns vam ter mesmo que casar com As da 6ª e 9ª Classe”, contribui ainda mais para essa confusão. Além de misturar maiúsculas e minúsculas de forma desordenada, o enunciado peca por imprecisões linguísticas que dificultam a compreensão. O resultado? O foco do humor desloca-se para os desvios linguísticos, e o meme, em vez de engajar, afasta o público mais atento.

É preciso entender que o humor nos memes não reside apenas nas ideias que eles sugerem, mas também na habilidade de quem os cria de dominar a língua. Luís Fernando Veríssimo lembra-nos que “escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo”, mas, diante dos desvios à norma que encontramos, é difícil garantir que o leitor leigo compreenda algumas mensagens. Ainda que haja um certo apelo à liberdade criativa, precisamos de considerar que o humor de um meme depende, em grande parte, da clareza e da precisão com que as ideias são transmitidas. Afinal, a graça perde-se quando o leitor precisa de fazer malabarismos mentais para decifrar o que se diz.

Outrossim, quando os desvios extrapolam o nível linguístico e tornam-se preconceituosos, o meme não apenas falha na sua função humorística, como também perpectua estereótipos e discriminações: “Volto a falar: Quem casar com mulher sulana na conta dele. Mulheres para casar são as Bakongo.”, ou, ainda, “Homem advogado não vai chegar para todas. Algumas vão ter que casar com os gatunos que vamos defender.”

 Alguns memes, e os referidos acima não são uma excepção, de forma implícita ou explícita, reforçam ideias de superioridade de certos grupos étnicos, sociais ou profissionais. E, quando isso acontece, não é exagero dizer que o meme transforma-se em uma ferramenta de bullying.

Nesse contexto, torna-se urgente a necessidade de uma pedagogia de escrita que se inicie desde os primeiros anos escolares. No entanto, devemos nos perguntar: será que essa necessidade se encerra só na infância? A educação linguística deve ser um compromisso contínuo, pois, como bem aponta Marcos Bagno, no seu livro Preconceito Linguístico,a grande tarefa da educação linguística contemporânea é letrar as pessoas, ou seja, levá-las a ler e a escrever cada vez mais e melhor”. Para tal, é vital que as pessoas leiam, releiam, escrevam e reescrevam de forma constante.

No mesmo viés de Bagno, está Duarte, para quem “nas aulas de Português, deve-se partir da leitura e da produção de textos.” Essa abordagem não apenas enriquece o vocabulário e a gramática dos alunos, mas também os prepara para uma participação mais consciente e crítica, quer seja em textos formais, quer seja nas rápidas e efémeras postagens nas redes sociais.

Assim, mesmo que a esfera dos memes pareça ser um espaço livre de regras, aqueles que criam e compartilham devem estar cientes de que a linguagem é uma ferramenta poderosa. Afinal, um meme mal escrito não cumpre seu papel. Ele não comunica, não diverte e, em muitos casos, torna-se a piada que nunca quis ser.

Portanto, a missão dos educadores é continuar a ensinar, para que todos possam se expressar de maneira eficaz e criativa na sala de aula, nas redes sociais e fora delas.

Fidel Fernando

Voltar

Facebook




Plataforma de NFTs promove concurso para criação de memes

PIRA DIGITALS será lançado em janeiro de 2022 e realiza concurso para artistas mintarem artes e memes em carteiras digitais gratuitamente

Já pensou em ganhar dinheiro criando memes e distribuindo pela internet? Isso agora pode se tornar realidade. Desde o último dia 13, a plataforma de NFTs PIRA DIGITALS está com inscrições abertas para o I Concurso de NFTs & MEMES PIRA DIGITALS. As inscrições vão até o dia 27 de dezembro e o anúncio dos vencedores acontece dia 10 de janeiro, junto com o lançamento da plataforma para o público.

Para participar é simples: basta você inscrever o seu meme ou a sua obra de arte digital durante os 14 dias em que a plataforma estará aberta para o registro de novos usuários. Todas as criações cadastradas estarão participando do concurso. As obras de arte serão escolhidas pela equipe de curadoria do PIRA DIGITALS, enquanto os memes serão definidos por voto popular. Os cinco vencedores de cada categoria terão suas produções mintadas (registradas na blockchain ethereum) gratuitamente e colocadas à venda na plataforma.

O novo marketplace brasileiro surgiu da ideia dos empreendedores Marcos Botelho e Milton Torres, durante a pandemia, ao perceberem que o ambiente virtual pode valorizar ainda mais os artistas digitais, enquanto a blockchain protege os direitos autorais e garante credibilidade e autenticidade para esses artistas. No portfólio, estarão expostas produções de artes, games, esportes e colecionáveis.

“Nossa ideia foi criar um Parque/Museu a céu aberto, com exposição de obras de street art, músicas e gastronomia, mas com a pandemia percebemos que podíamos ampliar as fronteiras e partimos para o ambiente digital”, explica Botelho.

Os NFTs (Non-fungible tokens; tokens não fungíveis, em português) vêm despontando em 2021 como uma das maiores apostas do mercado. Entre os sucessos, o mais conhecido é o de uma obra de arte virtual do artista Mike Winkelmann, conhecido como Beeple, vendida por quase US$ 70 milhões nos Estados Unidos, em março deste ano.

Serviço
I Concurso de NFTs & MEMES PIRA DIGITALS
13/12/2021 – Abertura para cadastro de obras e memes a partir das 12h BRT;
27/12/2021 – Último dia para cadastro de artes e memes até as 12h BRT;
10/01/2022 – Anúncio dos vencedores, até as 12h BRT, junto com o lançamento da plataforma.

Saiba mais: piradigitals.com
Twitter: https://twitter.com/piradigitals
Instagram: https://www.instagram.com/piradigitals/




Mais poderosa expressão da cultura digital, memes ganham livro que revela as melhores histórias por trás do humor das redes


“Os 198 maiores memes brasileiros que você respeita” foi escrito pelo jornalista Kleyson Barbosa

 

Rápido, certeiro, original e replicado à exaustão. O meme, expressão máxima da atual cultura digital e que toma as redes sociais diariamente, acaba de extrapolar as telas para se tornar tema de “Os 198 maiores memes brasileiros que você respeita”, livro escrito por Kleyson Barbosa e que integra o portfólio do Grupo Abril. Primeira enciclopédia focada nas famosas piadas virtuais, a obra, dividida em verbetes, explica as motivações e contexto de memes famosos, de A a Z. Figuras sem as quais o humor online não existiria, como Gretchen e Luisa Marillac, marcam presença em entrevistas que recheiam o volume.
“Desde 2011, aumentaram as pesquisas pela palavra ‘meme’ no Google. E no Brasil, desde o surgimento do bordão ‘Luiza que está no Canadá’, o termo passou a ganhar cada vez mais espaço. Hoje, é tema de estudos acadêmicos e pesquisadores defendem que a ‘memética’ deve se tornar uma ciência”, afirma o autor.
Sobre o sucesso dos “bons drinks” de Luisa Marillac, Barbosa revela as consequências que a exposição trouxe para a protagonista do vídeo, prestes a atingir 4 milhões de visualizações no YouTube. “Luisa viu sua vida ser transformada com o sucesso. Os memes foram importantes para que ela abandonasse a prostituição e voltasse para o Brasil. E, mais do que recuperar a autoestima, ela se tornou uma voz influente que defende os direitos de travestis e transexuais no Brasil”, completa.
“Os 198 maiores memes brasileiros que você respeita” conta com ilustrações de Marcos de Lima e Iara Adeodato e prefácio de Manuela Barem, editora do “BuzzFeed Brasil”.
Sobre o autor:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Kleyson_Barbosa