Quanta sede
Evani Rocha: Poema ‘Quanta sede’
Quanta sede não saciada
Cacos do que foi inteiro outrora
As folhagens tomam conta da calçada
E a fachada velha, atrás, se desponta
É uma sede da infância ausente
Do corredor largo ao lado da sala
Da mesa posta sob a luminária
E as conversas de gente grande
Quanta sede não saciada
Do pote de barro, só os fragmentos
Se fecho os olhos, já estou de volta
Vejo a poltrona livre na varanda
Há aves em gorjeio no arvoredo
E um céu nublado diz que vai chover
Ouço os pingos grossos no telhado
E aqui dentro um rio a correr
“São as águas de março”
Nas palavras de um poeta
As últimas nuvens a desfalecer
Deixarei levar os restos de saudade
Para em outras águas reviver.
Evani Rocha