Pedágio, não!
Evani Rocha: Poema ‘Pedágio, não!


Permito-me sonhar grande, ir ao infinito, quando meus pés se cansam do chão
Permito-me ser águia, alçando voo por sobre os montes, por sobre as nuvens
Permito-me bailar ao som da 5ª sinfonia de Beethoven, enquanto minhas mãos tocam a melodia espalhada pelo ar, percorrendo os caminhos da alma
Permito-me escrever palavras soltas, versos sem rima, poema em prosa, carregados de metáforas. Eu também posso ser uma figura de linguagem, enquanto meus olhos falam e a boca se cala à espera da palavra
Permito-me pintar qualquer figura que brotar das minhas emoções embriagadas de silêncio, congeladas na noite do deserto…
Meu deserto interior, na solidão do tempo,
Sem oásis algum, sem sementes para semear, sem solo fértil…
Mas ainda assim, permito-me ser solo, ainda que árido, ácido e inóspito,
Permito-me…
Permito-me semear e regar as sementes do meu ser, na boa estação, na lua propícia, na chuva e no vento!
Permito-me ser mutante, quando minhas convicções deixam de fazer sentido, e mudar!
Mudar porque a vida é mutante, metamorfoseada, crisálida gerando, transformando…
Quero ser o que embevece minha alma de selva, de relva, de ave migrante…
Permito-me ser maré cheia ou maresia, enquanto a permissão para ser gente cobra-me um alto pedágio.
Não me permito pagar para ser gente, porquanto o caos e a distopia distorceu
O espírito da humanidade.
Não mais me permito pagar pedágio!
Evani Rocha

