Apagar-se é o preço de existir

Ella Dominici: ‘Apagar-se é o preço de existir’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA no Bing - 20 de março de 2025, às 07;30 PM
Imagem criada por IA no Bing – 20 de março de 2025,
às 07;30 PM

O vazio chegou primeiro.
Antes do nome, antes da pele, antes do rosto
que me ensinaram a chamar de meu.
Fui menos que um nada,
um quase-ser esperando a sorte do verbo.

Apaguei-me para caber no mundo.
Deixei pegadas que não segui,
vendi silêncios para comprar presença.
E ainda assim, o resto de mim ficou
insistindo em existir no que me faltava.

Houve um tempo em que fui todos,
um eco na multidão dos que não sabem que são.
E então, o traço. O risco. A marca.
Era eu.
Não um nome, não um número,
mas um corte no papel do tempo.

Deixei o coro dos rostos repetidos.
O coletivo me olhou como se eu traísse
o pacto dos que preferem ser sombra.
Mas a sombra não tem peso,
não tem voz,
não tem gravidade para sustentar-se.

E eu queria ser corpo,
queria ser coisa que não se apaga.
Queria ser o avesso da ausência,
o nome que me veste sem caber em mais ninguém.

APAGAR-SE É O PREÇO DE EXISTIR

Ella Dominici

Voltar

Facebook

 




Rotina

Evani Rocha: Poema ‘Rotina’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem criada por IA do Gencraft - 10 de fevereiro de 2025 às 08:40
Imagem criada por IA do Gencraft – 10 de fevereiro de 2025 às 08:40

A poesia vem

Sorrateira

Dizendo coisas sutis

Da alma

Do âmago

E chega

Invade

A boca, os lábios

E os olhos da gente.

Nos expõe,

Nos desnuda

Nos desvela

Ao mundo…

A poesia escorre pelos dedos

Cai na palma da mão

Gota a gota,

Colhe uma flor

Exala o perfume

Das dores, das cores

Cala a saudade

Fala das despedidas

Sem abraços,

Dos laços desfeitos

Por nada, ou por tudo

Pela soma dos dias

Da rotina

Angustiante

Enfadonha

Que nos toma por inteiro…

E nos abandona

No leito, sem jeito

De abrir novamente

A cortina da vida!

Evani Rocha

Voltar

Facebook




Valores do amor

Denise Canova: Poema ‘Valores do amor’

Denise Canova
Denise Canova
Valores do amor
Imagem criada por IA do Bing - 29 de janeiro de 2025, às 12h01
Valores do amor
Imagem criada por IA do Bing – 29 de janeiro de 2025, às 12h01

Valores do amor

Valores verdadeiros

Que o mundo não vê

Mas eu vejo e valorizo

Dama da Poesia

Voltar

Facebook




O tempo passa

Irene da Rocha: Poema ‘O tempo passa’

Irene da Rocha
Irene da Rocha
“O tempo passa, e o tempo esvai, como um rio correndo para o mar– Imagem criada pela IA do Bing

O tempo passa, e o tempo esvai,
Como um rio correndo para o mar,
Silencioso, sua essência se desfaz,
Deixando saudades a murmurar.

As horas perdidas, jamais alcançadas,
Levadas pelo vento, desaparecem,
O mundo reflete memórias veladas,
Enquanto as lembranças permanecem.

Procuro no tempo a humanidade,
A bondade que outrora ressoou,
Olhares de amor, sinceridade,
Dignidade que em nós habitou.

Era uma vez, em tempos distantes,
Quando ser eu mesmo bastava,
O mundo girava em versos vibrantes,
E a poesia minha essência marcava.

Nessa dança de dias e noites,
Onde o tempo não tinha senão,
Sonhos flutuavam em suaves açoites,
Esperança guiando a direção.

Na janela, o amor uma chama acendeu,
Iluminando o caminho a seguir,
Com fervor e emoção, então compreendeu,
Que eras tu meu destino a fluir.

Sob o céu estrelado, jurei o amor,
Com as mãos entrelaçadas em paz,
Em frente ao altar, senti o calor,
Da mais pura paixão que se faz.

Assim, o tempo que se esvaiu,
Deixou seu rastro de inspiração,
Pois em cada verso que o amor traduziu,
Encontrei minha eterna canção.

Irene da Rocha

Contatos com a autora




A ordem. Valor da cidadania

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo:

‘A ordem. Valor da cidadania’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo
A ordem. Valor da cidadania
Imagem criada pela IA do Bing

O mundo, as nações, as comunidades, as famílias e os indivíduos, na sua esmagadora maioria, defendem, entre outros, os valores da:  Ordem, Progresso e Paz –. Abordarei neste trabalho, independentemente dos meios para os alcançar, sendo certo que, se quanto aos conceitos poderão existir diferenças mínimas, outro tanto não acontece quanto aos meios para atingir os fins, havendo, em circunstâncias excecionais, necessidade de recorrer à guerra para se alcançar a paz e, com esta, a Ordem e o progresso. 

Em boa hora, e sob a clarividência de cidadãos sábios, o Brasil escolheu dois daqueles valores para o seu lema nacional – Ordem e Progresso: «ORDEM E PROGRESSO é a simplificação de um lema positivista daquela ocasião, atribuído ao filósofo Augusto Conti, que dizia: «O Amor por princípio, a Ordem por base e o progresso por fim». Conta-nos a história que Benjamim Constant foi quem sugeriu este lema a Raimundo Teixeira Mendes, presidente do Apostolado Positivista do Brasil, um dos seguidores de Conti, e que foi o responsável pela ideia da nova Bandeira do Brasil. Com ele colaboraram o Dr. Miguel Lemos e o professor Manuel Pereira Reis, catedrático de astronomia da Escola Politécnica. O desenho foi executado pelo pintor Décio Vilares.» (GOVERNO PROVISÓRIO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889).

 A cidadania passa, obrigatoriamente e em primeiríssima prioridade, por aqueles valores, sem a satisfação dos quais, todos os outros ficarão comprometidos e, dificilmente, serão alcançados. A defesa intransigente daqueles valores deve ser uma preocupação de todos os cidadãos, não apenas dos brasileiros. 

A Ordem implica disciplina, respeito, hierarquia e segurança, a começar no próprio indivíduo, nas famílias e nas comunidades locais, nacionais e internacionais. De facto, é preciso ser-se extremamente disciplinado, no sentido de acatar, cumprir, e até, fazer cumprir, as normas jurídicas, sociais, religiosas, políticas e tantas outras que a sociedade impõe, desde logo: para uniformização de comportamentos; disciplina no relacionamento com os outros; no acesso a inúmeros bens e serviços; no desempenho profissional; na consideração devida a colegas e dirigentes.

Disciplina, também, no pensamento, para que, no auge das emoções, os juízos, as decisões e atitudes possam ser racionalmente ponderados e manifestados, respetivamente. Ordem, portanto, no relacionamento com os cidadãos, com as instituições, com a comunidade, no sentido do tratamento igual, determinado por critérios previamente estabelecidos, e assentes na convivialidade assertiva. 

Obedecer à Ordem estabelecida, legítima e legalmente, entendida como um conjunto de normativos, que garante a segurança coletiva e individual, física e jurídica, privada ou pública, é um dever cívico e reflete o respeito pela autoridade instituída. É num ambiente de Ordem, disciplina e respeito que se pode avançar para o progresso, a todos os níveis, discricionariamente, o primeiro dos quais, o progresso material dos indivíduos, das famílias, das instituições e da sociedade. A atitude ordeira, enquanto característica essencial da pessoa civilizada, que facilita a resolução de problemas, poderá ser um primeiro contributo positivo. 

A Ordem é muito mais respeitada, e praticada, numa comunidade livre e responsável, do que numa outra sujeita à ditadura político-repressiva. A liberdade é, portanto, a condição privilegiada da Ordem, nesta se inserindo toda a atividade humana, que visa o progresso em todos os domínios, incluindo a própria civilização. 

Liberdade de expressão, de crítica, de ensinar e aprender, de fazer opções em diversas circunstâncias da vida, tudo isto, no respeito pela Ordem democrática Liberdade enquanto pressuposto da Ordem, esta como sustentação do Progresso e da Paz. O regime político-democrático, sendo frágil será, porventura, o grande promotor da Ordem, em liberdade responsável. 

A Ordem, enquanto sinónimo de disciplina, respeito, segurança e hierarquia tornar-se-ia em obrigação, tendencialmente, ditatorial, se não fosse acompanhada de progresso, no sentido do desenvolvimento da pessoa humana, e da sua condição de vida. 

Bibliografia

GOVERNO PROVISÓRIO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, (1889). (DECRETO nº 4 de 19 de novembro de 1889, (Símbolos Nacionais: Bandeira). Sala das Sessões. (Teve modificações pela Lei nº 5.443, de 28 de maio de 1968, depois foi regulamentada pela Lei 5700 de 1º de setembro de 1971, capítulo III secção I, que sofreu alterações pela Lei 8421 de 11 de Maio de 1992. Também encontramos a regulamentação no decreto 70.274 de 9 de março de 1972).

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

Contatos com o autor

Voltar

Facebook




Por trás daquela dança

Ismaél Wandalika: ‘Por trás daquela dança’

Soldado Wandalika
Soldado Wandalika
Por trás daquela dança há um toque de motivação. Contempla -se uma sociedade mais justa. Há um grito de liberdade…”
Imagem criada pela IA do Bing

Dança desperta a alma
Invade corpos movimenta músculos aquece o coração
Com aquela batida avacalha na pista
Profunda na dança leva todos à emoção

Por trás daquela dança

Há uma poesia subjetiva
Que com a sua lírica descreve o mundo
Poetas dos momentos compostos pelos toques literários
Fala com bastante ritmo
Entre os passos completa o capítulo

Explora cada partícula do seu cérebro
Seu corpo é uma arma para guerra diária da vida
Nunca para mesmo dormindo seu sonho é de grandeza.

Por trás daquela dança

Veja a esperança no compasso da batida
Há um toque de motivação
Contempla -se uma sociedade mais justa
Há um grito de liberdade abrindo o coração
Mas expressões dos movimentos o clamor não cessa
Há um belo sorriso iluminando uma jornada com muita canção.

Rugem as flores no cantar das caídas
A natureza abraça suas quedas
E num cruzamento com o universo prova suas cascatas.

Por trás daquela dança

Soldado Wandalika

In homenagem a todos(as) bailarinos(as)

Contatos com o autor

Voltar

Facebook




A Grande Fúria do Mundo

Paulo Siuves: Crônica ‘A Grande Fúria do Mundo’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
“…Pois sabemos que, ao fim, nos teus braços, seremos todos iguais, todos silenciosos, todos eternos na tua fúria serena.”
Imagem criada pela IA do Bing

Ah, Morte, és tu a eterna sombra que percorre as trilhas da vida! Na imensidão do viver, és o ponto final que a todos iguala. És a grande fúria do mundo, a inevitável tempestade que varre os sonhos e as esperanças, deixando atrás de ti o silêncio frio do vazio.

Tu, que decides o fim de todas as jornadas, vens com teu manto negro e teus olhos sem vida, apagando a chama da existência. Teu toque é gelado, arrepiando os vivos, teu abraço é a morada derradeira que a todos acolhe sem distinção. És a irmã sombria da vida, a companheira inseparável do tempo, que caminha ao lado dos mortais, lembrando-lhes constantemente da finitude de seus dias.

Em cada pôr do sol, no declínio das horas, vejo teu reflexo, Morte, na agonia dos últimos raios de luz. És a consumação de todos os momentos, o suspiro final que nos arranca da carne e nos devolve ao pó. Nos teus braços, acabam as dores e as delícias, acabam as lutas e as conquistas, e resta apenas o silêncio impenetrável do nada.

Oh, grande fúria do mundo, tua presença é um paradoxo cruel. És temida e desejada, repudiada e acolhida. No teu seio os cansados descansam, os atormentados encontram paz. Mas, ao mesmo tempo, és o terror dos corações, o fantasma que assombra os sonhos, a certeza que corrói a alma.

Tu, Morte, és a revelação do efêmero. Em teu nome, o homem constrói monumentos e cria memórias, na vã tentativa de se perpetuar além de ti. És o espelho em que se refletem todas as vaidades, a prova de que, diante de ti, somos todos frágeis, todos perecíveis.

No entanto, há quem te veja como a libertação suprema, o fim das amarras da existência. És a porta para o desconhecido, o portal para o infinito. Na tua escuridão, há quem encontre a luz, na tua ausência, há quem encontre a plenitude.

Ah, Morte, grande fúria do mundo, és o dilema insolúvel da vida. Na tua sombra, somos chamados a viver intensamente, a amar com urgência, a sonhar sem limites. És a adversária que nos impulsiona, a força que nos desafia a encontrar significado no breve lampejo de nossa existência.

E assim, enquanto caminhamos na tua direção inevitável, tentamos, em cada passo, fazer valer a jornada. Pois sabemos que, ao fim, nos teus braços, seremos todos iguais, todos silenciosos, todos eternos na tua fúria serena.

Paulo Siuves

Contatos com o autor

Voltar

Facebook