Quisera, ao sol do dia, Esconder minha presença Em profundo poço. Dormir o sono longo Dos justos, dos cansados.
Quisera, ao sol do dia, Ser apenas uma pedra Numa gruta distante.
Quisera, ao sol do dia, Ser apenas uma folha Num livro com folhas Sem fim.
Quisera viver somente à noite: Hora mágica do dia! Que ventura ao espírito! Quão liberta e suave A vida noturna, Em que a alma se despoja Dos grilhões da rotina diária Em que nossos sentimentos se abrandam Ao contato de outros seres.
Hora mágica, Dos cantores de poesia Dos suspiros românticos Dos aromas de mel Da lua irradiando saudades!
Triste dia que chega Ao canto do arauto emplumado! Triste vida luminosa E, também, escura Que clareia o inimigo Que, à noite, era irmão!
Era noite. Algo ocorria dentro de mim. Eu não era a mesma pessoa. Após tantas letras, alguns números rodeavam minha cabeça. Uma lógica confusa. Meus versos se tornavam além das estruturas – das minhas estruturas. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo.
“Onde estou?”, pensava. Na pracinha do Bairro Peixoto, algo estranho acontecia. Conversei com uma bela moça que me dizia que o destino nos reserva surpresas que só Deus poderia definir. Mais um dia se passava. Fiquei tão tonta que até para hospitais me levavam. Sua presença era como aprender além do que eu poderia aprender. Troquei meus livros favoritos por livros nos quais jamais leria por conta própria. E eram livros interessantíssimos. Meus versos foram mudando de tom, de som, de saudade. E eu estudei matemática mais um pouco.
A noite era estranha. Eu deveria ser feliz ao seu lado, mas eu não te conhecia. Jamais saberia onde encontrá-lo. Meu destino estava traçado com ele. E ele era real, mas você não era. O portal deveria se fechar antes que algo pior acontecesse. Antes que eu enlouquecesse de vez. Como fugir do portal? Você era o professor mais incrível do mundo, o amigo mais fiel, o amor que eu jamais teria. Nos meus sonhos, eu te via em várias dimensões. O tempo era diferente com você. O tempo era só nosso. Enquanto o outro homem, que era destinado para casar comigo, me cobrava de todas as maneiras. Eu não sabia o que fazer.
Na verdade, quando me vi longe daquele portal, senti que precisaria te encontrar. Tive que escolher o destino que deveria seguir. Fiquei tão triste, tão sozinha. Você tinha ido embora. E eu não sabia onde encontrar você. Os seus números se foram, suas músicas estranhas, os bailes de época, nosso bebê. Tudo tinha ido embora. Todas as horas do relógio voltaram a ser as mesmas. Tudo estava no lugar. As equações se apagaram e deram luz ao meu novo livro… tão triste como antes. E eu não sabia onde te achar.
Não pude continuar com isso. Minha vida pacata, minhas lágrimas, minhas dúvidas se fico ou se vou, se te procuro ou se aceito o meu destino chato. Foi quando uma vela se apagou…
Troquei a noite pelo dia A água pela tequila O sono pela fadiga A inocência pela malícia A solidão pelas más companhias O Capitão América pelo Coringa O carteado pela alquimia O Às pela Rainha A Jean Grey pela Vampira
A calmaria deu lugar à taquicardia O comedimento à ousadia A autoajuda deu lugar à filosofia A disciplina à fantasia A novela deu lugar à ficção científica Automóveis deram lugar a discos alienígenas
A Terra eu troquei por Saturno O mocassim pelo coturno A metrópole pelo subúrbio O consenso pelo distúrbio O bom senso pelo tumulto A obviedade pelo oculto
Flexões por “halterocopismos” O pudor pelo nudismo Apolo por Dioniso A cevada maltada pela levedura do vinho Silogismos por aforismos Entendimentos por antagonismos
A noite chega e espreita sorridente o céu do Nordeste, celebrando a tradição e a cultura do seu povo.
Sob o brilho das estrelas e a luz prateada do luar calado, numa mistura de arrasta-pé, xote, xaxado e baião, o forró embala os festejos juninos e a alegria impera.
Nas noites frias de inverno, ao som da música fremente, sons descortinam-se nos acordes da sanfona, do zabumba e do triângulo; e forrozeiros cantam em versos, doces canções, rasgando a madrugada.
No chão pelo clarear da Lua o deslize dos pés e sob o eco sublime da melodia, dançarinos se divertem ao ritmo pé-de-serra. E no aconchego do abraço, sussurram palavras, cantam o amor, acendem o fogo da paixão.
Embevecidos pela cultura viva, do eterno rei do baião, do saudoso Luiz Gonzaga, o forró segreda e reverbera, canta sua história, retrata o amor, a saudade, enfim, a vida do povo nordestino. Viva o Nordeste! Viva o Forró! Viva o Mestre!