A noite chega e espreita sorridente o céu do Nordeste, celebrando a tradição e a cultura do seu povo.
Sob o brilho das estrelas e a luz prateada do luar calado, numa mistura de arrasta-pé, xote, xaxado e baião, o forró embala os festejos juninos e a alegria impera.
Nas noites frias de inverno, ao som da música fremente, sons descortinam-se nos acordes da sanfona, do zabumba e do triângulo; e forrozeiros cantam em versos, doces canções, rasgando a madrugada.
No chão pelo clarear da Lua o deslize dos pés e sob o eco sublime da melodia, dançarinos se divertem ao ritmo pé-de-serra. E no aconchego do abraço, sussurram palavras, cantam o amor, acendem o fogo da paixão.
Embevecidos pela cultura viva, do eterno rei do baião, do saudoso Luiz Gonzaga, o forró segreda e reverbera, canta sua história, retrata o amor, a saudade, enfim, a vida do povo nordestino. Viva o Nordeste! Viva o Forró! Viva o Mestre!
Espetáculo inédito escrito e dirigido por Newton Moreno estreia no Sesc Bom Retiro dia 15 de março
Com trilha sonora original de Zeca Baleiro, espetáculo é uma novela cênica sobre a intolerância e o ódio no canavial nordestino
A dolorosa procura de um jovem por descobrir suas origens e o passado de sua família é tema de O Ninho, um recado da raiz, com direção e dramaturgia do premiado Newton Moreno. O espetáculo estreia no dia 15 de março no Sesc Bom Retiro, onde segue em cartaz até 21 de abril, com apresentações às sextas e aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 18h.
O trabalho ainda tem trilha sonora original de Zeca Baleiro, que também assina a direção musical ao lado de André Bedurê. Já o elenco traz Paulo de Pontes, Tay Lopes, Kátia Daher, Badu Morais, Rebeca Jamir e Jorge de Paula. Em cena, também estão os músicos Bedurê e Pablo Moura.
O projeto retoma a parceria de Moreno com o produtor Rodrigo Velloni, parceiros criativos na bem-sucedida montagem “As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão” (2019).
Escrita em 2009, O Ninho, um recado da raiz surgiu quando a Cia. Os Fofos Encenam estava pesquisando a civilização da cana-de-açúcar, o patriarcado feudalista da cana e a região da Zona da Mata, no Nordeste brasileiro, para a criação da peça “Memória da Cana”. Na época, o texto seria usado para compor um dos movimentos de outro espetáculo do grupo, “Terra de Santo”, que foi encenado na sequência.
“Nas minhas pesquisas, acabei descobrindo uma célula nazista, localizada em uma cidade perto de Recife. Lá, havia uma grande empresa de uma família poderosa chamada Lundgren, que é importantíssima para a história da cidade e apoiou alguns nazistas que vieram para cá. Encontrei no Arquivo Público do Estado de Pernambuco uma série de documentos registrando os encontros dessas pessoas com espiões alemães e até reuniões do partido nazista. Tive acesso ao trabalho de pesquisadores e ao livro de uma amiga, Susan Lewis, sobre essa presença dos nazistas no Brasil e nas Américas, e comecei a escrever a história”, conta Newton Moreno.
E sobre a decisão de retomar essa obra, o autor ainda revela que se trata de uma resposta à nova ascensão da extrema direita ultraconservadora e dos pensamentos fascista e neonazista no Brasil e no mundo. “Recentemente, tive acesso aos trabalhos da saudosa pesquisadora Adriana Dias, sobre o neonazismo no Brasil. E achamos que seria o momento de investigar o porquê a gente ainda convive com essas ideias fascistas, e nessa herança neonazista que nos cerca”, acrescenta.
O Ninho, um recado da raiz é uma novela cênica sobre a intolerância e o ódio em terras brasileiras, em pleno canavial nordestino. Obstinado e incansável, um jovem parte em busca de sua origem até descobrir a verdade dolorosa sobre sua família. Ele é alertado sobre os perigos que se anunciam, mas persevera até entender que a descoberta de si é sempre dolorosa.
“Estamos redescobrindo o Brasil e as muitas histórias que estão sendo recontadas ou que nunca foram contadas. Contamos a história de um rapaz que descobre ter sido deixado numa roda de enjeitados de um convento por uma família. E, quando ele quer saber que família é essa, resvala em heranças que ele não imaginava. Trabalhamos esse espelhamento da busca desse menino atrás do seu DNA com a busca de um país atrás do seu DNA”, antecipa o autor.
Já a encenação, conta o diretor, trabalha com um tripé formado pelo texto, o ator e a música em cena. “É no jogo entre essas três forças que a encenação se dá. A música é executada ao vivo e esses atores estão entregando essa verdade, essa busca desse menino. Só que aqui temos realmente uma história mais seca, que flerta com o trágico”, comenta Moreno.
Ficha Técnica
Elenco:
Paulo de Pontes, Tay Lopez, Kátia Daher, Badu Morais, Rebeca Jamir e Jorge de Paula
Músicos:
André Bedurê e Pablo Moura
Texto e Direção: Newton Moreno Assistente de Direção: Almir Martines Dramaturgista: Bernardo Bibancos
Produção: Rodrigo Velloni Produção Executiva: Swan Prado
Trilha Sonora Original: Zeca Baleiro
Direção Musical: André Bedurê e Zeca Baleiro
A música “Recado da Raiz” foi escrita por Zeca Baleiro e Newton Moreno
A música “Corifeia” foi escrita por Zeca Baleiro, André Bedurê e Newton Moreno Preparação Vocal e Arranjos Vocais: Rebeca Jamir
Preparação dos Atores e Direção de Movimento: Erica Rodrigues
Cenografia: Andre Cortez
Assistente de Cenografia: Camila Refinetti Cenotécnico: Wanderley Wagner Serralheria: Fernando Zimolo
Costura: Fernando Reinert , Maria Jose Castro e Judite Gerônimo Adereços: Antônio Ocelio de Sá
Iluminação: Equipe A2 | Lighting Design Desenho de Luz: Wagner Pinto Produção de Luz: Carina Tavares Assistente de Iluminação: Gabriel Greghi Operação de Luz: Gabriela Cezario
Consultoria Sonora: Radar Sound | André Omote Operação de Som: Nayara Konno
Palestrante e Historiadora: Susan Lewis
Consultoria e Tradução do Alemão: Evaldo Mocarzel Consultoria de Hebraico: Elaine Kauffman
Diretor de Palco: Jones Souza
Contrarregra: Eduardo Portella
Camareira: Luciana Galvão
Designer Gráfico e Ilustrações: Ricardo Cammarota Fotos: Ronaldo Gutierrez
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio Captação, Edição e Mídias Sociais: GaTú Filmes Gestão Financeira: Vanessa Velloni
Consultoria Jurídica: Martha Macruz de Sá Administração: Velloni Produções Artísticas
Sinopse
O NINHO, UM RECADO DA RAIZ é uma novela cênica sobre a intolerância e o ódio em terras brasileiras, no canavial nordestino. Um jovem em busca de sua origem, obstinado e incansável, enfrenta a jornada até sua verdade, sua primeira família. Raízes sangrando, tradições perdidas. Ele é alertado dos perigos que se anunciam, mas ele persevera até entender que a descoberta de si é sempre dolorosa. A busca pela sua identidade reflete nossa busca do DNA de um país, que se sabe pouco. Que não teve acesso a todos os ‘álbuns de família’, de uma formação torta e esquecida.
Serviço
O Ninho, um recado da raiz, com texto e direção de Newton Moreno Temporada: 15, 16, 17, 22, 23, 24, 30 e 31/03/2024 e 5, 6, 7, 12, 13, 14, 19
(duas apresentações), 20 e 21/04/2024. Sextas e sábados, às 20h; Domingos, às 18h; Sessão extra na sexta 19/04, às 15h. No dia 29/03, feriado, o Sesc não abre.
Duração: 90 minutos Gênero: Drama Capacidade: 297 lugares
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Sessão com audiodescrição no dia 13/04 e interpretação em Libras no dia 14/04.
Estacionamento do Sesc Bom Retiro – (Vagas Limitadas)
O estacionamento do Sesc oferece espaço para pessoas com necessidades especiais e bicicletário. A capacidade do estacionamento é limitada. Os valores são cobrados igualmente para carros e motos. Entrada: Alameda Cleveland, 529.
Valores: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2 por hora adicional (Credencial Plena). R$ 12 a primeira hora e R$ 3 por hora adicional (Outros). Valores para o público de espetáculos à noite R$ 7,50 (Credencial Plena). R$ 15 (pelo período).
Horários: Terça a sexta: 9h às 20h. Sábado: 10h às 20h. Domingo: 10h às 18h. IMPORTANTE: Em dias de evento no teatro, o estacionamento funciona até o término da apresentação.
Transporte Gratuito
O Sesc Bom Retiro oferece transporte gratuito circular partindo da Estação da Luz. O embarque e desembarque ocorre na saída CPTM/José Paulino/Praça da Luz.
Horário de início do serviço: Terça a Sábado, às 17h30 | Domingo e Feriados, às 15h30. Ao término do espetáculo, o serviço retorna à Estação Luz.
Sesc Bom Retiro
Alameda Nothmann, 185. CEP 01216-000.
Campos Elíseos, São Paulo – SP. Telefone: (11) 3332-3600 Siga o @sescbomretiro nas redes sociais:
Facebook, Instagram, Twitter e Youtube /sescbomretiro
Fique atento se for utilizar o Uber para vir ao Sesc Bom Retiro! É preciso escrever o endereço completo no destino, Alameda Nothmann, 185, caso contrário o aplicativo informará outra rota/destino.
Pedro Israel Novaes de Almeida – ESTIAGEM COMEMORADA
Quando o primeiro português desceu da caravela, algumas regiões do nordeste já passavam por forte estiagem.
A primeira e eterna providência foi socorrer as populações que, aos poucos, foram ocupando aqueles espaços. Caminhões – pipa, frentes de trabalho e crédito para não ser quitado inundaram a região, atraindo e consolidando moradores.
Ao crédito rural foi acoplado o seguro agrícola oficial, e as estiagens passaram a ser tratadas como inesperadas e fortuitas. O Proagro cobria o prejuízo das aventuras e irresponsabilidades oficiais.
Instalou-se, tão pérfida quanto criminosa, a indústria da seca, que produzia bem mais que eventuais chuvas. Foi consolidada uma casta política de poucas virtudes, repetidamente eleita com os favores que conseguia, a crescente categoria de dependentes de providências oficiais.
A população nordestina, com vasta cobertura até de cancioneiros e poetas, foi conduzida a considerar a seca como inesperado causador de sofrimentos e misérias. Deus passou a ser apontado como causador de estiagens, que jamais eram esperadas no ano seguinte.
Enquanto isso, Argentina e China tratavam seus desertos com naturalidade, com poucos sobressaltos e sofrimentos. O Brasil decidiu, então, revogar o clima, e tratar a seca com os remédios da politicagem e favores, que geravam cargos e feudos.
Populações acabaram instaladas em regiões incapazes de gerar sustentos, e são as maiores vítimas da encurtada visão e alongada irresponsabilidade oficial. A região foi alvo de pouquíssimos investimentos que pudessem permitir a emancipação dos dependentes.
Árabes e israelenses vivem em ambientes mais inóspitos, mas edificaram onerosíssimos sistemas, que envolvem até a retirada do sal da água marinha, e seu transporte a áreas de consumo. No Brasil, universidades e institutos de pesquisa estão abarrotados de sugestões técnicas, pouco lidas, que minorariam, e até solucionariam muitos problemas.
Certa feita, acompanhando uma equipe técnica internacional, ficamos envergonhados quando, na foz do São Francisco, fomos indagados se era correto deixarmos tanta água seguir ao mar, deixando para trás tanta secura e sofrimento.
O nordeste envolve muitas paisagens, algumas chuvosas e com terras férteis. Hoje, ostenta uma próspera indústria.
Grande parte dos nordestinos, contudo, ainda reside em regiões de colonização artificializada, sofrendo as agruras de um clima que sujeita a sobrevivência a providências sempre eleitoralmente agradecidas. Têm razão a assertiva de que o nordestino é, sobretudo, um forte.
A atual crise, com severas limitações do erário, deixa mais distante os investimentos necessários ao soerguimento da agricultura regional, a partir de espécies vocacionadas. A centenária crise de ética e representatividade continua a opor obstáculos a medidas que diminuam dependências e valorizem a cidadania.