Evani RochaImagem criada por IA do Canva – 1º de julho de 2025, às 09:00 PM
Tua poesia desabou em mim como tempestade, Abriu valas, levou galhos e entulhos… Choveu, chuva torrencial! Me lavou inteira! Branqueou a carne antes vermelha, Agora branca como um véu. Carregadas nuvens num sisudo céu sem estrelas… Correu em minhas veias enxurradas, Dilatou meus vasos e regou meus olhos. Extasiou-me… E eu encharcada de teus versos – Aldravia! Deixei-me levar pelas palavras mínimas e molhadas, Que embebiam meu ser: Imerso, disforme, profundo… Feito grãos de terra árida, Agora água em turbilhão que escorre Sobre a pele encrespada e úmida. Era nascente menina a borbulhar ao encontro do rio! Hoje refeita e única, entrego-me vencida e absoluta, Aos braços líricos do teu versejar!
Evani RochaImagem criada por Ia do Canva – 07 de abril de 2025, às 07:45 PM
Permito-me sonhar grande, ir ao infinito, quando meus pés se cansam do chão
Permito-me ser águia, alçando voo por sobre os montes, por sobre as nuvens
Permito-me bailar ao som da 5ª sinfonia de Beethoven, enquanto minhas mãos tocam a melodia espalhada pelo ar, percorrendo os caminhos da alma
Permito-me escrever palavras soltas, versos sem rima, poema em prosa, carregados de metáforas. Eu também posso ser uma figura de linguagem, enquanto meus olhos falam e a boca se cala à espera da palavra
Permito-me pintar qualquer figura que brotar das minhas emoções embriagadas de silêncio, congeladas na noite do deserto…
Meu deserto interior, na solidão do tempo,
Sem oásis algum, sem sementes para semear, sem solo fértil…
Mas ainda assim, permito-me ser solo, ainda que árido, ácido e inóspito,
Permito-me…
Permito-me semear e regar as sementes do meu ser, na boa estação, na lua propícia, na chuva e no vento!
Permito-me ser mutante, quando minhas convicções deixam de fazer sentido, e mudar!
Mudar porque a vida é mutante, metamorfoseada, crisálida gerando, transformando…
Quero ser o que embevece minha alma de selva, de relva, de ave migrante…
Permito-me ser maré cheia ou maresia, enquanto a permissão para ser gente cobra-me um alto pedágio.
Não me permito pagar para ser gente, porquanto o caos e a distopia distorceu
Isabel FuriniMicrosoft Bing. Imagem criada pelo Designer
Eu vou contar a história desse estranho sapato. Um idoso comprou sapatos e ele vivia feliz, até que no muro começou a chorar um gato.
O velhaco ficou raivoso e arremessou um sapato. Rapidamente pulou o gato e caiu em um buraco.
O sapato foi levado pela ventania, elevou-se sobre as nuvens e ficou voando perto dos guarda-chuvas, da chaleira, dos relógios, dos peixes e de pessoas estranhas, clonadas por um cientista maluco.
Por fim, o sapato caiu na terra e um relojeiro o encontrou e fez um relógio cuco.
Elaine dos SantosO som da chuva despertando medo e apreensão Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designr
Eu não sei exatamente o dia em que o pesadelo começou, isto é, quando as chuvas iniciaram no Rio Grande do Sul neste outono de 2024.
Apesar disso, fixei uma noite: 30 de abril. Resido na região central do estado, que sofreu graves problemas, pessoas mortas, desabrigadas, desalojadas; pontes obstruídas; rebanhos mortos; deslizamentos de terras. Naquela noite de 30 de abril, choveu muito, o som da chuva parece repetir-se na memória, porque era contínuo.
Dias depois, conversando com amigos, muitos deles referiram que foi uma noite insone. De fato, eu denominei a noite do sem: sem energia elétrica, sem telefone, sem internet (o alarme da casa desligou): a escuridão e o som da chuva.
Pela manhã, no feriado do Dia do Trabalho, seguíamos sem energia elétrica, sem telefone, sem internet, mas se associaram três novos dramas: sem água, a cidade ilhada (as cabeceiras de duas pontes ruíram e, em outra rodovia, o rio obstruía a passagem) e os desabrigados.
Saí cedo, precisava de internet, tinha trabalhos de revisão de texto para entregar. Consegui conexão em um posto de combustível. Quando postei em uma rede social que estávamos ilhados e sem conexão (telefone ou internet), eu fui ‘metralhada’ por uma pergunta que se repetia: “Como estão lá em casa?” Tive que fazer uma nova postagem: “Eu não sei como estão os parentes de ninguém” e repeti a cantilena ‘do sem’.
Por solidariedade, procurei algumas pessoas, principalmente, idosos e doentes. Chegava em frente às casas, buzinava, questionava se estavam bem, se precisavam de alguma coisa e seguia. Eu estava encharcada. Algumas pessoas não estavam mais em casa, haviam sido removidas durante a noite anterior, a noite da chuvarada.
Comprei água potável – que, em breve, faltaria na cidade. Comprei algo que pudesse servir como almoço e recolhi-me.
No dia seguinte, passei a ‘frequentar’ o ginásio municipal de esportes, local em que estavam os desabrigados. Leva roupas. O que está faltando? Volta em casa, procura nos armários. Volta. Ouve histórias. O maior tesouro que dedicamos para alguém é o nosso tempo.
Nuvens, trovoadas, apreensão… e chuva. Por vezes, eu penso que um dos grandes prazeres que, desde criança, sempre ouvimos dizer, era dormir com o som da chuva, de preferência, caindo sobre um recipiente, uma lata, por exemplo. Hoje, um dia, sem chuva, é um grande alívio.
Além das cidades afetadas na Grande Porto Alegre, eu conheço Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio, Putinga, Lajeado, Estrela, Muçum (não cheguei a conhecer Roca Salles, devastada por três enchentes), ou seja, boa parte do Vale do Taquari. Fico imaginando como se sentem aquelas pessoas que perderam casa, carro, animais de estimação, familiares, plantações ou, como referiu um jovem de Arroio do Meio: livros, discos de vinil, CDs, instrumentos musicais, histórias de uma vida.
Precisaremos, quem sabe, um dia, ressignificar o som da chuva, essa, hoje, horrorosa sensação de umidade. Por enquanto, ele traz medo, insegurança, apreensão. Muito mais do que casas, prédios, móveis, eletrodomésticos, temos gente para reerguer.
Irene da Rocha “Agradeço pela luz do novo dia” Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer
A cada dia, agradeço sorrindo, Os momentos tristes, deixo pra trás. Em cada passo, meu ser se transforma, Em calma e em paz.
Os dias se vão, mas os sentimentos persistem, Em alegria os felizes se tornam, Olho para trás e vejo a jornada caminhada, Nuvens escuras, agora, não me assombram mais.
Apenas a alegria se faz presente, Agradeço pela luz do novo dia, Sorrisos e lágrimas, juntos, vividos, Com gratidão, em cada harmonia.
Agradeço pelas conquistas alcançadas, Pelos filhos, pelo lar tão amado, Mas acima de tudo, ao meu amor dedicado, Em cada verso deste poema declamado.