A vida não é tão simples assim

Eduardo Martínez

Conto ‘A vida não é tão simples assim’

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Imagem criada por IA da Meta em 10 de outubro de 2025, às 11:15 PM
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Ludmila, mas pode me chamar de Lud. Nem precisa de senhora, pois sei que sou velha, não preciso de ninguém para me lembrar disso a todo instante. Então, Lud ou, caso não se sinta à vontade, que seja Ludmila, como as nossas idades fossem quase um abismo intransponível para alguém tão cheio de regras que nem… Bem, que nem você!

Tudo aconteceu nos idos de 1963, quase início de 1964. Festa de Natal na casa de Dalva, tia do Jaime, com quem me casei tão novinha. Gente, como é que fui permitir que mamãe fizesse tamanho descalabro comigo? Tempos outros, quando as mocinhas, mal largavam as bonecas, já eram preparadas para o casório. E comigo não foi diferente. 

Jaime Gonçalves do Amaral, um jovem advogado, provavelmente alvo de algumas garotas, haja vista o futuro promissor. Nem o conhecia direito. Quer dizer, sabia quem era, pois frequentava a casa dos meus pais há quase dois anos. Na época, imaginava se tratar de negócios imobiliários ou coisa do tipo, até perceber, já perto do final da minha festa de debutante, que o negócio, na verdade, era eu. 

— Ludmila, minha filha, este é o Jaime, seu futuro marido.

Boquiaberta, olhei para minha mãe, que fora incumbida por papai a me dar a notícia logo após a valsa. Desesperançada, busquei os olhos do meu pai em busca de conforto, mas só senti náuseas quando ele me sorriu.

— Feliz?

Feliz? Como é que o meu pai, justamente quem deveria me proteger, poderia me fazer tamanha pergunta? Gente, eu era apenas uma pobre e indefesa garotinha de 15 anos. Já imaginou a cena?

Sem ter a quem recorrer, abaixei os olhos e respondi que sim. O que eu poderia ter feito? Fugido ao som de rock and roll, tão em voga naquela época? Apesar de muito nova, não era ingênua a ponto de imaginar que o Elvis ou o Marlon Brando fosse me salvar, ainda mais porque sempre tive uma queda pelo Montgomery Clift. 

Mamãe me preparou, mas sem entrar em detalhes. Disse-me o básico do básico, como se aquilo fosse resolver todos os meus problemas. Pelo contrário, pois me trouxe outros após me deparar com a realidade.

Casei-me no ano seguinte sem nem mesmo conhecer direito o homem que, a partir daquele momento, se tornou meu marido pelos próximos 43 anos, até ele sucumbir. Confesso que os últimos anos ao seu lado foram de profunda cumplicidade, pois desenvolvemos fortes laços de amizade, mas nunca de amor. Amor, creio que você bem sabe, é coisa mais complicada.

Tornamo-nos amigos, mesmo que o início não tenha sido um mar de rosas, quando meu marido, talvez querendo mostrar ao mundo algo que não era, tentou, a todo custo, me engravidar. Conseguiu seu intento e, nove meses após, nasceu Augusto, nosso único filho. A partir de então, enquanto cuidava da criança, vi meu marido se entreter com meu primo Carlos, solteirão convicto, em viagens de última hora, como se os dois fossem salvar o planeta da então quase certa Terceira Guerra Mundial, cada vez mais temida por todas as nações logo após a invasão da Baía dos Porcos orquestrada pelos Estados Unidos em 1961.

Não sei exatamente se foi o medo de que a população mundial fosse dizimada ou o alívio pelo nascimento do filho que empurrou Jaime para se aventurar com Carlos. Confesso que senti certo alívio pela situação, mesmo porque andava exausta, apesar da presença constante de Felícia e Maria Aparecida, nossas empregadas.

Quando Augusto já estava em idade que não necessitava mais de tantos cuidados maternos, eis que comecei a olhar ao redor. E foi justamente naquele Natal de 1963, que meus olhos se cruzaram pela primeira vez com os do Renato, sócio do meu esposo no escritório. Ainda tentei disfarçar meu interesse pegando uma castanha na ampla mesa. Entretanto, péssima atriz que sempre fui desde a noite de núpcias, não consegui convencer aquele homem tão… Bem, não estou aqui buscando redenção. Admito, Renato foi meu maior desvio de caráter. 

Nosso primeiro encontro aconteceu em uma biblioteca pública. Estava eu folheando um exemplar de Dom Casmurro quando Renato, sorrateiro, se aproximou por trás e pousou a mão esquerda sobre meu ombro. Quase gritei, mas me contive, ainda mais porque não queria ser descoberta, mesmo em local tão discreto. 

Conversamos trivialidades, até que fui convencida (ou será que fui eu a fazê-lo?) a irmos para um ambiente mais apropriado. Confesso que não gostei do hotel escolhido, mas não estava em condição de protestar. Seja como for, Renato me fez atingir notas que, até então, desconhecia. 

Apesar de amedrontada pela situação, afinal, era uma mulher casada e com filho, o desejo falou mais alto e, não sei de onde, arranquei coragem que até então desconhecia possuir. É óbvio que morria de medo de ser descoberta, e acabei sendo por alguém que eu nem desconfiava que iria aceitar aquilo.

— Lud, discrição é tudo. Não estou aqui para censurá-la, pois cada um possui seus desejos. E vontades, quando pega, não tem quem segura.

Incrédula, olhei para o meu marido, que me abraçou. A partir daquele dia, a nossa relação melhorou tanto, que passamos a ser confidentes. Ele me apoiava e, quando necessário, acobertava as minhas escapadas para os encontros furtivos e cada vez mais frequentes. E foi assim até que o meu Renato, que também era da Maria Cristina, faleceu em um acidente de carro. 

Jaime e eu, como casal, comparecemos ao enterro e cumprimentamos a viúva, que chorava copiosamente. Não sei se ela sabia do nosso caso, talvez até desconfiasse, mas jamais me tratou mal ou com indiferença. Pelo contrário, Maria Cristina sempre me considerou como uma fiel amiga, inclusive insistindo para que eu e meu marido fôssemos padrinhos do seu caçula, Leonardo. 

A amizade era tanta, que a esposa do meu amante, certa vez, me procurou para desabafar. Seus olhos azuis, marejados que estavam, eram de dar dor. Ela fitou-me e, em seguida, desabou em choro. Procurei confortá-la.

— Lud, tenho certeza de que o Renato tem outra.

          O medo tomou conta do meu corpo, mas tentei controlar aquele turbilhão de emoções. 

— O Renato? Tem certeza?

— Olhe o que encontrei caído no banco do carro.

Maria Cristina esticou o braço e abriu a mão. Lá estava um brinco. Não um brinco qualquer, mas com a letra “L”. Gelei! E quando tudo parecia perdido, eis que surgiu o Jaime de armadura montado em um belo cavalo branco. Bem, não foi exatamente assim, apesar que, devido às circunstâncias, parecia estar. 

Delicadamente, ele tomou o brinco das mãos da Maria Cristina e sorriu.

— Olha só, meu amor, o seu brinco! Que cabeça a minha!

                 Estarrecida, voltei os olhos para Jaime, que continuou com seu teatro. Aliás, devo confessar que ele sempre foi o Paulo Autran da família. 

— Maria Cristina, aposto que deixei cair no carro do Renato. Não foi lá que você o encontrou?

— Sim. Como você sabe disso?

— A Lud me pediu para pegar esse brinco no ourives, que ela havia deixado para arrumar esse ganchinho. Como é mesmo o nome, amor?

— Fecho.

— Sim! Fecho! Você me disse esse nome tantas vezes, que não sei como é que fui me esquecer. Aqui está o seu brinco de volta, meu amor. Você me perdoa? Por favor, diz que me perdoa.

Maria Cristina e eu nos olhamos e, então, sorrimos do meu apaixonado marido que, apesar de atrapalhado, era um amor.

— Claro que perdoo, seu bobo! 

Para não restar dúvida, Jaime e eu encenamos um beijo quase cinematográfico diante da agora aliviada Maria Cristina. A minha amiga me abraçou e, logo após aceitar tomar chá com torradas, retornou para os braços do seu marido fiel, ao menos aos seus olhos azuis ingênuos. 

Após a morte do Renato, pensei que nunca mais me envolveria com qualquer homem. Já estava beirando os 60 anos e me sentia deveras isolada desse jogo de sedução. Todavia, há coisas que, mesmo não sejam provenientes do coração, o corpo necessita. E foi assim que conheci o Álvaro, viúvo que havia se mudado para o prédio. Chegamos a trocar algumas figurinhas, mas logo percebi que ele só possuía repetidas, enquanto as que eu carregava na bolsa eram todas premiadas. 

Do Álvaro para o Marcelo, pouco mais jovem, cuja disposição me encantou por um mês, até que desisti antes que ele enjoasse de mim. Mas não pense você que saí do jogo, e fui à luta. Tive outros casos, inclusive alguns com maridos de amigas, até que fui surpreendida por um telefonema do Carlos. Ele estava em pânico e não sabia como proceder.

Jaime e meu primo haviam viajado em um final de semana, como há décadas faziam. Meu esposo, enquanto dormia, teve um enfarte e não mais despertou. Nem sei como arrumei forças, mas precisava honrar a história do meu querido marido e, então, peguei um voo e, poucas horas depois, lá estava eu no quarto da pousada em Salvador. 

Após os trâmites legais, consegui que o corpo do Jaime fosse trasladado para Brasília. E lá estava eu, a viúva, sem chão. Carlos e eu, desolados, dividíamos lágrimas sobre o caixão do homem de nossas vidas.

Eduardo Martínez

Eduardo Martínez - Foto por Irene Araújo
Eduardo Martínez
Foto por Irene Araújo

Eduardo Martínez é um premiado escritor carioca, que há mais de três anos mora em Porto Alegre, cidade pela qual é apaixonado. Vencedor do Prêmio Literário Clarice Lispector – 2025 na categoria livro de contos com ’57 contos e crônicas por um autor muito velho’, que saiu pela Joanin Editora.

Seu primeiro livro, o romance ‘Despido de ilusões’, 2004, figurou entre os mais lidos do Centro Cultural Banco do Brasil. 

Seus contos e crônicas, que já ultrapassaram a incrível marca de 1.000 publicações, são utilizados por escolas no Rio de Janeiro, em Brasília e em Brodowski-SP. É cronista/contista do jornal Notibras (https://www.notibras.com/site/) e do Blog do menino Dudu (https://blogdomeninodudu.blogspot.com/).

Divide a editoria Café Literário do Notibras com o poeta e escritor Daniel Marchi e a jornalista e poeta Cecília Baumann.

Instagram: @escritoreduardomartinez




Entretanto… porém

Ivo José Miguel Luís: ‘Entretato… porém’

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Foto por Hánji Kiami
Foto por Hánji Kiami

É consensual que o país está desorientado, que as coisas estão muito mal, que a população está revoltada. Olhando bem, os sinais de revolta estiveram há muito sob nossos olhos. No final, no século passado, as coisas eram semelhantes, mas o governo colonial português ignorou: havia apenas discursos do tipo “estes arruaceiros e vândalos sentirão as mãos pesados do Estado”… mais forças de repreensão.

O governo português ignorou as verdadeiras razões do descontentamento. Muitos morreram e outros foram presos, mas a revolta continuou.

Hoje parece que a história se repete. Por isso precisamos prestar mais atenção para evitar situações semelhantes, precisamos não ignorar ou menosprezar os factos. O problema não é apenas o mano João. O problema é a nova colonização que vem há anos a maltratar o povo.

O país é nosso e nem parece ser: eis o problema. Precisamos dar uma solução. Isto implica assumir novas posturas. Mas pronto! Entretanto… porém.

Ivo José Miguel Luís

Ivo José Miguel Luís é angolano, docente em Filosofia, Língua no Liceu do município do Libolo, província do Cuanza Sul em Angola.

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Um certo Joaquim Maria

Eduardo Martínez: Conto ‘Um certo Joaquim Maria’

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Imagem gerada por IA - 7 de outubro de 2024, às 7h14
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Não descarto a possibilidade de já ter esbarrado com aquele homem, que, em idade, provavelmente regulava com a do meu falecido pai. Talvez me deixei ser enganado pela maneira austera de se vestir. Seja como for, era mais velho do que eu e um tanto mais moço do que meu avô, que mal cheguei a conhecer. 

          Pois lá estava o dono de cavanhaque tão distinto, apesar de bastante popular por aqueles tempos. Sóbrio, parecia mordiscar metodicamente cada salgado folhado diante de si. Alguns goles longos na limonada. Não tardava, voltava o olhar vago em busca de possível aconchego. 

          Tive ímpeto de me fazer notado. Caminhei alguns passos em sua direção, o olhar fixo, mas, assim que o meu alvo se virou, também o fiz, mas em outra direção, como se procurando alguém com quem tivesse marcado um encontro. Pura interpretação de ator medíocre, coisa que sempre fui. Por sorte, alguém ao fundo da Confeitaria Colombo acenou para mim. 

          A princípio, não reconheci aquele rosto, até que me aproximei. Era tia Maricota, irmã mais moça de meu pai. Ela estava acompanhada da filha, Maria de Lourdes, que, para meu alívio, havia desistido de firmar compromisso justamente comigo. Na verdade, nunca acreditei em amores entre primos, muito antes de saber que os frutos podem não vir saudáveis. 

          As duas bebiam chá, enquanto dois quindins repousavam docemente sobre a mesa. Quando menino, era meu quitute favorito. No entanto, homem quase feito, buscava sofregamente pelo sal na comida. Se bem que, de vez em quando, pegava um naco de cocada e o levava à boca, talvez como lembrança de tempos de criança. 

        O garçom se aproximou. Fiz o mesmo pedido do dono do cavanhaque distinto, certamente na ânsia de me aproximar dele. As parentas sorriram, como se percebessem como aquele garoto de outrora havia crescido. Devolvi o sorriso, enquanto tentava cofiar o ralo bigode, que teimava cultivar, apesar da quase total falta de pelos. 

          — Que coincidência, Julinho.

          — Não entendi, tia.

          — A limonada e o folhado.

          — Não gosta?

          — Você bem sabe que sou mais afeita a doces.

          — Já sou crescido para doces.

          — Percebe-se, Julinho.

       — Mas a senhora estava falando sobre coincidências. Que coincidências?

          — Reparou que você fez o mesmo pedido do Joaquim Maria?

          — O escritor?

          — Sim. Ele está sentado logo ali. Você passou por ele. Não percebeu, Julinho? 

       Olhei para trás e fingi espanto. Na certa, tia Maricota e Maria de Lourdes não desconfiaram da minha pequena mentira ou, por sorte, guardaram segredo para evitar pendengas desnecessárias. 

          — Onde estava com a cabeça, que nem notei tamanha presença?

         Minha prima riu e o pequeno ruído chamou a atenção do mais distinto cliente da confeitaria. Trocamos olhares e, num ímpeto de mocidade, ergui a taça de limonada. Ele fez o mesmo, o que me encheu de regozijo. 

         Não tardou, meu companheiro de limonada saiu do recinto. Tive vontade de ir até ele para cumprimentá-lo, mas minhas pernas bambas não me permitiram. Entretanto, assim que o garçom recolheu a taça do Joaquim Maria, chamei-o. Tomei-lhe a taça das mãos e coloquei uma nota graúda no bolso da camisa. E, antes que alguém percebesse, apesar dos olhos espantados das minhas parentas, que a tudo viram, a escondi no bolso interno do meu paletó. 

       Pois bem, eis que estou aqui sentado na sala da minha casa, cercado de netos barulhentos. Em frente, na ampla estante de mogno, lá está aquela taça, que me custou o dinheiro que não possuía na época, mas que, ainda hoje, me é tão cara.

Sobre o autor

Eduardo Martínez
Eduardo Martínez

Eduardo Martínez é um premiado escritor carioca, que há quase três anos mora em Porto Alegre, cidade pela qual é apaixonado.

Seu primeiro livro, o romance “Despido de ilusões”, 2004, figurou entre os mais lidos do CCBB. “57 Contos e crônicas por um autor muito velho” é seu mais recente livro.

Seus contos e crônicas são utilizados por escolas no Rio de Janeiro, em Brasília e em Brodowski-SP. É cronista/contista do jornal Notibras (https://www.notibras.com/site/) e do Blog do menino Dudu (https://blogdomeninodudu.blogspot.com/).

Divide a editoria Café Literário do Notibras com o poeta e escritor Daniel Marchi e com a jornalista e poeta Cecília Baumann.

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Natal

O leitor participa: Tânia Orsi: Crônica ‘Natal’

Tânia Orsi
“Somos agraciados no Natal com a sensação de que pertencemos todos à mesma origem: o pó das estrelas que se espalha pelo infinito”
Microsoft Bing – Imagens criadas pelo designer

O Natal existe porque o capitalismo precisa criar suas formas de prosperar e ele só prospera se estabelecer divisões entre pessoas, mundos em contradição, dor, bens de consumo e sofrimento.

Não vamos agora questionar os métodos do capitalismo, mas aproveitar o que o Natal pode nos ensinar: a possibilidade de descobrirmos e reafirmarmos em nós mesmos o amor que temos guardado em nossos corações, mas que, cansado da lida diária, por vezes, adormece sem alimento, faminto em viver pela sua própria graça e espírito.

Acordamos no Natal para nos solidarizarmos com a dor de existir de alguns, apenas com o ínfimo, sem a possibilidade de sonhar dias futuros. Somos agraciados no Natal com a sensação de que pertencemos todos à mesma origem: o pó das estrelas que se espalha pelo infinito. Somos todos estrelas cadentes caídas em lugares e oportunidades diferentes, mas todos filhos do universo.

Que o Natal permita, com sua dádiva de amor e solidariedade, nos fazer sermos seres humanos que celebram o Natal a cada bom dia, boa tarde, boa noite, todos os nossos dias! Porque em algum momento nos reuniremos novamente em seres orbitais maravilhosos, gravitando pela casa de Deus.

Tânia Orsi

Tânia Maria Orsi, natural de Itapetininga (SP), é psicoterapeuta, atuando como psicóloga há 39 anos na área de atendimento na Clínica Expressão. Na área cultural é escritora, poeta e colunista do Internet Jornal. Autora dos livros de poesia: Mãe do Corpo e um Quilo de Sal. É cofundadora do grupo Coesão Poética de Sorocaba e participa com produções próprias em saraus.

Contatos com a autora

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Halloween

O leitor participa: Marino Rampazzo: Artigo ‘Halloween’

Marino Rampazzo
Halloween
Criador de imagens do Bing

O Halloween é uma das tradições mais antigas do mundo, na verdade toca um dos elementos essenciais da condição humana: a relação entre os vivos e os mortos. Toda civilização conhecida criou alguma forma de ritual com o propósito de descobrir o que acontece com as pessoas após a morte, para onde vão e como aqueles que permanecem vivos podem honrar melhor os mortos ou responder àqueles que recusam ou são incapazes de seguir em frente.

Hoje no mundo existem vários países que celebram o Halloween de uma forma ou de outra, começando com o Día de los muertos no México ou o Festival Quingming (o dia da limpeza dos túmulos) na China. Hoje em dia, em países como os Estados Unidos e o Canadá, onde este feriado tradicional é mais popular, o Halloween tem elementos em comum com estas tradições antigas, embora alguns aspectos do feriado tenham se desenvolvido recentemente e possam ser rastreados até o Samhain Celta.

Ao longo do tempo, vários grupos cristãos tentaram demonizar e denegrir este feriado, em parte alegando falsamente que Sam Hain era o deus celta dos mortos e que o Halloween era o seu feriado. Esta crença errônea remonta ao século 18 d. C, pelo engenheiro britânico Charles Vallancey que, com pouca compreensão da cultura e da língua, escreveu sobre o Samhain. Desde então, foi repetido sem verificar sua precisão.

No entanto, foi a própria Igreja que preservou esta tradição no Ocidente, cristianizando-a no século IX d. C., preparando o terreno para a transformação daquilo que era uma tradição religiosa do Norte da Europa na festa secular mais popular do mundo, bem como o ano mais lucrativo do mundo a nível comercial, perdendo apenas para o Natal.

As tradições ocidentais do Halloween remontam a 1.000 anos, ao festival de Samhain pronuncia-se ‘Suu-when’, ‘So-win’, ‘Sou-wen’), o festival celta do ano novo. O nome significa ‘fim do verão’, já que este aniversário marcava o fim da época das colheitas e a chegada do inverno.

 Os celtas acreditavam que, neste período, o véu entre o mundo dos vivos e dos mortos era mais tênue, para que os falecidos pudessem retornar e vagar pelos lugares onde viveram. Além disso, aqueles que morreram no ano anterior e que, por algum motivo, não seguiram em frente, puderam interagir com os vivos.

Pouco se sabe sobre os rituais do antigo Samhain, uma vez que foi cristianizado pela Igreja, assim como muitos outros feriados pagãos. A informação disponível chegou até nós graças aos monges irlandeses, que registaram a história pré-cristã do seu povo juntamente com outros

 escribas cristãos, que denegriram estes rituais. Parece que a tradição incluía o fornecimento de provisões para o inverno, o abate de gado e o descarte de ossos em fogueiras (em inglês ‘bonfire’ literalmente ‘bone fire’). Durante estes eventos, a comunidade reuniu-se para festejar e beber ao saber da transitoriedade desta época do ano e da possibilidade de visitantes do outro mundo comparecerem à festa. A tradição incluía estocar suprimentos para o inverno, abater gado e descartar ossos em fogueiras.

Esperava-se o encontro com os entes queridos falecidos, que eram bem-vindos, e a prática de preparar a comida preferida dos mortos teve origem há 2.000 anos (embora esta data permaneça incerta), mas muitos outros tipos de bebidas espirituosas (alguns dos quais nunca tiveram forma humana). Elfos, fadas, os ‘pequenos’, sprites e energias sombrias poderiam visitar, assim como aqueles que você queria ver uma última vez.

Além disso, havia uma boa chance de que o espírito de uma pessoa que havia sido injustiçada pudesse aparecer. Para enganar os espíritos, as pessoas escureciam o rosto com cinzas de fogueiras (costume conhecido como ‘mascaramento’) que evoluiu para a prática do uso de máscaras. Desta forma, os vivos poderiam revelar as suas identidades apenas aos seus entes queridos, ao mesmo tempo que permaneciam a salvo das atenções indesejadas das forças das trevas.

Não se sabe há quanto tempo esses rituais foram incluídos na observância do Samhain, mas algumas formas deles já estavam ativas na época em que o cristianismo chegou à Irlanda, no século V d. C. O início das celebrações do Samhain foi assinalado pelo acendimento de uma fogueira por volta de 31 de outubro em Tlachtga (Ward’s Hill), condado de Meath, e pela subsequente resposta da fogueira na colina de Tara em frente, local onde se encontra um conhecido sítio neolítico. Arqueólogos da Universidade de Dublin rastrearam estas escavações até 200 d.C, mas dizem que estas descobertas remontam a desenvolvimentos mais recentes num local que já tinha sido usado para fogueiras cerimoniais há mais de 2.000 anos.

A colina deve seu nome à druida Tlachtga, filha do poderoso druida Mug Ruith, que viajou pelo mundo aprendendo sua arte. Ela foi estuprada pelos três filhos de Simão, o Mago, famoso por seu confronto com São Pedro em Atos 8:9-24, e, antes de morrer, deu à luz trigêmeos naquela colina. A inclusão de um adversário bíblico em sua história, é claro, situa a lenda na Era Cristã e, idealmente, une Tlachtga e São Pedro através de seu inimigo comum. Os estudiosos dizem que a história de Tlachtga, como muitas outras lendas celtas, foi cristianizada após a chegada de São Patrício à Irlanda e que o seu estupro pelos filhos de Simão Mago foi adicionado a uma história existente.

A cristianização de símbolos pagãos, templos, feriados, lendas e iconografia religiosa era uma prática generalizada e se aplica ao Samhain, bem como a outros feriados. No século VII d.C, no dia em que consagrou o Panteão de Roma à Virgem e aos Mártires Cristãos, o Papa Bonifácio IV estabeleceu o dia 13 de maio como o Dia de Todos os Santos, uma ocasião para celebrar aqueles santos que não tinham um dia dedicado.

Mais tarde, foi o Papa Gregório III quem mudou a data para 1º de novembro. As razões para esta mudança ainda são debatidas. Alguns estudiosos dizem que foi uma escolha devido à intenção de cristianizar o dia do Samhain transformando-o na festa de Todos os Santos. Esta teoria é provavelmente correcta, dado que este movimento segue o paradigma cristão difundido de ‘resgatar’ tudo o que era pagão com o objectivo de facilitar a conversão das populações colonizadas.

Antes da cristianização, 13 de maio era o último dia do festival romano da Lemúria (realizado nos dias 9, 11 e 13 de maio), dedicado a apaziguar os falecidos irados ou sem paz. Este feriado desenvolveu-se a partir de alguns ritos realizados nos meses anteriores: a Parentalia, em homenagem aos espíritos dos antepassados (13 a 21 de fevereiro), e a Feralia, em homenagem aos espíritos dos amantes (21 de fevereiro). Durante a Feralia, os vivos tinham que relembrar e visitar os túmulos dos mortos, deixando presentes de cereais, sal, pão embebido em vinho e coroas de flores com pétalas de violeta.

Tal como acontece com a Paternalia, a Feralia e a Lemuria, o mesmo acontece com o Samhain. Antes de este feriado estar associado a eles, a terra, a mudança das estações e estas transformações eram marcadas por celebrações e atividades comunitárias. Depois de cristianizado, o Dia de Todos os Santos passou a ser uma noite de vigília, oração e jejum em preparação para o dia seguinte, em que os santos eram homenageados com uma celebração mais branda.

As antigas tradições, porém, não morreram: as fogueiras ainda eram acesas, só que agora homenageavam os heróis cristãos, e mesmo que a mudança de estação ainda fosse celebrada, isso era feito para glorificar a Cristo. Muitos dos rituais que acompanharam esta nova encarnação do feriado são desconhecidos, mas por volta do século 16 d.C a prática de ‘soul’ tornou-se parte integrante dele: os pobres da aldeia ou cidade batiam de porta em porta implorando por ‘alma- bolos’ de almas) ou ‘bolo de massa de almas’ (biscoitos da missa para almas) em troca de orações.

Pensa-se que esta prática se deve à crença de que uma alma poderia permanecer atormentada no Purgatório, a menos que fosse salva por orações e, mais frequentemente, pelo pagamento de quantias à Igreja. Após a Reforma Protestante, esta prática continuou no Reino Unido, mas os jovens ou os mais pobres dos protestantes ofereceram-se para rezar pelas pessoas da casa e pelos seus entes queridos, não mais pelas almas do Purgatório, enquanto os cristãos continuaram a continuar esta velha tradição.

No século 17 d.C., o Dia de Guy Fawkes adicionou um novo componente ao Halloween. Em 5 de novembro de 1605 d.C, um grupo de dissidentes católicos tentou assassinar o rei protestante Jaime I em um ataque conhecido como Conspiração da Pólvora. A tentativa fracassou e um membro do grupo, Guy Fawkes, foi encontrado com os explosivos na Câmara dos Lordes e, apesar de ter aliados, foi o seu nome que permaneceu ligado à conspiração.

O Dia de Guy Fawkes foi celebrado pelos protestantes no Reino Unido como um triunfo sobre o ‘papado’ e o dia 5 de novembro tornou-se uma ocasião para sermões anticatólicos e para saquear casas e lojas católicas, embora o governo declarasse oficialmente que era uma  celebração do dia A Providência poupou o Rei. Na noite anterior ao Dia de Guy Fawkes, fogueiras foram acesas e efígies de figuras impopulares, muitas vezes o Papa, foram enforcadas enquanto as pessoas bebiam, festejavam e acendiam fogueiras. Crianças e pobres iam de casa em casa, usando máscaras e empurrando um boneco de Guy Fawkes num carrinho de mão, pedindo dinheiro ou doces.

Quando os ingleses chegaram à América do Norte, trouxeram consigo essas tradições. Os puritanos da Nova Inglaterra, que se recusaram a observar feriados que pudessem estar associados a ritos pagãos – incluindo o Natal e a Páscoa – continuaram a observar o dia 5 de novembro em memória da sua suposta superioridade sobre os católicos. O Dia de Guy Fawkes continuou a ser comemorado até a Revolução Americana em 1775-1783 d.C.

Os rituais Samhain chegaram aos Estados Unidos menos de um século depois, com a realocação dos irlandeses devido à Grande Fome ou Fome da Batata de 1845-1849 d.C. Os irlandeses, em grande parte católicos, continuaram a observar a Véspera de Todos os Santos, a Véspera de Todos os Santos e o Dia de Finados, juntamente com a prática do ‘souling’. Esses feriados foram enriquecidos por tradições populares como Jack o’ Lantern.

Jack o ‘Lantern está associado à lenda irlandesa de Jack, o Avarento, um bêbado e vigarista inteligente que enganou o diabo para impedi-lo de entrar no inferno. Porém, devido à sua vida de pecador, ele não pôde nem entrar no céu, então após sua morte foi forçado a vagar carregando consigo apenas uma pequena lanterna feita de um nabo com uma brasa vermelha ardente do inferno para iluminar seu caminho.

Os estudiosos dizem que a lenda se espalhou devido aos avistamentos de fogos-fátuos, gases dos pântanos e pântanos que brilhavam durante a noite. Na véspera de Todos os Santos, os irlandeses esvaziaram os nabos, esculpiram-lhes rostos e inseriram uma vela, para que durante o ‘souling’, na noite em que o véu entre o mundo dos vivos e o dos mortos era mais fino, eles seriam protegidos por espíritos como o de Miser Jack.

As bases do Halloween estavam então estabelecidas, com pessoas indo de casa em casa pedindo oferendas de doces como Soul Cakes, carregando consigo a Jack o’ Lantern. Pouco depois de chegarem aos Estados Unidos, os irlandeses substituíram o nabo pela abóbora como lanterna, por ser esta última mais fácil de esculpir. Aqui, o Dia de Guy Fawkes já não era celebrado, mas algumas das suas características foram retomadas dos feriados católicos de outubro, nomeadamente atos de vandalismo, neste caso indiscriminado: as casas e lojas de todos foram saqueadas por volta de 31 de outubro.

Na vila de Hiawatha, Kansas, na manhã seguinte ao Halloween de 1912 d.C, Elizabeth Krebs, cansada de ver seu jardim e seu país destruídos uma vez por ano por crianças malandras mascaradas, decidiu com seus próprios recursos organizar uma festa em 1913 d.C para os mais jovens, onde esperava cansá-los o suficiente para que não tivessem mais energia para destruir.

No entanto, ele subestimou a sua determinação e o país foi saqueado como de costume. Em 1914 d.C, envolveu toda a cidade, convocou um grupo musical, organizou um concurso de fantasias e um desfile. Desta vez seu plano funcionou. Pessoas de todas as idades preferiram este Halloween festivo ao destrutivo. As notícias de seu sucesso viajaram para fora do Kansas, e outras vilas e cidades também adotaram essa solução, estabelecendo festas de Halloween que incluíam concursos de fantasias, desfiles, música, comida, dança e doces acompanhados por decorações aterrorizantes de fantasmas e duendes.

Embora a Sra. Krebs seja frequentemente citada como a ‘mãe do Halloween moderno’, isso não é inteiramente verdade, pois ela não instituiu a prática de ir de porta em porta pedindo doações. Esta tradição já tinha dois séculos quando ela organizou o seu primeiro evento. No entanto, a visão original da Sra. Krebs certamente teve um impacto na forma como o Halloween ainda é celebrado na América. Os Hiawatha Halloween Scores no Kansas continuam até hoje, assim como as muitas festas que foram inspiradas neles.

A prática de celebrar para evitar a destruição de cidades, no entanto, não se espalhou por todo o país e, em 1920 d.C., as chamadas ‘noites de delitos’ tornaram-se um problema sério não só nos Estados Unidos, mas também no Canadá. Não está claro como exatamente essa prática de saquear a comunidade na noite de 31 de outubro se transformou em ir de casa em casa pedindo doces em troca de não destruir a propriedade privada. Sabemos que ela já havia se estabelecido no Canadá em 1927 d.C, ano em que um jornal publicou um artigo sobre Blackie, uma cidade em Alberta, onde as crianças iam de casa em casa seguindo esta tradição. Precisamente neste artigo encontramos a primeira aparição da expressão “doces ou travessuras”. As crianças receberam doces e o dono da casa ficou sozinho.

Esta tradição continuou na América do Norte até a década de 1930 d.C, mas foi interrompida durante a Segunda Guerra Mundial devido ao racionamento de açúcar, que diminuiu significativamente a oferta de doces, ressurgindo finalmente no final da década de 1940 d.C. A tradição a que estamos habituados hoje remonta à década de 1950 d.C e tem-se estabelecido sistematicamente também noutros países, seguindo os mesmos princípios básicos.

Hoje, o Halloween não está associado a uma religião específica, é antes considerado uma tradição secular da comunidade, voltada principalmente para os jovens e uma dádiva para as lojas que vendem doces e decorações, bem como para a indústria do entretenimento que distribui filmes, TV shows e livros com temas paranormais.

Muitos neopagãos e wiccanianos modernos continuam a observar os costumes do passado. O tema central do Samhain foi a transformação. O ano passou da luz para a noite, os mortos vagaram pela terra dos vivos ou faleceram, as pessoas se disfarçaram de outras entidades, e outras entidades puderam aparecer como pessoas, animais foram abatidos e transformados em alimento, enquanto grãos, frutas e vegetais foram igualmente transformados em suprimentos para o inverno e a madeira e os ossos queimados nas fogueiras viraram fumaça.

A transformação ainda é uma parte central do Halloween. Máscaras e fantasias transformam quem as usa em outra entidade. Por uma noite, você pode se tornar Darth Vader, um zumbi ou uma Grande Abóbora. Até as máscaras mais conhecidas remetem ao tema da transformação: o lobisomem é um humano que vira animal, o vampiro pode desaparecer na fumaça ou virar morcego, os fantasmas já foram pessoas.

Na Irlanda pré-cristã, a deusa associada ao Samhain era a Morrigan, deusa da guerra e do destino que liderou o seu povo, os Tuatha de Danaan, numa batalha pela liberdade. A Morrigan, em todas as lendas a ela dedicadas, é uma figura transformadora e nas lendas do épico irlandês Cath Maige Tuire, ela transforma o destino de seu povo, tornando-os senhores de suas próprias vidas e não mais escravos de outras forças. A transformação muitas vezes foi assustadora, mas também pode ser inspiradora.

O lobisomem foi desenvolvido em resposta ao medo de ataques de animais, e o vampiro provavelmente ao medo de que os mortos furiosos voltassem para assombrar os vivos. Porém, nesses casos, como em muitos outros, os humanos tinham o poder de matar esses monstros, e suas lendas encorajavam as pessoas a reconhecerem sua própria força diante de circunstâncias difíceis.

As máscaras e tradições atuais do Halloween representam esse mesmo tema e abordam os aspectos mais básicos da condição humana e da antiga observância do Samhain. Os trajes usados representam medos e esperanças, da mesma forma que as pessoas, séculos atrás, usavam máscaras para dissuadir espíritos e experiências indesejadas, antecipando reuniões alegres com entes queridos.

Muitas fantasias representam o medo universal da morte e do desconhecido que, pelo menos por uma noite, é dominado quando você se torna o que normalmente teme, ao transformar você neutraliza esse medo. No seu sentido mais essencial, o Halloween é, ou poderia ser, o triunfo da esperança sobre o medo, que é muito provavelmente o que Samhain significou para os antigos celtas há mil anos.

A tradição a que estamos habituados hoje remonta à década de 1950 d.C e tem-se estabelecido sistematicamente também noutros países.

Marino Rampazzo

Natural de Itapetininga (SP), é formado em engenharia têxtil (Itália), Expert Manager na Gaparin Equipamentos e colunista do Internet Jornal

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LUDOPATIA

O leitor participa: Marino Rampazzo: Artigo ‘Ludopatia – Transtorno do jogo: significado, sintomas e causas’

Marino Rampazzo
Marino Rampazzo
Ludopatia
Ludopatia
Criador de imagens do Bing

Os ‘novos vícios’, ou ‘vícios sem substância, referem-se a uma ampla gama de comportamentos: entre estes encontramos o jogo patológico, as compras compulsivas, o workaholism, os vícios em internet e outros.

Na nova edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – pela primeira vez, juntamente com transtornos por uso de substâncias no capítulo ‘Transtornos relacionados

a substâncias e transtornos de dependência’, o Transtorno de Jogo (TAG), que já havia sido classificado como um transtorno de controle de impulsos.

O jogo patológico também é frequentemente chamado de GAMBLING ou vício em jogo.

O vício do jogo é a incapacidade persistente de gerir e resistir ao impulso de realizar comportamentos destinados ao jogo.

Esses comportamentos, geralmente persistentes e gradualmente intensificados, afetam o funcionamento da pessoa em outras áreas da vida, como família e trabalho.

 O transtorno do Jogo é definido como um problema de comportamento persistente e recorrente relacionado ao jogo que leva a sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo.

O jogo pode ser definido como uma forma de comportamento que envolve apostar dinheiro ou objetos de valor nos resultados de um jogo, corrida ou qualquer outro evento cujo resultado é incerto e determinado por um certo grau de probabilidade.

Os ganhos e perdas em jogos de azar são, pelo menos em parte, atribuíveis ao acaso e não a uma maior ou menor habilidade do jogador (ao contrário dos jogos competitivos).

A etimologia da palavra ludopatia indica que esta palavra parece ser composta por elementos de origem grega e/ou latina: ludo- isto é, relativo ao jogo, e -patia (do grego, termo que indica um estado de sofrimento, doença). O vício do jogo indicaria, portanto, a doença do jogo.

O significado da dependência do jogo como doença do jogo tem sido mais difundido através dos jornais e meios de comunicação social e, posteriormente, também através de projetos promovidos por diversos organismos e associações, com o objetivo de sensibilizar e enfrentar este problema, e através da utilização deste termo em circulares e leis governamentais.

Note-se, no entanto, que a palavra dependência do jogo não é a utilizada em termos técnicos pelos especialistas das áreas psicológica e médica. Embora por vezes utilizado como sinônimo, em termos técnicos e diagnósticos é sempre referido utilizando a definição de ‘Transtorno do Jogo’.

A causa exata do vício do jogo é atualmente desconhecida. Tal como acontece com a maioria das doenças psiquiátricas, acredita-se que o aparecimento da dependência do jogo patológico esteja ligado à interação desfavorável de fatores biológicos, genéticos e ambientais (em particular, no plano relacional, familiar, social e profissional).

Os principais elementos que podem aumentar a probabilidade de se tornarem jogadores ‘problemáticos’ ou patológicos: a presença de outras condições médicas ou distúrbios psiquiátricos, como ansiedade, depressão, transtornos de personalidade (por exemplo, transtorno borderline), alcoolismo ou abuso de substâncias, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e comportamentos compulsivos; idade jovem: a maioria dos jogadores problemáticos ou patológicos está na faixa etária entre 20 e 50 anos; pertencentes ao sexo masculino: os homens têm maior probabilidade do que as mulheres de jogar e desenvolver dependência.

As mulheres tendem a sentir-se menos atraídas pelo jogo e a desenvolver dependência do jogo numa idade mais avançada, geralmente em conjunto com estados depressivos ansiosos, perturbação bipolar, insatisfação, solidão e retraimento social.

Normalmente, as mulheres desenvolvem dependência mais rapidamente do que os homens; história familiar de jogo patológico ou transtornos psiquiátricos que aumentam a propensão a comportamentos impulsivos/compulsivos; tomar medicamentos (agonistas da dopamina) para o tratamento da doença de Parkinson e da síndrome das pernas inquietas, na presença de uma predisposição neurológica específica, não previsível a priori, para desenvolver este efeito colateral; características de personalidade como: espírito marcadamente competitivo, tendência a trabalhar muitas horas por dia sem realmente precisar ou ser obrigado a fazê-lo (workholism), inquietação/hiperatividade, tendência a aborrecer-se rapidamente.

Marino Otello Rampazzo
Natural de Itapetininga (SP), é formado em engenharia têxtil (Itália), Expert Manager na Gaparin Equipamentos e colunista do Internet Jornal

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Do começo ao fim… O meio vale muito mais!

O leitor participa: Luís Manuel, de Luanda (Angola), com a prosa poética ‘Do começo ao fim… O meio vale muito mais!

Luís Manuel

Ninguém sabe por que razão algumas coisas dão certo e outras não.
Porém, eu tenho dito que não precisamos antecipar o resultado
quando podemos aproveitar os pequenos passos.
Tanto faz… se vamos chorar ou então sorrir. Basta-nos saber que uma coisa iremos aprender
e será essencial para o nosso viver

Lembro de quando me apaixonei:
quando sobre a atmosfera do meu coração caiu a estrela que iluminou os caminhos da minha paixão
.… quando achei a direção certa para a pequena aventura do meu coração.
Foi um dos momentos mais especiais da minha vida
Tão nobre sentimento, invadindo o espaço da minha alma querida.

Embarquei na esperança de que no final tudo daria certo

e que, finalmente, teria a mina mais bela por perto.
Era eu. Todo alegre e entusiasmado com uma guitarra na mão… sem nem saber tocar.
Apenas acompanhava o som
e para ela cantava uma canção de amor.

Momentos como esses foram se repetindo.
Várias vezes…
… Vezes e vezes.
Sorrisos eram vistos.
Abraços, sentidos
…Sons, ouvidos.
Todos os dias. Com um lindo semblante de alegria.

Porém, num piscar de olhos, a vida já não sorriu pra mim,
o amor que tanto se almejou… se apartou de mim.
Nessa hora, todos os belos sentimentos que eu carregava foram substituídos:
Desânimo, cansaço. Estresse!
Dor e sofrimento.
… e tudo que não fazia bem.

Sem perceber coloquei sobre o meu barco
o peso da escuridão. Naveguei em direção à trilha solidão.

Então, despertei!
Acordei. Assustei!
Daí me lembrei
Que, às vezes, e mais vezes…
a vida não será conforme o que planeei.
E que o melhor resultado está no caminho a ser percorrido.
Nos bastidores.
O “processo” nos lapidando…
seja qual for o final, o importante é que vivemos os momentos
com a maior alegria.
Intensidade.

Ouvindo sempre a voz do coração,
voltei a carregar os mais belos sentimentos no coração.
Desta vez… com a satisfação
de ter aprendido muita coisa. Uma lição.
Ao procurar um eterno amor,
achei uma nobre amizade.

Na real,
viver é mesmo isso: “aprender para crescer”.
Não precisamos fazer presente a vida futura. Nos basta, na maior simplicidade, viver os pequenos

passos.
Se vai dar certo ou não, apenas se saberá se a gente tentar.
Do começo ao fim…o meio vale muito mais!

Luís o Poeta, Sempre Creia!

Luís Mucau Manuel é escritor, poeta e estudante de Direito pela Universidade Agostinho Neto, em Luanda. Autor do livro Escritos de Sabedoria, publicado no mês de maio do ano 2023.

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