Coisa que só eu ouço

Paulo Siuves: Poema ‘Coisas que só eu ouço’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
Imagem criada por IA do Bing – 08 de julho de 2025, às 19:30 PM

Sempre vi o frio
como poesia sazonal.
Ele chega devagar,
no começo do outono,
cortante e sussurrante —
um frio que as pessoas desprezam,
até que percebem
que não era só um ventinho qualquer,
mas um inverno disfarçado.

De manhã,
o frio contrasta com o brilho generoso do sol,
mas é um brilho gelado,
como o da luz acesa da geladeira —
presença sem calor.

À tarde,
o vento sopra na minha orelha
frases que ninguém mais escuta.
Os outros correm pela avenida,
com seus fones de ouvido,
seus compromissos,
suas camisetas de verão.
E eu,
me encolho
num frio que castiga
os mais frágeis do que eu
— e às vezes, sou eu quem é.

À noite,
um mingau, um caldo,
ou um vinho encorpado,
tinto generoso como as estrelas
que brilham de longe,
trazem algum alento.

Os tecidos de algodão
tentam, em vão, proteger minha pele
desse poema gelado
que o frio insiste em declamar
na minha orelha.

E eu me recolho,
em silêncio,
sob o abrigo dos cobertores,
porque o frio —
o frio não é psicológico, coronel.

Ele só gosta de fingir que é.

Paulo Siuves

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Canção de Outono

Ella Dominici: Poema ‘Canção de Outono’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por Ia do Bing – 05 de junho de 2025,
às 03:57 PM

estou deixando
a chuva que amei e amou
evaporar segura em trovoadas
raios partindo…

chegando o outono sou
as folhas que voam e voltam
à terra tua que fica coberta por mim

não falo do caimento…
Falo da valsa em movimento
que me leva ao vento
e danço um leve frio
refrescar sonoro…

não falo das pessoas
esquecidas tal poeira
nem do tempo
sem eira nem beira

Digo das amareladas que
se avermelham
que são poesias livres

Digo das que se soltam
rubras em pensamentos
sem árvores nem galhos

neste outono me abraço
ao teu poema que
desfolhada me deixa
e sem queixa debruço-me
em teu chão onde sazono-me

Amando-te…

outonemo- nos!

Ella Dominici

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Santo outono

Denise Canova: Poema ‘Santo outono’

Denise Canova
Denise Canova
Criador de imagem do Bing - 05 de maio de 2025,
 às 11:21 PM
Criador de imagem do Bing – 05 de maio de 2025,
às 11:21 PM

Santo outono

Rei do quentinho e do amor

Deixa tudo mais lindo

E me deixou maravilhosa

Pronta para amar.

Dama da Poesia

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Outono

Sandra Albuquerque: Poema ‘Outono’

Sandra Albuquerque
Sandra Albuquerque
Imagem criada por IA no Bing. 31 de março de 2025,  às 08:19 PM
Imagem criada por IA no Bing. 31 de março de 2025,
às 08:19 PM

Hoje amanhecia e você nascia.
Bem-vindo outono querido!
Você traz a brisa suave…
Convida a uma boa música
Acompanhada de um bom ‘Queijo e Vinho’ para os amantes dele.
Noites mais frias e gostosas
Excelentes para um sono tranquilo.
Você é como o crepúsculo:
Avisa que logo a estação dos apaixonados irá chegar.
Sim, eu falo do inverno!
Mas enquanto ele não chega
Você aquece o ambiente.
Já pode limpar a lareira…
Aumentar as almofadas do tapete.
Você pode optar por ler um bom livro
Ou deitar no tapete com as pernas em cima do sofá, ouvindo canções, viajando no tempo.
Que tal uma pipoca e um bom filme?
É outono, outono!
Tenho muitas razões para amar você.
Para muitos, você é nostálgico
E tudo por conta da brisa fria e das folhas que caem e voam, voam e inundam as ruas com os seus coloridos tons pastéis.
Não importo o que pensam de você.
O que importa é que você me inspira a escrever.
É por isto que eu te amo, outono!
E assim…
Vou continuando o meu versejar.

Comendadora poetisa Sandra Albuquerque
Rio de Janeiro, 20 de março de 2025
Entrada do outono, hoje às 06:02 AM

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Fantastic Mr. Fox

Bianca Agnelli:

Fantastic Mr. Fox: Quando o cinema e o outono se encontram em stop-motion

Fantastic Mr. Fox: Quando il cinema e l’autunno si incontrano in stop-motion

Bianca Agnelli
Bianca Agnelli
Fonte: Unsplash

outono na Europa chega com uma graça sutil, quase na ponta dos pés, mas com uma presença que nunca passa despercebida. Na Toscana, as colinas se tingem de tons quentes, os vinhedos explodem em cores e sente-se no ar o aroma inconfundível de castanhas e vinho novo.

Imersa nessa atmosfera muito sugestiva, decidi compartilhar um pouco dessa magia com você, leitor do Jornal Rol, acompanhando-o em uma viagem de outono através de um filme que sempre cativou meu coração. Porque se há um filme que grita ‘outono’ em cada quadro, é sem dúvida Fantastic Mr. Fox (2009) de Wes Anderson. Diga-me que você já viu! E se não viu, bem… por Deus, é hora de remediar!

Imagine isso: tons quentes e envolventes, uma paleta predominante de laranjas, marrons e âmbar que fazem você se sentir imerso em um dia de outono perfeito. Quase como se estivesse pintando uma tela que celebra a estação das folhas caídas, Anderson brinca habilmente com as cores. O modo como vibram na stop-motion é, sinceramente, uma obra-prima visual. Não só pela sua estética impecável, mas porque cada único quadro transborda daquela característica simetria andersoniana que todos amamos.

Mas Fantastic Mr. Fox não é apenas um prazer para os olhos. Os personagens – ah, os personagens! São extravagantes, adoráveis, um pouco malucos, mas incrivelmente cativantes, cada um com seu carisma singular. A história? Baseada no livro de Roald Dahl, mas com um toque de Anderson que a torna uma aventura sofisticada, irônica e, ao mesmo tempo, emocionalmente rica. A raposa, Mr. Fox, se vê tendo que equilibrar sua natureza selvagem com a responsabilidade em relação à sua família, tudo isso em um contexto visualmente hipnotizante e pontuado por piadas sagazes.

Se você está se perguntando por que este filme é a quintessência do outono, basta olhar para o uso das texturas e materiais na stop-motion: a pelagem dos animais que parece quase tangível, as folhas que parecem crocantes sob os pés, as paisagens campestres douradas pelo Sol do final da estação. A realização de Fantastic Mr. Fox foi uma empreitada realmente única. Uma equipe de 140 pessoas trabalhou todos os dias, o ano inteiro, para que isso acontecesse. “Levou sete meses apenas para fazer o primeiro modelo da raposa e depois tivemos que criar 535 bonecos em seis tamanhos diferentes e vesti-los com múltiplos trajes. Wes supervisionou todo o processo, desde os cílios até as pálpebras. Nós até tivemos que inventar agulhas de tricô em miniatura para fazer as roupas.” O animador chefe Andy Gent sobre a produção do filme.

Esse é um dos motivos pelos quais esta película não é apenas um filme, mas uma experiência sensorial que envolve você e o faz sentir parte daquele mundo.

Uma curiosidade interessante é que a trilha sonora foi em parte gravada nos Abbey Road Studios, o famoso estúdio de gravação de Londres, conhecido por suas histórias musicais. É um lugar que viu os Beatles passarem, e agora abrigava um filme animado que celebra um mundo de raposas e fazendas. Além disso, as vozes dos personagens principais foram confiadas a um elenco estrelado, incluindo George ClooneyMeryl StreepBill Murray, cada um contribuindo para dar vida aos personagens de uma forma única e inimitável.

Além de sua beleza visual e narrativa envolvente, Fantastic Mr. Fox teve um impacto significativo na cultura pop. Algumas frases e cenas do filme tornaram-se icônicas, enquanto as citações são frequentemente compartilhadas e reproduzidas nas redes sociais. Os personagens, com seu estilo único e excentricidade, tornaram-se verdadeiros símbolos da estética de Anderson, ajudando a consolidar sua influência no mundo do cinema e além.

Por fim, o filme foi recebido com entusiasmo pela crítica recebendo duas indicações do premio Oscar por Melhor Filme de Animação e Melhor Trilha Sonora, juntamente com uma indicação ao prêmio Golden Globe e duas indicações ao prêmio BAFTA. 

Há uma magia sutil em Fantastic Mr. Fox. Não é apenas entretenimento; é uma viagem visual que convida você a desacelerar, a apreciar os detalhes, a se perder nos tons quentes e nas extravagâncias de personagens irresistíveis. É o filme perfeito para quem ama cinema com personalidade, com uma estética que fica na memória e um coração que bate sob a superfície brilhante.

Se você ama o outono, se ama Wes Anderson, ou se simplesmente quer viver uma hora e meia de pura beleza visual, Fantastic Mr. Fox é o filme para você. Um conselho? Assista em uma noite fresca, talvez com uma coberta e uma xícara de chá, e deixe-se levar por este pequeno universo laranja e dourado.

Bianca Agnelli

Fantastic Mr. Fox: Quando il cinema e l’autunno si incontrano in stop-motion

L’autunno in Europa arriva con una grazia sottile, quasi in punta di piedi, ma con una presenza che non passa mai inosservata. In Toscana le colline si tingono di sfumature calde, i vigneti esplodono di colori e l’aria comincia a profumare di castagne e vino nuovo.

Immersa in questa atmosfera molto suggestiva, ho deciso di condividere un po’ di questa magia con te, lettore del Jornal Rol, accompagnandoti in un viaggio autunnale attraverso una pellicola che ha da sempre rapito il mio cuore. Perché se c’è un film che grida ‘autunno’ da ogni inquadratura, è senza dubbio Fantastic Mr. Fox di Wes Anderson. Dimmi che l’hai già visto! E se non l’hai fatto, beh… per dio, è il momento di rimediare!

Immagina questo: toni caldi e avvolgenti, una palette predominante di arancioni, marroni e ambrati che ti fanno sentire immerso in una perfetta giornata autunnale. Quasi come stesse dipingendo una tela che celebra la stagione delle foglie cadenti, Anderson gioca abilmente con i colori. Il modo in cui vibrano nella stop-motion è, sinceramente, un capolavoro visivo. Non soltanto per la sua estetica impeccabile, ma perché ogni singolo fotogramma trasuda quella caratteristica simmetria Andersoniana che tutti amiamo.

Ma Fantastic Mr. Fox non è solo un piacere per gli occhi. I personaggi – oh, i personaggi! Sono stravaganti, adorabili, un po’ folli, ma incredibilmente affascinanti, ognuno col suo singolare carisma.

La storia? Tratta dal libro di Roald Dahl, ma con un tocco di Anderson che la rende un’avventura sofisticata, ironica e, allo stesso tempo, emotivamente ricca. La volpe, Mr. Fox, si ritrova a dover bilanciare la sua natura selvaggia con la responsabilità verso la sua famiglia, tutto questo in un contesto visivamente ipnotico e punteggiato da battute sagaci.

Se ti stai chiedendo perché questo film è la quintessenza dell’autunno, basta solo guardare l’uso delle texture e dei materiali nella stop-motion: la pelliccia degli animali che sembra quasi tangibile, le foglie che sembrano croccanti sotto i piedi, i paesaggi campestri dorati dal sole di fine stagione. La realizzazione di Fantastic Mr. Fox è stata un’impresa davvero unica. Un team di 140 persone ha lavorato ogni giorno, per un anno intero, per farlo accadere. “Ci sono voluti sette mesi solo per realizzare il primo modello della volpe e poi abbiamo dovuto creare 535 pupazzi in sei diverse dimensioni e vestirli con molteplici costumi. Wes ha supervisionato tutto il processo, fino alle ciglia e alle palpebre. Abbiamo persino dovuto inventare dei mini ferri da maglia per fare i vestiti.” L’animatore capo Andy Gent sulla realizzazione del film.

Questo è uno dei motivi per cui questa pellicola non è solo un film, ma un’esperienza sensoriale che ti avvolge e ti fa sentire parte di quel mondo.

Una chicca interessante è che la colonna sonora è stata realizzata in parte negli Abbey Road Studios, il celebre studio di registrazione di Londra, noto per le sue storie musicali. È un luogo che ha visto passare i Beatles, e ora ospitava una pellicola animata che celebra un mondo di volpi e fattorie. Inoltre, le voci dei personaggi principali sono state affidate a un cast stellare, tra cui George Clooney, Meryl Streep e Bill Murray, ognuno dei quali ha contribuito a dare vita ai personaggi in modo unico e inimitabile.

Oltre alla sua bellezza visiva e alla sua narrazione coinvolgente, Fantastic Mr. Fox ha avuto un impatto significativo sulla cultura pop. Alcune frasi e scene del film sono diventate iconiche, mentre le citazioni sono spesso condivise e riprodotte sui social media. I personaggi, con il loro stile unico e la loro eccentricità, sono diventati dei veri e propri simboli dell’estetica di Anderson, contribuendo a consolidare la sua influenza nel mondo del cinema e oltre.

Infine, il film è stato accolto con entusiasmo dalla critica, ricevendo due candidature agli Oscar per Miglior Film d’Animazione e Miglior Colonna Sonora, insieme a 1 candidatura al premio Golden Globe e 2 candidature ai premi BAFTA.

C’è una magia sottile in Fantastic Mr. Fox. Non è solo intrattenimento; è un viaggio visivo che ti invita a rallentare, a goderti i dettagli, a perderti nei toni caldi e nelle stravaganze di personaggi irresistibili. È il film perfetto per chi ama il cinema con carattere, con un’estetica che ti rimane impressa e un cuore che batte sotto la superficie brillante.

Se ami l’autunno, se ami Wes Anderson, o se semplicemente vuoi vivere un’ora e mezza di pura bellezza visiva, Fantastic Mr. Fox è il film che fa per te. Un consiglio? Guardalo in una serata fresca, magari con una coperta e una tazza di tè, e lasciati trasportare in questo piccolo universo arancione e dorato.

Bianca Agnelli

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Nádia Bagatoli, de Rio do Sul (SC): ‘Outono’

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O outono

O outono
O outono
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Trilha de folhas caídas,
Pelo outono vencidas,
Acolhem os meus pensamentos…
São os caminhos de agora,
Sem as delícias de outrora,
Onde eu sigo os passos lentos.

Na trilha de folhas mortas,
Minha alma bate às portas,
Da crença da esperança…
Agarra-se agonizante,
Ao desejo de um instante,
De ter o fim que avança.

Na trilha das ilusões,
Despedacei corações,
Mas perdi muitos também…
Ficou a melancolia,
Que invade a inebria,
Esse fatal vai e vem.

Ilusões de folhas caídas,
Chances válidas que formam perdidas,
Portas que foram fechadas por preconceitos…
Apelos da mocidade,
As lembranças de andarilhos,
Vão pisando pelas trilhas de folhas secas.

Da inevitável saudade!
Feliz DIA DO OUTONO…
Estação fresca e boa…

Nádia Bagatoli

Nádia Bagatoli
Nádia Bagatoli

Nádia Celestina Bagatoli, natural de Rio do Sul (SC), e residente em Presidente Getúlio (SC), é educadora de Educação Básica.

Na área literária, é Acadêmica Imortalizada da ALB – Academia de Letras do Brasil – Seccional de Presidente Getúlio.

É autora dos livros: ‘Poetizando a Força da Poesia’ (2013); ‘Os Movimentos do Coração’ (2014); ‘O Diário de Naddy: As Rosas e as Lágrimas’ (2015; ‘A Paixão da Poesia e Contos’; ‘Escrevendo Entre Linhas’, e, em breve, o próximo lançamento.

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Profundidade versus superficialidade

Virgínia Assunção:

‘Profundidade versus superficialidade’

Virgínia Assunção
Virgínia Assunção
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Em um desses dias lindos e alaranjados de outono, quando as folhas caem parecendo pequenos colibris cercando as flores, parece que sussurram algo desconhecido para nós. Sentei-me no batente da casa de mamãe que dá para o jardim. A vida, como sempre, estava acontecendo ao meu redor. Meu pai assistindo a alguma coisa na TV e minha mãe perguntando-lhe o que queria para o almoço. O barulho de algumas crianças passando pela rua, correndo e rindo de tudo, completamente imunes às preocupações dos adultos. Nesse momento, em meio a esse cenário cotidiano, me peguei refletindo sobre a profundidade da vida.

     Somos incentivados constantemente a viver com intensidade, a buscar novas experiências que nos transformem, que nos façam pessoas melhores a garimpar nossas almas para nos tornarmos mais autênticos. Essa busca pela profundidade das coisas é praticamente uma obrigação contemporânea. Hoje, temos que meditar, fazer exercícios, terapia, viajar, ler livros complexos, escrever textos mais complexos ainda, fingir muitas vezes que somos o que não somos, que temos um conhecimento que não temos; tudo isso para garantir que estamos vivendo uma vida com sentido, uma vida ‘profunda’.

     Porém, ouvindo o barulho daquelas crianças que riam de tudo, imunes às preocupações, às vaidades, às competitividades vazias dos adultos, compreendi algo, no mínimo, curioso. Elas não se preocupavam, nem mesmo sabiam o significado de profundidade. A alegria para elas, estava exatamente na superfície: no correr, no brincar, no sorrir, no agora. E então, pensei que toda essa espontaneidade não tem como ser necessariamente superficial. Lembrei-me da passagem bíblica, quando Jesus nos ensina que, “quem não se fizer como uma criança, não herdará o reino dos céus. ” Esta sim, é uma sentença profundíssima.

     Acredito que o problema não esteja em viver uma vida ‘superficial’, mas sim, no medo de encarar a simplicidade que encontramos nela. Em acharmos que, se não estamos reiteradamente imersos em questionamentos existenciais, estamos fraquejando. A superficialidade tem sua beleza e sua função, como tudo na vida. É na superfície onde encontramos as flores, o mar, os rios, as pessoas, os cumprimentos de bom dia!, boa tarde!, boa noite!; como vai? É na simplicidade que muitas vezes encontramos o aconchego, o descanso, o afago e o conforto de que precisamos. Qual a necessidade de que todos os momentos sejam notáveis, profundos e cheios de significados?

     Às vezes, nos preocupamos tanto em viver com tanta intensidade que esquecemos que a vida também é para ser leve. E, sem dúvida, há uma leveza na superficialidade que é essencial para entrarmos em contato com o acessível, o descomplicado, o cristalino, o direto, sem subterfúgios. Cantar aquela música brasileira ou francesa que você ama, embaixo do chuveiro, mesmo sabendo que tem a voz desafinada, mas cantada com tanta paixão e simplicidade, que quando percebemos já não estamos mais no superficial, e sim, no nosso mais profundo momento e eles não precisam ser mais do que são, pois já são válidos por si mesmos.

     Evidentemente, que temos que ter cuidado com a superficialidade extrema; eludir da nossa vida os momentos de profundidade, pode sim, levar a um grande vazio. O segredo, portanto, é manter o equilíbrio. Entretanto, também devemos nos dar a permissão de tão somente, simplesmente ser, sem a opressão ou imposição de estar sempre buscando algo maior.

     E ao me levantar daquele batente na casa da minha mãe, percebi quão boa é a superficialidade, pois abraçando-a, abraço também, paradoxalmente, a profundidade. Nossa vida é feita de momentos profundos e de instantes superficiais, e cada um com o seu valor no grande aglomerado de acontecimentos da nossa existência. E talvez, só talvez, ao entender a superficialidade, descobriremos uma nova profundidade em cada momento vivido.

Virgínia Assunção

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