Competência comunicacional
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo:
‘Competência comunicacional’
O paradigma comunicacional pressupõe competência, porque se trata de um processo permanentemente vivenciado pelas pessoas, na medida em que estas ocupam parte significativa do seu tempo a comunicar, seja qual for o tipo de linguagem utilizado: verbal e/ou não-verbal, o que contribui para a ocorrência de situações problemáticas, ou solucionadoras de questões diversas, quantas vezes resultantes da comunicação incompetente: porque ambígua; porque agressiva; porque manipuladora; porque passiva.
Ser competente na comunicação impõe, desde logo, aos vários interlocutores, uma atitude comunicacional assertiva, isto é, pela positiva, pelo respeito, pela verdade, pela tolerância, pelo diálogo, que conduzem a um resultado do tipo ganha/ganha, ou seja, nenhum dos intervenientes perde tudo, mas também nenhum deles ganha tudo, porque todos cedem a favor de todos.
Analisada a comunicação por esta perspectiva, reconhecendo-se, embora, não ser a única possível, o conceito de competência comunicacional envolve o princípio do diálogo, com as características referidas e o resultado previsível, segundo a fórmula do “ganha/ganha”. Uma comunicação, onde existe diálogo, que atinja aquele resultado, pode considerar-se competente.
Naturalmente que para haver competência na comunicação, para além do recurso ao diálogo assertivo, que incluirá uma escuta ativa e um retorno inequívoco da compreensão dos temas, abordagens, informações, ordens e conclusões, trazidas ao processo, é indispensável que se desenvolvam outras competências, envolventes ao ato comunicacional, supondo que este utiliza os dois tipos de linguagem: verbal e não-verbal. Assim, por exemplo, é importante, na competência comunicacional, o domínio de competências técnicas, intelectuais, cognitivas, relacionais, sociopolíticas, didático-pedagógicas, metodológicas, entre outras.
A comunicação é, apenas, uma das muitas dimensões humanas, logo, a sua eficácia, seguramente, vai depender da competência com que são exercidas as múltiplas dimensões da pessoa, todavia, mesmo na dimensão espiritual, portanto, inefável, imaterial e subjetiva, é possível ser-se competente, se forem atingidos resultados que proporcionem bem-estar individual e coletivo, independentemente de serem ou não quantificáveis.
Avaliar, através de um determinado equipamento e/ou instrumento, com uma unidade de medida universalmente reconhecida e validada, resultados que envolvem dimensões subjetivas do homem, é uma tarefa discutível: como medir a felicidade, o amor, a tristeza, a alegria? O resultado da dimensão religiosa do indivíduo, como deverá ser expresso: quantidade de orações, de penitências, de atos de caridade, participação em cerimónias litúrgicas, em rituais?
Muito difícil, polémica e inconclusiva, seria a discussão sobre uma análise objetiva, expressa em resultados concretos, medíveis e universais, em domínios que envolvem grande subjetividade. Apesar de todas as dificuldades, cada pessoa poderá entender determinadas situações, acontecimentos e factos como um resultado, obtido através das suas intervenções competentes.
Neste enquadramento conceptual é possível ser-se competente, ou incompetente, também na comunicação interpessoal. Conclui-se, então, sobre as vantagens da comunicação competente, qualquer que seja a atividade, objetivos e intervenientes.
O resultado a que se chega, através do diálogo, numa negociação, será, pelo menos em parte, consequência da competência comunicacional e argumentativa, de cada interveniente. Obviamente que nem toda a capacidade persuasiva, nem os argumentos, aparentemente, mais poderosos, podem fazer vencimento, perante um interlocutor que, de igual forma, tem as suas razões que considera verdadeiras, adequadas e as melhores, para a resolução do conflito em apreço.
Encontrar o ponto de equilíbrio pode revelar-se um caminho difícil que, uma vez mais, um diálogo assertivo, em todos os seus sentidos, incluindo aqui a atitude conciliadora, tolerante e democrática, conjugada com a capacidade de cada uma das partes interessadas se colocar no papel da outra.
A perspectiva poderá ser a competência de se implementar a estratégia do “ganha/ganha”. Ser competente significará, então, aceitar a distribuição equitativa e justa dos recursos disponíveis, e/ou dos valores em discussão.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal