Exposição ‘Nhe’ẽ Porã: memória e transformação’

Museu da Língua Portuguesa leva exposição ‘Nhe’ẽ Porã: memória e transformação’ à sede da UNESCO, em Paris

Pássaros de madeira criados a partir de desenhos de Daiara Tukano farão parte da mostra
Foto: Gabriel Barrera
Pássaros de madeira criados a partir de desenhos de Daiara Tukano
farão parte da mostra

Mostra sobre as línguas indígenas do Brasil ocupará o Hall Ségur de 14 a 26 de março

A exposição Nhe’ẽ Porã: memória e transformação chega a Paris para uma curta temporada no Hall Ségur da sede da UNESCO, entre 14 e 26 de março. A mostra, originalmente montada no Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, destaca a diversidade das línguas e as histórias de resistência dos povos indígenas no Brasil. Na capital francesa, a exposição estará em cartaz durante o encontro do Conselho Executivo da UNESCO, que reunirá representantes de 58 Estados-membros e 195 observadores de todo o mundo. 

Com curadoria da artista indígena e mestre em Direitos Humanos Daiara Tukano, a exposição Nhe’ẽ Porã: memória e transformação marcou o início das celebrações da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) no Brasil, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenada pela UNESCO em todo o mundo.  

A mostra em Paris conta com patrocínio do Instituto Guimarães Rosa, do Ministério das Relações Exteriores, e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Tem articulação e patrocínio do Instituto Cultural Vale e cooperação da UNESCO. Nhe’ẽ Porã: memória e transformação é realizada pelo Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo. 

Além da exposição, acontecerá o evento Línguas Indígenas da América do Sul: memória e transformação no prestigioso Collège de France, no dia 15 de março. O ciclo de debates é organizado pelo Laboratoire d’Anthropologie Sociale (LAS), Collège de France, e pelo Museu da Língua Portuguesa, com patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), da Embaixada da França no Brasil, da Comissão Francesa para a UNESCO e do Instituto Cultural Vale. Conta, ainda, com o apoio do Museu de Arqueologia e Etnografia da Universidade de São Paulo (USP), da Embaixada do Brasil na França. 

“A cultura não existe sem a diversidade, por isso essa mostra é tão importante. Reconhecemos a relevância de celebrar as múltiplas experiências no panorama cultural e exportar nossa rica herança para que outros lugares conheçam um pouco mais da nossa história”, declara a secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, Marilia Marton. 

Nhe’ẽ Porã: memória e transformação propõe um mergulho na história, memória e realidade atual das línguas dos povos indígenas do Brasil. A exposição busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades desses povos, trazendo à tona suas trajetórias de luta e resistência, assim como os cantos e encantos de suas culturas.  

O título da exposição vem da língua Guarani Mbya: nhe’ẽ significa espírito, sopro, vida, palavra, fala; e porã quer dizer belo, bom. Juntos, os dois vocábulos significam “belas palavras”, “boas palavras” – ou seja, palavras sagradas que dão vida à experiência humana na terra.  

O projeto contou com a participação de cerca de 50 profissionais indígenas, entre artistas plásticos, cineastas, acadêmicos, educadores e influenciadores digitais. Além da curadoria de Daiara Tukano, tem cocuradoria da antropóloga Majoí Gongora; consultoria especial de Luciana Storto, linguista especialista no estudo de línguas indígenas; em diálogo com a curadora especial do Museu da Língua Portuguesa, Isa Grinspum Ferraz. 

“A língua é uma parte fundamental de quem somos. É um veículo de expressões humanas e um meio fundamental para que as pessoas tenham acesso à cultura, à justiça e à educação. A UNESCO tem o prazer de sediar esta exposição dedicada aos povos indígenas e suas línguas, aumentando a conscientização sobre suas culturas e resiliência contra todas as adversidades”, afirma o diretor-geral adjunto de Cultura da UNESCO, Ernesto Ottone R. 

“A exposição Nhe’ẽ Porã marcou o início do desenvolvimento do eixo temático sobre línguas indígenas no Museu da Língua Portuguesa. Trata-se de aprofundar as pesquisas e realizar ações continuadas com foco na influência das línguas dos povos originários no português do Brasil. A mostra destaca a perspectiva multilíngue, a diversidade e a urgência de preservação das milhares de línguas autóctones faladas no Brasil e em todo o mundo. A exposição, que chega à sede da UNESCO em Paris, celebrando a Década Internacional das Línguas Indígenas; e o colóquio internacional no Collège de France, com especialistas indígenas e não indígenas, demarcam a excelência da mostra e a grande relevância do tema hoje”, afirma Renata Motta, diretora executiva do Museu da Língua Portuguesa. 

Nhe’ẽ Porã é uma exposição necessária e urgente. Ela possibilita, àqueles que a visitam, aprofundar-se no universo dos povos originários brasileiros: são mais de 267 povos, falantes de mais de 150 línguas diferentes. Ao articularmos e apoiarmos a realização da exposição junto ao Museu da Língua Portuguesa e à UNESCO, contribuímos para significar ainda mais a Década Internacional das Línguas Indígenas. A itinerância de Nhe’ẽ Porã dá sequência ao movimento de circulação da exposição em 2024, possibilitando que mais pessoas conheçam sobre os povos originários e, assim, reflitam sobre diferentes formas de criar, viver e conviver”, diz o diretor presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto. 

“A exposição Nhe’ẽ Porã: memória e transformação é uma oportunidade de aproximação do público internacional à diversidade brasileira e às potencialidades dos povos indígenas. Nosso objetivo é que o mundo conheça a riqueza cultural e produtiva abrigada nas nossas florestas. Produtos como açaí, cacau, castanhas, óleos essenciais e artesanato indígena, frutos de tradições milenares, podem ser consumidos internacionalmente, configurando uma alternativa à exploração predatória, que contribui para a manutenção da floresta em pé”, afirma Jorge Viana, presidente da ApexBrasil. 

“O colóquio internacional ‘Línguas indígenas da América do Sul: memória e transformação’, a ser realizado no Collège de France, com o apoio da FAPESP, reveste-se de grande importância, pois está inserido nas celebrações da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032). Além disso, ele integra o conjunto de iniciativas que a Fundação apoiará para fazer dessa década um marco nos estudos e na preservação das línguas indígenas faladas no Brasil”, comenta Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP. 


A exposição na sede da UNESCO
 
Para ocupar o Hall Ségur, foi pensado um recorte especial da exposição original, com destaque para obras e pesquisas realizadas exclusivamente para a mostra. Na entrada da exposição, os visitantes vão passar por uma instalação composta por árvores, desenhadas por Daiara Tukano e feitas de tecido, que representam as grandes famílias linguísticas faladas pelos povos indígenas no Brasil, podendo ouvir registros sonoros de línguas das famílias Tupi, Macro-Jê, Pano, Aruak, Karib e Tukano e das línguas isoladas Arutani e Yaathe.  

O mapa Terra de muitos cantos – famílias linguísticas originárias das Américas ilustra o continente americano de uma forma incomum, de cabeça para baixo, destacando, portanto, a América do Sul. O mapa apresenta a localização das centenas de línguas faladas até hoje na região. A obra foi produzida especialmente para a exposição a partir do cruzamento de várias fontes de pesquisa sobre línguas indígenas na região. 

A instalação visual Chuva de Palavras – projeção de um poema de Daiara Tukano traduzido para várias línguas indígenas, com vídeo mapping desenvolvido pelo Estúdio Bijari – também estará presente. 

Haverá a exibição da animação Resistência Indígena, também de autoria da curadora em parceria com Estúdio Bijari, que denuncia o impacto da colonização no Brasil desde 1500 sobre as línguas originárias. A obra associa os conflitos e perseguições sofridos pelos povos indígenas com o desaparecimento de suas línguas, até os dias de hoje, em que restaram 175 ainda faladas no Brasil.    

O espaço apresentará, ainda, a obra audiovisual Marcha dos Povos Indígenas, sob direção do cineasta Kamikia Kisêdjê, e uma linha do tempo que traz à tona históricos de contato, violência e conflito decorrentes da invasão dos territórios indígenas desde o século 16 até a contemporaneidade. A linha do tempo também ressalta as transformações das línguas indígenas, destacando a resiliência, a riqueza e a multiplicidade das formas de expressão dos povos indígenas. 

Uma experiência interativa com a versão virtual de Nhe’ẽ Porã: memória e transformação, conforme montada em São Paulo, estará disponível no Hall Ségur para o público conhecer mais sobre a exposição original, que ficou em cartaz de outubro de 2022 a abril de 2023, no Museu da Língua Portuguesa, atraindo mais de 189.000 visitantes.  

A exposição viajante 
Em 2024 no Brasil, a exposição também está sendo exibida no Museu Paraense Emílio Goeldi (Belém) até 28 de julho e passará, ainda, pelo Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro) e o Centro Cultural Vale Maranhão (São Luís). O projeto original contou com articulação e patrocínio máster do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet – e parceria do Instituto Socioambiental, Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Museu Paraense Emílio Goeldi e Museu do Índio da FUNAI. 

O colóquio no Collège de France  
A passagem da exposição pela França será associada ao colóquio internacional Línguas indígenas da América do Sul: memória e transformação, a ser realizado no dia 15 de março no Collège de France, uma das mais importantes instituições de pesquisa da França. O encontro é organizado pelo Museu da Língua Portuguesa, a USP e o Laboratório de Antropologia Social (LAS) do Collège de France, com parceria da FAPESP e presença do presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago. 

Das 9h às 18h, pesquisadores e interessados no tema línguas indígenas poderão participar de mesas redondas com a presença de Daiara Tukano;  de Altaci Rubim Corrêa Kokama e Joziléia Kaingang, integrantes  da delegação do Ministério dos Povos Indígenas; de Fernanda Kaingang, diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas; de Mairu Hakuwi Kuady, pós-graduando em Direitos do povo Karajá; de Clarisse Taulewali da Silva, artista do povo Kali’na e representante da Jeunesse Autochtone de Guyane (JAG); de Phillipe Descola, professor emérito do Collège de France e um dos principais nomes da antropologia da sua geração; além de renomados antropólogos do LAS e outras universidades francesas como Andrea-Luz Gutierrez-Choquevilca, Pierre Déléage, Emmanuel de Vienne, Cédric Yvinec e Capuciine Boidin; e Majoí Gongora e Luciana Storto, pesquisadoras da Universidade de São Paulo.  

O evento será aberto e gratuito a todos os públicos, sem a necessidade de inscrição prévia, sujeito à lotação da sala onde ocorrerão as mesas redondas. 

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Sobre o Museu da Língua Portuguesa 
Localizado na Estação da Luz, no centro de São Paulo, o Museu da Língua Portuguesa tem como tema o patrimônio imaterial que é a língua portuguesa e faz uso da tecnologia e de suportes interativos para construir e apresentar seu acervo. O público é convidado para uma viagem sensorial e subjetiva, apresentando a língua como uma manifestação cultural viva, rica, diversa e em constante construção.  

O Museu da Língua Portuguesa é um equipamento da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, concebido e implantado em parceria com a Fundação Roberto Marinho. O IDBrasil Cultura, Esporte e Educação é a Organização Social de Cultura responsável pela sua gestão.  

Instituto Guimarães Rosa – MRE  
O Instituto Guimarães Rosa (IGR) é a unidade do Ministério das Relações Exteriores responsável pela diplomacia cultural brasileira. O conceito de diplomacia cultural empregado pelo governo brasileiro refere-se à promoção do interesse nacional no campo da política externa por meio de ações nos campos da cultura, da educação e da língua portuguesa no exterior.  

Como parte de suas atribuições voltadas à promoção da vertente brasileira da língua portuguesa no exterior, as unidades do IGR promovem atividades para comunidades brasileiras residentes em outros países, como cursos de Português como língua de herança para expatriados. Também oferecem cursos de língua portuguesa para estrangeiros e aplicam o exame CELPE-Bras, destinado à comprovação da proficiência no idioma português do Brasil. Além disso, as unidades do IGR oferecem cursos de dança, música, culinária e artes plásticas, entre outras atividades ligadas à promoção da cultura brasileira. 

ApexBrasil 
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) tem como missão impulsionar as exportações de produtos e serviços do Brasil no mercado internacional, além de atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia do país. A montagem da exposição Nhe’ẽ Porã: memória e transformação, em Paris, está alinhada com um dos objetivos atuais da Agência: promover internacionalmente a cultura e os produtos das florestas brasileiras, que geram desenvolvimento sustentável para as comunidades locais. 

A ApexBrasil tem desenvolvido uma série de iniciativas para levar pouco da biossociodiversidade brasileira para o mundo, valorizando os produtos e os povos que mantêm a floresta em pé.  Em 2023 um grupo de compradores internacionais foi convidado a conhecer os produtores de alguns alimentos nativos, como açaí, cacau e castanhas. O Exporta Mais Amazônia gerou mais de R$ 50 milhões em negócios, que serão reinvestidos na região.  Cuidar da Amazônia também passa por valorizar os produtos sustentáveis que geram prosperidade para quem vive e cuida desse patrimônio da humanidade. 

Instituto Cultural Vale 
O Instituto Cultural Vale acredita que a cultura transforma vidas. Por isso, patrocina e fomenta projetos em parcerias que promovem conexões entre pessoas, iniciativas e territórios. Seu compromisso é contribuir com uma cultura cada vez mais acessível e plural, ao mesmo tempo em que atua para o fortalecimento da economia criativa. 

Desde a sua criação, em 2020, o Instituto Cultural Vale já esteve ao lado de mais de 800 projetos em 24 estados e no Distrito Federal, contemplando as cinco regiões do país. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com visitação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está.  

Visite o site do Instituto Cultural Vale: institutoculturalvale.org 

SERVIÇO  
Exposição itinerante Nhe’ẽ Porã: memória e transformação – Paris 
No Hall Ségur, na sede da UNESCO (7 place de Fontenoy 75007) 
De 14 a 26 de março  
De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h 
Grátis 

Tela pintada por Daiara Tukano para a exposição Nhe'ẽ Porã: Memória e Transformação
Foto: Gabriel Barrera
Tela pintada por Daiara Tukano para a exposição Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação

Instalação "Chuva de Palavras" estará na exposição em Paris
Foto: Gabriel Barrera
Instalação ‘Chuva de Palavras’ estará na exposição em Paris

Obra de Paulo Desana faz parte da exposição
Obra de Paulo Desana faz parte da exposição

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Amar o próximo, talvez respeitá-lo…

Elaine dos Santos

Crônica ‘Amar o próximo, talvez respeitá-lo…’

Elaine dos Santos
Elaine dos Santos
"Paris dos becos, das vielas, em que se mesclavam a pobreza extrema e a aristocracia"
“Paris dos becos, das vielas, em que se mesclavam a pobreza extrema e a aristocracia”
Microsoft Bing – Imagem criada pelo designer

Quando Napoleão III e Georges-Eugène Haussmann resolveram ‘limpar’/higienizar Paris, fazendo-a a Cidade Luz que é hoje, entre os anos de 1853 e 1870, veio abaixo a Paris dos becos, das vielas, em que se mesclavam a pobreza extrema e a aristocracia.

Naquele momento, os dois “demolidores” da velha cidade pensavam que era preciso retirar os pobres do núcleo central, conduzindo-os a morar a quilômetros de distância dos ricos, evitar levantes populares, assim como conter a disseminação de doenças (era muita sujeira, de fato, entre pobres e entre ricos).

Em 1857, um poeta expressou o mal-estar que tudo isso causava. Charles Baudelaire, que se tornou um dos grandes ícones da literatura mundial. Um dos seus poemas em prosa, “Os olhos dos pobres“, define um pouco do que se vê por aqui ainda hoje.

Temos visto inúmeras cenas em que pessoas – que se acham – ricas demonstrarem asco, nojo e expressarem violência contra os pobres.

Em “Os olhos dos pobres”, Baudelaire trata dessa suposta superioridade que alguns mais abastados financeiramente acreditam ter: um jovem casal transita pela Paris em reformas e mostra-se encantado.

Eis que eles resolvem adentrar em um café, em que se destacam sinais de reforma, mas que já apresenta traços de modernidade – é um local, pois, em transição. O casal senta-se em um espaço que dá acesso ou que permite ver a rua.

Surgem, então, um homem na faixa dos 40 anos, que traz um menino pela mão e carrega outro pelo braço. Todos em farrapos. Eram seis olhos que contemplavam a grandiosidade do café, o que incomoda seriamente a jovem.

Tem-se então a voz do homem apaixonado (o eu lírico do poema): “Dizem os cancionistas que o prazer torna a alma boa e amolece o coração. Não somente essa família de olhos me enternecia, mas ainda me sentia um tanto envergonhado de nossas garrafas e copos, maiores que nossa sede.”

Ele prossegue os seus versos: “Voltei os olhos para os seus, querido amor, para ler neles meu pensamento; mergulhava em seus olhos tão belos e tão estranhamente doces, nos seus olhos verdes habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando você me disse: ‘Essa gente é insuportável, com seus olhos abertos como portas de cocheira! Não poderia pedir ao maître para os tirar daqui?’

Como é difícil nos entendermos, querido anjo, e o quanto o pensamento é incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!”

Ao iniciar o poema, o eu lírico já havia avisado que passara a odiar aquela mulher “impermeável” à dor do outro.

Gente insensível, gente omissa, gente sem noção sempre existiu. De tempos em tempos, eles apenas tomam coragem e erguem a voz.

Algumas pessoas, no Natal, distribuem presentes, brinquedos, alimentos para saciar a consciência e seguem as suas vidas.

Algumas pessoas esquecem que pessoas humildes, pessoas solitárias também sentem fome, medo, solidão, tristeza, saudade e ignoram-nas não apenas nas festas do final de ano, mas o fazem durante todo o ano.

O período que se seguiu às principais publicações de Baudelaire foi marcado por grandes evoluções tecnológicas, mas pouca valorização humana, tanto que, na Europa, emerge o chamado Decadentismo, um desconforto literário diante do descompasso entre o progresso econômico e a pobreza das gentes.

Pensei nisso porque, na véspera de Natal, houve um afogamento numa prainha na minha cidade. O rapaz, 19 anos, era arrimo de família. As buscas somente alcançaram êxito na manhã do dia 26 de dezembro, ou seja, o dia de Natal foi marcado pela angústia da família e pela animação na prainha.

Meu sincero desejo que 2024 nos encontre mais permeável aos sentimentos do outro, tanto aquele que nos é caro, como nossos familiares, com o estranho, que tem família, que tem pessoas que lhe amam.

Elaine dos Santos

Contatos com a autora

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Humberto Napoleón Varela Robalino: 'Te amo París'

Humberto Napoleón V. Ribalino

Te amo París

Imagem gratuita por: Pixabay.com (https://pixabay.com/pt/photos/paris-restaurantes-caf%c3%a9-fran%c3%a7a-4694708/)

Buenas noches París!

desde lo alto de la escalinata de Montmartre

te contemplo:

tu verano de chocolate engolosinan mis ojos

llenas mis orejas con los lenguajes

que te habitan.

 

 El pañuelo rojo en el pecho

“baila al compás del corazón”

 

Los picos de las botellas de Blume Nau

hablan de los amores tormentosos.

Entre el claroscuro de mi bigote

una luna llena sonríe.

 

Racimos de minifaldas florecidas

desfilan al filo de la noche

un avispero de tatuajes

zumban bajo los faroles.

 

De los tejados bajan gatos melindrosos

a cazar sombras voluptuosas

en las riberas del Sena.

 

En el horizonte titilan gigantes girasoles

mariposas que se acercan a la luz

servilletas manchadas de poemas de desamor

más allá sonidos de besos atrevidos.

 

Te amo París

con la redondez de la alegría

que llena mi reloj de arena.

 

Mientras fumo mi pipade madera dulce

las bocanadas de humo

me traen el viejo tren

en el que viajé por primera vez siendo niño.

 

Desde la ventana de la casona azul

del escalón 41 de Montmartre

Madame Moreau

me llama por mi nombre…

 

Buenos días París!

 

 

Humberto Napoleón V. Robalino

Quito-02-marzo-2022

 

 

 




Fabio Ávila: 'Vive la France!! Acorda Brasil!!'

Fabio Ávila

  

  Vive la France!! Acorda Brasil!!

Após um voo tranquilo e sem sobressaltos encontro-me, novamente, no Aeroporto Internacional da Capital Francesa. A sensação, dessa vez, foi totalmente diferente das que me ocorreram em outros momentos em que seguia para a nação onde formei parte da minha personalidade. Tudo pareceu-me familiar. As facilidades começaram quando, no aeroporto, eu pude utilizar a tecnologia e através de meu celular entrar em contato com meu filho que lá reside, sem ter que trocar o chip do aparelho.

As opções de transporte e locomoção do aeroporto para o centro da cidade, mais exatamente ao lado do Teatro da Ópera, eram várias: trem urbano, metrô, ônibus especiais, táxis e veículos que prestam serviços através de aplicativos.

Optei pelo ônibus, que me daria a oportunidade de, em pleno domingo, ter o contato visual com esta volta a Paris.

O custo de transporte do aeroporto às localidades centrais é inferior ao praticado na Capital Paulista. Chego com a primeira impressão de que efetivamente o Brasil é um país caro que presta maus serviços aos seus habitantes.

Em meia hora, encontro-me no ponto final do ônibus e consigo dialogar com o proprietário de um pequeno teatro, ao lado, o qual oferece-me o código de seu wi-fi e novamente volto a comunicar-me. Chega meu filho para encontrar-me e sigo para o local para onde deveria hospedar-me por cerca de 30 dias.

Após revê-lo, prevejo e organizo a minha estada nestes 30 dias de liberdade relativa. Nos primeiros dias, a minha intenção, realizada, era a de rever pontos culturais, as espetaculares edificações históricas, os inúmeros parques e praças existentes na cidade e, sobretudo, o contato com a gastronomia local onde a comida não é cara, porém os serviços de gastronomia são bastante altos.

Devo ter caminhado, por dia, cerca de dez quilômetros, continuadamente. Relaxei e pensei profundamente no sentido do Viver, no espetacular Cemitério Père Lachaise e, ao mesmo tempo, adentrei a Universidade de Paris (Sorbonne) onde, por cinco anos, fui induzido ao pensamento mais cartesiano.

Entretanto descobri que eu poderia ir ao porto de Marselha, a 776 quilômetros de Paris, no trem rápido (TGV,) que leva duas horas e trinta minutos para percorrer tal distância. Um verdadeiro espetáculo da civilização em país do primeiro mundo. A passagem, por incrível que pareça, custou-me cerca de 70 reais. Em um horário bastante inapropriado, pois o trem saia às seis da manhã da estação ferroviária Gare de Lyon.

Durante o trajeto eu vi a França totalmente verde, com seus pequenos castelos incrustados em rochas, com vastas planícies com ovelhas e gado bovino pastando e bosques verdejantes.

Cheguei em Marselha às nove horas da manhã e caminhando fui até o denominado Vieux Port (Porto Velho). O azul celeste e o tom anil do mar fizeram-me parar em um pequeno bar e encomendar dois cafés expressos e dois croissants e, neste momento, tive a sensação de estar livre, sem compromissos laborais porém com o seríssimo compromisso comigo mesmo: tinha alguns dias para ser feliz!

De volta a Paris, continuei minhas andanças e descobertas pois a cidade é tão encantadora que você tem sempre a impressão de ser a primeira vez. Embora, há muitos anos atrás, eu tenha seguido para lá viver e fazem quase cinco décadas que frequento esta urbe que sempre me oferece novidades. Isso ocorreu em janeiro de 1973.

Ao buscar as facilidades para continuar dentro do espírito de pesquisa que estava tendo para vislumbrar um futuro diferenciado, consegui uma passagem baratíssima para Lisboa.

A Capital Portuguesa emociona-me pelo zelo com que cuida de seu patrimônio, de suas áreas verdes e como facilita o transporte urbano aos usuários.

Por incrível que pareça, um café expresso em Lisboa custa menos caro que em São Paulo. Isto lembrando que o Brasil exporta o seu café para ser consumido em Portugal.

Ou seja, há algo muito errado no país em que vivo. O transporte urbano é caótico, a destruição do patrimônio arquitetônico é constante, nossas ruas estão forradas de mendigos e a insegurança tomou conta desta nação: são mais de 60 mil assassinatos (homicídios declarados por ano). Que país é esse?

Voltei de Lisboa para Paris e busquei visitar as maravilhas existentes no entorno da grande cidade: Compiègne e seu parque espetacular, Saint-Germain-en-Laye e todos os locais históricos onde centenas ou milhares de pessoas se estendiam pelos imensos gramados para fazer o seu piquenique dominical. Ninguém temia ser roubado ou ter o seu celular desaparecido sem que percebesse.

Estou de volta ao Brasil há apenas três dias. Vejo o meu país ainda em ebulição. Porém estou entre os otimistas que acreditam que teremos um horizonte menos turvo do que o ocorrido nos últimos 30 anos.

Vive La France!!! Acorda Brasil!!www.fabioavilaartes.com.br www.facebook.com/belavistacultural




Fabio Ávila: 'Paris na linha do tempo'

Fabio Ávila em Paris

O colunista do ROL em Paris



Às pressas me locomovi até o aeroporto internacional de São Paulo. O cansaço, resultado do grande numero de viagens incessantes pelo território brasileiro não permitiu-me gozar daquele precioso momento de uma retirada momentânea do quotidiano, interessante porém massacrante,que me propiciaria buscas de novos horizontes para o meu universo editorial e cultural.

O voo, tranquilo pela noite adentro e rumo ao Velho Mundo, levou-me ao fantástico aeroporto Charles de Gaulle-Roissy onde, tranquilamente e ainda sonolento, aguardei a chegada da mala, sem alça, que não suportou o peso dos livros em seu interior.

Ao perceber que a conexão por internet, wi-fi gratuito, disponibilizada no aeroporto me permitiria dialogar virtualmente com meu filho, resolvi então degustar meu primeiro café expresso em território gaulês.

Tomei a seguir o ônibus que me conduziria ao coração de Paris, junto ao espetacular Théatre National de l’Opéra.

Tudo fluiu tranquilamente e em meu labirinto sentimental senti o reencontro com a Cidade Luz, ponto de referencia em minha formação intelectual e humana.

Ao chegar meu filho, seguimos para o bairro onde eu encontraria o charmoso local onde me hospedaria por um mês.

O simpático proprietário do charmoso apartamento  deu-me dicas de como usufruir das facilidades e dos encantos daquele bairro nobre da capital francesa. Estaria então mergulhando no labirinto de minha existência quando, com apenas 19 anos de idade , adentrei a alma parisiense. Isso ocorreu em 1973, há 46 anos …

Após ter as chaves do apartamento e liberar-me do peso das bagagens, fui festejar, em um simpático café-bar tipicamente parisiense, o reencontro tão esperado com meu único filho e melhor amigo .Brindamos assim o reencontro, “les retrouvailles”…

Ao seguir meu filho para sua casa, senti a sensação estimulante e profunda de encontrar-me novamente na mais excêntrica, exótica, misteriosa e fantástica capital do planeta Terra. Terra de pensadores, de amantes da cultura…Terra de inspiração do genial escritor português Eça de Queiroz, de Émile Zola, de Honoré de Balzac ou de Hemingway que, entre tantos outros amantes da vida e da cultura, se tornaram imortais através de suas obras que transitam na busca da percepção da complexidade da essência humana.

 

 

 




Artigo de Reinaldo Canto: 'Negociadores apresentam primeira versão do acordo de Paris'

Texto tem os elementos cruciais para negociação dos detalhes finais

Negociadores apresentam primeira versão do acordo de ParisPor Reinaldo Canto, especial de Paris para a Envolverde

 

Os negociadores presentes à COP 21 cumpriram o prazo previsto e divulgaram na manhã de sábado, 05/12, o esboço para as negociações finais do novo acordo climático. O texto deverá ser assinado pelos representantes de mais de 190 países até o final da próxima semana.

O documento apresentado tem 48 páginas e numerosas anotações. Resultado das atividades do Grupo de Trabalho Ad Hoc da Plataforma de Durban para uma Ação Reforçada (ADP), o texto mantém importantes variáveis em aberto para a negociação final. “Todos os elementos que consideramos cruciais estão mantidos nessa primeira versão do acordo”, analisa Pedro Telles, coordenador do projeto Mudanças Climáticas do Greenpeace Brasil. “Como tudo ainda está na mesa, não será fácil que [todos esses elementos] continuem até o final.”

Os ministros e demais autoridades dos países encarregadas da negociação ainda têm muito trabalho até a semana que vem. Embora não seja unânime, prevalece uma expectativa otimista entre as delegações.

São pontos-chave, que ainda requerem muita negociação, a definição dos mecanismos de financiamento de ações que descarbonizem a economia do planeta, e os prazos para cumprimento das metas de redução de emissões de gases-estufa – as INDCs (Intended Nationally Determined Contribution), sigla para as contribuições nacionalmente determinadas por cada país.

O que emperra a negociação, naturalmente, é determinar quem vai pagar a conta da transição para uma economia com reduzidas emissões de carbono. Os países mais pobres e em desenvolvimento continuam a pressionar para que os ricos assumam a maior parte dos custos. A definição da quantidade e da forma de repasse dos recursos tem impacto também na questão dos prazos: permanece incerta a revisão das metas (INDCs) a cada cinco anos.

O cumprimento do prazo e o otimismo das delegações autorizam o tom afirmativo da secretária-executiva da Convenção sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), Christiana Figueres, no início dos trabalhos no Le Bourget. Segundo ela, não temos com que nos preocupar, pois o acordo vai sair e será legalmente vinculante, ou seja, com força para ser cumprido. Fechar esse acordo, segundo ela, exige uma negociação final cuidadosa envolvendo as lideranças políticas mundiais, pois “nunca tanta responsabilidade esteve nas mãos de tão poucos”.

Teremos agora mais uma semana de expectativa, para os acertos finais, em busca de um acordo satisfatório, que contemple os interesses de toda a humanidade.

Leia o documento oficial aqui(#Envolverde)

* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.