O que vai pelas cidades
Sandra Albuquerque: ‘O que vai pelas cidades’
Cidade, cidadezinha, metrópole não importa. O que importa é que cidadão é o que habita a cidade, cidadela é a fortaleza que defende uma cidade e Metrópoles são as cidades dos grandes arranha-céus, das imponentes propriedades, mas uma coisa é certa: a pobreza anda, digamos entre aspas, ao lado delas.
Não dá para mascarar e aplaudir, dizendo: está tudo bem! redes sociais. Basta navegar nas redes sociais e assistir aos telejornais ou, em último lugar, folhear as páginas de um jornaleco. Todos os dias a história se repete: poucos eventos da alta Society e, a poucos metros dali, pessoas buscam dos lixos os alimentos que sobram das festas.
O brasileiro precisa ser aplaudido de pé. Não aqueles chamados colarinhos brancos ou os malfeitores da sociedade que matam, sequestram, roubam, discriminam etc. Mas os que acordam às três da manhã , talvez com um copo d’água lavam os seus rostos e passam as mãos nos cabelos para darem a impressão de que tomaram banho, porque a água que faz parte do chamado saneamento básico não tem. O outro litro que fica é para tomar café, ou seja ‘afé’, porque é tão ralo, devido ao fato que precisa render, devido ao alto preço de mercado.
Já sai de uniforme pra não gastar a roupa do domingo. Anda rápido porque é distante do ponto de ônibus e do trem porque Metrô, BRT e VLT, mesmo com a maioria quebrada, já é luxo. E a mídia faz questão de mostrar uma irrealidade que nem a Estação da afabilidade.
Coisa do Sistema pra dizer está muito bom do jeito que está, porque, se melhorar, piora. Quero ver no horário de pico. É um pega aqui, solta ali, sobe acolá… Uma tremenda baldeação para poder chegar!
Já chega cansado, enfrenta o mau humor do chefe, mas tem que continuar. Tem boca pra comer. E as mulheres? São as que mais sofrem. Se viram nos 30 porque esta história de dizer “creches para todos” é pura balela, pura piada. Eu gostaria de saber a quem o poder quer enganar? Ao brasileiro que dá nó até em pingo d’água para sobreviver? Perda de tempo porque ele já está calejado.
Vamos a mais uma realidade, onde eu afirmo que o brasileiro precisa ser estudado pela NASA: O brasileiro cria tudo, faz de um tudo para sobreviver e tentar driblar a miséria. O brasileiro só não vende a alma, mas em toda a regra há exceção e alguns fazem permuta e andam por caminhos obscuros.
O brasileiro é um artista: apesar de todo sacrifício que enfrenta no seu dia a dia, tem sempre um sorriso no rosto e um abraço apertado quando chega do trabalho para dar ao seu filho. O brasileiro é persistente: não desiste nunca e posso provar: todos os anos quando vêm as chuvas de dezembro a março, os mais desfavorecidos, muitas vezes, perdem tudo que conquistaram ao longo da vida, nos desmoronamentos; culpa das promessas políticas que não acontecem, pois ficam apenas nos papéis, nos apertos de mãos em ano político, em abraços apertados até nos moradores de rua.
Mesmo as pessoas perdendo famílias inteiras e todos os seus pertences, sendo postas em abrigos provisórios e muitas vezes como indigentes, pois os documentos foram destruídos pela lama, ainda têm nos olhos, mesmo cheios de lágrimas, gotas de esperança por dias melhores.
E se viajarmos pelo sistema da saúde, vamos nos deparar com o desespero social, porque falta dignidade e comprometimento para com os seres humanos.
E a segurança, nem se fala, pois não precisa! A impunidade anda solta: os trabalhadores, os quais são chamados de cidadãos de bem ou massa trabalhadora, vivem à mercê dos caos da violência: nunca sabem quando será o último abraço e se conseguirão retornar à casa. Muitos viram estatística devido à violência.
O brasileiro quer saúde, o brasileiro quer educação, o brasileiro quer viver com dignidade, o brasileiro quer paz. Até quando o poder público não vai entender que o brasileiro merece respeito?
Comendadora Poetisa Sandra Albuquerque
RJ,14 de abril de 2024