Convidada

Paulo Siuves: Crônica ‘Convidada’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
"Você teve as chaves de todas as portas..."
“Você teve as chaves de todas as portas…”
MIcrosoft Bing. Imagm criada pelo Designer

Fiz uma incursão em meu mundo interior e te levei pela mão para conhecer esse lugar tão vasto. Como se fosse somente uma sala, você chegou e modificou paredes, alterou os quadros e ampliou espaços. Tudo lhe foi permitido. Acompanhei você quando as fronteiras foram varridas, ajudei a ajuntar o que agora virou entulho e a separar todas as coisas destinadas ao lixo. Mexemos nos recônditos da alma e do coração.

Ah! Estava me sentindo confiante e bem acompanhado. Você teve a chave de todas as portas e abriu ao Sol lugares que eu nem sequer sabia que estavam sob chaves. Eu dei a você os livros de regras e do código de posturas para serem revistos, reeditados, e aceitei colocá-los em prática antes mesmo da publicação (pra quê publicar o que jamais será público?). Eu te deixei à vontade e sozinha em alguns momentos dentro de mim, para que você fizesse o que quisesse de mim…

Mas você não veio morar em mim. Você agiu como quem vai reformar tudo para sua própria moradia, mas, depois de tudo, não veio habitar meu coração e ocupar o espaço que eu dei a você. Eu pensei que você seria a minha casa para onde retorno todos os dias. Estou todo reformado, mas a moradora convidada resolveu não vir definitivamente. Meu ser está vazio e não está posto para ocupação de outra… Sou um mundo desabitado propício para o amor!

Paulo Siuves

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Com um contrato firmado

Verônica Moreira: ‘Com um contrato firmado’

Verônica Moreira
Verônica Moreira
"Encontro-me em um beco sem saída, não há mais portas disponíveis, nem abertas, nem fechadas..."
“Encontro-me em um beco sem saída, não há mais portas disponíveis, nem abertas, nem fechadas…”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Encontro-me em um beco sem saída, não há mais portas disponíveis, nem abertas, nem fechadas. Nem janelas entreabertas ou trancadas.

Conheço perfeitamente quem me aprisionou com sete chaves dentro de mim, e por mais que eu tente, não consigo me libertar.

O mais angustiante nesse absurdo é que ainda me culpo. Pois confiei todas as chaves àquele que afirma me amar e cuidar.

Minha liberdade foi roubada, não posso mais ir e vir, viver e existir. Foi-me tirado o direito de sorrir, consertar, rir e amar.

Tudo se tornou proibido, minha vida virou um peso, estou sentenciada a desaparecer. Meu nome é apenas memória.

Não sei até quando permanecerei oculta, lamentando. Até quando serei tratada como um objeto adquirido com um contrato firmado?

Eu anseio por uma oportunidade de ser eu mesma novamente. De ser a senhora de mim, do meu movimento, do meu desejo, do meu ser.

Verônica Moreira

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O que você faz com o amor que lhe entregam?

Vânia Moreira:

Poema ‘O que você faz com o amor que lhe entregam?’

Vânia Moreira
Vânia Moreira
"Os gestos controversos, os sentimentos não confessos, submersos na corrida das horas"
“Os gestos controversos, os sentimentos não confessos, submersos na corrida das horas”
Microsoft Bing – Imagem criada pelo Designer

Para ver além de mim
Olhei para tudo o que não fiz
Olhei as paredes amareladas da minha alma
E encontrei à sombra das  muralhas de giz
Os gestos controversos, os sentimentos não confessos,
Submersos na corrida das horas
Onde a mesa está posta
A servir o começo do fim
E atrás das suas portas
Onde repousam as  palavras para o depois guardadas
E de tão guardadas foram esquecidas
E se afogaram no oceano da falta
E do  tudo que  senti e não disse
Guardei uma certeza só minha
Mora solidão nas entrelinhas
Nos atos reflexos, os anexos…
As verdades  da língua subentendida
Tudo o que senti, e não fiz, e não disse
A adormeceu na solidão
E eu, sonâmbulo sem má intenção
Esqueci nalgum lugar o coração
E amanhecemos no eclipse

Vânia Moreira

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