Réquiem da alma

Ella Dominici: Poema ‘Réquiem da alma’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem gerada por IA do Bing -  29 de novembro de 2024
 às 11:42 AM
Imagem gerada por IA do Bing –  29 de novembro de 2024
às 11:42 AM

Absoluto sentido despede o absurdo,
e eu, que me dobro aos ventos do tempo,
conduzo o vazio com mãos de maestro,
regendo silêncios que falam ao mundo.

Música, insto-te: sê minha prece,
minha fuga, meu cântico breve.
Arranca-me destas paixões torpes,
leva-me além, onde a alma leve
não pesa mais sob a sombra da vida.

Estende-me nas cordas, que vibram,
numa música que sobe às janelas.
Faz-me dançar além existenciais alas,
bailar entre estrelas frágeis e belas.

Ó vida, tanta vida e tão fugaz,
ponte sobre abismos que não se tocam.
E eu, desalojado do nada que deixo,
sou rei sem coroa, leão sem força.

Minha vida é onda, fluida, em movimento,
que volta ao mesmo mar onde começou.
Hoje se vai, lutuosa, em silêncio,
sangrando o jugo de tudo que restou.

Será o vazio maior que a Verdade?
Será o absurdo mais forte que a fé?
Eu te digo: não. Pois na tua arte
há um verbo oculto que nunca se perde.

Existência amarga, exílio íntimo,
escala montanhas de mortalidade.
Mas o instante belo – ah, o instante breve! –
rompe o banal e tece a eternidade.

Poesia és no Formador, ouves? Mesmo a morte,
besta incompreensível, é poesia reconciliadora
Na sombra fria, poeiras de rimas sombrias,
há um eco vivo que o tempo alumia.

E assim, peço-te: faz da Palavra
o grito que busca o instante absoluto.
Faz-me testemunha do que não compreendo,
e deixa-me achar na fé um novo rumo.

Pois em ti, Deus vejo-me inteiro,
mesmo em dúvidas, caos, impossibilidades.
Tu me legas o sopro que do mundo afasta,
e, no adeus ao absurdo, alcanço a eternidade.

Ella Dominici

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A Prece da CAOP

Ismaél Wandalika: Poema ‘A Prece da CAOP’

Soldado Wandalika
Soldado Wandalika
Imagem de um africano fazendo um prece, feita por IA
Imagem gerada por de IA do WhatApp – 29 de outubro de 2024, às 21h

Palavras anunciam favores
Entre as súplicas que abraçam as dores
(…) Seu clamor traz ritmo de fervores
(…) Lá vai a sua voz (…) navegando na labuta dos dias incolores.

Contra os passos caminha
Observa a jaula sombria
No seu íntimo atiça a coragem e #desatina

A vida assobia ao seu ventre
Sua veste cobre a mudez do seu medo
Come no prato da lembrança
Nostalgia de ver sua casa cheia…
Hoje vazia e carente de tudo, de mundo e conteúdo
Já não há crianças nesse rua…

Cai a noite e passamos em claras
Não há planos estratégicos só a subidas e descidas nestas esquinas
A vida é um milagre nestas vias …

Coração descompassa na órbita do tempo
Enfastiado com a monotonia
Lançamo-nos na tela
Para vermos se #Nzambi nos olha
E a tropa muda o rosto da #bandola.

Soldado Wandalika

Glossário

Desatina (correr, fugir mudar de rota) expressão antigamente usada como calão em Angola mas que entrou em desuso..

Bandola – do calão angolano significa favela, bairro…

Nzambi – Deus na língua nacional kikongo, e outras línguas como Quimbundo.

CAOP – situa-se em Angola Viana, uma zona muito perigosa e de difícil acesso. Distante das vivências do centro da cidade, CAOP é uma designação para identificar as CAP A, B, C, & D.

Labuta – prelios da vida, trabalho pesado e cansativo, pela já, luta.

Contatos do autor

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