Autoestima e projetos de vida
Márcia Nascimento: Artigo ‘Autoestima e projetos de vida’
Muito se fala na atualidade sobre propósitos de vida, ou seja, viver uma vida com total sentido e significados. Porém, muito mais que ter um propósito de vida, faz-se necessário que as pessoas compreendam quem de fato são e a partir deste entendimento possam se reconhecer em total valor extraindo o melhor de si em cada situação e desta forma objetivem seu propósito de vida.
Para que uma pessoa possa ser realizada, primeiramente deve ter uma relação satisfatória consigo mesmo e com seu estado de aceitação em relação às suas inúmeras capacidades e habilidades, e isso nada mais é do que ter autoestima.
A autoestima é a maneira como o indivíduo se vê, se enxerga, e isto deve ser muito bem trabalhado desde a primeira infância, na qual os pais e professores são os principais agentes a auxiliarem nesta construção. Todas as crenças que foram instaladas desde a gestação, podem influenciar drasticamente no estabelecimento da autoestima da criança que virá a se tornar um adulto sem condições de direcionamento em relação aos seus projetos de vida no futuro.
O conceito de autoestima tem extrema relevância na Psicologia, apesar de não haver consenso na literatura em torno de sua definição. Dolan (2006) destaca que a autoestima é um dos conceitos psicológicos mais utilizados atualmente, provavelmente pelo seu aspecto prático na compreensão da busca de felicidade por parte das pessoas.
A introdução do termo é atribuída a William James no ano de 1885, quando ele assim se refere: “o que sentimos por nós mesmos é determinado pela proporção entre nossas realizações e nossas supostas potencialidades; uma fração cujo denominador são nossas pretensões e o numerador, os nossos sucessos” (James, 1974: 200). Branden (1995) discorda dessa posição. Para ele a autoestima é algo que vem de dentro do indivíduo.
Está, portanto, ligada às suas operações mentais e não às circunstâncias externas bem ou malsucedidas. Assim, associar a autoestima de uma pessoa a fatores externos é propiciar o não crescimento. Ainda para Branden (1994), a maneira pela qual nos percebemos repercute em nossas ações, na vida profissional e pessoal. Esse autor também afirma que existe uma relação entre nossas reações e o que pensamos de nós mesmos. E enfatiza que “desenvolver a autoestima é expandir nossa capacidade de ser feliz” (Branden (1994: 11). Staerke (1996: 77) defende que a autoestima “é um constructo, ou seja, ela é construída, ela é uma conquista pessoal, inalienável e intransferível”.
A autora pontua que “pessoas de autoestima saudável também sofrem e sentem ansiedade” (Staerke, 1996: 78). Quando estes fatores não são trabalhados adequadamente, outra área que envolve a plenitude do ser pode estar ameaçada, que é a área do projeto de vida.
Para se obter um projeto de vida, é necessário ter autoconhecimento e autoestima, pois ambos são o que embasarão a realização de tudo aquilo que for projetado um dia na mente. O ser humano desconhece o seu poder de realização e como as leis universais atuam em favor de cada sonho e desejo um dia sonhado pelo mesmo.
Ter um projeto de vida é saber como e aonde se deseja chegar, é “idealizar a própria vida é ter consciência da responsabilidade de cada um em sua atuação social, descobrindo-se a si mesmo, aos outros e o meio em que vive”. Por isso a autoestima e o projeto de vida andam lado a lado, um depende do outro para que juntos possam fazer parte da ascensão do ser.
A mente humana tem a imensurável capacidade de realizar cada sonho projetado em seu campo de atuação com seu sistema trino que é a mente inconsciente, a mente consciente e a mente suprema e para isto, é necessário que cada pessoa conheça profundamente o seu reino de infinitas possibilidades para que desta maneira venha a realizar cada sonho que foi projetado à nível mental. E é exatamente nisto que consiste em ter um projeto de vida; em imaginar, sonhar, buscar e realizar.
É preciso juntar informações e adquirir conhecimento, pois são eles quem libertarão a mente das correntes que impedem a sua perfeita atuação nos campos magnéticos de suas potencialidades, portanto, ter um projeto de vida é saber qual é o seu destino, quem és em sua essência mais profunda e verdadeira, quais são as tuas reais verdades e a partir destas sublimes e elevadas descobertas encontrar o seu lugar no mundo e atuar no mesmo como um agente transformador, repleto de ideais e sonhos a serem concretizados.
Do ponto de vista da psicologia junguiana (de Carl Jung, psiquiatra célebre), o propósito de vida tem a ver com se reconhecer para além da função social. Assim, fora o papel profissional, bem como o de pai ou mãe; de filho(a); de dono(a) de casa, entre tantos outros, cada pessoa tem sua essência. O propósito consiste em alinhar todas essas partes. “Quanto mais se direciona a vida para a realização daquilo que se intui internamente, mais felizes se percebe. Isso gera um impacto profundo na saúde”, explica a psicóloga Adriana Bolis. “Já o extremo oposto, seria a depressão (quando a vida perde o sentido).
A realização pessoal (plenitude valorosa e duradoura) autorrealiza-se, essencialmente, a partir do valor de atitude. Não apenas no criar e gozar, mas também e sobretudo no sofrimento inevitável, considerando “…o homem não é motivado pelos instintos, mas sim pelos valores.” (Frankl, 1987b, p. 220). E é vencendo os obstáculos e buscando encontrar o sentido de viver que o despertar para o propósito da vida acontecerá.
Bonino (2007, p. 45), realça, de forma clara e sucinta, não apenas o carácter intrinsecamente dinâmico do conceito de sentido de vida, inscrito na relação entre o “ser” e “tornar-se”, mas e sobretudo ao seu elevado potencial dialéctico para a realização pessoal. E esta realização é o que tornará o ser humano uma pessoa plena em todos os sentidos que o compõe tal como o é.
O segredo é se amar e se aceitar, entender o tamanho da importância e amplitude do ser, para que desta maneira todo indivíduo possa encontrar o seu verdadeiro lugar neste mundo e assim possa fazer daqui um maravilhoso espaço para se viver com propósito e muita dignidade.
Referências Bibliográficas
BRANDEN, N. (1994). Auto-Estima: como aprender a gostar de si
mesmo. São Paulo: Editora Saraiva.
BRANDEN, N. (1995). Autoestima e os seus seis pilares. São Paulo: Editora Saraiva.
BONINO, S. (2007) – Mil amarras me prendem à vida: (con)viver com a doença. 1ª ed. Coimbra : Quarteto.
DOLAN, S. (2006). Estresse, autoestima, saúde e trabalho. Rio de janeiro: Qualitmark.
FRANKL, V. E. (1987b) – Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Porto Alegre : Sulina. Porto Alegre : Sulina.
JAMES, W. (1885/1974). Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural.
STAERKE, R. (1996). Autoestima em psicologia, uma proposta de definição. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de Psicologia.
Márcia Nàscimento
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