“Justo julga quem não julga ninguém/ Indulgentes e cegos aos pecados alheios/ Severos e duros consigo porém/ Mas sem exaltar os seus próprios anseios.”
Numa Noite Chuvosa
Se não fosse assim ao invés
Donde estaria a crença?
Se em nada, se em tudo
Qual seria a diferença?
Onde indo e vindo me encontro
Assim mais vale a ocasião
Sem mais tendo de propício
Sim de longe um coração
Ai de mim que sou o medo
Longe nunca hei de alcançar
Não revelo meu segredo
Se eu não posso mais amar
No clarão da certeza, na escuridão da dúvida
Ainda sinto o alvorecer
Nem saudade, nem solidão
Nem o que me faz sofrer
Apenas o meu sorriso que por hora já me basta
A angústia vem sem aviso, me consome, me
devasta
Onde há perigo, há um herói
Quem me dera fosse eu
Mesmo antes de chorar
Vivo o sonho que é só meu
Aquele que ama nada pede
Nem impõe condições
Quem luta conhece seu ideal
Conhece as suas e as alheias razões
Me limito a superar meus defeitos
Onde outrora causei desgraça
Sei que jamais serei eleito
Enquanto for uma ameaça
Justo julga quem não julga ninguém
Indulgentes e cegos aos pecados alheios
Severos e duros consigo porém
Mas sem exaltar os seus próprios anseios
Há quem me condena
Há os que não me suportam
Há os que tenho afeto
E há os que não me importam
Se eu pensasse só em mim
Seria eu contra o mundo
Se não te amasse tanto assim
Não morreria a cada segundo
Domino minha mente
Mas não meu sentimento
Mesmo sendo inteligente
Ainda tenho meu tormento
Nada é tão desprezível que o receio de ser feliz
E nada é tão plausível que fazer o que sempre quis
Eis que não há contradição
Nem aparentes dores
Porque onde existem espinhos
Também existem lindas flores
Sou louco por pensar assim?
Ou sou assim porque sou louco?
Se sou louco por pensar em mim
Que assim seja mais um pouco
Nesse silêncio mortal dessa noite que engana
Que me faz ver real sua saga profana
De um coração tira prantos
Em um vai e vem de horrores
Relembrando os encantos
Relembrando os amores
A chuva discreta nos pesares dos sonhos
Sonhando acordado pelo medo de adormecer
Não se sabe o que é sonho e o que é realidade
Não se sabe o que é vida antes do amanhecer
Não persiga meu ódio porque ele não existe
Não insista em querer me culpar
Quantos ‘nãos’ seriam precisos
Para que não mais me pudesse julgar?
O que quer de mim se me faz seu escravo?
Onde antes dissera ser seu tesouro
Fui seu príncipe, fui seu rei
E você foi meu único ouro
Que saudade de mim
Que saudade de você
De mim por não ser tão forte
Que de ti não consegue esquecer
Se fosse custo não desejaria mais nada
Viveria observando o teatro da vida
Se tudo fosse susto seria uma grande piada
Se entramos nesse mundo é porque há uma
saída
Não deseje nada, mas ao mesmo tempo deseje tudo
Não seja cego, mas seja mudo
Enquanto rolar uma lágrima e muitas mãos calejadas
Sempre haverá muitas lástimas e muitas almas afetadas
Não um que chora sozinho
Mas um pranto em coro universal
O sofrimento coletivo
Que repercute no Astral
Para colher felicidade se planta alegria
Para colher só a verdade se planta harmonia
O mistério é relativo pela dúvida que lhe detém
Mas se ainda está vivo que te importa de onde vem?
Quão árduo é o trabalho a quem se acovarda
O que mais poderia te maltratar?
Senão a fobia que te retarda
Senão a preguiça a te torturar
Por quê vê miséria onde há luxúria?
Por quê vê medo onde há coragem?
Tudo é ilusão, tudo é injúria
Será esse o segredo dessa viagem?
Sei que há um Plano sutil e hoje sou mago
Transformo a dor em história
Não sou coerente, não sou relativo
Esse sou eu, essa é minha memória.