Mais do que uma madrugada

Eliana Hoenhe Pereira: ‘Mais do que uma madrugada’

Eliana Hoenhe Pereira
Eliana Hoenhe Pereira
“A janela entreaberta foi invadida pelo olhar da Lua desinibida”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

A música tocava suavemente.

falava de um relacionamento

que, como uma lenda,

nem o vento balançava com o tempo.

Despertava uma aproximação

e instigava a sensação.

A janela entreaberta foi invadida

pelo olhar da Lua desinibida.

À cortina balançava e assoprava

 um perfume de flores que a noite desabrochava.

Mais que uma madrugada,

Vivemos momentos almejados,

sem pecados,

Em meio às magias e fantasias. 

Eliana Hoenhe Pereira

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Paulo Roberto Costa: 'Discutindo o relacionamento'

“Você mudou ou fui eu que mudei? Onde é que eu errei? Não consigo chegar a uma conclusão. Então fico me lembrando de quando nos conhecemos.”

 

Meu Deus, como eu queria entender você! Talvez até mais do que eu queria que você me entendesse, pois as coisas estão ficando muito confusas para mim. Cada dia mais.

Não sei explicar o que está acontecendo. Hoje, por exemplo, você acabou de chegar a casa e, pela sua expressão, eu logo percebi que seu dia talvez não tivesse sido muito bom. Você nunca me fala nada sobre isso. Eu, normalmente, faço tudo para te mostrar minha alegria ao te ver chegar. Vou ao seu encontro, me agarro a você, tento te dar todo o meu carinho e a minha atenção, mas, muitas vezes, como hoje, você quase que me ignora. Coloca suas coisas na mesa, joga-se no sofá com uma expressão de cansaço e, às vezes, de preocupação e fica calado. Eu, respeitando o seu silêncio, chego cautelosamente e me encosto levemente em você, para mostrar que estou a seu lado não importa o que esteja acontecendo, aguardando que você me fale alguma coisa e torcendo para que este não tenha sido um daqueles dias em que você claramente não quer ninguém por perto e vai se afastar assim que eu me aproximar, ou, simplesmente, me repelir bruscamente, como já aconteceu algumas vezes. Depois de certo tempo, como você não me dá atenção acabo me afastando, imaginando o que pode ter acontecido.

Você mudou ou fui eu que mudei? Onde é que eu errei? Não consigo chegar a uma conclusão. Então fico me lembrando de quando nos conhecemos. Como tudo era diferente! Você chegava a casa chamando por mim e já abria os braços quando me encontrava. Abraçava-me sorrindo e, pelo tom da tua voz, eu sabia que estava feliz em me ver. Algumas vezes me trazia até um pequeno presente. Lembro-me que ficávamos juntos o tempo todo e você falava sem parar. Eu nem entendia muito bem o que você falava mas ficava feliz somente em ouvi-lo. Você estava sempre me fazendo carinhos e parecia que estava sempre preocupado comigo. Perguntava como tinha sido o meu dia, o que tinha feito, como eu estava e até se eu tinha me alimentado bem.

Ao longo dos anos desenvolvemos um hábito de dar uma volta ao final do dia. Como eu adorava esses nossos pequenos passeios ao final das tardes! Parecia que o mundo não importava e o tempo não contava. Fazíamos as coisas sem pressa e sem preocupação. Aos finais de semana você sempre me convidava para conhecermos um lugar diferente. Lembro-me de todos os parques que fomos visitar. Passávamos horas maravilhosas. Você fazia questão de demonstrar seu amor por mim na frente de todos, me abraçando e rindo. Essas lembranças é que tornam mais difícil entender o que mudou. Aliás, nem sei quando essas mudanças começaram nem porquê. Hoje em dia parece que tudo o que você faz comigo é por obrigação e que nem sente mais prazer em estar ao meu lado. Cada dia minha preocupação aumenta mais com o seu distanciamento e tenho até o receio de que você tenha se cansado de mim e, uma hora dessas, resolva me trocar por outro cão.

 

Paulo Roberto Costa – paulocosta97@gmail.com




Adriana da Rocha Leite: 'Nosso encontro'

Adriana da Rocha Leite: ‘NOSSO ENCONTRO’

 

 15/08/1989. No ônibus, alguém me observava. Não percebi de imediato.   O encontro aconteceu somente mais tarde. Não foi amor à primeira vista, do tipo fulminante, de perder o fôlego. Primeiro um olhar, depois muitas conversas. m novo mundo de escolhas e de conhecimento. Tudo era novidade para aquela adolescente. E como buscara por novas fronteiras, novas ideias e novos caminhos… O desconhecido sempre me fascinou, pelas perspectivas de mudança, de romper a zona de conforto e, principalmente, pelo seu caráter essencialmente audacioso. Assim o conheci!

O tempo nos fez amigos, a amizade nos fez amar e então, eu perdi o fôlego! Por viver um Amor de rupturas com conceitos e estruturas. Por entender que a convivência exige respeito e não posse (“não sou tua, não és meu”), que somos completos e não “metades da laranja”, tampouco você é a “tampa” da minha panela. Sou única e você também o é!

Nunca quis um relacionamento de “faz de conta” ou de hierarquia.  Não sou adepta às ordens: minha rebeldia congênita não aceita imposições.  Por isso, assustei-me quando em conversa com meu pai sobre o casamento, ele lhe disse: “Você sabe que não poderá mandar nela.” Sua resposta:  “Se quisesse mandar em alguém, não poderia estar me casando com sua filha”.

Sua fala foi-me arrebatadora, fez-me sentir mais a liberdade  que já me pertencia), fez-me entender e valorizar a importância do vínculo, da convivência saudável de quem quer compartilhar e não simplesmente dividir.  E nada disso é mero conceito. Não para nós.

Não houve “pedido” formal, foi tudo tão natural, tão do nosso jeito, antes, durante e depois…

Valorizamos nossa convivência em busca da harmonia, não de pensamentos, ações e reações idênticas/iguais, mas de sintonia, de diálogo amoroso sobre quem somos e o que queremos, enquanto indivíduos e enquanto casal. Respeitar diferenças não nos faz sofrer, faz-nos próximos e cúmplices: “Somos suspeitos de um crime perfeito…”

Quem poderia homenagear-me no dia 08/08? Quem saberia a importância desta data no calendário de minha história, de minha vida? Quem entenderia qual foi a perspectiva e quais foram os sonhos da menina que saiu de casa aos 17 anos? Que não fugiu. Que foi em busca do que sempre soube que lhe pertencia? Sim, você e tão somente você!

Agora entendo: não foi um encontro em 1989. Foi um reencontro!…