O interesse guia o saber
Fidel Fernando: ‘O interesse guia o saber’
As crianças adoram a escola, disso ninguém duvida. Basta observar a alegria que manifestam ao conviver com os colegas nos intervalos ou após o fim das aulas, quando muitos preferem ficar no pátio a correr de um lado ao outro, em vez de irem embora. A escola, para elas, é um ambiente de felicidade e socialização. Mas, então, por que essa mesma alegria parece desaparecer quando entram em sala de aula? Simples: elas não gostam das nossas aulas. E isso levanta uma questão importante para todos os que se dedicam ao processo de ensino e aprendizagem: será que estamos a ensinar de forma conectada com os interesses e realidades dos nossos alunos?
Para responder a essa pergunta, é necessário pensar além do conteúdo programático e olhar para a essência do aprendizado. Conforme Mário Sérgio Cortella, na Teoria do Conhecimento, o aprendizado só é efectivo quando parte da realidade do aluno, do que ele já conhece, vive e gosta. Isso não significa que devemos ensinar apenas o que os alunos gostam. Afinal, o conhecimento é vasto e diversificado, e a escola tem o papel de expandir horizontes, não de limitá-los. No entanto, partir daquilo que atrai os alunos é uma maneira poderosa de engajá-los e, assim, potencializar o aprendizado.
Ao ignorar os interesses dos alunos, corremos o risco de enfrentarmos resistência. É como nadar contra a maré: o esforço é enorme, mas os resultados são mínimos. Ruben Alves, renomado educador, já dizia que “ensinar é um exercício de imortalidade”, e a imortalidade só se alcança quando o conhecimento se perpetua na mente dos alunos. Para que isso aconteça, é preciso falar a língua deles, entender seus gostos e suas vivências. Se conseguimos fazer isso, despertamos o interesse e criamos um ambiente em que o aprendizado deixa de ser uma obrigação e passa a ser uma descoberta prazerosa.
Içami Tiba, psicoterapeuta e educador, também enfatizava a importância de respeitar a individualidade dos educandos no processo educativo. Ele acreditava que, quando desconsideramos os interesses e a realidade dos alunos, estamos, na verdade, a criar um ambiente avesso ao aprendizado. Assim, ao planificar uma aula, devemos sempre nos perguntar: “Será que essa abordagem faz sentido para eles?” E mais importante ainda: “Como posso tornar esse conteúdo relevante a partir da realidade deles?”
É fundamental que os professores reconheçam que as crianças não são contra a escola. Elas adoram estar na escola! O que elas não gostam são as nossas aulas que, muitas vezes, estão distantes de suas experiências e interesses. Isso é claramente perceptível pela euforia que demonstram quando toca o sino do intervalo ou quando permanecem na escola após o fim das aulas, correndo, brincando, rindo. Não é a escola o problema; somos nós, os professores, que falhamos em conectar o aprendizado à realidade deles.
Portanto, ensinar directamente a partir do que os alunos gostam é um convite ao engajamento. É claro que não podemos nos limitar a isso, mas partir desse ponto é uma estratégia eficaz. Quando conectamos o ensino com algo que eles apreciam, estamos a abrir portas para um aprendizado mais profundo e duradouro.
Que possamos, então, reflectir sobre a nossa prática e encontrar maneiras de nos aproximarmos mais dos nossos alunos, fazendo da sala de aula um espaço tão agradável quanto o pátio. Isso só será possível se começarmos a partir do que eles realmente gostam, da realidade que os cerca, do mundo que eles já conhecem. Assim, o conhecimento que queremos transmitir terá mais chances de florescer e se perpetuar.
Fidel Fernando