Ella Dominici: Prosa poética: ‘Raízes das linhas e sementes do riso’
Aqui, pegamos raízes que plantamos num alegre dia…
Da sacada o mar que se viu pela primeira vez e tristes areias.
Dentro da casa a velha contava ao ocaso, e ele a ouvia como por acaso. A avançada insegurança era como lepra, a vida, duas auroras, uma rosa e outra roxa.
No bolso um pente e na boca um dente. No lenço os dois pensamentos de sua mente, amarrados para não se perderem.
Às costas a crista do rochedo, altas escarpas da ilha antes tórrida.
Amigos conspiraram com as pedras, enquanto as portas cheirando a alho e tomilho acenavam pela maçaneta, ferrugem do interior da cozinha. A louça fugira do lugar.
As palavras balbuciavam na aurora dos sentidos enquanto iam as raízes viajando sobre pedras.
Desde então sabemos que as sementes são mais alegres do que as raízes que permanecem nos séculos dos tempos. Podem até subir escadas de mármore, mas não avançam às nuvens por furos dos tetos.
As sementes livres voejam sós, nas asas do amor, nos bicos de beijos, copas e ninhos ardentes, até o templo dos sentidos.
Passionais cavalgam em corbelhas de rosas, no dorso desvairadas, na vida são alegres e perdem as sandálias, não param para calçá-las, até mancando correm no movimento que ultrapassou, imutável, a profundeza do tempo das sementes … na alegria do riso.