Apagar-se é o preço de existir

Ella Dominici: ‘Apagar-se é o preço de existir’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA no Bing - 20 de março de 2025, às 07;30 PM
Imagem criada por IA no Bing – 20 de março de 2025,
às 07;30 PM

O vazio chegou primeiro.
Antes do nome, antes da pele, antes do rosto
que me ensinaram a chamar de meu.
Fui menos que um nada,
um quase-ser esperando a sorte do verbo.

Apaguei-me para caber no mundo.
Deixei pegadas que não segui,
vendi silêncios para comprar presença.
E ainda assim, o resto de mim ficou
insistindo em existir no que me faltava.

Houve um tempo em que fui todos,
um eco na multidão dos que não sabem que são.
E então, o traço. O risco. A marca.
Era eu.
Não um nome, não um número,
mas um corte no papel do tempo.

Deixei o coro dos rostos repetidos.
O coletivo me olhou como se eu traísse
o pacto dos que preferem ser sombra.
Mas a sombra não tem peso,
não tem voz,
não tem gravidade para sustentar-se.

E eu queria ser corpo,
queria ser coisa que não se apaga.
Queria ser o avesso da ausência,
o nome que me veste sem caber em mais ninguém.

APAGAR-SE É O PREÇO DE EXISTIR

Ella Dominici

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Gotas no Atlântico

Paulo Siuves: Poema ‘Gotas no Atlântico’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
Imagem criada por IA no Bing - 1º de março de 2025, 
às 18:26 PM
Imagem criada por IA no Bing – 1º de março de 2025,
às 18:26 PM

Nasce mulher, alma ao vento,
Carrega o peso do tormento.
Promessas de igualdade, dança mentida,
Futuro que tropeça em memória perdida.

Feminicídio ecoa no silêncio da madrugada,
Enquanto os silêncios sangram na calçada.
A cultura do estupro ronda a cada esquina,
Sorrisos quebrados, voz que nunca se aninha.

Salário menor, esforço maior,
Lágrimas contidas, luta sem clamor.
A gota no Atlântico grita e persiste,
Mesmo quando a justiça se esconde e resiste.

Avanços surgem, mas como passos de formiga,
A corrente aperta, a liberdade castiga.
Mulheres são águias presas no ar,
Lutando para quebrar o laço a gritar.

Por suas irmãs ergue-se o protesto,
Simples nas palavras, mas firme, manifesto.
Não há corrente que resista ao grito,
De quem transforma a dor em esforço infinito.

Paulo Siuves

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Maestro

Pietro Costa: Poema ‘Maestro’

Pietro Costa
Pietro Costa
“Com fina verve, um maestro rege toda a sinfonia”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Contemplativo
Há silêncios circundantes
Atentivo
Aos ruídos desconcertantes

Susto os bramidos
De cifras e partituras
Busco acordes divinos
Nas desditas e fortunas

No caleidoscópio de emoções mobilizantes
No anfiteatro de performances palpitantes
Nas ilíadas e odisseias da jornada errante
Nos prosadores e poetas de pena fascinante

Há uma ventania que tudo movimenta e revira
Há um roteirista que tudo imagina, engendra e cria
Há um juiz que tudo elucubra, pesa, decide, avalia
Com fina verve, um maestro rege toda a sinfonia

Pietro Costa

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