Caminho de pedras

Ceiça Rocha Cruz: Poema ‘Caminho das Pedras’

Ceiça Rocha Cruz
Ceiça Rocha Cruz
No murmurejo das águas do rio Vermelho e nas pedras dos mistérios, dos segredos, da ilusão, o tempo passou”
Imagem gerada por IA do Bing – 16 de outubro de 2024 às 12:46 AM

No silêncio do entardecer
a vida passava.
Percursos íngremes,
trajetos sinuosos,
ora longos,
ora curtos,
cheios de dor,
de solidão,
de saudades.

Enveredava na plácida tarde,
caminhos pedregosos,
juntando pedras,
para construir castelos,
fortes à ventania
e às tempestades.

No murmurejo das águas
do rio Vermelho
e nas pedras dos mistérios,
dos segredos,
da ilusão,
o tempo passou.

Recriava a vida
buscando o cume da montanha,
livrando-se dos tropeços,
tornando os empecilhos transponíveis.

Na solidão dos versos,
sonhos e canções,
canções d’amor
ao murmúrio do vento.

À sombra mortalha do silêncio
sussurros ditavam o tempo,
imprimindo sobre as pedras,
sua história,
sua fortaleza e solidez,
no caminho de pedras do existir.

Ceiça Rocha Cruz

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O barquinho

Ceiça Rocha Cruz: Poema ‘O barquinho’

Ceiça Rocha Cruz
Ceiça Rocha Cruz
Imagem gerada por IA do Bing - 9 de outubro de 2024 às 1:34 PM
Imagem gerada por IA do Bing – 9 de outubro de 2024 às 1:34 PM

Na tarde que fenece,
no macio azul do rio,
navega feliz
desliza ligeiro
vai além de águas afora,
um barquinho.

Abre as pálpebras do entardecer,
desperta no silêncio ensurdecedor
a solidão.

No limiar da tarde,
debruça-se solitário às margens,
amamentado de saudades.

Na varanda do tempo,
na placidez do vento,
um lamento.
Um rumorejo dos lábios ecoa
à beira do rio silencioso.

Enfim, sob a névoa dos olhos da tarde,
o barquinho vai,
navegando vai…
Fustigado pela solidão
do eterno tempo,
vai…
Assiste o Sol que morre
no fim do dia
e vai.

Ceiça Rocha Cruz

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Línguas e linguagens

Ella Dominici: Poema ‘Línguas e linguagens’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem gerada com IA do Bing - 3 de outubro de 2024 
às 4:09 PM
Imagem gerada com IA do Bing – 3 de outubro de 2024
às 4:09 PM

Algumas são lindas línguas
seja porque são rosadas
lisas, afiladas ou até macias
como suculentas, beijam e saboreiam

Algumas são enrugadas
desabrigadas de belezas dentais
denotam solidão acústica
se entregam na fome
e não degustadas
não degustam também as tais

Algumas são afáveis penas
de um destro escritor
habilidosas descrevem cenas
dizem palavras de amor

Outras línguas elegantes
são tão intelectuais e eloquentes
reportam fatos e nanobstantes
salmodiam, parodiam em tribunais
palanques palcos recitais

As mais selvagens lambem
como primitivas línguas
denunciam e são falsas
afiadas adagas
transpassam carnes e almas

Ella Dominici

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Leva-me!

Ceiça Rocha Cruz: Poema ‘Leva-me!’

Ceiça Rocha Cruz
Ceiça Rocha Cruz
“Olhos saudosos desenhados de lágrimas, acenos, brancos lenços, a dor da partida e uma saudade atroz“. Imagem gerada com a IA do Bing – 25 de setembro de 2024 às 10:57 AM

No coração do tempo
um olhar vago,
meus olhos buscaram os teus,
mergulhando fundo neste olhar.

Apaixonei-me,
colori todo o firmamento
com este amor.

No silêncio da tarde
tu te foste,
um vento selvagem levou parte de mim,
deixou-me na solidão.

E na canção do adeus
o sussurro: eu sempre vou te amar!
Olhos saudosos desenhados de lágrimas,
acenos,
brancos lenços,
a dor da partida
e uma saudade atroz.

Na névoa dos olhos da tarde e dos meus,
debruçada na janela do pensamento,
à sombra da mortalha do silêncio
que a ti me leva,
choros.

Leva-me no teu pensar,
na fímbria da tua vida
do teu amor,
para ouvir o ressoo do teu coração
num turbilhão de batimentos e ecos…
amo-te!

Sou tua brisa forte,
tua ventania.
Leva-me nas asas do teu vento
que assovia voraz,
no teu sonho para sonhar acordada
pra te dizer: eu sempre vou te amar.
Leva-me contigo!
Leva-me!

Ceiça Rocha Cruz

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Em toda estação há solidão

Denise Canova: ‘Em toda estação há solidão’

Denise Canova
Denise Canova
"Em toda estação há solidão..."
Imagem gerada pela IA do Bing - 16 de setembro de 2024
 às 9:34 PM
“Em toda estação há solidão…”
Imagem gerada pela IA do Bing16 de setembro de 2024
às 9:34 PM

Em toda estação há solidão

Até na primavera

Ela rodeia as flores

Atacando o coração

Em toda estação

Ela me ataca

Dama da Poesia

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Garças brancas

Ceiça Rocha Cruz: ‘Garças brancas’

Ceiça Rocha Cruz
Ceiça Rocha Cruz
Imagem criada pela IA do Bing
Imagem criada pela IA do Bing

Cai a tarde,
abrem-se as veredas do entardecer,
névoa nos ombros da montanha,
a solidão perpetua,
brancas nuvens contemplam
as encostas.

Sob o vento,
garças encantam no seus revoos,
aplainam no tempo,
e ao murmúrio das ondas do mar,
alçam o voo inefável da poesia,
da canção,
e do amor.

No fim do dia,
pelos corredores cor de laranja
do crepúsculo,
no deserto da solidão,
adejam estrada afora
em nevoeiro.

E numa tarde solitária
sob a luz da janela aberta
do suave arrebol,
a noite sobre a terra,
desenrola seu negro véu.

Misteriosas, em sinal de paz,
voejam sorridentes,
entremeiam caminhos,
buscam um luar na noite escura.
As garças brancas

Ceiça Rocha Cruz

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Minha herança

Verônica Moreira: Crônica ‘Minha herança’

Verônica Moreira
Verônica Moreira
"Minha herança"
“Minha herança”
Imagem criada pela IA

Neste momento, não há lugar para poesia nas palavras que estou escrevendo; talvez isso seja um tipo de legado, pois reúne tudo o que possuo… No entanto, é possível que meus herdeiros não venham a existir… Quem poderia se interessar por palavras e sentimentos que, à primeira vista, não parecem ter significado? Em um tempo como o nosso, quem teria a sensibilidade de preservar minhas escritas como verdadeiros tesouros?

Ah, meus caros amigos, será que ainda vale a pena deixar mais preciosidades dispersas pelo ar, em lugares gelados ou mornos? Neste instante, o que me rodeia são incertezas e uma esperança que, atualmente, mantenho em banho-maria. Sinto que não estou me cabendo dentro de mim mesma… E, quem se preocupa com isso? Aqueles que herdaram a essência da mulher poetisa, que transforma a poesia em sua riqueza. A quem caberá encontrar a chave do meu baú de tesouros?

Refletindo sobre minhas crenças, imagino como seria a disputa entre meus possíveis herdeiros. Acredito que alguns deles tentarão se apropriar dos meus versos carregados de melancolia e solidão.
Alguns poderão sentir-se mais atraídos pelos meus poemas fervorosos, repletos de paixão, enquanto outros poderão ansiar por reviver a infância em que o doce de coco era infinitamente mais tentador do que os de hoje. Contudo, ninguém será capaz de vivenciar as emoções que eu experimentei, desde a angústia mais intensa até aquelas paixões torcidas que me levaram à loucura.

Ah, meus descendentes! Lembrem-se de compartilhar minha herança com os necessitados de sabedoria, pois tudo o que deixo a vocês, apesar de parecer pouco, foi um presente que recebi um dia, sem pedir, de um poeta que guardou seu valioso legado dentro de mim. Não se tratava de dinheiro, prata ou ouro, mas de um tesouro que poucos desejavam, embora todos os que o possuíram se tornassem ricos, mesmo sem perceber que o verdadeiro herdeiro é aquele que lê.

Verônica Moreira

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