Concerto para um coração só

Paulo Siuves: ‘Concerto para um Coração Só’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
 Imagem desenvolvida com tecnologia generativa da OpenAI (ChatGPT), com base em prompt elaborado por Paulo Siuves
 Imagem desenvolvida com tecnologia generativa da OpenAI (ChatGPT), com base em prompt elaborado por Paulo Siuves

O escuro por dentro tem um som.
Não é grito, não é lamento.
É algo entre o arrastar de um arco sobre cordas velhas e o ranger de madeira em catedral vazia.

Você — sim, você — não chegou a existir de verdade. Era só um desenho no ar, uma curva de som que vinha de longe. Uma flauta sofrida tocando sob chuva fina, sempre além da esquina, sempre além da pele.

Eu tentei escrever você. Fiz do meu peito um papel úmido de suor e febre. Quis traduzir seus gestos em clave de sol, mas a partitura rasgava sempre no mesmo lugar — logo depois do talvez.

Tem dias em que sua ausência bate mais alto.
Ecoa.
Como sino em torre sem fiéis.

E eu, ridículo, estendo os braços ao vazio, como quem rege um concerto de silêncio.
Cada lembrança sua vem torta, como acorde errado, desses que fazem os músicos se entreolharem em pânico. Mas eu aceito. Me deixo engolir. Tem certa beleza nisso: ser esmagado por algo que nunca existiu de fato.

Você nunca esteve aqui.
Não de verdade.
Mas se esconde em cada compasso do que sobrou de mim.

E enquanto o mundo insiste em sua própria melodia — leve, viva, esquecida —
eu continuo tocando o que ninguém quer ouvir.

O nosso concerto.
Para um coração só.

Paulo Siuves

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Última inquietude de um ser

Ella Dominici: ‘Última inquietude de um ser’

Ella Dominici
Ella Dominici
eu, limpo do céu inquieto na próxima paisagem me sossego
Eu, limpo do céu inquieto… Na próxima paisagem me sossego
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

(Homenagem ao desassossego de Pessoa)

Trovoadas!
Este ar baixo em nuvens paradas como vidas
azul do céu, lavado anil em branco transparente
manchas de um chumbo surgem engrossando o quadro,
tomando o pincel do calmo artista, que se enfurece.
Som gélido entrecortado por cubos de vidro, escorregadios,
se soltaram das mãos que não suportavam o grito do destino

Tudo era silêncio antes das trevas assustadas
pelo rabisco com voz- de- sísmico . Lenda do carvão?
encarnada trovoada nos raios-coração
Lá, fora da caixa celeste, os sons foram picotados,
pendiam pilotados como em nave às cascatas
‘Estridentezinhos’ ou em placas de metálicas gotas

Tudo rápido como um repente das lonjuras não recentes,
enquanto num suspender cósmico de respirações
um temor como em dias de ares fantasmas,
um prolongamento de ondas sonoras enchiam os pulmões
e se extinguiam em forma de suspiros, que eram
acompanhados de leves gemidos do peitoral do homem

Tudo é silêncio no crespo coração, que dos trovões se arrebentou
em molas que imolaram ânimo
Somente o sentimento do fomento findando na ansiedade dos momentos,
onde enrolados entre si, misturavam voltagens em eletrizante alma

O anúncio do breve é súbito trágico,
Que humano apaixonado drasticamente me sinto, quando,
Eu, limpo do céu inquieto , dissolvendo o Ser em desafeto
Na próxima paisagem me sossego

Ella Dominici

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