Sou sombra

Irene da Rocha: Poema ‘Sou sombra’

Irene da Rocha
Irene da Rocha
“Um retrato da eternidade, que avança sem hesitar, mesmo na dança do tempo, sempre hei de continuar”
Imagem gerada por IA do Bing –  8 de novembro de 2024
às 10:58 AM

Sou sombra do que era; nem a memória resistiu,
pedaços do meu passado que o tempo de novo esculpiu.

As marcas no rosto contam histórias que o ontem teceu,
no meu coração, sem mágoas, que o tempo não desfez nem esqueceu.

Sou o reflexo de ontens que nas sombras se dividiram,
mas também o desconhecido, por caminhos que sempre surgiram.

Um eco de possibilidades que o futuro há de transformar,
sou a passagem dos dias, que lentamente volta a girar.

No espelho, a verdade se esconde, o momento se dilui,
um rosto que segue em frente, ousando ser o que sempre fui.

Um retrato da eternidade, que avança sem hesitar,
mesmo na dança do tempo, sempre hei de continuar.

Irene da Rocha

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O voo da dente-de-leão

Paulo Siuves: ‘O voo da flor dente-de-leão’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
O medo se desfazendo, feito a flor dente-de-leão
O medo se desfazendo, feito a flor dente-de-leão
Imagem gerada pela IA do Bing – 15 de setembro de 2024 às 7:24 PM

O medo nasce como uma sombra discreta, deslizando pelos cantos onde a luz mal chega. É um visitante silencioso, que se instala sem ser convidado e cria raízes profundas nos recantos que julgávamos seguros. Às vezes, ele murmura, uma voz baixa e insidiosa que nos faz hesitar; outras vezes, ele explode em gritos surdamente ensurdecedores, fazendo o peito apertar e a mente girar em círculos confusos. O medo é persistente, como uma erva daninha que insiste em crescer em solo seco, desafiando a aridez ao seu redor.

 Mas o medo não floresce como as flores que esperamos. Ele é frágil, uma flor delicada como o dente de leão. Surge inesperadamente, em brechas do concreto, em rachaduras do asfalto, em terrenos inóspitos onde nada deveria crescer. Sua resiliência é um paradoxo; ele se espalha sem pedir licença, mostrando uma força que na verdade é sua fragilidade. O medo se esconde nas fendas do cotidiano, mas quando nos aproximamos e o observamos de perto, percebemos que ele, assim como o dente de leão, é uma ilusão de força.

 Imagine, então, o medo como um mestre disfarçado, que nos ensina sobre os limites que autoimpomos e a coragem que precisamos descobrir. Ele nos desafia a encarar nossos receios mais profundos e a confrontar as sombras que projetamos em nós mesmos. É nesse confronto que revelamos nossa verdadeira essência, aquela capaz de transformar a sombra em luz.

Quando uma mulher se separa de seu parceiro, ela se vê cercada por um turbilhão de medos. O medo da opinião da sociedade, o receio de não conseguir pagar as contas, o temor de que seus filhos não a respeitem, o pavor das críticas dos parentes. Cada medo se torna uma muralha que tenta restringi-la, mas cada um também é uma oportunidade para que ela cresça e se liberte.

Na primeira brisa de coragem, o medo começa a se desfazer. Um sopro suave o leva embora, espalhando seus vilanos pelo vento, longe, para nunca mais retornar. O medo, antes colossal e opressor, se reduz a nada mais do que fragmentos leves, flutuando até desaparecer. O que resta é um caule vazio, um vestígio de uma força que nunca foi real, mas apenas uma construção ilusória.

Enfrentando  o medo, descobrimos que ele não é um monstro invencível, mas sim um espelho que reflete nossas inseguranças e limitações. Libertar-se do medo é como soltar um dente de leão ao vento: um ato simples, porém poderoso, que permite que novas possibilidades se espalhem. E, ao nos libertarmos do medo, nos tornamos mais inteiros e livres, capazes de crescer em terrenos antes inóspitos.

O dente de leão, com sua beleza efêmera e fragilidade aparente, nos lembra que, às vezes, a verdadeira força está na capacidade de transformar o medo em liberdade. E, ao soprar o medo para longe, encontramos não apenas a coragem de enfrentar nossos desafios, mas também a capacidade de nos reinventar e florescer, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

Paulo Siuves

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Por aonde andei?

Evani Rocha: Poema ‘Por aonde andei?

Evani Rocha
Evani Rocha
Paisagem da Chapada dos Guimarães - MT. Foto por Evani Rocha
Paisagem da Chapada dos Guimarães – MT – Foto por Evani Rocha

Por aonde andei naqueles tristes dias?

Porque não vi sequer a minha sombra,

Perdeu-se de meus olhos a luz

E de minha boca, as palavras…

Onde foi que deixei-me?

Em um casebre qualquer,

A perambular pelas trilhas,

A sonhar deitada sobre um lençol de estrelas?

Por aonde estive que não o vi passar?

 Por certo, carregava o mundo em suas mãos,

Ou então, o mundo escondia-o de mim.

Evani Rocha

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Coqueiro solitário

Ceiça Rocha Cruz: Poema ‘Coqueiro solitário’

Ceiça Rocha Cruz
Ceiça Rocha Cruz
Nas calmas tardes de estio ao rumor da brisa fria às margens do rio, um coqueiro sorri, majestoso"
“Nas calmas tardes de estio ao rumor da brisa fria às margens do rio, um coqueiro sorri, majestoso”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Nas calmas tardes de estio

ao rumor da brisa fria

às margens do rio,

um coqueiro sorri majestoso.

Na sombra, 

o balanço da rede.

Na areia branca,

sonhos que o amor assistiu

nos versos 

da minha/da tua canção.

Sopra o vento,

baila no tempo em lentidão.

Folhas que se entrelaçam

e nos trazem lembranças,

nas tardes sombrias

onde canta o sabiá…

Nas sombras da vida,

espreita o deslizar das águas

e o ir-e-vir de barcos.

E, num véu de areia,

o sol se esconde,

a nuvem passa…

Nas manhãs de inverno

o coqueiro balança ao vento,

às vezes chora,

açoitado pelo tempo,

maltratado pelo acaso.

Nas tempestades,

o silêncio impera.

Ouve-se o murmúrio das ondas

fragmentadas nas dunas, no cais.

E a ventania, a retorcer suas palhas

sussurrantes,

que balançam e tremem o velho coqueiro,

que, contudo, não teme, enverga, mas não cai,

ao furor dos solavancos dos ventos

da morte e da solidão.

Ceiça Rocha Cruz

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Sentimentos à deriva

Verônica Moreira: ‘Sentimentos à deriva’

Verônica Moreira
Verônica Moreira
Sentimentos  à deriva
Sentimentos à deriva
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Surpreendente o que vou expressar, mesmo que desconheça: ainda posso te acolher.

Sempre és um visitante constante, sem explicação ou motivo aparente, mas sempre presente.

Tua presença não se limita à sombra, vejo tua face real, teu olhar que lembra a serenidade da noite de Lua cheia.

Não compreendo a razão da tua chegada; nunca espero por ti, no entanto, de alguma forma, sempre vens.

Às vezes, vagando pela memória, outras vezes ancorando no porto do meu coração para descansar. Por que continuo sendo teu porto?

Não me questione sobre o destino: por que ainda navegas em mim, se eu sou o mar solitário?

Tento escapar, libertar-me de mim mesma, um navio repleto de paixões e desprovido de mim, porém, ocupando todo o teu oceano.

Não há chance de seres meu navio ou minha única tábua de salvação, pois pareces viver para me sabotar.

Meus sonhos e convicções nesse amor são simplesmente ilusões, imagens de um sentimento à deriva.

Verônica Moreira

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Marcas de outrora

Paulo Siuves: Poema ‘Marcas de outrora’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
"Cicatrizes rasas, tatuagens da alma, mapas de viagens por terras revoltas"
“Cicatrizes rasas, tatuagens da alma, mapas de viagens por terras revoltas
Microsoft Bing – Criador de imagens do designer

Cicatrizes rasas, tatuagens da alma,

Mapas de viagens por terras revoltas.

Marcas que contam momentos errantes,

De batalhas vencidas, de dias passados.

Às vezes, como feridas abertas,

Sangram com o esbarrão da vida incerta.

Cicatrizes rasas, em silêncio profundo,

Segredos na sombra que a mente revela.

Um esbarrão causa tanta dor,

Sangram e doem, sofremos sozinhos.

Sem testemunhas das jornadas vividas,

Das lágrimas, das risadas disfarçadas.

Hoje, não machucam como outrora,

Mas ainda, em alguns momentos, sangram.

São recordações esculpidas a ferro e fogo,

Marcas da vida, um jogo, um livro, uma cura.

Paulo Siuves 

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