Atividades primárias

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

‘Atividades primárias’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo
Imagem criada por IA da Meta
Imagem criada por IA da Meta

Integradas no setor primário das atividades económicas humanas, a agricultura, a pesca e a caça, as duas primeiras como modo de ganhar a vida para muitas pessoas, a terceira como ocupação dos tempos livres, lazer e desporto, (embora, em todas as situações, produzindo, também, riqueza) constituem, apesar das respetivas características, atividades que no espaço territorial dos Concelhos, proporcionam trabalho a centenas de pessoas e alguma qualidade de vida.

E se na perspetiva de garantir uma subsistência condigna, a quem vive, exclusivamente da agricultura, a situação seja de muito pouco conforto financeiro, porquanto ainda se continua a trabalhar o minifúndio, principalmente no Minho, com práticas ancestrais, cuja produtividade, por unidade de superfície cultivada é: em geral, muito baixa, nalguns casos, de nítido prejuízo, nem chegando, sequer, a ser uma agricultura de subsistência; outro tanto se verifica, eventualmente com menos dramatismo, com a pesca profissional, que se desenvolve na costa marítima e, em parte significativa, nos rios. Por sua vez a caça, como atividade económica primária, que também remonta à antiguidade, proporciona prazer aos seus praticantes, e gera receitas consideráveis para os cofres públicos, indústria do armamento e artefactos, seguradoras e restauração, entre outras.

Em muitos Concelhos, aquelas atividades primárias ainda têm forte expressão e algum dinamismo, pese, embora, e no que respeita à agricultura e atividades a montante e jusante (agropecuária e afins) problemas de escoamento dos produtos tradicionais e específicos de cada aldeia, sendo evidente alguma dificuldade, por parte das entidades competentes, em proporcionarem melhores condições para estas atividades, em especial no que se refere à qualificação dos produtos, e a estimular a juventude para a agricultura e pesca, parecendo não serem suficientes os apoios financeiros e de formação, respetivamente para a lavoura e para a pesca. 

O mundo rural só não está deserto porque os ‘seniores’ ainda vão trabalhando parte da terra, bem como alguma juventude, esta já com elevadas qualificações para o setor, aliando-se, ainda, a crise provocada pelo desemprego que se vive, por isso, os jovens também se voltam um pouco para a agricultura, até com muita alegria e vontade de aprender o suficiente para obterem os melhores resultados. É preciso investir nos apoios e incentivos à agricultura, sem dúvida alguma.

Idêntica reflexão aqui se deixa no que se reporta às pescas: artesanal, local e costeira; e também às pescas profissional, do largo e longínqua, porque estas modalidades proporcionam milhares de postos de trabalho, para sustentar centenas de famílias e abastecer todo um mercado de consumo, cada vez mais carenciado e exigente destes produtos.

Naturalmente que é necessário valorizar, modernizar e dignificar estas atividades, e os respetivos profissionais, porque elas constituem modos de vida para milhares de pessoas, fonte de receitas e a manutenção de uma alimentação de alta qualidade para a população. O agricultor e o pescador são parte integrante do sistema produtivo do país e, nesse sentido, é justo que se lhes reconheça o estatuto socioeconómico que lhes é devido. 

A agricultura no Minho, por exemplo, em regra, não será lucrativa na perspetiva empresarial, porque o tipo de propriedade, tradicionalmente, enquadra-se no minifúndio, o que impede, seguramente, o recurso à maquinaria mais avançada e, consequentemente, redução nos custos de produção, desde logo, em mão-de-obra, situação que se agrava, por alguns preconceitos, quanto às vantagens da constituição de cooperativas agrícolas de produção, pela via do emparcelamento das pequenas propriedades. 

A existência, manutenção e valorização da pequena propriedade privada é, portanto, a condição fundamental para, a partir desta mentalidade, se desenvolverem formas de cooperação que permitam rentabilizar e, justamente, valorizar o minifúndio nortenho. O problema poderá, então, ser resolvido com a constituição de cooperativas agrícolas, onde os cooperantes entram com a sua quota-parte, não necessariamente em dinheiro, mas com metros quadrados de terreno agrícola, correspondentes à soma das áreas das propriedades que destina à empresa, cuja gestão ficaria a cargo dos órgãos diretivos, eleitos pelos cooperantes. 

Uma solução desta natureza traria, no curto prazo, imensas vantagens para o aumento e qualidade da produção, preços mais acessíveis, maiores rendimentos com menos trabalho para os donos das terras afetadas à cooperativa agrícola, para além da valorização das mesmas, a que se somaria a criação de postos de trabalho permanentes e a instituição, a médio prazo, de mais Escolas Profissionais Agrícolas, por exemplo, mesmo existindo já algumas, tudo isto entre outras iniciativas e correspondentes benefícios.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

Voltar

Facebook