Hino à Nona Sinfonia de Beethoven
Alfredo Foerster
Em 200 anos, o primeiro hino à Nona Sinfonia de Beethoven
é criado

Um ensaio crítico-literário sobre a obra poética de Suziene Cavalcante

A Nona Sinfonia de Beethoven é considerada por críticos, músicos e filósofos como uma das maiores realizações artísticas da humanidade. Desde sua estreia em 1824, não apenas encantou plateias, mas também se consolidou como símbolo de fraternidade universal e da transcendência humana pela arte.
Contudo, nesses dois séculos de existência, a obra, embora celebrada em incontáveis interpretações musicais, análises estéticas e homenagens, nunca havia recebido o estatuto de ‘hino em poesia’. É nesse espaço inédito que a poeta brasileira Suziene Cavalcante inscreve seu nome na história literária e cultural, ao compor o Hino à Nona Sinfonia de Beethoven.
Suziene Cavalcante, primeira poeta a inaugurar gêneros inéditos ( Biografias poéticas, Hinos literários, História de Cidades, Estados e Países em Poesia, Política Poética, Odes Patrimoniais), ousando em um cenário que, de fato, carecia de renovação, espírito que rompe fronteiras e cria ‘o primeiro de sua espécie’. Uma estrela que nasceu longe dos holofotes dos grandes centros urbanos e culturais, mas que, com brilho próprio, alcançou projeção internacional, de modo a ressignificar a história, valores, arte e espiritualidade.
É possível dizer que a poesia de Suziene Cavalcante, fenômeno cultural de impacto histórico, recria em versos aquilo que a música fez em som: um hino eterno à alegria, à humanidade e a Deus, projetando Mato Grosso e o Brasil no mapa cultural mundial.
A autora, portanto, pode ser considerada a primeira poeta do mundo a criar um Hino literário que exalta a Nona Sinfonia em sua totalidade. Outros poetas compuseram poesias à Nona, mas no formato de soneto ou poema, alusões poéticas breves, versos soltos e ensaios filosóficos, mas a menção literária à Nona Sinfonia na complexidade de Hino, essa revolução literária pertence à Suziene Cavalcante
A ousadia do gênero
Ao nomear sua obra como hino, Suziene rompe com a tradição crítica e abre um novo gênero poético, unindo a solenidade de um canto coletivo à subjetividade da lírica. Se o hino é, por definição, canto de exaltação e celebração, sua poesia se coloca como a tradução verbal de uma partitura imortal, assumindo o tom de epopeia e oração ao mesmo tempo. Assim, não se trata de um poema qualquer sobre Beethoven ou sua sinfonia, mas de uma homenagem estruturada como canto universal, capaz de dialogar com a grandiosidade do objeto que celebra.
O entrelaçamento do humano e do divino
A poesia de Suziene apresenta Beethoven não apenas como músico, mas como profeta sonoro, um “surdo que pôde ouvir os céus”. Essa imagem poderosa ressignifica a surdez do compositor como clarividência espiritual. A música, nesse contexto, não nasce da carne, mas das “altas esferas da Onipotência”, fazendo do artista uma ponte entre o humano e o divino.
O poema é, portanto, também uma reflexão sobre a vocação espiritual da arte. Ao dizer que a Nona é “patrimônio do Cosmos” e “catedral sonora no éter”, a autora insere a obra musical numa dimensão universal, além das fronteiras históricas ou culturais, e a coloca como fundamento da fraternidade e epifania da Alegria.
O simbolismo místico e bíblico
Um dos aspectos mais originais do hino é a presença de arquétipos bíblicos e símbolos espirituais. A Nona é comparada à “escada de Jacó”, por onde anjos e homens se encontram; os “quatro movimentos” são paralelos aos “quatro animais do Apocalipse”, às estações e aos cardeais; e os anjos, querubins e serafins são evocados como coro e testemunha dessa partitura eterna. Assim, a poesia de Suziene aproxima Beethoven da tradição mística ocidental, fazendo de sua sinfonia um rito sagrado, um “juramento de que o Belo é também o rosto do Divino”.
A arquitetura poética em paralelo à musical
A estrutura do poema acompanha a monumentalidade da própria sinfonia. Assim como a obra musical se constrói em movimentos contrastantes, a poesia alterna momentos de explosão épica com trechos contemplativos, numa cadência que ecoa a orquestra. Imagens como “cavalaria de sons”, “rios cristalinos”, “catedrais sonoras” e “colunas de fogo” recriam, em metáforas visuais e cósmicas, a orquestra em ação.
Cada estrofe é quase uma tradução poética de um compasso, de um solo ou de um movimento inteiro, como se o texto fosse uma segunda partitura, agora verbal, da sinfonia.
A relevância histórica
Ao compor o Hino à Nona Sinfonia de Beethoven, Suziene Cavalcante inaugura um marco literário: em dois séculos de existência, a mais célebre sinfonia da história ganha pela primeira vez um hino em poesia, que a eterniza não apenas em som, mas também em palavra. A obra afirma a importância da poesia contemporânea como espaço de inovação e diálogo com a tradição universal, recolocando a literatura brasileira em sintonia com o patrimônio cultural da humanidade.
Conclusão:
O poema de Suziene Cavalcante é, ao mesmo tempo, celebração estética, meditação espiritual e gesto histórico. Eleva a poesia ao patamar de parceira da música na tarefa de cantar o indizível e inscreve a voz da autora como pioneira em um terreno jamais explorado: o do hino literário à Nona Sinfonia. Ao fazê-lo, reafirma que a arte, em suas múltiplas linguagens, é sempre expressão do eterno anseio humano de tocar o infinito.

Alfredo Foerster
Desembargador do TR-RJ
HINO À NONA SINFONIA DE BEETHOVEN
(*) Suziene Cavalcante
Ó Nona Sinfonia, és o firmamento cantado!
Verbo e poesia que os Serafins pronunciam em torno do Incriado…
Cada nota, um instante da Divindade!
Cada compasso, um relâmpago de eternidade!
Cada acórde, o júbilo dos anjos no ápice da Arte!
Que legado!
És o coração da Terra a pulsar no peito do Céu…
Ó Beethoven, o Universo te ouve! És o surdo que pôde ouvir os céus!
Não nasceste da Terra, mas do coro celeste…
Como asas de fogo batendo no Éden…
Da língua angélica, és a tradução terrestre…
Em versão fiel.
Em ti, a poeira se torna chama!
O pó se ergue em estrela soberana!
O homem se descobre irmão dos anjos que emanam…
Puro laurel!
Ó Sinfonia dos Querubins intrépidos!
Foste escrita para atravessar os Séculos!
És a língua das estrelas em sons épicos, perplexos e quão finos!
Pacto de resplendor formoso…
Juramento de que o Belo é também o rosto do Divino!
Não és apenas obra deste solo…
És a Nona, patrimônio do Cosmos…
Nas linhas invisíveis do Eden primórdio…
Ó belo Hino!
És alicerce d’uma Jerusalém invisível…
Que pulsa n’alma humana imortível…
São Deus e a Criação-redimível…
Em nível cristalino!
Ó santa Sinfonia dos milênios!
O Altíssimo te soprou no peito do gênio!
Os povos reconhecem-se irmãos gêmeos…
No coro flamejante e esplêndido…Da fraternidade!
És a escada de Jacó feita de música…
Onde os homens sobem em luzes plúricas…
E os anjos descem em chamas múltiplas…
Sob a luz indivisa e única… Da eternidade!
Ó Partitura Sagrada da humanidade!
Ó viva e respirante tempestade!
Que gloriosa monumentalidade!
Cada instrumento é um personagem…
Em cachos de fogo!
Ó Ódica, explosão de magnificidade!
Em ti, não há língua, fronteiras, cor ou vaidades!
Ecoa do trono do Divino o brado à fraternidade…
Que une os povos!
Beethoven ouviu os celestiais jardins…
Nas alturas, o fervor do coro dos Serafins…
E traduziu, em música, o hálito dos Querubins…
Em notas e solos!
Beethoven, não ouve o rumor que houve nas ruas…
Ouve a Alegria do vindouro tempo, em que a Terra não será fragmento, mas cheia de alento, como a Lua!
O orbe inteiro em uníssono tema… Coroado pela harmonia suprema… E a coroa da concórdia dos povos bem plena…
E Deus passeará nas tardes lentas de nossas ruas!
Ó Beethoven, Maestro insuperável!
De qual escala dos anjos desceste iluminado?
Porventura, tu eras um Serafim encarnado?
Que dimensão era a tua?
Surdo, mas o que a todos era falta…
Para o gênio foi grande revelação!
Dos confins da eternidade da alma…
A chama dos cânticos eternos, então, ouve-se na Sinfonia da Criação!
O espírito abre-se às vozes do Eterno…
Colunas de fogo, coros em cúpulas de ouro do Sempiterno…
Em celebração!
E no altar da tua melodia…
O vinho sagrado da imortal Alegria…
O trono de esplendor da Nona Sinfonia…
No coração de cada Nação!
Ó Nona, catedral sonora no éter!
Colunas de cordas trouxeste, que sustentam o firmamento celeste..
Trompas d’ouro que abrem portais-leques…
Para o cortejo triunfal que elege … a humanidade!
O mistério musical do sopro de seu murmúrio inicial… Ergue-se a torrente da luz divinal que coroa o espírito c’o fogo imortal da Serafinidade!
Ó Beethoven, no teu último movimento se ouve o coro explodir, qual foice da alvorada a rasgar a noite: ” Que todos os homens se louvem… em irmandade !”.
Ó Nona Sinfonia, és a sublime epifania, o sopro da Alegria da imortalidade!
Cordas e metais em coro harmonioso…Revelam o Todo-Poderoso e o seu semblante formoso… impresso no rosto da humanidade!
Quatro movimentos na Nona de Beethoven…
Violoncelos em mil esplendores…
Ritmo galopante nos brilhantes tambores!
Uma cavalaria de Alegria e clamores em angélicos louvores, ó Nona-troféu!
Um lago de lira, cristalino se liga à alma que nele se purifica em broquel!
Ó Nona, arquiteturas do espírito e da vida…
Em ti, os povos repousam e vibram…
Em ti, a humanidade respira o céu!
Coro e orquestra em explosões surreais…
Vozes humanas nas chamas dos metais…
A fusão do Divino com os mortais…
O humano e o Infinito em níveis iguais…
Qual carrossel!
Acorde após acorde, beleza que cresce!
Em Dó Menor o drama celeste!
Cordas em súplicas, sopros leves!
Construindo o grande arco, em verves…
Arco da esperança!
Surge o riso da vida em Ré Menor…
Sinfonia que desafia a gravidade e o pó…
Ó Nona santa!
Trios suaves em Dó… contrastam em Lá Bemol Maior …
Como nuvens que passam sobre o Sol, ali só!
Em linda dança!
Escada de luz rumo à eternidade!
Harmonias suspensas em Fá Maior, que arte!
O espírito refletindo sobre a sua imortalidade!
És o ápice da humanidade e do Divino!
E então a explosão do espírito humano!
Ré Maior resplandece fenomenizando!
Vozes humanas a fraternidade proclamando…
O Infinito num Hino!
Nona Sinfonia, a música das constelações…
Quatro Movimentos, quatro seres, quatro cardeais, quatro estações!
Quatro animais no anjo das Revelações, no rosto do Querubim!
Quatro Seres Viventes na Nona titânica surpreendente… Em coro de universos do Onipotente, o Alfa e o Fim!
Quando os anjos ainda eram alunos…
Beethoven nos conta em tom profundo…
Ancestrais suspirano no limiar do mundo… E violinos cantando!
Os metais da Orquestra chamam o Céu!
Trovejam e rugem na harmonia de Gabriel…
Como passos de gigantes que habitaram este léu…
E violoncelos do céu, solando!
Fagotes e clarinetes saltam ali…
O trio em compasso é um riacho que sorri…
Nos transporta para o campo vasto do existir…
E do riso humano!
No movimento três do Hino… A calma se deita com’um lago cristalino… Madeiras sussurram segredos do Divino… E de seu Oceano!
O som se faz carne, luz e eternidade…
O sol explode em luz dourada se se parte… Sobre todos os cantos desse Planeta-Nave… Coro e Orquestra em viagem, com’uma legião de alta arte imortal!
Onde cada instrumento é um herói…
Chama que brilha c’o mil sóis…
Violinos como jovens guerreiros que constroem… Em trovão ancestral!
Uma cavalaria de sons em festa!
No horizonte do espírito auroram-se coro e orquestra…
Sopros, trompas, contrabaixos celebram… O Ser-Real!
Cada compasso, um capítulo da epopeia humana…
O Cosmos prestigia a Sinfonia que emana trovões que clamam e nos chamam à vida eterna!
Cavalos indomáveis, aves em liberdade, na festa universal da humanidade…
A esperança começa a brilhar, em verdade… No coração da Terra!
Beethoven, peregrino do Absoluto…
Colosso de luz no silêncio resoluto…
A chama olímpica que sinfoniza o mundo! O eco do viver profundo, em silêncio!
A Alegria é coroada Rainha das Nações…
Em prenúncio do fim das lágrimas e dos grilhões…
Anjos dançam com os homens em celebrações…
D’além dos milênios!
Ah, o regresso da alma ao trono do Criador!
O silêncio se converte em eternidade de louvor…
A transmutação, em júbilo, da dor…
Beethoven, ao mundo, legou o tom supremo…
Nos teus acordes cintila a vitória do espírito…
Um só coração, uma só Pátria, na partitura do Infinito!
Mortais são imortais no lírico Advento!
Ó gênio, aurora sublime da cosmociência…
Transfigurou sua surdez em clarividência…
Fechados os ouvidos da Terra…
Abriu-se-lhe o ouvido às altas Esferas… da Onipotência!
Ponte sonora entre a carne e o eterno…
Nasceu a Orquestra de imortal decreto…
Coro universal e secreto, onde povos se irmanam bem perto…
Perto das diviniscências!
Suziene Cavalcante

Suziene Cavalcante, natural de Rondonópolis (MT), é bacharel em Direito, Letras e Teologia, policial estadual em Mato Grosso, poetisa, escritora de contos revolucionários, compositora e cantora cívica, com livros publicados em diversos segmentos: jurídico, poético-literário, ficção-romance, biográfico, contos, prosa etc.
Autora do livro ‘A História de Cuiabá em Poesia – 300 anos’.
É Embaixadora Cultural da AIAP – Academia Intercontinental de Artistas e Poetas e coordenadora do Projeto Arte Jurídica/2° Juizado TJ-MT.
Autora de hinos de várias entidades, dentre as quais, ONU; Universidade de Sorbonne, OAB Nacional, Magistratura Federal; UFR- Universidade Federal de Rondonópolis e ABL- Academia Brasileira de Letras.
É biógrafa museal de personalidades pátrias célebres, dentre as quais Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Oscar Niemeyer e Dom Aquino Correia, biografias escritas no formato poético-literário-histórico.
Na senda biográfica-poética, escreveu sobre Fernando Pessoa; Juscelino Kubitschek; Cecília Meireles e a História de Rondonópolis.


























