Essência visionária
Ella Dominici: Poema ‘Essência visionária’


às 5:51 AM
Tem nos olhos a febre das manhãs que não dormem,
um lume de marés que se escrevem em sargaços.
A palavra lhe nasce em sístoles de vento,
tecendo silêncios de um tempo sem nome.
Seus passos são traços no ventre da areia,
onde a escrita se esquece, mas nunca se apaga.
Carrega no peito o sal das perguntas,
nas mãos, a tinta que verte do abismo.
Ela vê o que o mundo não ousa dizer,
sente as raízes do verbo ainda cru.
O papel lhe responde em sombras e brisas,
no alfabeto de águas que dança sem rima.
Não busca verdades, colhe o que arde,
colhe a incerteza, a fresta, o presságio.
Ser poeta é saber-se eterna passagem,
caminho de Sol, de sombras e fados.
No fulgor das histórias que inventa, se inventa.
No lume da língua, seu corpo persiste.
No cristal do instante, inscreve seu nome,
feito estrela que, ao morrer, ainda brilha.
O que a define, seu tripé que se equilibra
na beira do tempo, desejo, opinião e fé
O corpo se inquieta, a alma silencia,
a mente divaga, o espírito vigia.
E quando tudo vacila, sustenta a vida,
Poeta em poesia!
Ella Dominici